terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cine Odeon


Cine Odeon no RJ
Não pedi bons sonhos antes de dormir, me deitei e deixei que a vida entregasse ao sono o que de melhor eu tenho feito.
O que se vai é, de fato, o que não deveria ter ficado, tenho minhas idéias todas muito bem concluídas a respeito de assuntos relacionados a isso e não me arrependo de nenhuma das minhas viagens em direção a esses desconhecidos mundos de poucas amizades. Sou dado, simpático, presidente, astuto, e convencido.
Meu erro se mede na proporção direta em que o meu acerto se dá. Não irão cometer a injúria de me comparar, não poderiam...
E quem me acompanha também tem o seu mérito no andamento desse barco em águas revoltas, ainda que caia a chuva, nosso sentimento se elevará aos céus como a tempestade que não foi vista, ainda que venha o vento, nosso poder se engrandecerá como os tornados que não derrubaram árvores, ainda que as ligações atormentem o homem, ausências de tecnologia os trarão pra perto do prazer...
Algumas noites são mais intensas que outras. Tenho certeza disso.
Meu Deus me deu uma verdade que não posso deixar escapar. Não sou desses que encara troncos de árvores como possíveis instrumentos de suicídios assim que um pequeno ou grande problema se abate contra a vida, não sou de baixar a cabeça quando me vejo perdido em meio a infortúnios, rodeado de confusão, não sou de perder a vontade de gastar quando o bolso tosse poeira, por isso me dou por vencedor em cada dor, por isso me levanto sem pestanejar, trabalho meu trabalho sem ouvidos outros, sem bocas estas, pensando em bocas outras, ouvindo orelhas aquelas...
Meu passado é a glória do meu viver, meu combustível diário. Verdade essa que meu Deus me mostrou, num simples gesto de conivência, um fechar de olhos para o erro comum, o ventre sagrado do Senhor a acalentar minha cabeça sofrida embebida em negrume de fios longos, paixão arrebatadora como fosse tons de preto, quiçá 50 tons...
Mas saiamos desse calor, deixa eu me aconchegar nos finos pingos de chuva que despencam do céu pra refrescar a quentura dos corpos, deixa eu rever as apostas pra eternizar o momento, deixa que os sorrisos calem o motivo de que dizem, entre bocas, que da língua melhor uso se faz em silêncio.
Muitos duvidam de mim, e de todos eles, quem duvida sou eu.
Galgo meus lugares um pouco mais suavemente do que antes, porém retas finais também decidem campeonatos, quem entende de arte me compreende. Seus números não são convincentes quanto a minha qualidade, seu furor de jovem não se compara a minha devassidão experiente, seus movimentos rápidos não alcançam prazer como os metódicos e bem encaixados do meu ir e vir...
Vou deixar no ar as minhas vontades, vou de novo como nos tempos de garoto, desenhando em letras todas as formas de juventude abalada que venho lendo nesses últimos dias, clamando numa dança suave as palavras sussurradas em virgens ouvidos, Miguelitos literais e drogados não se enxergam em mim, mas bem que poderiam se inspirar, meus horrores hão de prevalecer pois na sapiência do homem de bem se revela a arte de escrever.
Quererei lágrimas dessa vez.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Nos íntimos do sentir

