terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ratos imundos

Não que a vergonha da sociedade seja para mim um tipo de alegria, não que toda a verdade que o mundo começa a ver e já era vista por mim há tanto tempo seja algo que me traz felicidade, não que a desgraça do homem, do dito cidadão, do crápula marginalizado que acaba se fudendo, seja de alguma maneira o motivo básico do meu sorriso, mas devo admitir que ver um bando de vagabundos correndo desesperados com medo de morrer fez do meu dia um pouco mais interessante.
E todas aquelas músicas que exaltam os poderes e dizem, na pobreza das rimas, que a melhor coisa que existe é ser bandido, e que o tênis de marca no pé é o que há e nada mais pode ser melhor que isso, que as mulheres da comunidade lhe querem pois você está portando um fuzil no ombro e se faz superior aos outros por causa disso; onde está tudo isso agora que os vagabundos correm pelo morro, os olhos esbugalhados, o coração na boca, temendo serem alvejados pelos homens de preto que salvam a cidade do perigo, que evitam o mal propagado na sociedade, que livram o futuro das drogas e seus malefícios, o sistema que sustenta o sistema, e a unidade revolucionária que há de transformar os erros de dentro pra fora lavando com sangue as vielas da favela e a mente dos corruptos...?
Agora o fuzil está pelo meio do caminho, o vagabundo se esconde como um rato imundo e faminto que não tem para onde correr pois todas as saídas do esgoto onde vive estão fechadas, o mundo tornou-se pequeno, o antigo casulo de proteção agora pertence a quem sempre deveria pertencer, à sociedade que paga seus impostos, que acorda cedo todos os dias para trabalhar decentemente e ainda tem que passar pelo sufoco de driblar balas perdidas que os traficantes de merda teimam em disparar a fim de disputar os pontos de boca de fumo, os pontos de venda das drogas, a favela tal que pertence a tal facção... mas agora ninguém lembra das bocas de fumo nem dos pontos de venda de drogas, agora os vagabundos medrosos estão se mijando de medo dentro da casa de algum morador honesto enquanto os homens de preto vão vasculhando cada residência em busca dos marginais, enquanto o silêncio que precede a morte toma conta de toda a comunidade e a paz momentânea é gritada a fim de que alguma luz de esperança ainda caia sobre a cabeça de quem não merece luz alguma a não ser a luz do fogo do inferno.
Mas agora os vagabundos não têm mais as mulheres mundanas e interesseiras que lhes seguiam quando desfilavam com suas motos roubadas, seus carros roubados, suas armas compradas com sangue de inocentes, suas roupas de marca roubadas ou falsas. Agora as mulheres enxergam com outros olhos os vagabundos pois aqueles heróis que eram vistos não passam de restos de homens que correm afugentados e medrosos quando têm a certeza que o Estado maior sempre foi maior que qualquer tipo de poder paralelo, quando têm a total noção de que obedecer a um idiota em outro estado é a maior burrice que existe e não se deveria sequer tocar nesse assunto.
Pois se um imbecil que está preso num lugar onde nem sequer a luz do Sol é vista, num lugar de onde nunca sairá, de um lugar onde só consegue se chegar depois de fazer muita merda durante vida, se um imbecil desse porte me manda fazer um monte de merda e eu obedeço... Deus... o meu único destino é subir os morros desesperado com medo de morrer sabendo que a morte é a única coisa que eu mereço.
Toda revolução deixa cicatriz,
o sangue há de jorrar feito um chafariz.
P.V. 22:15 29/11/10

