sábado, 29 de maio de 2010

Escrevendo de manhã

E vem a mulher da minha vida, futura mãe da minha linda filha, vem a moça dos lábios de mel (já não posso plagiar ao pé da letra o amigo Alencar) com suas intenções terceiras, com suas intenções ótimas, com tudo aquilo que ela carrega e o mundo já consegue enxergar de longe, vem com seu sorriso, vem com seu sorriso e sabe que é o que mais me apaixona pois sua felicidade é a minha em dobro, sua alegria reflete em mim como raios que ainda não nasceram, vem a minha mulher, vem essa mulher perfeita em todos os seus ângulos, todas as extremidades, todas as nuances de um corpo, um banquete de amor que se deita na mesa pronto pra que eu, guloso, delicie meu apetite.
Mas não se contém.
A mulher que eu amo também tem defeitos por mais que eu grite aos sete cantos do mundo que a perfeição lhe envolve. Por mais que eu tenha gritado, e peço desculpas a mim mesmo pelo meu erro.
“...dei de cara com a mais formosa mulher que pode existir na face do meu conhecimento e fui sincero ao dizer que nem Deus teria capacidade de fazer algo tão perfeito, não pela incompetência do Pai, mas sim pela sua intenção de manter os defeitos em todos pra que se identifiquem...”
Já não tenho mais o que dizer e acredito que cheguei num ponto que nem mesmo tudo que é dela, tudo o que poderia me deixar triste, todas as singularidades de um casal e essas coisas que o mundo perpetuou sobre uma possível obrigação de existir, falácias de que toda relação deve ter brigas, nem isso, nada, acredito e tenho certeza que não há, pelo menos nesse mundo, coisa alguma que consiga me tirar dessa mulher, que me faça deixar de pensar em Durique, qualquer lugar, qualquer ocasião, situação, não nasceu nem há de nascer algo que eu ame tanto quanto a moça de 17 anos que me visita e aceita visitas minhas...
Certos momentos são tão perfeitos, e me pego mais uma vez escrevendo essa palavra, que admirar seus olhos sorrindo, e seu rosto brilhando, e olhando pra mim, quem sabe pro nada, a intimidade de um casal como ela gosta de dizer, tudo isso faz de mim o homem mais feliz, a pessoa mais feliz do mundo.
Durique é meu porto seguro, é o único lugar onde eu sei que posso estar e me sentir bem, é onde eu esqueço dos meus problemas que ainda não existem, é onde eu me seguro se algum dia começar a cair, é onde eu posso escrever todos os meus planos, é onde eu posso gritar todas as coisas que quero fazer, é onde eu posso beber, é onde eu posso dançar, correr, pular, Durique está, Durique é, continua sendo depois de um ano, Durique será, Durique já se faz dona de todas as flexões do verbo, Durique já foi dona de circo, é dona de mim, rainha de bloco, vídeo-game onde me perco, Durique é o que minha imaginação quiser que ela seja, e minha intenção só pede que ela seja minha.
Existem exageros nessa vida, eu sei.
Mas não há nada comparado ao tamanho do sentimento que eu tenho guardado dentro do peito e é só dela.
Eu amo você.
P.V. 08:48 29/05/10

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Desejo infinito

Veio essa mulher dos cantos mais estranhos que o mundo poderia me oferecer, veio essa mulher do nada com tudo e me mostra o quanto eu posso ser feliz e me mostra o quanto de felicidade pode morar dentro de um homem quando se sente o sentimento mais lindo que duas pessoas podem ter. Karoline Durique e suas manias, todos os seus incríveis problemas, talvez aquela queda de cabeça quando jovem, Durique, sua beleza inatingível, essa perfeição cheia de defeitos que escorre como água limpa, seus beijos, quero seus beijos, seus olhos tão meus, que miram nada, que só visam horizontes vazios...
Sinto-me um nada perto dela, sinto que nunca conseguiria alcançá-la em seus pensamentos confusos sem nexo, sem intenções algumas, sem loucuras e com medos das coisas que eu faço só pra que ela ria, só pra que ela seja um pouco mais feliz do meu lado, só pra que ela possa dizer que tem uma pessoa que faz coisas que a maioria das outras não faria... e se eu danço, e se eu pulo, se eu grito, é só pra ver feliz a mulher que eu amo.
É uma saudade tão absurda, é uma coisa tão imensa, são conflitos tão grandes que pareço explodir a todo momento, morro de medo de tudo isso junto, de tudo isso ao mesmo tempo dentro de mim.
Karoline Durique me maltrata. Isso é fato comprovado.
Sabem do que existe e se não sabem também não faço questão de dizer, mas o que morre em mim nasce nela. Fico louco de vontade, louco de desejo, e tudo isso quando se coloca na minha frente, em pé, deitada, de lado, ninguém pode ser testemunha do que eu sinto e isso que não mais se controla, e essa coisa de querer rasgar roupas...!
Minha boca enche-se de água, sinto de longe todo o seu sabor, durmo e acordo lembrando de todas as possibilidades, de todos os medos, e a luz apagada que me faz enxergar bem mais do que poderia, e pele, e carne, e sentimento...
Quero mais, quero bem mais do que tardes perdidas, quero muito mais do que sofás pequenos, quero mais do que portas abertas, quero mais do que se possa pedir, e quero sua boca, e quero sua língua...
A cada segundo, cada momento que se vai eu vejo que é um desperdício de tempo, pois tantas outras coisas mais interessantes poderíamos estar fazendo, coisas melhores do que essa mania feia de estudar, e dormir, e andar, respirar, comer...
Não sei mentir para mim mesmo e assumo com todas minhas palavras mal escritas, minhas frases perdidas que estou sentindo, justamente agora, uma saudade que vai além do que é necessário. Todo esse ócio, e essa falta do que fazer, e esse tédio, tudo isso acaba comigo, me transporta só para ti, e em ti, me perco...
Durique...
Jogo perigoso que eu fiz questão de entrar, jogo perigoso do qual não quero sair nunca mais.
P.V. 10:27 24/05/10

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O reflexo do espelho do Flamengo

Choram, aqueles que têm o amor no coração, aqueles que se fazem felizardos pela boa escolha, pela opção certa quando ainda não tinham noção de muita coisa nesse mundo terreno e cheio de imperfeições, choram aqueles que são melhores, aqueles que têm total noção dentro do coração de que nada mudou, de que o máximo foi dado, de que o homem não poderá jamais superar o manto, de que a história prova que amanhã é depois de hoje, e o passado já fica pra trás assim que piscamos nossos olhos.
Sabem do Flamengo, sabem do que representa uma nação, sabem o que faz no peito de um homem dedicado como eu, quando aquela pelota redonda, por bola ser, adentra no retângulo, as três traves do goleiro inimigo e o mundo se anima, e o povo levanta, e as vozes se exaltam pra gritar...! Todo e qualquer problema é esquecido, nada mais importa do que ser flamenguista, nada mais importa do que poder comemorar com os seus aquilo que mais ama, o manto sagrado que lhe dá mais felicidade em toda a sua vida.
Foi-se um tempo em que, nas minhas mais instigantes conversas com os irmãos mais próximos, abordava teses profundas, das quais, lembro-me de uma que cantava sobre uma possibilidade de o homem ter sua vida espelhada no reflexo do que fazia seu respectivo time de futebol. E ficava lá, com meus erros, apaixonando-me todas as semanas, morrendo por dentro, derrubando lágrimas de sentimento por quem nunca mereceria gotas sequer de meu pranto, e o Flamengo lutando, incansável, derrotas seguidas, muita batalha, a dificuldade em outros tempos... tudo era verdade na minha boca antigamente; ainda se fazem verdades na minha boca hoje em dia.
Vai o Flamengo, entidade maior do futebol mundial, dando tudo de si, alcançando patamares que minha pessoa jamais poderia imaginar, vai o Flamengo levando alegria a muitas pessoas, de preferência ao mesmo tempo, vai o Flamengo fazendo história, arrastando seguidores, formando uniões, vai o Flamengo enchendo estádios, digam-se eventos, vai o Flamengo enquanto também vou por aqui arrastando minhas multidões, distribuindo felicidade, marcando meu nome na história de leve, abrangendo os limites de minha União, abarrotando os novos eventos organizados e conjeturando possibilidades maiores de futuro.
O pouco que me cerca poderia me satisfazer. Flamengo me completa.
E se ganha, e se perde, e se é eliminado, que amor não cresce nas adversidades?
Choram os mais felizes, choram de felicidade por saber que têm o melhor dos times, choram pois têm a noção básica e simples de que estamos vivos, mais vivos do que nunca, de que homens, aqueles que vestem o manto sagrado, vêm e vão, porém o vermelho e preto do nosso sangue continua intenso e correndo nas veias.
Agradeço aos que me seguem, e se me criticam, fico também feliz, se curtem com a infelicidade momentânea de um monstro do futebol, felicito-me mais uma vez. Sei que nosso nome deve sempre ecoar em bocas sujas e imundas, e roupas horríveis, ditos uniformes, o arco-íris continua brilhando no ar e invejando o poder do Flamengo. Fracos guerreiros trabalham de forma fraca.
Saudações a todos.
P.V. 11:28 21/05/10