Ah, o ódio fraternal que alimentamos em nossos mais íntimos desejos, em nossos mais loucos pesares, nossas matérias baseadas em palavras ou ligações perdidas e sem nexo a nos acompanhar sem mais, a nos golpear sem menos, o que se diz ou o que se ouve, nada mais é tão importante quanto o ego inflado, absurdo intento que nos atinge em quartas de frio, ou nos faz sentir saudade nas semanas distantes...
Ah, esse amor adolescente, esse excesso de promessas, essa dor pungente que nos rasga o peito transbordando nossos corações em lágrimas, afogando nossos olhos em noites terríveis de celebração, em manhãs maravilhosas de café da manhã, em amores eternos que só se fazem eternos por serem vistos como primeiros, um dia quem sabe, derradeiros.
Ah, esse fulano sem jeito, esse idiota descomunal, com suas frases de impacto, colocações  soltas risos bobos olhares de brilho tolo, como se faz isso? já não me lembro de ver um desses por aí há tempos, já não consigo mais entender de onde saíram, não absorvo a maldade que se encontra em suas intenções, não aceito o ódio fraternal que fazem tanta questão de alimentar e jogar em meus olhos...
Ah, que saudade do meu tempo, que saudade das minhas manhãs de café, que saudade eterna do que era primeiro, jamais se tornou derradeiro, muito menos eterno, quando o compromisso era só palavra no vocabulário e tudo se resumia a um medo estranho, a uma boca seca, ao tremer de minhas pernas grossas, bem torneadas, digam lá, vocês...
Ah, mas não há de ser motivo de tristeza, não há de ser motivo de preocupação, pois vamos todos juntos, vamos numa só voz rumo ao destino comum, todos remando, içando velas enormes dando força à força, soprando com o vento, mãos dadas, braços unidos, vamos pois juntos somos fortes, deixando de lado todos esses sonhos, fazendo valer nossas vontades, e se tremerem nossas pernas, que bom, se suarem nossos corpos, mais alegria, que nossas bocas sequem em favor do silêncio pra que o melhor uso da língua seja feito...
Ah, mas é tudo em prol do sentimento, do amor, do que faz bem. E o que faz bem fica pra sempre.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Útero raso pretas lindas línguas esvoaçantes


Que infinitos escondem essas minhas vontades, que interesses encobrem os meus desejos e planos, que forças grandes jogam em mim palavras de tal grosseria a inspirar sem poder os meus intentos de futuro, que dinheiros escorridos pelos ralos eu perco todos os dias aumentando o que eu pretendo diminuir, que amores perdidos, que por perdidos estarem continuam a procurar incessantes sem sucesso até que no alto do patamar em desespero me encontram, infeliz, louco e desvairado para lhes atender, lhes felicitar em meus braços, então que se vá todo plano, toda vontade, toda grossa palavra, que se vá o sentimento escondido, que se vá o matrimônio, os terrenos, em declive ou aclive, que se vá o dinheiro rolando mais uma vez pelos sujos e podres ralos, tão sujos e podres quanto essa vida sem aventuras, quanto essa minha vida sem sonhos, tão inútil por chamar para si as verdades todas que não viram mentiras jamais, e alimentam a cada dia uma utopia estranha e indolor, cavando raízes fundas e fortes, para nunca saírem do chão, seu lugar.
Que buracos estes que você se joga quando passa por mim em línguas esvoaçantes, que paixão desvairada é essa que mastiga há tanto tempo e não tem a coragem necessária, a mesma que de mim também foge, de dar cabo ao que te mal faz, que medo é esse de não relembrar as felicidades daquele tempo, das cervejas geladas, dos risos fáceis, das tardes vespertinas em suítes alambradas, presentes mil, garrafas de licor vinho vodka champanhe e o que mais quiser...
Que pretas lindas se acocoram a contemplar meu viver sem furtivo sentimento a me dedicar, e eu na minha intensa saudade me coloco a escrever podres e sujas linhas de palavras como fosse outros ralos só pra dedicar um pouco mais do meu tempo escasso em lhes encher de lágrimas os olhos como fora no tempo passado, como fora nos términos de casamentos, estáveis casamentos em táxis de frota avulsa, como fora nos pequenos cômodos de hospitais também avulsos, quarteirões de prazer a nos umedecer as roupas, por cima de roupas baixas lingeries calcinhas sutiãs outras calcinhas biquines, marcas de praia, pretas lindas do meu tempo distante.
Que seios rijos e loucas bundas a me guiar pelos escuros do centro da cidade, imergindo em outras tantas lágrimas, essas sim, intensa e verdadeiramente sinceras, as lágrimas mais sinceras que já puderam derramar por este vassalo autor que vos fala, que seios rijos, vindos diretamente de algum tipo de literatura mal escrita, que sofrimento, meu Deus, que dor, que útero raso, e tantas histórias a serem escritas, e tanto pudor em palavras que me deixo estar pois os anos não apagam as aventuras vividas muito menos a paixão adquirida, metamorfose de carinho que nos engole nessas tardes de quarta feira onde nada mais interessa do que dizer o que se pensa, onde nada mais é tão importante quanto se cuspir o passado em letras para ferir com tesão o coração esquecido...
Que espelhos nos mostram no dia de hoje essa felicidade? Que aventuras o reflexo pode me mostrar? Mostra nada... na verdade o espelho me mostra somente um cabelo cortado por grande ter estado, uma barba rala e feia mal desenhada mas que agrada aos olhos de seu rosto, mostra um rosto roto gordo flácido bochechudo, mostra pouca alegria, mostra quase nada, mostra felicidade nenhuma...
Que me venham de novo então as aventuras que eu perdi ou deixei escapar, que me venham todos os sentimentos batendo a minha porta, que me venham sem medo de sofrer, pois meu carinho há de sobressaltar seus desvarios de dor, mas que venham sim com suas lágrimas a lavar sem dó toda a sujeira dessa minha chata vida, com o sabão da libido que lhes escorre pra dar brilho ao chão que eu venho pisando há algum tempo.
E tenho dito, gata.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Tempos de Carnaval


