terça-feira, 20 de setembro de 2011

One sweet window

Sorry, I never told you...

E nem haveria motivos para explanar, afinal, num momento desses em que a voz saísse de minha boca, as cortinas se fechariam, as luzes se apagariam, e seria eu, o mais triste dos servidores desse hospital inteiro sem olhos para enxergar o que mais me encanta, sem sonhos para deliciar-me nos deleites em que a vida profissional repleta de obrigações pode me oferecer, a cada toque selvagem em que os barulhos mortais dos fins de ciclos eternos brecam minhas intenções, fazem com que eu seja forçado a ausentar-me por instantes fatais a separar o bom do ótimo e, por fim, pego-me infeliz por não compartilhar do amor alheio dividido por folhas de vidro tão finas mas que segregam vidas que poderiam se unir para todo o sempre...

Encheria-me de satisfação se pudessem entender-me os mortais, puritanos, caretas, idiotas e ignorantes desse nosso tempo que não absorvem as razões e os fatos simples do sentimento que acomete certos jovens errados como esse que vos fala, os ócios da paixão que deixam sem sentido um plantão inteiro para com aqueles que já se cansaram do prato feito que, de uma forma ou de outra, ainda mata suas fomes, sacia suas gulas, mas não faz escorrer pelos cantos da boca a saliva da eterna felicidade, não faz com que queiram jogar-se, precipitando contra janelas opostas; filmes tão inéditos em nossa vã realidade que dariam aos autores inspirações suficientes para ganharem quanto dinheiro fosse desejado, e eu, também em vã filosofia pois não creio em realidades, me vejo com os pés prontos para pular, como se quisesse retirar de mim uma dor, substituindo por aquela que se diz superior e nos arranca a alma sem que sintamos.

A ausência da dor é a morte; e somente a morte pode nos impedir de sentir, de viver, de sofrer...

Ao descanso do leito, a perfeição que repousa no tédio se delicia com um dos vícios que o homem lhe propõe. Quiseram que fosse assim só pra que hoje eu me dedicasse a algumas palavras avulsas. Eu que não fumo, pedi um cigarro... antes tivesse me ouvido. Converso comigo mesmo quando me encontro no negro escuro de um recinto pequeno, as quatro paredes que me cercam me dizem que o barulho pode atrapalhar as intenções e em silêncio permaneço, admirando de longe toda a proporção que Deus tem, toda a capacidade que Deus tem de que pôr suas sagradas mãos no molde da vida e confeccionar tal maravilha a caminhar solene por entre os homens incitando suas mentes ao desejo, a caminhar altiva por entre as mulheres cativando inveja...

Já se foi o tempo em que me contentava com pouco.

Fiz o que pude para me retirar a tempo, nos instantes derradeiros em que o pouco de labuta ainda me obrigava a estar estático, porém quando estamos hipnotizados a decifrar enigmas assim tão intensos, não há força maior que nos faça deslocar a visão, movimentar os músculos, andar em direção à porta mais próxima; é fato comprovado que a vontade é bem maior do que todos os outros sentimentos existentes, maior que o amor, maior do que a paixão, maior do que o sofrimento, bem maior do que a saudade inclusive, a vontade é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida, com o perdão do plágio plagiado.

E de pé, no fim do descanso no leito, vejo bem mais do que poderia imaginar... quisera Deus que eu tivesse olhos, e hoje agradeço pela dádiva que me oferece em dias assim tão intensos e inesquecíveis.

Quem entende de exageros, talvez não vá encarar com muita fé aquilo que eu cismo em dizer quando me vejo sentado em frente às palavras.

Mas essa falta estranha e absurda do que fazer, essa saudade incrível de ser feliz, esse ócio podre de aventuras no meu coração fazem com que coisas tão pequenas sejam pontas finíssimas de icebergs que eu faço toda a questão de desenhar as bases... minhas bases.