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O dia C

Certo dia desses, como era de se esperar, acordei.
O querido leitor, a querida leitora, todos que ainda teimam em me acompanhar talvez já não se agüentem da mesmice que corrói o ser das minhas palavras, talvez já não se contentem com esse pouco, talvez estejam tão loucos quanto eu depois de todo esse vazio que veio mastigando minha vida, toda essa falta de ilusão, ou essa ilusão excessiva, vá saber... somente não deixem que nasça por aí uma dessas idéias fixas. Deus que te livre de uma idéia fixa, querido leitor.
Pois acordei na raiva do homem, decidido por natureza, adentrei em meu chuveiro, deixei cair aquela água gelada sobre meu corpo fazendo a segunda parte da sessão de extração da cama de minhas costas após o insucesso do despertador. Saí, ainda molhado, com frio, um pinto pingando indeciso, triste eu diria, alguma coisa estava estranha naquela manhã como tantas outras em que me levantava de madrugada para viver 12 horas de intensa labuta, de intenso trabalho numa profissão que escolhi a esmo.
Toda uma vida parecia estar errada, as decisões eram feitas e não refletiam em conseqüências algumas, algumas realidades me doíam tão fundo no peito que na maioria das vezes preferia admirar a mentira para não sofrer tanto. Mas nada disso se compara, nada disso equivale ao que passava por dentro de mim naquela manhã, ao que vinha martelando dentro do meu coração há tanto tempo.
Os desafios miram o horizonte de um homem, os poderes que ele carrega na mão e a coroa de presidente que lhe pesa na cabeça mostram o caminho, o amor que possui dentro do peito já não cabe dentro de si e extravasa pelos poros, molha o corpo, cai pelo chão, desperdício... Usemos, então.
Fato concreto é que acordei naquela manhã decidido a conquistar todas as mulheres que passassem por mim.
E vi que era bom, e foi bom, e assim foi. A tristeza ficaria para trás, o amor seria disseminado, as histórias me acompanhariam de novo, eis que a ave Fênix se mostrava viva ao meu lado.
Fui embelezando minha própria beleza frente ao espelho de meu banheiro, fui analisando possibilidades, penteados novos, aquele gel mais cheiroso, escovei duas ou três vezes os dentes, me admirei, fiquei de perfil, de frente, de costas, e vi que era bom, e foi bom, e assim fui.
Botei meus pés para fora de casa como pisa um imperador pronto a conquistar metade do mundo sem um exército de homens, mas com as palavras que Deus lhe deu na boca, com a arte da conquista que desenvolveu desde os tempos de jovem, com a sagacidade estranha de um homem estranho que, estranhamente, consegue coisas improváveis. E tudo isso estava gravado na minha cabeça. A convicção me acompanhava...

O dia C II

Fui andando, solene e calmo, o sorriso marcando cada passo de minha caminhada enquanto tudo ao redor ainda se fazia escuro, enquanto o mundo dava marcas de como eu gostava da vida, enquanto a Lua ia se escondendo devagar, com medo das coisas que ainda aconteceriam em minha volta.
Avistei um vulto ao longe.
Certos homens não precisam enxergar bem para saber que uma mulher está vindo. O plano não poderia falhar, um passo para trás não poderia ser dado, em hipótese alguma eu deixaria passar essa oportunidade perfeita naquela rua vazia, naquele silêncio da noite, na escuridão que nos fazia eternos em nossa vida a dois. Vinha ainda o vulto, andando devagar, cambaleante, alguma coisa um pouco tensa...
Ainda estava longe, não tinha total vista do que era, de quem era, de como era, mas para mim, sinceramente, isso já não importava mais, vinha balançando, talvez já estivesse hipnotizada pelo meu olhar que a fuzilava há algum tempo. Minhas palavras eram exatas e certeiras, tinham que atingir um ponto crucial, aquela bela mulher se faria minha de qualquer jeito, deveria começar bem o dia...
Ao se aproximar um pouco mais, percebi algo estranho, a criatura era baixa, tinha pouco cabelo, cambaleava muito, parecia cair a cada instante, não se via alguma beleza, não se via pouca idade, não se via quase nada de bom, na verdade. Estava completamente bêbada. Quando a luz de um poste acertou em seu rosto pude lhe identificar... Era Perereca!! Famosíssima cachaceira de nossos tempos, de nosso humilde bairro, com suas roupas rasgadas e a boca com essa falta de dentes óbvia e visível, com seu cabelo mal cortado, com todos os palavrões gritados pelas ruas enquanto passava na frente de carros, enquanto arrumava confusões. Apaixonei-me, de uma forma que há muito tempo não me apaixonava. Ela já ia passando por mim, ia me ignorando, ia deixando-me de lado, quando puxei-lhe pelo braço. Perereca gritou. Fui sincero o suficiente para dizer, no fundo de seus olhos que já iam se fechando como se estivesse com um sono muito grande, que sua boca deveria pertencer à minha boca, que seu corpo deveria embolar-se com o meu numa dança macabra e amorosa, que nossas línguas haviam de se perder num beijo eterno para marcar o começo de um amor, de um sentimento, o fim de uma paixão. Soluçou na minha cara e senti todas as cachaças de todos os bares vindo em direção ao meu nariz. Embriaguei-me de amor. Beijei-lhe...
E ela me batia, se fazia de difícil, tentava gritar dentro da minha boca, mas tola... jamais conseguiria, minha vitória tinha sido alcançada. Aquele vazio dentro de sua boca era algo estranho que ainda não tinha experimentado, mas não chegava a ser ruim. Se não fosse o fato de ela estar há algum tempo sem banhar-se, talvez poderia lhe levar lá em casa para meus pais conhecerem.
Larguei lá no chão Perereca, sedenta de amor, louca de paixão, e parti, rumo ao meu destino, pois não poderia perder o trem.

O dia C III

Sabem vocês, e se não sabem eu vos conto, de uma certa intenção de homem, deixando de lado a parte do ser humano, uma intenção de ser feliz, uma intenção de fazer o bem, essa mesma intenção de estar gravado na mente de várias pessoas, esse meu antigo desejo de querer ser imortal, de morrer e continuar vivo pelo menos no coração de quem me queira bem, quem sabe eternizado em palavras, e os jovens, todos sedentos de prazer, e as meninas virgens dando seus gritinhos loucos lendo minhas idiotices, lembrando com alegria da minha felicidade. Estaria eu, quem sabe no céu, ao lado de Pedrinho olhando lá de cima toda essa falácia, e sorriria feliz...
Um trem me aguardava, provavelmente cheio, pra me levar ao destino que tanto não gostaria de estar, mas a responsabilidade do dia, as contas de cartão que chegam lá em casa e tudo mais que eu gosto de fazer e comprar me obrigavam a trabalhar sorrindo. Subia devagar a rampa da passarela da estação. Estava feliz naquela manhã, nada me incomodava, tinha um propósito de vida, e via que era bom.
Ainda não tinham nascido os primeiros raios de sol quando fui atraído pelos seus lindos olhos verdes.
Sim, queridos, eram olhos lindos e verdes os daquela mulher que estava do outro lado da grade, vendendo os bilhetes que me dariam possibilidade de adentrar na estação, pegar meu tão valioso trem e chegar no hospital. Certas vezes me deixo levar pela magnitude de um instante e os fatores externos possuem meu corpo e me tornam escravos de mim mesmo e de meus desejos secretos. Uma moça assim tão bonita vendendo bilhetes?? Que cruel pecado do mundo...
Talvez eu ainda estivesse inerente ao que se desenrolava em minha volta, e essa transição da madrugada para o dia, e a despedida da mãe Lua dando as mãos para o rei Sol, e essa natureza bela que se refletia num céu pronto para nascer tal qual os olhos da deusa que prostrava-se frente a mim.
E não podia mais me abster da verdade, certas coisas que sinto em todas as ocasiões de sentimento em que me vejo cercado, toda a sinceridade do amor que não me pertence e isso que morre e nasce dentro de mim várias vezes por dia. Resolvi abordar o que não podia mais se esconder.
E falei da minha doença.
Disse-lhe, com toda a sinceridade que me é peculiar, sobre as dores que meu coração já sofrera e esse medo eterno que sinto de que tudo se repita, de imaginar por um instante que alguma coisa saia errado e eu faça sangrar o meu sentimento e o da pessoa amada.
Retirei-me para que pudesse descer as escadas e adentrar no trem que já me aguardava apitando enquanto o maquinista gritava na porta que era a última chamada, rumo à Central do Brasil. Despedi-me e parti.
Já dentro da locomotiva, essa maravilha da tecnologia moderna, onde o ar condicionado é ligado sempre no máximo para congelar os trabalhadores que acordam 4 e meia da manhã, forçando-os a ficarem doentes e poderem pegar dias e mais dias na UPA mais próxima de suas residências, ia pensando, enquanto procurava um lugar para sentar e tentar descansar um pouco depois de duas grandes conquistas que já havia conseguido realizar antes mesmo de o dia amanhecer. Já sentado e devidamente acomodado, pus-me a fechar os olhos e relaxar por alguns instantes.