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cristina I

Então nos sentamos para conversar.
__ Fecha a porta depois que entrar.
Cristina estava passando dos limites, a pré-adolescência e toda essa explosão de hormônios com a qual ainda não me acostumei estava me estressando em demasia e o que mais me irritava era sua mãe gritando em meus ouvidos a todo instante: “Cristina está demais! Você tem que conversar com ela!”
Nunca fui um pai ausente. Pra ser mais sincero, acho que a mulher que mais amo é a minha filha. Tenho mãe e tenho esposa. Uma me deu a vida, outra me fez enxergar melhor essa vida. Mas ainda assim, um único sorriso de Cris e qualquer outro tipo de família é esquecida, um único sorriso da minha pequena princesa e o mundo há de parar pra que eu admire por mais alguns segundos toda essa perfeição que me dá tanto orgulho por saber que saiu de mim, que faz parte de mim de alguma forma, por saber que mesmo depois que, desse mundo, eu partir, um pedaço do meu corpo ainda continuará por aqui perpetuando tudo que já fiz e ainda hei de fazer.
Cristina é o que me falta.
Às vezes, eu te chamo Cris, um sonho que eu mesmo fiz, um tempo que vai começar.
Já começava naquela época da vida em que nada poderia lhe adentrar pelos ouvidos, fazia toda questão de não querer escutar o que era dito, respondia a tudo e a todos pois a convicção de suas verdades eram, com certeza, na sua cabeça, bem maiores do que a do resto do mundo. Meu sorriso se abria ao saber disso.
Pois é assim mesmo que eu era, assim mesmo que eu pensava e não havia pessoa qualquer que conseguisse mudar minha cabeça, não havia opinião qualquer que formasse minha mente, não existiam argumentos que fossem mais fortes que os meus. E que criatura eu fui colocar no mundo... ainda mais chata que o pai.
Sentou-se na cama e me olhou com aqueles olhos que só ela tem. Começou reclamando...
__ Pai, você tem que falar com minha mãe, eu não tô mais agüentando as coisas que ela grita, todas as ordens que ela fica me dando, nada que eu posso fazer, e eu já não agüento mais olhar pra esse apartamento minúsculo, essas paredes parecem que vão me engolir, eu preciso sair, eu preciso respirar, a escola está me matando, essas espinhas gigantes que não param de explodir na minha cara, você acha que é fácil agüentar esse tipo de coisa??
Papai entende tudo...
Mandei fechar a porta depois que entrasse justamente pra que ninguém ouvisse o que nós íamos conversar. Sempre foi assim, nossa conversa se resolvia entre dois, a filha do papai, e o papai da filhinha. Desde que o mundo é mundo, Cris é revoltada, porém meiga. Acredita em tudo que eu digo, assim como todas as outras mulheres que já passaram por minha vida. Fui claro e insincero ao máximo, pra ver seu sorriso mais uma vez:
__ Minha princesa, pode deixar que eu vou falar com sua mãe, eu sei que você anda estudando demais, mas tenta entender que ela tem aqueles problemas de cabeça e tudo mais, o remedinho que ela toma já vai ter a dose aumentada, e daqui a pouco ela fica sem voz de tanto gritar e você vai relaxar... prometo pra você que eu vou conversar com ela e tudo que você quer vai acontecer, só te peço pra esperar um pouco e tentar fazer tudo que ela pedir, do jeito que você sempre fez. Vamos sair mais, se você continuar bem na escola e namorando escondida, bem longe dos meus olhos. Vem cá, papai te ama, minha menina... você acha que eu vou deixar alguém bagunçar com a minha princesinha? Relaxa, domingo tem jogo do Flamengo e eu tenho dois ingressos pra gente... vai tomar banho pra gente jantar.
E a paz volta a reinar. Pelo menos, por mais uns três dias...