Vai ser num dia de verão
Pra semana ou no final
caminhando sem razão
Ou curtindo o carnaval?

Todos de queixo caído
Perguntando sem saber
Como pode ter dormido
E acordado em prazer

Meu sorriso bobo e falso
Mergulhado em moral
Caminhando sem mais rastro
Lá curtindo o carnaval...

Na cadência do desejo
De voltar pro meu amor
Da delícia do seu beijo
Nossa transa de calor

Nas areias de uma praia
Onde nasce um Luau
Caminhando pela orla
Ou correndo o carnaval?

O sucesso do meu copo
Pendente na minha mão
Cada lance eu mando, eu topo
Engolido em aflição

Minha preta me aguarda
Relembrando Arraial
Caminhando na favela
Ou pulando carnaval

De saudade eu canto e grito
Esperando amanhecer
Esbravejei “aqui não fico
Tô voltando pra você”

Pois sem medo não há paz
Faço um mundo radical
Caminhando aqui jaz
Um defunto carnaval...

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Gotas em potes de felicidade


Que na sala, que no quarto, que no banheiro e cozinha, eu me veja, eu me encontre ao teu lado ou atrás de ti, pois nessa minha condição de vontade, cada uma das tuas roupas eu hei de rasgar sem força, com pudor, sem medo, e na intenção da carne, essa carne que te cobre e que me alimenta, ainda mais essa saciedade que há de ser posta em fim, que há de ser colocada a parte pois do que sou e do que pretendo poucos loucos um dia conhecerão...
Quiçá saberão em alguma oportunidade os puritanos dessa minha época do que se trata o sexo selvagem e despretensioso que, por pretensão, tem somente dar cabo na libido que rodeia esse povo maravilhoso que me segue. E nas histórias alheias eu me encontro tão perdido que por lá ficaria pelo pouco tempo da eternidade...
Queria eu, com meus vinte e poucos anos, adentrar em toda essa serenidade de casos e adversidades, queria tanto poder dizer aos quatro cantos do mundo o que já fiz, e essas intempéries que rondam minhas cabeças nos dias mais monótonos da primavera. Em invernos outros eu já fui mais eu. Hoje estou um pouco encabulado...
Quantas e quantas saias já não levantei com meus olhos poderosos, quantas palavras perdidas num meio de álcool enorme que não me dava a sensação que eu pretendia naquelas tardes recheadas de amigos, quantas noites mal dormidas e madrugadas alucinantes, quantos carnavais? Já nem sei... quantos natais e anos novos, milhões de sensações escondidas por baixo desse pano sujo de lamentações.
Que no chão, que na cama, que na rede, que na areia da praia mais deserta, eu me veja entrando e saindo da felicidade pois na alegria se esbarra com a tristeza e com o sofrimento damos mais valor aos sorrisos bobos, que eu me atenha a um amor somente, que eu saiba dar valor a quem esteja do meu lado na caminhada, que eu saiba deliciar quem me delicia, que eu saiba dedilhar quem me dedilha e que eu não me canse jamais, pois no cansaço se vê o ócio de Satanás atentando o bom homem...
As minhas energias em ápice fazendo donzelas virarem mulheres, o meu poder de conquista cada dia maior, minha força em realizar os suspiros, cada um dos quesitos maravilhosos do ser moderno se espelhando em mim e não tenham medo, não se acanhem em se chegar pois mordo sim, mas mordo devagar... nada que não doa tanto sem que deixe guardado no fundo de sua ferida uma saudade saudável dos momentos que passar ao meu lado, e se for, que não se lembre de mim, pois do meu peito fraco pouco respondo, das dores que eu também sinto pouco digo, e me dizem, sim, me dizem desleixado, relaxado para com as pessoas, e me vejo mal, e me vêem mal, coração de pedra, quando na verdade é mais mole do que as lágrimas que dos meus olhos escorrem na sua partida...
Guardar em potes gotas de felicidade é trabalho árduo para quem tem pouco tempo na vida para amar, eu sou desses...
Prefiro torneiras abertas a me banhar nos lagos de alegria que a vida pode me proporcionar por isso não deixo de lado ninguém, não deixo de acordar todos os dias com o sorriso no rosto, reclamo às vezes mas me lembro que a moeda sempre sobe e cai virada para o lado que mais irá me apetecer...
Julgar-me-ão os tolos e sem opinião formada sobre seus próprios entendimentos e saciedades de seus corpos, mas não hei de me abalar pois a força do pensamento ultrapassa qualquer tipo de crítica proveniente de puritanos bobos e sem brilho nos olhos pelas aventuras vividas enquanto vivos foram.
E é isso.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ano de eleição

Mão cerrada, punho forte.