O dia C IV

O mundo ainda não entendeu todas as minhas intenções, e isso realmente preocupa meu pensamento que já não se contém sempre que começo a conjeturar sobre o que ainda está por vir, sempre que não consigo ficar calado vendo o passado se distanciar sem o seu devido reconhecimento. Algumas vezes me irrito com tudo que acontece, mas justamente nesse momento do pensamento, onde a raiva ia tomar conta de mim, fui iluminado por uma voz dentro do vagão que ia gritando aos berros: “Bala Halls, 1 é 50, 3 por 1 real!”
Vejam os senhores, e senhoras, algumas senhoritas, poucas virgens, que nada mais eu fazia do que estar sentado a pensar nos meus próprios problemas e complexos, quando aparece-me essa mulher louca e insensata a gritar em meus ouvidos, a tirar-me o sono, a fazer brilhar meus olhos com toda sua elegância e magnitude na arte do comércio popular. Surpreendeu-me com sua promoção maravilhosa na qual deve lucrar muito durante um longo dia de trabalho. Admito que cresci meus olhos em seu dote que poderia me ser passado se algo mais sério como um casamento acontecesse entre nós. Mas precisava de um pretexto para me aproximar, para trocar palavras, para obter sua boca na minha e apaixoná-la marcando sua vida para todo o sempre dentro daquele trem do amor que corria nos trilhos de nosso destino. Pensei em dizer isso que escrevi agora, mas não tinha certeza se funcionaria. Achei melhor comprar o produto.
__ Se três balas são um real, você me vende cinco por um real e cinqüenta?
Foi o bastante para que parasse em minha frente e dialogasse comigo sobre as leis da matemática e tudo que envolve os negócios, lucros e despesas, promoções, capitalismo, a lei da procura e da oferta, o início do Mercantilismo em Portugal e seus parentes burgueses antigos da distante Europa da Idade Média. Disse que se sentasse, que ficasse mais um pouco, que chupasse mais uma bala, por que não? Fui direto ao ponto, não deixei de ser franco.
__ Sempre gostei de bala Juquinha, mas o seu Halls meu conquistou...
Brilharam seus olhos com tamanho elogio que era agora dirigido a sua pessoa. Peguei em sua mão, não senti a recusa. Beijei-lhe. O hálito não era dos melhores. Ofereci uma de minhas balas recém compradas. Fomos até a estação derradeira num beijo eterno que só era interrompido para trocar o sabor da Halls em nossa boca. Experimentamos todas; melancia com goiaba é a melhor.
Pois desci na Central do Brasil, enquanto ela voltava no mesmo trem pra dar continuidade a sua rotina diária de trabalho da mesma forma que eu também ia dando continuidade a minha. Deixem-me fazer um adendo aqui nesse momento, pois não me calo perante os percalços da vida, não me deixo levar por pequenos detalhes e algumas ocasiões são propícias para que as dúvidas sejam completamente extintas ou então, pelo menos, explanadas. Estava lá na Estação Central do Brasil e lembrei-me quando, ainda jovem, ainda criança, sempre ouvira falar dessa tal de Central do Brasil. E já tinha noção de tudo que me entrava pelos ouvidos sabendo associar cada palavra a sua origem, ao seu significado puro, tão puro quanto minha alma. Se tinha na escola aulas de geografia, ficava com medo de questionar o professor se o centro do nosso país situava-se assim tão perto de nós, somente alguns minutos dentro de um trem e lá estaríamos nós, no coração desse Brasil brasileiro. Uma grande falsidade essa tal de Central do Brasil, coisa boba pra enganar crianças inocentes como eu sempre fui.

O dia C V

Fui andando, caminhando solene e calmo mais uma vez, dono do mundo, localizado no meio do país, de onde não deveria sair, talvez um altar devesse ser construído, talvez vermelhos tapetes devessem ser colocados sob meus pés pra que eu não os sujasse no árduo caminho de saída do trem até o metrô. Essa baldeação acaba com minha saúde, essa distância percorrida entre um sono e outro tira minha motivação de dormir nos transportes, e quase caio no chão...!
Perdão aos senhores, e perdão às senhoritas, algumas ainda virgens com seus gritinhos de sempre, mas tropecei em meu caminho, quase dou com minha cara, tão linda, no chão, quase me estatelo ao solo sujo e fétido dessa estação derradeira e quando me virei para trás a fim de ver o motivo de tal explanação de queda, deparei com essa mulher sentada no chão, a lata velha de Leite Ninho na mão balançando, talvez pedisse dinheiro aos transeuntes apressados em trabalhar, talvez fizesse algum tipo de mágica onde sairia, provavelmente, um coelho daquela lata malfadada. Apiedei-me...
Vejo sentimento em muito pouco, mas nesse tanto jogado ao chão enxerguei mais do que apenas desejo. Vi sinceridade. Olhou-me com olhos marotos, algumas remelas, nenhum brilho.

Entendem meu ponto vista, o mundo começa a me enxergar, conseguem ver onde quero chegar com esse pandemônio, a missão está clara aos olhos de quem me lê? Como sou tolo... essas idéias fixas ainda me matam, Machado...
Um amor é um amor, um sentimento sempre será um sentimento, mas os homens da conquista, guerreiros eternos da paixão do instante se rendem a um presidente quando este usa de suas artimanhas e seus intensos códigos de safadeza a fim de chegar nas suas vontades, a fim de matar seus desejos.
Comprei balas da bela camelô do trem.
Tinha ainda algumas moedas.
Encarei a pedinte. Indaguei-lhe sobre sua vida, perguntei se sentia fome, quis saber de sua presença e motivos por ali estar, quanto já havia arrecadado naquela lata, o que faria pra ganhar algo mais... Fui direto no meu interesse. "Beija-me a boca que deposito meu trocado nessa tua lata maldita, ó mulher insana, jogada ao chão, que me faz tropeçar na tua beleza enquanto dirijo minha pessoa à responsabilidade diária de minha função na área da saúde."
Forças pra responder ela não tinha, balançava ainda a lata de lados para lados fazendo nascer uma onomatopéia característica. Botei a mãos nos bolsos, um esboço de brilho em seus olhos, ajoelhado como eu estava, joguei uma moeda na lata, um barulho, um beijo, minha mão esquerda na lata, minha mão direita em sua nuca, seu espesso cabelo não deixava que meus dedos pudessem segurar com mais força. Chupei-lhe a língua quando joguei a segunda moeda dentro da lata e um barulho mais alto foi reconhecido, talvez fosse uma moeda maior, talvez de dez centavos...
Já não podia mais estar ali. A libido ia tomando conta de meu corpo de forma tão acentuada que os outros trabalhadores, tais como eu, que passavam a caminho de seus respectivos empregos já formavam um círculo em volta desse amor momentâneo que eu participava com felicidade e prazer.
Levantei-me. Joguei mais algumas pratas na lata da linda pedinte. Fui em direção ao metrô, a última das locomotivas que me levariam ao destino final de minha viagem.
Esse mundo anda cada vez mais tenso, cada vez mais estranho, e eu, humilde sempre com minha confiança excessiva, mostro aos cinco cantos que ainda restam, o quanto de bom poderia ser feito, o quanto de bom há de ser feito para que nada mais de ruim aconteça, uma antagonismo incrível, a luta do bem contra o mal, minhas palavras medidas contra atitudes impensadas.

O dia C VI

Mas seriam só pensamentos jogados, seriam coisas tão incríveis e difíceis de se tornarem reais que me cansaria só de pensar, me cansaria de conjeturar as possibilidades de realização num singular infinito. Pois bem... que venha o coletivo, que venha o plural e me leve além. Talvez seja esse o intuito desse dia que amanheceu ainda agora, nos primeiros raios que o Sol tem coragem de jogar sobre nossas cabeças; na minha não, pois já me encontro dentro do vagão do metrô, meio de transporte tão horrível dessa nossa cidade linda.
Enfim, o hospital, segunda casa onde mato-me de trabalhar para conseguir, sem sucesso, pagar todas as contas do início do mês.
São tantas as intenções, são tantos medos que ainda carrego dentro de mim que miro horizontes diferentes enquanto troco minha roupa nesse vestiário, não tenho coragem de encarar o espelho temendo as dores que eu causaria em mim mesmo, me vejo pronto para adentrar no recinto laboral, o centro cirúrgico que me aguarda saudoso, os amigos funcionários que também bem me querem, a dor que não me deixa, o medo de ser feliz, o antigo reflexo do espelho que me segue, intenso, o dia vai passando, as coisas vão levando a tristeza, o tempo, rei em todos os aspectos, mostra que o relógio pode ser o maior aliado na missão de fazer esquecer, e a médica vai por ali anestesiando a paciente, preparando tudo para que seja dado o início de mais uma cirurgia, uma intervenção, o bisturi que rasga a pele como rasgam também meu coração em cada uma das esquinas que caí no dia de hoje, mas a médica precisa atender uma chamada importante, abandona a sala, me pede para tomar conta da paciente.
Deus não entende... jogou mais uma esquina no meu colo.
Meu coração sempre tão fraco, e essa beleza toda jogada em cima da mesa cirúrgica. Queria nomes, queria informações, queria motivos, quis tanto, e ela, tonta pelo começo do efeito de todas aquelas drogas administradas, não sabia muito bem o que dizer; senti um pouco de tensão em minhas palavras, algo como uma covardia no que estava prestes a acontecer, algo como se não fosse eu mesmo quem ali estivesse, mas vejam, nada mais estranho do que estar ao lado de uma bela mulher num momento difícil de sua vida, nada melhor do que dar o apoio necessário, nada melhor do que poder ajudar quem tanto precisa, uma mão firme para apertar, um conselho saudável, um corpo quente...
Fui logo abordando as possibilidades de erros fatais naquele procedimento cirúrgico, falei de minha experiência, disse de quantos pacientes vivos vi entrar, e da quantidade absurda de pacotes que fui obrigado a executar após aquela cirurgia que era tão complexa. Lacrimejou, a moça. Temeu pelo seu futuro. Disse-lhe, enfim, que a morte não era das piores coisas, que o céu deveria ser um bom lugar para morar...
Propus-lhe as coisas que ela ainda não tinha feito, e que fizesse logo, antes que algo desse errado e, talvez, fosse tarde demais. Olhou-me com uma cara de devassa, não sei se por vontade louca, se pelo efeito de toda a anestesia que corria em suas veias, e não abria muito bem os olhos, e parecia piscar um pouco com o cílio esquerdo. Foi a deixa perfeita. Beijei-lhe a boca, subi em cima daquela mesa cirúrgica, estreita é bem verdade, conhecida por ser de “solteiro-solteiro”. Não vinha ninguém, o chamado, resultado do motivo de ter feito a anestesista sair em disparada da sala, devia ter sido bem sério, aproveitei o quanto pude. A paciente, indecente, aceitava tudo que eu fazia, todos os meus movimentos insanos, passiva, quieta, parada talvez até demais. Exaltei-me, pequei por excesso, um lance mais rápido, trepidamo-nos ao chão!
Deus, que loucura, tudo isso! A paciente anestesiada, caída ao chão, eu por cima de seu corpo, ouvi passos em direção à sala, martelou loucamente meu coração, temi pela saúde de meu salário no começo do mês, mexe comigo, mas não mexe com o leite dos meus filhos, num instante hercúleo (momento cultura, joguem no Google pra saber o que significa) de um só pulo, com uma única braçada, pus novamente a doente sobre a mesa de cirurgia, subi minha calça que estava pela metade das pernas, dei uma ajeitada básica nos cabelos da indefesa anestesiada adormecida e fiquei em posição de esperada ordem. Adentrou com seu andar conhecido, anestesista de renome, perfeita na execução de sua função, e foi dando continuidade ao que tinha parado alguns minutos antes...
O mundo das conquistas anda cada vez mais perigoso. E o perigo me excita. Procurei uma calça mais larga...
Como era de se esperar, terminou em pouco tempo a tal cirurgia, tudo correu bem como sempre ocorrera, a vida ia andando devagar nesse dia que daria muito o que dizer um tempo depois...