P.V. 09:40 25/11/10


A cesta

Pois então eu afirmei aos sete cantos que voltei.
E deveras, o presidente apaixonado quando diz que voltou, de fato, é porque voltou mesmo. Não com qualquer tipo de poderes, ou com uma dessas coisas inóspitas e isoladas que chamam de conquista exagerada e o amor louco, desvairado, propenso a dores que fora característica durante boa parte da vida; digo daquele sentimento perfeito, o mesmo que ainda povoa minha veias e borbulha no meu coração, aquelas palavras que andavam perdidas no mar de ocupações que a vida quase adulta e mais responsável me obriga, aquele vermelho de felicidade que era traduzido nas melhores letras que o autor que vos fala poderia dissertar. E minha musa maior, o que me faltava, o amor da minha vida de todos os tempos desde sete meses atrás, o que eu mais adoro, as carnes que mais matam minha fome, o beijo mais doce, o prazer mais verdadeiro, a sede dos seus abraços, Durique, em forma de sentimento, lhe dedico minha inspiração.
E aí, cheguei na minha residência hoje e me senti um tanto quanto frustrado e até mesmo triste. Digo triste e frustrado, mas lhes explico o que sucede, a maneira como as coisas são colocadas e a verdade que se escondeu por trás de todos os meus sorrisos meio retardados e o orgulho em gritar pra todo mundo o que eu tinha ganhado...
Não que Durique tenha roubado minha idéia, não que ela tenha qualquer tipo de maldade em ter dado esse presente tão lindo, surpresa maravilhosa pela manhã que só pode ser comparada a uma outra coisa também realizada pelas manhãs que provoca alegria semelhante, mas EU que devia ter lhe concedido essa felicidade. Estava em meus planos de homem doente e apaixonado fazer isso que foi feito comigo e fiquei triste em ter que adiar por alguns anos até que a surpresa seja mais uma vez original e competente a ponto de deixá-la feliz.
O meu amor pensa mais rápido que eu e isso também é bom.
Coisas interessantes são essas surpresas inesperadas porque iludem o coração de uma forma tão perfeita que o sentimento pode durar pro resto da vida, que o amor se multiplica tantas vezes dentro de um peito que poderia jurar que nada mais caberia dentro de mim do que a mais nobre das sensações, e essa sensação tão linda é o amor que sinto por Karoline Durique.
De uma forma ou de outra, eu deveria agradecer.
Por quantas vezes na vida, um homem consegue fechar os olhos e dizer que não precisa de mulher nenhuma na vida pois já encontrou sua parceira eterna?
Eu tenho certeza que minhas convicções não são por culpa de uma cesta em cima de uma cama, não são por culpa de ligações pela manhã, não são por culpa de presentes jogados em datas esquecidas do ano. Minha convicção de amor por Durique são seus sorrisos perfeitos, são meus sorrisos perfeitos, são as palavras sussurradas, são os olhos que brilham sem cessar, é o sentimento que nos une, a saudade que nos machuca, o futuro que nos convida...
Eu te amo e sempre te amarei, enquanto houver vida.
P.V. 09:46 23/11/10