Chamam-me Paulo Victor, vouyer de profissão, manhã de terça, setembro, dois mil e onze.

domingo, 18 de setembro de 2011

Tempo de chuva

Discursou, o homem das palavras bem acertadas, sobre as possibilidades da água que despenca dos céus a cair, sorrateiramente, em cabeças desavisadas e bem escolhidas, como fossem selecionadas pelo dedo maravilhoso de Deus para receberem tal benção nas ocasiões mais propícias que o mundo possa oferecer... E se a ocasião representa um evento do qual este presidente que vos fala esteja participando, com sua pessoa intocável e excepcional, então Deus caprichou no acerto e ainda me deu inspiração pra cuspir umas outras palavras no papel.
Disse, num passado distante, que, ao toque da chuva em meu corpo, a primeira atitude era tirar o relógio.
Puritanos e ignorantes mal julgarão os fatos, por puritanos e ignorantes serem... enfim, coloco-me à disposição.
Caindo sobre mim tamanha perfeição nos instantes óbvios em que a felicidade plena ia alagando meu caminho a querer me afundar numa poça qualquer de aventura, diz-se, e é verdade, que Cronos, deus do tempo, joga suas cartas contra as intenções de alegria de quem se dedica à loucura aqui no mundo.
Quando a eternidade é desejada, quando a história está sendo contada, quando, nos eventos maravilhosos em que estejamos participando, ou nas paixões de momento que estejamos vivendo, um beijo na chuva, línguas que se encontram em frações de segundo tão únicas que sua demora é relativada pelo fato simples de sabermos que em quantas vidas tivermos daqui em diante, nada há de se comparar com aquele milésimo tão perfeito, sons ensurdecedores e a poeira que morre pra dar lugar à lama nessa metamorfose tão perfeita e que jamais, os mortais, poderão entender, somente tendo olhos e analisando de perto pra que possamos transcrever um dia; nesses momentos, queridos leitores, o tempo tende a passar um tanto quanto mais depressa, razão básica para que eu me despeça ligeiramente daquilo que me mostra a verdade que não quero ver...
E me pego tão imóvel nos momentos de nostalgia que goteiras de meu velho teto tentam me convencer de que a chuva ainda pode me alcançar, me fazem querer fugir pelas ruas, correndo desvairado em busca de coisa alguma, destino maior que sempre fora dono das minhas noites, minhas madrugadas, minhas vontades e devassidões, meus mortos, meus queridos mortos que, enterrados no fundo do meu coração, olham por mim até hoje e me chamam, sempre, para aquela famosa dança fúnebre, o luto do abadá preto que cairia sobre nós, a balançarmo-nos de lados para lados, primeiro para a esquerda, depois para a direita, segurando com força na corda do carangueijo, coisas que me fazem sorrir...
E o que melhor pode ser do que pés de valsa ao som enlouquecedor de qualquer coisa, a comunhão da alegria exagerada, as mentiras que se contam aos ouvidos que jamais veremos outra vez, os beijos que se dedicam como se quiséssemos provar a cada lábio que é este o melhor de todos, que é este o lábio que eu pretenderia sentir para o resto da vida até que a próxima esquina nos separe e eu seja obrigado a inventar qualquer outra coisa a outros ouvidos que jamais verei...
E cai a chuva, e guardo o relógio, e passa o tempo...

Paulo Victor, jovem sonhador, nostálgico das águas, fim de domingo, setembro, dois mil e onze.

O meu Deus



O meu Deus é aquele que está sempre perto
E não me abandona quando estou errado.
O meu Deus me pôs no caminho certo
Ainda que numa brincadeira o tenha deixado de lado.

Falar de Deus nas horas da noite
É coisa simples quando os joelhos estão no chão.
Blasfemar seu nome sem nenhum açoite
É só pra quem não o chama de pai, e sim de irmão.

Se minha igreja fiel é a mesa
E a bíblia da verdade é a caneca.
Troco o pastor por outra rodada de cerveja
E o padre pelo funk da falsa discoteca.

E que me venham os fogos do inferno
Ou os portões do firmamento.
Na hora da partida usarei meu melhor terno
Pra que os homens do Senhor me preparem um aposento.

Sou sincero e não traio jamais o meu futuro
Que tracei desde o instante em que nasci.
Tenho duas pernas, posso pular esse muro
Barreira simples onde pula até Saci.

Mas a responsabilidade é séria
E recebo de coração aberto qualquer conselho.
Só não aceito que me venha com migalha ou miséria
Pois faço do pouco, um reflexo sujo do seu espelho.

E que tenham todos, seu Deus no coração
Como o tenho eu, e sempre tive.
Profetizo pois sei que abençoados serão
E no peito que couber, esse poema arquive...





Chamam-me Paulo Victor, por vezes adorador dos poemas e afins, fim de noite de domingo, dezoito de setembro, dois mil e onze...