O dia C VII

A fome é dessas coisas que se fazem necessárias ao homem, não só a mim, como a todos os outros, e também como a todas as mulheres. Pois em dado momento do dia, quando se despede a manhã pra dar lugar à tarde, vamos todos, famintos e intensos, como formigas trabalhadoras, a fila perfeita, a intenção única, saciar o desejo do corpo, coisa básica do ser humano. Momento propício para o pensamento, uma vez que ia só, uma vez que os companheiros, ocupados, não puderam me acompanhar nessa ocasião pra que eu dividisse com eles tudo que permeia em minha mente, tudo que entra em ebulição dentro de mim, meus segredos mais profundos que vou, agora, dedilhando aos vossos olhos, leitores assíduos de minhas melhores palavras.
Tendi para lados opostos, ganhei muito do que queria, conquistei o mundo e na minha mão faço de fantoches os amores guardados na gaveta mais suja do meu coração. Não pensem, queridos leitores, que me orgulho de certas coisas que digo, não pensem em suas cabeças vazias que minha vida foi marcada de alegrias inebriantes, que as lágrimas que corriam em rostos alheios traziam sorrisos ao rosto meu, não pensem, se por acaso forem capaz de tal ação. O amor ainda é das coisas que menos entendo, por isso ultrapasso momentos, ultrapasso etapas, piso no amor, e parto para sentimentos maiores e mais sinceros.
Porém da fila eterna, com a bandeja na mão, com a fome na boca, com a intenção da paixão, avistei aquela bela mulher, apelidada Dona Florinda pelo irmão das palavras bíblicas, o avental azul, o negro cabelo enrolado com henê da Amazônia, atrás da bancada que separava nossos corpos, o calor da comida que subia das grandes panelas queimava-lhe o rosto que se já se fazia queimado há tanto tempo, o calor provocava a sudorese, suava como um porco aquela bela idosa com a concha de feijão na mão a servir todos os populares, a força de trabalho desse hospital gigantesco.
Notou minha presença, viu minha fome em seu corpo ser maior do que a fome no arroz branco que jazia embaixo de suas mãos, deu-me olhares de canto do olho, percebeu, dada a experiência de sua vida de paixões, provavelmente tão ardentes quanto o tempero daquelas coxinhas de frango mais deslocadas para a esquerda de seu corpo. Passou a língua pelos lábios, lambeu os beiços, talvez uma ou outra gotícula de suor que caía de seu nariz avantajado; arrepiam-me os pelos de todo o corpo de lembrar dessa sensualidade.
Foi chegada a minha vez, estávamos, então, frente a frente, olhos nos olhos, quero ver o que você diz, temi por um instante, mas logo retornei ao poder que me pertenceu desde sempre, pedi mais uma colher de farofa.
Olhou-me nos fundo da retina, via fogo na sua vista, queimou-me o sentimento por um breve momento, foi enfática, talvez a mais devassa de todas, negra linda idosa, na flor da idade, gemeu palavras:
__ Você não aceitaria uma outra coisa, além de só mais uma colher de farofa...?
Caí...
Os amigos, conhecidos de vista, levantaram de suas respectivas mesas, acudiram-me, levantaram meu corpo, mas as forças fugiram de minhas pernas, meus olhos miravam um horizonte desconhecido, não lembrava sequer onde estava, um copo d’água, mais um copo, logo apareceu um aparelho, aferiram minha pressão, puseram-me sentado, balbuciava palavras sem nexo, não me entendiam, chamaram o administrador geral do Hospital, pediram um leito para meu descanso. O homem, intenso em sua ordem fatal, ao ver-me, ao notar meu estado, mandou prepararem logo um quarto para mim, mandou vir o melhor dos médicos, disse que um de seus mais assíduos funcionários mereceria o melhor, retificou suas últimas ordens, que fosse arrumada uma suíte para esse homem fraco, sentado num banco solto do refeitório, e uma cadeira de rodas apareceu, fui levado embora, não sem antes ainda olhar para trás. Sorria seu sorriso terrível, Dona Florinda com seus cabelos enrolados, negra insaciável, arrancara-me a saúde, deliciosa...

O dia C VIII

Quando dei por mim, estava já consciente, não precisava de outros cuidados; deitado naquele leito lembrei de todos os meus afazeres, e o trabalho que deveria ser elaborado por mim ainda naquele dia, mas olhei o relógio e vi que o plantão chegava próximo do fim. Todo guerreiro, por guerrear, há de ter seu descanso. Acomodei-me no luxo ofertado. Explicaram-me depois que o médico não chegara a conclusão alguma, talvez um mal súbito, ou qualquer outra coisa sem explicação, dessas que ninguém, de fato, perderia tempo tentando decifrar.
Caí num descanso, queria colocar em ordem todas as minhas idéias, tudo que havia se desenrolado, coisas realmente estranhas, pessoas de fora talvez não acreditassem, diriam que são mentirosas minhas palavras, sempre tão sinceras aos ouvidos alheios. Fechei os olhos, viajei para outros lugares, conjeturei sobre possibilidades, deixei de lado meus medos; abria-se, agora, um novo horizonte pronto pra que eu, louco e deitado, pudesse adentrar com essa minha vida intensa, com esse novo aprendizado, com tudo de bom que tinha guardado e não sabia onde estava, mas os olhos abriram-se de supetão, algo cutucava meu sovaco...!
Quando enxerguei melhor, vi uma moça de branco, belíssima, dessas que parecem vestir-se das mais alvas nuvens do céu. Loira dos olhos azuis... seria muita presunção se eu dissesse aqui que ela guardava os raios do Sol nos cabelos, e o escondia o céu nos olhos. Mas ora, vejam só, já o disse. Que seja então...
Fazia seu trabalho, coisas normais de uma profissional da saúde, aferições de sinais vitais, um termômetro embaixo do braço, um serviço realmente desnecessário para mim, uma vez que já me sentia melhor, me via bem, estava no auge de minha saúde, gozando de energia depois de todas aquelas histórias prontas para serem gritadas ao mundo.
Minha moral elevada não se deixa cair, não se contenta com o muito; vi na bela moça mais uma oportunidade de felicidade, mais uma batalha da missão que se designara ainda na madrugada, e seria um belo desfecho, se assim quisessem os deuses do destino, homens do futuro e todos esses bobos com caneta na mão que vão escrevendo as coisas que devemos ou não fazer.
Dessa vez, decidi trabalhar de forma diferente, não tinha mais vontade de gastar minhas palavras, não queria mais gastar a saliva pouca que restara em minha boca, não sujaria minhas letras com o batom velho que ainda levava, fui direto, fui em linha reta, fui como sempre fora em toda a eternidade de minha vida fétida,voltei aos esgotos mais imundos por onde já passei, se me vissem naquela situação, antigos amigos do tempo mais simples, chamariam-me de novo de Rato, podre e estragado, desses que comem o que resta sem dividir, desses que aparecem e somem sem que ninguém perceba, eu, em minha plena forma. Fui direto à moça, a qual nem me importei por saber o nome. Disse-lhe mirando o fundo dos olhos:
__ Se eu te dissesse que tem um corpo lindo, você o apertaria contra o meu...?
E sorriu... boba. Um sorriso, fatalmente, morrerá. E morreu.
Agarrei-lhe, beijei-lhe, descobri seu corpo devagar com minhas mãos, mesmo deitado no leito, mesmo com o termômetro ainda sentindo minha temperatura subir...
Arrumou os cabelos, ajeitou a roupa, tirou o termômetro, havia de ir embora, realizar o resto de suas atividades, passar o plantão, escreveu em meu prontuário, “febre altíssima”, coisa engraçada...