domingo, 21 de novembro de 2010

Papo de futuro

Então eu estava pensando em qualquer coisa que não tem absolutamente nada a ver com agora, pois agora já foi, agora é um segundo passado e ao escrever a próxima palavra aquele “agora” já parece tão distante que plano nenhum faria sentido, uma vez que a verdade é a de não concretização.
Minha cabeça me leva por locais dos quais eu não poderia entender muito bem se não fosse o justo caminho percorrido vir à mente em instantes quais esses que eu me sento para relembrar o que fora vivido e tudo mais que ainda há de ser visto. Não que o presente me faça alguma dor, não que esse agora seja de alguma forma ruim para mim, não que tudo que acontece no momento seja chutado para um canto qualquer quando a vida me surpreende com histórias, beijos, amores de madrugada e tudo mais que me faz feliz, mas o importante, pelo menos dentro de mim, é algo diferente, é mais, é melhor, é papo de futuro...
Vou pensando no que não poderia ser pensado nesse instante. Quero o que não me tira a sede, quero o que não me cansa, quero o que ainda não aconteceu, só pra que a curiosidade seja despertada dentro de mim.
Meu pensamento viaja e sempre pousa nos braços de Durique. Já se tornou inevitável e não posso mais lutar contra essa verdade intolerável e um tanto quanto justa, pra não querer burlar a confusão.
Pois sonhei de olhos abertos e achei isso um pouco estranho, talvez nem tanto, mas a idéia me fez borbulhar de alegria quando vi todas aquelas cores vermelhas e amarelas e verdes e azuis, e uma árvore tão linda, tão linda que tive vontade de parar de viver só pra admirar melhor a magia do Natal, quando todos vão fazendo seus desejos e agradecimentos e eu só conseguia pedir mais de Durique em minha vida, e eu só conseguia agradecer a Deus, ou ao Papai Noel, sei lá, por ter colocado essa pessoa tão especial no meu caminho justamente quando o percurso começou a mostrar tantos obstáculos a serem superados...
Sonho acordado quando meus olhos estão muito bem abertos sem vontade de se fechar e vou admirando dentro da minha cabeça as possibilidades de alegria quando suponho hipóteses para o local em que conseguirei me emocionar melhor quando os prováveis fogos estourarem no fim de ano, no último dia desse ano que já se vai. E quatro olhos enxergam bem mais que dois, por isso Durique, princesa dos meus melhores dias, estará ao meu lado, molhando os olhos de felicidade, pensando coisas tais quais as coisas que eu pensarei, olhando tão fixa pro céu estrelado de fogo que não perceberá que meus olhos já haviam se cansado do pouco brilho que se colocava lá no alto e agora encaravam fixamente todo o muito brilho que vem dos olhos dela, tão perfeitos e tão meus, como sempre foram, como sempre serão.
Sonho acordado com as coisas que me darão felicidade, sonho acordado e os olhos teimam em não querer se fechar quando imagino qual tipo de fantasia irei usar no carnaval próximo, quando sairmos juntos, as mãos dadas, a mente alterada já desde cedo, o amor em forma de máscara, a festa da carne que perpetua a deliberação mútua e a paixão coletiva colocando-se dessa vez em dois corações únicos, um sentimento de dois e apenas dois que se completam, que se adoram, que são a melhor coisa que já houve e, espaço para reclamações não há, muito menos nos quatro dias que o ano nos dá para pularmos sem parar, bebermos sem descanso, abusarmos com toda vontade do corpo que é nosso em maneiras que Deus talvez não vá gostar tanto, e registrar os momentos pra que, no futuro, ninguém possa duvidar de como a gente sempre foi feliz...
Sonho acordado e meus olhos teimam outra vez em não querer se fechar quando me deixo estar flutuando nas nuvens, talvez dentro de um avião, talvez sentado na varanda de uma dessas pousadas de montanhas que ultrapassam os limites do céu e podemos, com muita imaginação, tocar as nuvens. Durique ao meu lado, pois a solidão faz mal ao homem; Deus fez o homem e a mulher para que eles pudessem caminhar juntos, a construção do futuro não se faz com apenas um, o destino pede a comunhão, o sentimento pede nada, eu peço mais um beijo.
E sonhando um pouco mais vi uma bela casa. Um apartamento, para ser mais específico. Um belo apartamento, e só vi sonhando porque eu sonhava de olhos abertos. Toda a decoração, todo o trabalho, todo o suor, todos os problemas que foram enfrentados, e ver todas aquelas paredes de pé, bem pintadas, o tapete no chão que nos convidava para deitar como duas crianças, Durique e seu lindo sorriso brilhando do meu lado, se apoiando na cadeira bem colocada da mesa de jantar, perdendo seu olhar entre a cozinha e a sala, e aquela enorme TV pendurada na parede de madeira que fazia um ótimo contraste com a modernidade colocando à prova essa nova tendência de decoração... rs.
Vi um pouco mais nesse sonho. Vi minha própria pessoa, sozinha dentro desse apartamento, me vi sentado naquele sofá maravilhoso conversando sozinho com a televisão ou brigando, louco, com esse novo jogo que havia adquirido na última semana, e aquele carrinho maldito lá dentro da televisão que não me obedecia, insistia em sair da pista e me colocar em posições distantes do pódio, e percebi a hora...! Karol já estava chegando do trabalho e a surpresa que eu tinha em mente estava atrasada.

As horas se passaram, a maçaneta da porta de madeira girou e minha princesa entrou. Mesmo com o rosto cansado, ainda se faz tão perfeita... e o que poderia ser melhor do que ver seu sorriso se abrir quando nota que eu fiz a janta mais uma vez? O que pode ser melhor nesse mundo do que ouvir da sua boca que lhe faço feliz, mesmo tendo queimado a carne em um dos lados, mesmo tendo deixado o arroz com brócolis cozinhar além da conta, mas ainda assim ter acertado na arrumação da mesa e a perfeição de tudo ao redor, só esperando que ela chegasse e se sentasse pra jantar com seu marido...
Num outro sonho que eu tive, os olhos ainda abertos, ouvi um choro de bebê no último quarto do corredor... isso é papo de futuro.
P.V. 10:28 21/11/10