Cada um vai pelo seu caminho, os candidatos maravilhosos, trilhando becos e ruelas nas favelas, organizando comícios milionários com o nosso dinheiro suado, trabalhando em prol da reeleição, tentando dar seqüência aos seus devidos crimes de estelionato, corrupção, safadezas, e promiscuidade, cativando eleitores sem mente, comprando votos por migalhas, fazendo girar a enorme roda de imperfeições desse nosso país...
Pra exprimir um sentimento sincero que não cabe em mim e atenta o desejo de ser escrito, eu lhes digo que venderia meu voto sim.
Pasmem...! com que razão vem esse jovem advogar em causa própria tal façanha sem tamanho em rede pública contaminando puras e revolucionárias mentes sociedade afora?
Pois do que cortam do meu salário todos os meses, pois da maior porcentagem que fumam de meu cigarro, que tomam de minha cerveja, que abastecem da gasolina que eu boto no carro, da facada absurda que engolem em cada parcela de tudo que eu tenho em meu nome, do ar que eu respiro quiçá também eles talvez cheirem um pouco, do meu ir e vir garantido em lei que eu tenho que abrir as pernas em cancelas cobrando pedágio, de siglas malditas de impostos que eu não conheço que sempre terminam numa outra sigla chamada CPI para prender os que gastam indevidamente o meu e o seu dinheiro sem que alcem sucesso, nada disso vale a pena, senhores.
Pois se o favelado aceita uma cesta básica em troca do seu sagrado voto no bandido que veste terno, eu aperto sua mão, pois pelo menos em um mês ele irá comer às custas do eleito, nos outros quatro anos nada acontecerá.
E não me venham com as grandes opiniões de que sim, há por aí alguns bons e honestos que hão de lavar do governo toda a sujeira que lá houver, há, perdidos por aí, alguns candidatos que vieram do povo e pelo povo irão trabalhar contentando-se com somente o seu salário e nada mais, não entrando em esquemas e nem patrocinando outros corruptos que dão proteção do lado de fora da Assembléia, ou da Câmara, ou do Planalto, tanto faz...
Pois a verdade é uma só, senhores. O sujeito até tem a boa intenção de adentrar e fazer algo pra mudar, mas é engolido pelo sistema, o sistema é muito maior do que esse número já absurdo de parlamentares que lá estão e dos que hão de entrar. Nada vai mudar, nunca vai mudar, quem nasceu pra pano de chão não chega a edredom.
Mas a revolução começa de baixo, somos nós a população que escolhe o governo, entremos então no mais alto patamar das lideranças e arranquemos a cabeça de todos a começar por nós mesmos, pois todos somos corruptos, todos nós nos corrompemos vez ou outra na vida; se o erro deve ser erradicado, degolemo-nos uns aos outros até que os bebês apenas possam crescer num país livre de más idéias... não poupemos idosos com suas histórias de passado, muito menos mulheres, cobras malditas, espécie venenosa a contaminar nossos futuros adolescentes guerreiros.
O sangue, esse sim vai escorrer pelas ruelas e becos das favelas, sujando o sapato dos candidatos sedentos por  votos nas comunidades mais pobres, aí então, quando os eleitores todos já não mais existirem, quando as máquinas pararem, quando o consumo cessar, enfim, passarão fome também os que estão na ponta da pirâmide, se rebaixarão ao nível do que precisam e pela vez finita colocarão ordem nesse prostíbulo chamado Brasil.