O dia C IX

Não me agüentava mais naquele lugar, precisava sair, fugir dali,vestir minhas roupas, seguir o rumo de casa, já passava da hora do fim do plantão, me sentia bem, era um novo homem, revigorado, cheio de soro em minhas veias. Levantei-me, parti!
O mundo anda tão calado, o mundo anda tão passivo, ando muito mais feliz do que ontem, esse dia de hoje provou a mim mesmo que o mundo pode ser meu, e o controle sobre todas as minhas emoções será sempre possível, ainda que crises de sentimento ocorram em uma ou outra oportunidade. Fico feliz de chegar nessas conclusões, ficaria ainda mais feliz se o caro leitor, se a querida leitora, pudessem entender metade do que tento dizer.
Se o mundo entendesse, se as pessoas tivessem noção do amor ao próximo, se pudéssemos reservar só um mínimo do nosso tempo para dar atenção a quem nunca a recebe, se parássemos e refletíssemos por alguns instantes sobre tudo que estamos fazendo há tanto tempo, se entendêssemos que o erro é recorrente, o equívoco é gritante, talvez a vida fosse mais linda.
Beijos e carnes não significam nada. Nada mesmo. O que existe é o sentimento.
Desci as escadas, burlei o elevador, quero viver os pequenos momentos, fui embora do local de trabalho com um sorriso no rosto, satisfeito com a vida.
Qual não foi minha surpresa quando vi o que vi, quando dei de cara com tal cena na rua que me espantou ferozmente, que me deixou intensamente tonto e desnorteado. Coisas que jamais poderíamos entender, jamais poderíamos sequer imaginar, a vida dá voltas. Momentos de tensão, drama, suspense até mesmo. Não soube o que fazer. Faltou-me a respiração.
Alinhadas, numa fila, uma ao lado da outra... Perereca com sua garrafa de cachaça na mão, cambaleante ainda; a bela trocadora da estação de trem, um sorriso no rosto; a camelô, humilde em suas roupas maltrapilhas, algumas balas ainda por vender; a pedinte, eterna calada com sua lata repleta de moedas; a paciente, que evolução na melhora, a perna enfaixada, uma bengala a apoiando; Dona Florinda, olhos profundos, tesão na boca, a colher de feijão no bolso do avental; a técnica em enfermagem, loira dos olhos azuis, o estetoscópio em volta do pescoço.
Não vi o chão. Não vi mais nada. A emoção foi ao seu ápice. Caí e não mais me levantei.
O atestado de óbito marcou, insano e verdadeiro, causa mortis “Amor em excesso”.
P.V. 22:00 19/05/10

terça-feira, 18 de maio de 2010

A insistência e ignorância do mundo

O poder que enxerga é só o poder que enxerga, minhas palavras se perdem na sua cabeça, minhas atitudes doem em ti um medo que não deveria existir, o mundo só é mundo porque nele habito, o que vê daí é apenas a ponta de um iceberg. A lona do circo esconde muito do que ainda existe, e nem mesmo a dona desse circo poderia entender as coisas que lá acontecem... ainda é a alegria do palhaço ver as chamas subindo.
E voam, asas tão longas e vermelhas que de anjo nada mais mostram, nada mais enxergam a não ser todas as respectivas cabeças perdidas naquele mar lá embaixo, naquele mar de gente, todas essas pessoas desinteressantes, algumas feias, longe de mim.
Já não existem mais parábolas, medos, anseios, desafios que não sejam todos quebrados pela palavra, não existe mais o vocábulo da impossibilidade,
não existe o que não seja meu, e se não é meu, somente não o é, pois ainda não o sabe.
Tentei, por diversas vezes, almejar o que não pertencia a mim, queria sentir o gosto de tudo que não me atingia, por muitas ocasiões quis, loucamente, a dor de uma felicidade, a dor de um amor, quis me abster de toda aquela baboseira repetitiva, de tudo que se jogava aos meus pés, e a facilidade com que eu saía e voltava de casa com tantos sorrisos no rosto que eram incontáveis para analfabetos do sentimento...
Mas são só provas.
Ainda hoje sinto o gosto de tudo isso. Nada é diferente, o amor não se mostra páreo para o que, de fato, preciso. Meus sentimentos que estão aflorados são como flores que desabrocham, são como flores safadas que se abrem aos primeiros raios de sol, que se fazem sedentas por pequenos pingos de água, que se murcham para a verdade quando cai a noite, quando se vai o dia, quando se mostra a Lua, quando me sorri esse sorriso prateado que ainda é tudo que me move, que ainda é o que mais me inspira, que ainda é a paixão maior que, um dia, homem como eu, pode ter em vida.
A Lua... só mais uma prova do que digo.
Corri ruas, dobrei já tantas esquinas escuras que não sinto mais medo de tudo que me espera depois da curva. Na verdade, foge de mim tudo e qualquer coisa que estiver espreitando no fim da curva.
Meus passos, antes medidos e precoces, medrosos por não cair em alguns buracos que ficavam jogados pelo meu chão, agora são loucos e intensos; passo andando e por mim ficam buracos ainda maiores de minhas pegadas, buracos onde outros jovens, tais como eu em outros tempos, caem vertiginosamente, só pra aprender, só pra sentirem a dor e terem noção de quanto dói.
O mundo ainda estará gritando quando meu ouvido não mais lhe pertencer, o mundo ainda tentará ditar suas regras aos meus olhos mesmo que eu não queira mais enxergar coisa alguma, eu tento me livrar de todo esse mal, mas ele me persegue como buscasse o equilíbrio, como quisesse a eterna batalha contra o bem que eu tentava praticar, busca algo que seja suficiente para lhe derrubar, pois todos sabemos que levanta mais forte na segunda vez...
Verão, os que quiserem ver, e ainda assim poderei soltar minhas melhores palavras ao mundo quando duvidarem mais uma vez de tudo que posso fazer.
Temei...
Ou nem tanto.
P.V. 11:03 18/05/10

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Presente divino

Bem que se quis, depois de tudo ainda ser feliz. E o que a gente não faz por amor? O teu desejo é meu melhor prazer...
Se forma palavras bem colocadas a letra dessa música, eu diria com todas as minhas, essas que eu mesmo invento, meu amor, que a sede de ti não se esgota nunca. Ando com a garganta seca de te querer, teu desejo também é meu melhor prazer, beber-te e sentir teu corpo é o que mais chama minha atenção, é o que ainda me tira o sono, é o que me faz levantar e dormir feliz...
Se eu pudesse, faria questão de alocar sua pessoa, todo esse veneno que escorre de ti, aconchegaria esse seu corpo de deusa no meu colo pra te proteger de todo mal, pra te isolar de todo mal, pra te fazer todo o bem. E sou assim mesmo, egoísta, te quero só pra curar minha vontade de ser feliz, quero acabar com minha vida nos seus beijos, quero mais que sua boca e o poder que ela tem, quero suas mãos eternas, seu toque infernal, quero sua língua que dança sem música, que me molha, que me grita, que me chama.
E o coração de quem ama fica faltando um pedaço...
Já nem sei mais o que dizer desse amor que agora é nosso.
Meu bem, desconheço toda e qualquer definição, já recorri aos alfarrábios, abri dicionários, perguntei aos mais velhos, aos que mais amaram, joguei no Google, o interesse fugiu de mim, não quero sequer saber como funciona, quais a dores previsíveis, os sorrisos prováveis, sentir o que sinto já faz de mim um homem melhor, já faz com que eu seja feliz ao seu lado.
Uma escada e seus degraus de sentimento, me vejo tão alto, tão longe do começo e se me pedissem opinião daria o nome de ‘amor’ ao primeiro dos degraus que já subi em relação a você; o que nós temos, ou o que existe dentro de mim, vai bem além do que as convenções já criaram.
Encarar seus olhos numa dessas tardes perdidas, numa dessas manhãs onde os raios do Sol sequer se mostraram, saber do que há em você, saber que sou eu que estou dentro de ti, saber do futuro, te ver lá do meu lado, e o destino começa a se fazer pequeno para minhas intenções...
Tô com sintomas de saudade, tô pensando você...
Um imenso bobo apaixonado que agora ama, sou eu, um imenso homem que cai aos pés de uma mulher por opção, por vontade, por querer ser feliz, ao menos uma vez na vida, a última e derradeira tentativa de ser feliz, e ela tem esse poder, Karoline Durique tem alguns poderes ocultos que me fazem muito bem.
Pois se eu for obrigado a abordar assuntos tais quais esses, se for necessário que eu tente entender meus sentimentos e essa coisa que está aqui dentro de mim me sufocando quando estamos distantes, essa coisa que me dá um medo danado e me faz, talvez, menos homem, isso que parece estar nela também, mas a diferença é pouca tanto para o sim quanto para o não, se eu for obrigado a abordar tais assuntos, faria com todo o prazer, mesmo que não chegasse em conclusão alguma, como não chego sempre.
Arrastei correntes, me prendi ao que ela representa e vejo que a chave, sempre ao meu alcance, a opção de me libertar do que me faz preso a ela está tão distante, está tão longe de mim, e nasce mais um sorriso no meu rosto desses que nem as palavras poderiam explicar...
Presente divino é o nosso amor.
P.V. 15:35 17/05/10