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Monólogos de Saquarema

Falaram por lá, na verdade, por aqui também, que o homem, no auge de suas intenções, deve se retirar pra que o mundo entenda suas possibilidades, pra que o futuro seja melhor enxergado, pra que nada mais possa incomodar as decisões que foram tomadas com o coração e só com o coração. E queriam o Sol como aliado, mas a fraqueza do astro não impede que um presidente vença sozinho...
Sentei minhas nádegas pomposas naquele banco frio e ainda úmido pelas águas torrenciais que caiam, não só na Região dos Lagos, mas também em todo o resto desse meu estado grandioso. Admirei ao máximo as inúmeras intenções que o mar me proporcionava, deliciei-me aos goles enquanto as idéias borbulhavam dentro da minha cabeça, como sempre acontece quando me embriago de sensações e principalmente de amor, deixei que a vida corresse lentamente por mim, da mesma forma que me cortava o vento rasante da brisa fria do mar...
Poucos poderiam entender o que significa as pequenas coisas que um homem sabe pensar quando se coloca de frente pro mar e entende sua insignificância perante o resto de tudo, e ao mesmo tempo se coloca tão grande, tão maior que esse mesmo mar, pois se fosse de sua vontade poderia lhe domar com um estalar de dedos... céus e mares ainda me pertencem... mas prefiro continuar solto, correndo pela terra.
Disse uma vez e volto a repetir. Retirei minha tropa da guerra pra poder admirar um pouco de paz. Quanta crueldade vi, quanta morte, quanto sangue derramado e a sujeira que sempre tinha que ser retirada pelas mãos minhas dando lugar à limpeza que seria outra vez derramada de vermelho... mas tudo passa, nada fica, a intenção é sempre olhar pro horizonte, ainda que este se mostrasse monocromático e tão retilíneo que a vida pudesse ser subjugada e colocada de castigo só por ser tão obediente à Física e todos os seus podres parâmetros lineares. Estranho... o mar tão nervoso, e seu horizonte tão calmo... Parece um presente nervoso e um futuro mais calmo, abordando explicações para que não tem essa capacidade plena...
De onde estava, nada mais era tão importante quanto o que eu tinha para falar, quanto o que eu tinha guardado na minha mente em forma de pensamentos tão meus e de mais ninguém que poderia jurar por uns instantes que eu conversava comigo mesmo sem perceber outras vozes ao meu redor. Por mim, ainda que me chamem de egoísta, eternizaria momentos assim, penduraria em molduras tão belas e imponentes que sempre poderia me lembrar quando passasse próximo...
E o Sol não deu as caras pois não fora convidado.
As nuvens têm muito mais a dizer do que um simples raio forte de luz que só faz irritar aos olhos do que deveras dizer alguma coisa construtiva, mostrar algo que realmente importe, fracas tentativas de se comparar com a Lua, esta sim, que fez uma falta enorme ao não se mostrar em toda sua sabedoria, toda sua beleza, a perfeição no céu que faltou no fim de semana...
Queria dizer um monte de outras coisas, um tanto quanto de troços perdidos na minha cabeça, queria dissertar como quando jovem, queria me livrar de inúmeras dores que vão martelando aqui dentro de mim, mas já estou preso ao que não me solta, à censura da verdade que é tão boa, mas mal interpretada...
Retiro-me.
P.V. 13:30 18/11/10