Admiraremos com orgulho nossa façanha, vendo crescer a pátria amada em honestidade, em igualdade, em alegria e futebol, em cerveja e churrasco, em praia e bundas... pois somos isso, senhores, somos praia bunda cerveja churrasco e futebol, somos coisa boa, não somos terremoto, não somos vulcões, não somos tsunamis, somos o povo mais feliz desse planeta dito redondo, mas continuamos enterrados numa poça de merda, as moscas mudam a cada 4 anos, mas enquanto não houver sangue o suficiente pra pintar o muro da burguesia com as letras de revolução, nada mudará, nada.

Silenciando pensamentos

Mente aberta, cabeça fechada.

Quando a noite chega e as afirmações querem nos mostrar alguns pontos de interrogação, eu me jogo ao chão, eu me escondo em medo pra não dar asas à imaginação, eu retiro meu time de campo com receio da derrota, eu vou pro quarto, eu ligo a TV, eu leio palavras e me ausento. Porém se a noite for dessas escuras e quentes, se a noite for de Lua cheia, de estrelas penduradas no alto do céu em forma de brilhos intensos a iluminar nosso caminho, se houver a dúvida alheia para com nossa precisa sinceridade, se houver barulhos extremos e aparições satânicas em esquinas de amizade isentas de fêmeas, aí senhores, aí eu ganho o mundo, aí eu boto a fé pra pista, eu recordo os tempos de juventude e me reconheço.
Sim, não me julgue estranho, não me diga mentiras exageradas, não bote drogas no meu sangue, eu me reconheço pois esse que o espelho me mostra todas as manhãs não é o verdadeiro reflexo do que sempre fui, esse que acorda tarde e dorme cedo não é o homem das atitudes drásticas de um tempo saudoso, esse que se ausenta em temor não faz páreo para o que se joga sem medo em piscinas vazias...
Um bando de meninas a discutir e querer confusão, um bando de calcinhas jogadas ao chão e acharão que eu fugirei? Que o mar do meu quintal seja testemunha das verdades que aqui eu digo, que o mundo inteiro ouça o que eu tenho pra dizer, senhores, pois das minhas vontades discurso eu, ainda que sem público fiel, ainda que nostálgico das grandes palestras de antes, porém com o mesmo sangue nos olhos ao jogar em sonsas caras os argumentos todos que eu levo no bolso direito, mesmo bolso do cigarro que se transforma na fumaça limpa da minha falta de energia.
Tô um pouco cansado dessa mesmice, to muito me lixando pro que vão pensar, to nem aí pras lágrimas escorridas... quem trabalha e paga as contas sou eu, quem tem capacidade de mutação diária e a faz só pra agradar a uma maioria é esse dono das palavras, sou eu que carrego o barco e ainda assim sou obrigado a ficar a ver navios?
O barco vai virar, senhores.
Esse calor vai gritar, essa certeza vai tornar-se coisa parecida com outras mentiras ditas muitas vezes a nos atordoar a mente, essa cerveja vai virar água, e dessa água eu não vou mais beber pois dessa água eu já bebi. O milagre de Jesus vai se ver nas minhas mãos, o copo de vinho no teu caminho não vai se transformar em nada, a taça ainda não quebrou mas está por ser rachada de todo esse ódio; toda essa gordura excedente vai pro lixo, o que tu conseguiu adquirir durante anos, agora faz questão de retirar sem dó nem piedade, um aborto de si, uma traição...
Ahh sim, uma traição.
Quiseram os homens da vida me coroar com dádivas dos céus e confrontar meu destino com outros deuses, alguns sem noção alguma, sem nexo de verdades e essas coisas, mas eu vou por cima das especulações, vou me redefinindo cada dia que passa, vou mais uma vez botando minha fé pra pista sempre que o confronto se der, e sei que não perco. Meu time continuará em campo, além dos 11 jogando, há todos os reservas com os quais ainda posso contar; o futuro não há de me desmentir.
Vou indo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Fraca murcha flor