Num outro tempo

Foi-se por lá, coisa estranha e sem fundamento, mas que, de fato, existe, e por existir, e por chegar-se à conclusão de pensamento, deve ser divulgada, senão em fatos ordinários, diga-se com minhas palavras em fatos extraordinários, e com muita falta de verdade também, pois do que digo, do que explano, daquilo que me lê, com o perdão da convenção desse tal eu lírico, com o perdão dos heterônimos e essas esquisitices criadas pra burlar regras de sinceridade, deixo-me estar para viver em palavras.
Era o tempo do presidente. Desculpem o trocadilho...
Já aquele trabalho maldito, que me fazia levantar em baixas horas e deitar nas mais altas, ia corroendo minhas veias, ia comendo meu corpo devagar, ia terminando-me enfim, ia jogando tudo que sou ao chão, ia fazendo com que eu me acostumasse com essa loucura da sociedade que chamam de emprego e essa última realidade era o que mais me doía.
Larguei esse medo de lado, burlei o sistema, falsifiquei um atestado, exame de próstata precoce por que não?, fui lá em direção à alegria, fui lá pois em casa nada mais me prendia, fui lá porque as amizades são o que mais me importam e a maldade de vê-las correndo novos mares sozinhas era como uma faca adentrando meu peito, arrancando fora meu coração, precisava daquelas histórias pra que fossem escritas num papel qualquer, numa vida qualquer, leito de morte de minhas piores palavras quando o tédio toma conta da minha segunda feira.
Sabem do mundo, sabem de muitas coisas, a grande verdade é que me despi de muitas roupas para vestir um pouco menos do que já estava habituado, botei em prática alguns planos, aquela tão inovadora frase que desenvolvi por meio do sistema de cinemas norte americanos que ainda não teve êxito em ser, ainda não obteve tempo hábil necessário e o usuário correto a saber dominá-la em sua plenitude, corri campos verdes que não possuíam mais aquela tal grama que sempre gostei de ver e sentir como um novo contato com a natureza, como fosse mais uma forma bucólica e a vida que renasce nos meus pés, tão virgens dessa terra usada, abusada, violentada...
Vivi bons momentos. Armas na minha cabeça, quedas na lama, ferros tão duros e maciços que minha vã filosofia só pôde acreditar depois de sentir a dor que estes podem causar. Os hematomas, os traumas, as graças e piadas, tudo que só foi lembrado no dia seguinte ficam gravados na minha cabeça até o presente dia, tudo que acontece na vida de um homem não pode jamais ser deixado de lado, todas as memórias que nascem aqui, as mesmas que nascem lá só tem um intuito... a imortalidade.
Vejam que nada é diferente de tudo e as palavras se fazem antagônicas só por coincidência. Cresci ouvindo coisas das quais não acredito até hoje, ainda não apareceu aquele que poderá fazer mudar minha opinião. Meu amor pela vida ainda é o mesmo, minha paixão pelo momento se faz grande, a nostalgia de um outro tempo é o que me move, é o que dá o ritmo para minhas baladas futuras, sou feliz e distribuo meu sentimento em quem estiver mais próximo...
Os portões do templo do amor ainda irão se abrir para que meus pés virgens pisem naquele solo outras vezes...
P.V. 15:29 17/05/10

Bad romance

"Quero seus defeitos, sua feiúra, sua doença, seu tudo..."
Mostra pra ele...

Disse lá a Lady Gaga que, na minha humilde opinião, nem sequer parece ter problemas na fala chegando numa conclusão de seu nome, mas o mundo dá voltas e assim é, e assim foi, e assim está sendo.
Mas eu sento e ligo o rádio no último volume só pra mostrar a mim mesmo que a vida é feita de barulho, que as melodias ainda entram em mim e me fazem um pouco mais gente, que há mais do que somente sussurros, que há bem mais do que poderia se imaginar, que o amor é cantado, é gritado,
e o mundo está tão escandaloso...
Já disse, e dessa vez quem fala sou eu, que se ouvirmos bem, e se prestarmos só um pouco mais de atenção, enxergamos mais longe e ouvimos mais de perto.
Esse povo ainda não aprendeu mesmo a trabalhar da forma correta, sinto-me na posição do cordeiro que só permanece estático vendo seus pastores trabalhando, dando seqüência aos fatos com erros por todos os lados, tendo muito mais que se explicar no fim de uma ação.
Mas morrem a cada dia, descem ao chão, voltam ao céu, gritam suas verdades pequenas, se perdem em bocas alheias, o sentimento ainda é o mesmo, e acordam felizes no dia seguinte, o que me faz feliz também. Eu digo com autoridade pois sei de quase tudo sobre esse tipo de matéria, e os erros, e os equívocos, e prováveis lágrimas que iriam nascer nos olhos de quem me bem queria, mas não caíram, e nem cairiam pois não deixaria.
Um trabalho bem executado executa bons trabalhos.
Sei que minha vontade é gritar mais alto, é explanar as sensações, é até mesmo passar um pouco do conhecimento; Deus deu talento pra gente, não há motivos que me impeçam de propagar o que sei. Mas informações do mal devem ser enterradas no mais fundo dos poços, no mais podre dos ralos, no esgoto da mais fétida cidade, de onde nunca mais deverão sair,
pelo menos enquanto eu me fizer dono do sentimento que resolvi doar a uma única mulher.
Vai por aí, por esse mar de pederastia, lar dos amantes que vivem a esmo, já me perdi por essas águas, já me afoguei sem vontade de ser salvo, e o mundo continua mergulhando. E vejo tudo, e vejo que fazem errado... erram felizes, vejo feliz também.
Meu luto de hoje não mostra a tristeza, nem mostra qualquer outro sentimento ruim com relação ao que se desenrola, não vejo mais dessa forma, algumas possibilidades poderiam ser analisadas bem melhor antes de que o erro nascesse, amores crescem e se tornam algo mais interessante que o banal, já dei meu testemunho e emocionei platéias, se carrego ainda seu nome nas minhas palavras, não entenda como sermão, o outro lado da moeda ainda brilha muito mais do que esse que você insiste em querer ver.
Eu fico por aqui rindo, bobo, de tudo, enxergando reflexos tão puros e sujos como qualquer outra coisa pura e suja, levando em conta a experiência que não existe e depositando na conta uma experiência que vai começando a existir.
É bem verdade que eu aprendo com erros alheios bem mais que com os meus.
Se for mesmo verdade tudo que eu digo, devo agradecimentos.
E que continue nos erros saudáveis que fazem as pessoas levantarem com sorrisos estampados no rosto nas manhãs seguintes...
P.V. 11:41 17/05/10

terça-feira, 11 de maio de 2010

Um carnaval diferente

"Vou beijar-te agora, não me leve a mal, que hoje é carnaval..."
E foi um sentimento muito maior de tudo o que possa se imaginar sobre a felicidade da carne misturada com uma boa dose de sinceridade enrustida por trás de muito amor. Admito com todas as palavras que a idéia de que somente de luxúria se vive um carnaval, todo o preconceito dos homens da religião para com essa festa, tudo que sempre aconteceu, tudo que sempre se viu, tudo que há e o que também não há foi caindo, centímetro por centímetro, no chão enquanto eu vivia os momentos da celebração que duram apenas quatro dias desse ano intenso e entedioso.
O sentimento, na verdade, não é nada de mais se for bem analisado e sentido, por mais que eu não queira passar aos senhores uma idéia de amor pensado e decidido. Claro que há de se ressaltar a vontade entre duas pessoas e o clímax do instante que se chega sem avisar e faz da noite, ou do dia, algo muito bom ou muito ruim.
O fato concreto mesmo é que fui em busca de algo passageiro e revivi as alegrias do passado que me lembraram das dores e alegrias do amor. Pierrot e Colombina... qualquer coisa parecida.
Um carnaval que nada promete, na verdade, e não é uma coisa ruim, não há de cumprir nada.
Saí de casa com intuitos bem lindos e idéias bem frescas, mas o Sol não me entendeu muito e seus raios miraram lados errados da minha convicção. A intenção da Lua, o brilho das estrelas e aquela vontade de dormir na areia da praia embriagado de amor, não me atingiram, não me motivaram, não me alegraram nem um pouco.
Quatro dias de um ano que pareceram, aos meus olhos, quatro dias quaisquer como outros quaisquer, normais, intensos, é verdade, mas vazio de novidades.
A verdade é que a procura pela paixão falhou, perdeu pelo achado do amor. De fato, esse foi o carnaval do amor. Ninguém vai entender do sentimento, também é bem provável que deixem no ar mais uma vez esse excesso de exagero de tudo que sempre digo, mas não acho, e nem deve existir, sinceridade maior do que essa, definição mais clara do que essa. Um carnaval de amor. Justamente no tempo da perdição...
Mas nem tudo esteve perdido, ainda que pensem que o sentimento do coração seja uma perdição justa.
Abordei lá alguns temas antigos, esbarrei com a musa que escolhi pra viver, ingeri as mesmas coisas de sempre, senti renascer dentro de mim o que estava adormecido, partida inicial para que chegasse onde estou hoje. E me dizem aos ouvidos que de nada adianta toda essa festa da carne, maldição dos nossos tempos que nos leva a propagar doenças e cair na libertinagem, roupas pequenas e libido grande. Tolos...
Jamais entenderão a profundidade de um carnaval, o sono que se vai, a alegria que vem, o amor que reaparece e faz sorrir, a substituição por um momento da paixão pelo amor e o sucesso disso, a passagem do coreto, do cordão, do povo, dos carros, o samba que desce do morro, invade o asfalto, pior, cai no coração em folia e se prolonga por todo o ano, ecoa até o Natal, deixa marcas que ficarão fixas por toda a vida.
Vou beijar-te agora, não me leve a mal, ainda é Natal...
P.V. 20:02 11/05/10