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O comparativo do tempo

Nada mais poderia interessar a qualquer homem do que se fazer presente nos instantes mais, ou menos, calmos da vida que já passou, ou da vida que ainda vai passar, analisem, os senhores, como queiram.
Tenho minhas opiniões próprias, as pessoas que me cercam me olham com olhos tão devassos e gulosos que não consigo mais focar no que sempre quis, ouço em cada momento de respiração que já não sou mais o mesmo, gritam em meus ouvidos sensíveis palavras tão estranhas e idiotas que, uma vez ou outra, me deixo levar pelo pensamento se, realmente, sou eu mesmo quem está agindo de forma errada, ou todo o mundo foi concebido de uma maneira mais imbecil, tentam me dar conselhos que me fariam desviar do caminho escolhido, das marcas eternizadas na areia por quatro pés, não desistem nunca de todo esse intento cheio de pecados e parece que ainda não me acostumei, mesmo sabendo de tudo isso há mais ou menos 21 anos...
Deve ser por esses motivos que muitas vezes durante um único dia, a mente me leva a lugares tão distantes e tranqüilos que me sinto mal, como se as lágrimas esquecidas quisessem, de uma só vez, cair pelo meu rosto, rasgando de fogo o caminho que percorressem pra que todos vissem, quando me colocasse nas ruas da amargura, o quanto chorei calado sentindo falta do que mais me fazia feliz, do nada, do silêncio, dos conselhos que não eram ouvidos, das conversas sérias que não haviam, daquelas coisas que não tinham necessidade de acontecer, e justamente por essa falta de necessidade, não aconteciam.
Tem um tanto de pessoas nesse mundo que olha a maioria das coisas com olhos que eu nunca tive, enxergam as pequenas coisas com palavras tão absurdas, interpretam ações com tanta maldade dentro do coração, não se deixam abrir para o que está por vir, não prestam atenção nos perfeitos detalhes que fazem da vida algo mais interessante e belo, cometem erros que se repetem de tantas maneiras que chegam a doer dentro de mim todas essas bobeiras e palhaçadas incríveis, logo em mim que tenho todo o poder de não querer entender ou fingir que entendi tudo que se passa ao meu redor, logo em mim que vivo gritando aos quatro ou cinco cantos do mundo pra que deixem que as palavras entrem por um lado e saiam pelo outro, sem rastros largados, sem fragmentos de idéias, sem formações possíveis de opiniões podres e fétidas.
O ponto que me faz sentar nessa cadeira e ser obrigado a cuspir tantas hipóteses inúteis é um fato isolado que deveria, tão bem, ser estudado que chega a ser um tanto quanto ridículo e banal, mas a manhã da terça feira fez de mim um tanto quanto infeliz, no silêncio ignorado de um presente que não se compara com o saudosismo do antigo calar de bocas do passado, quando nada mais importava do que a felicidade ingênua da falta de responsabilidades, quando a alegria não precisava ser procurada ou querida, simplesmente existia e atingia meu corpo como chuvas torrenciais que caem quando se deseja o Sol. O fim de semana não mente...
Mas ainda assim, o filho sábio ouve o pai.
Deixei de lado minhas armas brancas e pretas pra que nada mais incomodasse o descanso de um presidente quando este necessitasse como louco da paz tão desejada. Fiz uma curva à direita, coloquei-me a deriva, deixei que o exército passasse por mim, recuei minha tropa, retirei-me da guerra...
Lavo minhas mãos... e o resto do corpo também.
P.V. 10:01 16/11/10

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Domingos de manhã

Ninguém, jamais, em mundo outro algum poderia imaginar, quem diria acreditar, porém a verdade não se contém, é bem mais forte que qualquer outro pensamento de desconfiança e sinto a loucura alheia muito mais amena do que a minha; amor igual ao meu não existe.
Também sei descrever, sei escrever, sei contar lindas históriias de amor..
Espera-se muito ou pouco de um domingo jogado ao léu depois de um outro sábado qualquer. Desde que os dias são dias, tudo é igual, porém depois do vigésimo quinto dia do quarto mês desse ano décimo depois do segundo milênio, a vida parece correr mais devagar, mais colorida, os sábados são outros, o frio não incomoda, o domingo acorda perfeito, e ela está lá, deitada do meu lado...
Não tinha mais sono para inventar depois de tanto sonhar acordado com a maior realidade da minha vida que é essa mulher perfeita que estava de olhos fechados deitada ao meu humilde alcance. Admirei ao ponto máximo de não conter mais minhas mãos e deixar que elas tocassem seu corpo de princesa:
__ Bom dia, princesa...
Já não se fazem mais sentimentos como antigamente, não consigo mais me conter, me segurar, me frear, o que ela faz ou deixa de fazer é bem mais forte do que qualquer coisa que eu possa vir a querer, é meu, é dela, é nosso, é muito... e é tão bom...
Decorei seu corpo mais de uma vez e esse vício doentio toma conta de mim de tal forma que nunca mais conseguirei deixar de encostar meus dedos insanos na sua pele macia; quero sempre mais, e ela é bem mais do que eu poderia querer... Seus beijos, sua boca, minha boca, meus beijos, e o ciclo continua, um pouco mais rápido, e tenho mãos que passeiam, e tenho mais beijos, apresento-lhe minha língua, o amor não se contém, a paixão invoca suas cores vermelhas, o lapso do sentimento se extingue e dá lugar ao calor do tesão, seus beijos me envolvem, me perco, não tenho vontade alguma de redescobrir o caminho e enfim, caio em tentação.
Há de nascer, ainda, em algum lugar desse grande mundo, homem mais feliz que eu nos domingos de manhã em que Durique está ao meu lado.
O resto do mundo foi simplesmente o resto do mundo, fantástico por assim ser, incrível só de estar ao seu lado, impressionante como se cresce a cada dia que passa...
As palavras me deixam com mais saudade ainda...
Oi amor, espero que goste, eu te amo demais