Até aqui

“Até aqui me ajudou, o Senhor.”
Estava escrito, e nem era num papel de pão, em algum lugar desses que costumo passar e me pus a pensar sobre as palavras, pois me identifiquei com aquele ditado bíblico que inspirou alguém a plagiá-lo em dedicação à própria vida.
Fiquei preocupado, pois até aqui também me ajudou, o Senhor, então espero encarecidamente que continue me ajudando. Não vai ser agora, nessa altura do campeonato que me abandonaria sozinho e desamparado largado nas ruas nas tentações do Coisa-ruim. Até aqui me ajudou, o Senhor, e acho bom continuar ajudando...
Por favor, ó Pai, não entenda isso como uma ameaça, pois seria de muito mau gosto que pensasses em tua formosa cabeça, que um reles mortal como minha pessoa pudesse afrontar tal grandeza de poder que parte de ti. Mas é que fico preocupado e tenho que te dar meu papo pra não me dar mal por aqui.
Mas sei que gostas de mim e vai interceder sempre que eu pedir.
Até mesmo porque nos momentos em que me ponho de joelhos, quando estamos a sós desenrolando todas as atividades que foram expostas, todos os planos de futuro, todas as coisas que fiz no dia seguinte, algumas coisas erradas, é verdade, e Tu me perdoas, aquela coisa feia que eu disse pra ela e ela brigou comigo e Você me dá razão, claro, Nós homens sempre temos razão, tudo o que Te peço acontece e justamente por isso que eu acho que se até aqui me ajudou, o Senhor, deve continuar ajudando daqui em diante.
Imagina se fico eu por aqui solto, serelepe, sem rumo nem caminho, perdido andando em círculos? Minha mãe ficaria louca, Senhor.
Tudo bem, se não olhasse mais por mim, que tenhas Tu, pelo menos o pensamento do fraco coração de mamãe, que sofre de hipertensão, e com um filho irresponsável como eu, solto nesse mundo tão grande, talvez, bem provável, que ela não conseguisse durar muito tempo entre nós e já já estaria aí em cima com o Senhor, e aviso desde já: a presença da senhora minha mãe não é muito agradável não... ela faria uma bagunça aí no céu, bem provável que ela levasse umas Itaipavas geladas escondidas, ela grita, ela xinga, ela é do mal...
Melhor não falar que ela é do mal, uma vez que pessoas desse estilo não costumam adentrar pelo portão de São Pedro, Pedrinho para os mais íntimos.
Até aqui me ajudou, o Senhor.
E o Senhor continua me dando moral...
Grito cada dia mais alto minhas preces. Veja bem, Senhor, não me entendas mal, mas sei que me escuta desde o dia em que nasci, pois já nasci pedindo, implorando para que me colocassem de volta pra dentro, dado o frio intenso que fazia fora da barriga de mamãe, mas cada dia que passa grito mais alto minhas preces, talvez Sua idade já tenha chegado num estado avançado e não consiga ouvir muito bem como antes. Até aqui me ajudou o Senhor, e não vai ser por baixas orações que vai deixar de me ajudar. Compro um microfone, se for preciso.
Minha preocupação se fez enorme, mas agora já fico mais tranqüilo pois sei que deveria ter algum tipo de contrato no momento do batismo, algum tipo de convênio, e não há data específica para corte de fornecimento de dádivas. Do contrário, lamento, mas seria obrigado a entrar com um processo contra o Senhor, coisa da qual não agradaria nenhuma das partes...
Pois bem.
Até aqui me ajudou, o Senhor.
E vamos indo.
P.V. 20:20 11/05/10

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O prematuro duelo de titãs

Foram homens ou deuses os que me criaram, se me jogaram por aqui, se eu caí dos céus, quem sabe do colo de Deus, talvez eu tenha sido enxotado do inferno, pelo pé do próprio Capeta, a diferença realmente é pouca. Fato concreto é que cá estou e nada mais importante pode haver, nem explicações, nem causas, nem conseqüências.
Um reinado que se diz de bom nível deixa sua população satisfeita, administra bem seus prováveis problemas, dita regras que serão seguidas por quem está abaixo, e não se sentem mal por estarem abaixo, apenas reconhecem que a vida separou os bons dos pouco bons. O mundo ainda é feito de diferenças. Um reinado desse tipo precisa de um rei.
Pois gritam aí então essas crianças mimadas, problemas tão pequenos que perderiam-se nas minhas mãos, mas não faço questão alguma de resolvê-los, não perderei meu tempo valioso dando trela ao que não interessa, talvez eu esteja muito velho pra isso.
É uma escrita que se repete.
O passado não mostra mais porra nenhuma, mas não por se fazer inútil, e sim pela minha opção de não mais olhar pelo retrovisor pra explicar os fatos.
A rendição é para os fracos.
E o mundo me pede que lute, que enfrente o mal, talvez os homens e os deuses que me criaram.
Tem gente que entende de certas coisas e, em algumas ocasiões, somente palavras já bastam pra que se faça entender uma intenção qualquer. Pessoas assim não servem pra mim.
Falam por aí que o presidente é exigente, que o presidente jamais poderá ser compreendido. Mas é estranho... mentem por aí também, então, dizendo que o presidente é tudo o que poderiam querer um dia...
O que é meu já nasceu.
O que é meu já é meu. E não divido.
Diga-se como um duelo de titãs, pessoas estranhas e difíceis, malditos gênios fortes e imperfeitos cheios de perfeições, palavras mal colocadas e bem ajustadas, desculpas bem formuladas e sinceras, amor, amor, amor, o que não se entende, o que eu também ainda não sei, a contagem regressiva talvez não seja provável.
Mas ainda é tudo muito pequeno, tudo muito precoce, como um filho cuspido pra fora da barriga da mãe, como fosse um filho lá dentro do útero amadurecendo, criando forma, força, beleza e a mãe ansiosa, louca, apaixonada, tanto quanto o pai, pede ao médico que o tire logo de lá que já não agüenta de vontade de tê-lo nos braços... talvez fosse medo. Até mesmo com todos esses seqüestros de bebês por aí, em hospitais, em ruas escuras, quem sabe.
E veio à vida um bebê prematuro. Lindo, sincero, prematuro. Certas coisas que o bebê deveria viver dentro da barriga, ele está vivendo aqui fora. E é tão frio pra ele ainda. E é tudo tão estranho pra ele ainda. Mas ele sente amor. Ele sabe que é de verdade. Ele sabe que vai dar tudo certo. Ele ouve vozes altas, ele não entende, ele vê caras feias, ele não entende, ele sabe que vai dar tudo certo. Ele vê muito mais sorrisos, ele vê muito mais felicidade, ele vê alguma coisa que não entende também. Deve ser saudade...
P.V. 10:33 10/05/10



PS. Ele acredita. E eu também.

domingo, 9 de maio de 2010

O que eu também não sei

Talvez eu não devesse ter saído do meu sertão.
Pequenos detalhes fazem grandes diferenças e isso não é mais novidade para ninguém, inteligentes ou ignorantes. Não sabem pouco e por não saberem o pouco mostram-se sabedores de algum muito. Pois bem, se tinha violas a tocar no meu sertão, algumas delas dadas por meu pai, o sertão dos meus amores, quando me ponho a tocar, emudecem-se os cantores para me ouvir cantar.
Mas seria conversa para outros copos, talvez de água devido a doença que caiu sobre mim nos últimos dias e eu, eterno teimoso, não me mostro em pleno gozo de saúde pois não visitei um senhor com jaleco branco e diploma pendurado na parede.
Minhas intenções são claras, não vejo motivo algum para alarde nem mesmo para altas vozes no meio da rua, o que está acontecendo não é o que realmente se vê, o amor que transborda não começou a transbordar agora, mas desde que transborde, cai no chão e se perde. Talvez no chão da rua da voz alta...
Disse o sábio que a pessoa há de ser como se enxerga e há de enxergar como é. Na verdade não foi sábio nenhum que disse isso, até mesmo porque sábios não perderiam tempo com coisas tão banais. E enxergar, tanto quanto ver, é tão banal...
Deus me ensina sempre, me mostra os caminhos certos, me indica os locais onde devo botar o pé e não cair, ensina as palavras corretas a serem ditas no momentos únicos e nada disso eu aprendo. Erro sempre, caio na mesma armadilha de antes, me perco, me acho, perco outras pessoas, acho mais um tanto delas...
Ela me pede total sinceridade e atendo seu desejo. Não sei mais o que fazer, não lembro mais como mentir, não quero mentir, não quero fingir.
Fiz tudo tão errado antigamente, burlei regras básicas de amor achando que ia dar tudo certo no final, falsos brilhos nos olhos que derrubavam lágrimas de quem me olhava, bobos sorrisos sem motivo e sem verdade, beijos eternos que de eternos nada tinham. Não quero nada disso de novo, tenho meu sentimento todo dedicado a ela, não me vejo mais andando com outra pessoa, não me vejo andando sozinho, não imagino um futuro sem que eu possa dizer todos os dias que amo Karoline Durique.
Mas ela grita, ela se estressa, enche os olhos de raiva e se diz triste comigo.
Preferiria uma faca, talvez no peito, talvez no pescoço, preferiria uma arma, um só tiro no coração, quem sabe na cabeça.
O resto do mundo é platéia de nosso drama.
Se houvesse, pois eu tenho quase certeza que não há, um outro homem que ame tanto uma outra mulher do jeito que eu amo Durique, eu faria questão de apertar-lhe a mão e lhe dizer que sim, ele era um grande homem.
Mas tudo bem, o mundo que é platéia também pode interagir, o público é amigo e não irá nos decepcionar, uma vez que a vida a dois não se realiza com somente dois.
Temos tantas histórias pra escrever ainda, meu amor...
Mas parece que nem tudo são flores.

P.V. 10:00 09/05/10

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Amor desnudo

Não havia quem reclamasse, não havia quem dissesse que algo estava ruim, a vida andava tão bela, tão perfeita, ouvia tantos elogios, caíam aos meus pés sem esforço algum de minha pessoa, andavam com meu nome na cabeça, com meu nome na boca, comigo no corpo, quem sabe, era tudo o que eu sempre quis e nunca quis mais do que isso. Nunca fui de pedir tantas coisas impossíveis, só queria o melhor pra mim.
Eu estava errado, tinha total certeza de que nada melhor poderia acontecer, que um sortudo como eu não poderia ter coisa alguma mais que lhe fizesse mais homem, mais feliz, mais humano.
Certas coisas não podem ser entendidas.
Eu não faço questão alguma de entender, meu amor. Eu só vivo o que me dão para viver, e se você é minha vida agora, eu vivo você. Eu era alguma coisa antes, sempre fui. Mas sou muito mais agora...
Plagio minhas próprias palavras só pra te deixar sabendo de tudo que sinto, de tudo que morre e nasce dentro de mim a todo instante como explosões seguidas, como o sentimento mais puro que um homem pode sentir por uma mulher; nem mesmo aquelas flores poderiam saber o que está dentro de mim e é reservado somente ao seu sorriso e sua felicidade, meu amor.
Já não entendo coisa alguma, escrevo sem pensar, as palavras que eram minhas agora pertencem somente a ti.
Não sinto saudade do que vivi, posso deitar minha cabeça tranquilamente no travesseiro todas as noites com a certeza de que tenho a mulher perfeita do meu lado, posso dormir sem medo de acordar, posso beijar tua boca, posso ter seu corpo, posso te tocar e dizer que és minha, só minha.
Algumas ocasiões do dia me fazem lembrar você. E dói sentir saudade de quem se ama.
E eu te amo, KarolineDurique.
Também já não me importo se incomodo seu tempo, se te faço ler coisas das quais já tem total certeza, se a repetição de minhas palavras já vai ardendo seus olhos, se reclamas por eu sempre dizer a mesma coisa. Isso não é problema meu. Discuta com meu coração...
Temos tão pouco tempo, não aproveitamos boa parte dele, a eternidade é pouco para estar ao seu lado, e isso me preocupa. Dizem alguns homens da religião que os casais ficam juntos até que a morte os separe. Preciso de um plano infalível para burlar a morte, para ficarmos juntos mesmo depois dela, para que nada possa entrar em nossa relação e provocar a distância. Já não sou mais exagerado, amor... te quero pra sempre.
Vou fechar os olhos e te admirar mais um pouco, quem sabe assim a saudade fuja de mim, quem sabe assim eu não pense tanto em você, quem sabe dessa forma eu não te ame tanto e possa viver mais.
Acho melhor eu ir trabalhar...
P.V. 10:31 06/05/10

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Um pouco mais que nada

Quero colo, vou fugir de casa, posso dormir aqui com você...?
Já não vou mais andando por aqueles mesmos cantos que andava nos tempos de ontem. Dizem de um homem o que dizem de mim e me orgulho por saber que levanto meu corpo cedo de um dia e o deito somente no seu fim tendo chances mil de escrever plenas histórias no desenrolar das horas, de saber que posso estar produzindo bem mais do que o necessário, por saber que a vida me pega no colo e me joga no seio do amor, do sentimento, daquilo que não tem nome.
Quando eu era mais novo, nada disso fazia parte do meu entendimento. Uma xícara de café não fazia muito sentido, não tinha muita significação. Hoje em dia, estou sentado em minha cama tomando meu café pra fumar... olhando a nuvem preta que passa, a nuvem preta que leva embora todos os maus pensamentos.
Já fui trancado em mim mesmo, já me libertei de todo o mal, já abri os olhos e peguei aquilo ali que sempre esteve ao meu alcance. Agora bate o Sol na minha cara. O Sol é só um sujeito bobo com bobas intenções que nasce, que morre, que nasce mais uma vez, uma repetição sem fim, um pleonasmo de limites desconhecidos, um calor básico, aquilo que esclarece tudo que não se pode ver quando as luzes estão apagadas, talvez... e se o Sol bate na minha cara, não tenho coragem de fazer o mesmo com ele.
E o navio ainda nem sequer alcançou a terra, e o mastro dessa bandeira não se enterrou no chão, não peguei em sua mão, não falei de coisas que não disse ainda não... coisas do coração. Vou andando por aqui, vou me desenhando numa parede qualquer, tentando deixar meus recados pelos muros que passam por mim, talvez eu queira algo mais do que já tenho.
Sempre fui assim de querer o que estava mais longe. Dizem de um homem o que dizem de mim e sempre discursaram a respeito dessa minha falsa característica faminta como um canibal que não sacia jamais sua vontade por comer, de nunca estar satisfeito com aquilo que tem, de sempre estar na direção defensiva mirando o horizonte, prevendo algum tipo de acidente. Poucas ocasiões da vida me mostram verdades que espetam-me a bunda com um veneno destilado por mim mesmo. Os acidentes previstos acontecem, por que será...?
E não há de ser nada, ou talvez seja quase nada que é um pouco mais do que se esperava. O mundo vai por aí, eu fico por aqui, temos razões e motivos, as conseqüências são somente o que fica pra depois. Vejam pessoas preguiçosas, vejam pessoas que deixam para fazer suas respectivas coisas num momento que vai além do que deveria, de fato, ser feito, essas pessoas são todas as conseqüências da sociedade. Vejam quem não se agüenta sentado, vejam esses seres doentes e apaixonados, alguns mais doentes que outros, alguns menos apaixonados que outros, que martelam loucas palavras, que correm pelas ruas, que não se controlam... todos são razões, todos são motivos. Ninguém enxerga um ponto de exclamação no meio da bagunça.
Ainda fico com minhas reticências...
P.V. 12:03 05/05/10

terça-feira, 4 de maio de 2010

PS. Eu te amo

Me deixei levar pela noite.
Com o perdão do erro gramatical, elaboro as últimas ações do que um dia se fez imaginação e hoje me transporta ainda mais por mares que desconheço totalmente, talvez algo que ainda não se fez concreto e fica martelando na minha cabeça.
Não tive pressa em descobrir. E ainda não tenho essa pressa.Talvez seja mais uma qualidade para te tornar perfeita, sua timidez, a luz apagada, o edredom que te esconde. Decoro todo o seu corpo com minhas mãos, sinto cada centímetro do teu sexo, me afogo, me molho, conheço outros mundos e ainda não te conheço. Minha vontade é beijar-te toda, beber-te toda, sugar toda sua energia. Sentir tua respiração, cair no teu corpo, beijar tua boca enquanto somos um... e ainda dizem não ser possível dois corpos num mesmo instante, no mesmo lugar. A gente só conhece a perfeição quando se deita com quem se ama. Se tivessem criado palavras suficientes, eu conseguiria descrever a felicidade de estar ao seu lado. Tudo que eu sempre quis, sempre falei, te admirar de perto, ver seus olhos fechados, dividir meus sonhos com você...
Deus, criador de tudo e de todos, tem nas suas mangas cartas escondidas de tamanha felicidade e prazer que só distribui àqueles que julga serem de grande merecimento. Eu agradeço.
O dia morreu, a noite nasceu, goles de alegria foram tomados com tamanha sede, palavras foram jogadas ao ar, um ambiente de extrema tranqüilidade e paz, a música ditava o ritmo de fundo pra que a paixão liberasse, os olhos se encontravam, a beleza era notória, por vezes eu lhe dizia, eu lhe lembrava o quanto a acho linda, ela ainda sorri...
Minha vontade sempre foi maior do que minha razão.
Nada do que é certo me atrai mais do que aquilo que pode me fazer acordar sorrindo no dia seguinte. Pessoas que têm histórias pra contar só as têm pois arriscam. Dirigi-me ao domicílio.
Karoline Durique e toda sua timidez, todo o seu medo infantil e bobo, toda sua perfeição desnuda, a carne que se esconde atrás do pano, Karoline Durique, mais uma vez Durique, toda minha, o coração na ponta da língua, e minha língua que desvenda sua boca. Vai por uma sequência perfeita, vai por um caminho que talvez não tenha volta, vai por um caminho que não é o certo, que desmente a razão das ações, mas é a noite, a luz apagada, dois corpos em um.
Jamais entenderão o que o amor pode fazer a uma pessoa...
Me deixei levar pelo momento...
Já não peço mais desculpas à gramática. Cometo meus equívocos por vontade própria.
É tão cedo para acordar. Mal brilharam os primeiros raios do Sol...
P.V. 21:29 04/05/10