Na morte, a natureza renasce.

Vai por lá, o rapaz solto, no embalo dos seus ímpetos, família feita, guerreiro do asfalto, carteira cheia de assinaturas, meses jogados fora por falta de competência, logicamente.
É desses que não têm futuro, mas acaba caindo num buraco de sorte vez ou outra e se levanta quando não parecia haver mais saída, é desses que não se esforça e só promete, e por só prometer, jamais cumpre... e a criança, sem culpa, sem pai, sem mãe...
Mas não há de ser nada, o povo que somos, a raça que nos une, a nutrição dessa terra alimentada pelas lágrimas de outrem fará com que brote outras opções, possibilidades mil, todas elas servidas em pratos de tristeza, é bem verdade, mas não há nada de felicidade sem as pontas de sofrimento que nos espetam a bunda.
Vai ser assim, pois assim eu já sei. Vivido...
O que aumenta a saudade é a razão básica de a rua ter dois lados opostos. O bom e o ruim, o dia de sol e o dia de chuva, a risada e o choro.
Quando o mundo se faz pleno, quando nada nos falta, quando os amigos estão desocupados, quando o bolso está levemente recheado, o que há é suficientemente bom para o que tanto precisamos, essa baboseira de analgésicos para as dores do coração e tudo mais o que dizem.
Entretanto, no contrário, quando estamos caminhando sozinhos buscando as aventuras, quando o fim do mês é inimigo, quando os irmãos se esforçam na distância para fazerem suas responsabilidades, aí guerreiro, o telefone na sua mão é de um peso absurdo, as palavras são todas estranhas de cores mil, as músicas da rádio gritam verdades tão grandes nos teus ouvidos que melhor seria se surdo fosse.
A luta é grande, a guerra maior, o mundo te dá as costas, alguma maldita faz a pergunta que não deve, outro maldito comenta o que menos deve, as fotos se jogam em teus olhos, outra falsa felicidade tal qual a tua quando a vida sorria se mostra à vista tua e tu murcha. Tu murcha, cara, mas toda flor no outro dia, no outro raio de sol, se ergue.
É mentira minha que nós homens não somos como flores? Não, não é mentira... então, brother, tu continua murcho e desenganado.
Os ônibus passam por você lhe convidando a entrar, todos com o itinerário do qual tu corre, do qual tu foge, o qual tu briga e batalha até o fim, mas o fim, parceiro é papo de alguns minutos... tudo isso te consome por dentro, tudo isso te mói, e eu digo mais, tudo isso te mastiga porque tu é fraco.
Não é flor. Mas é fraco.
Desabonando as regras de matrimônio, meu caro, abandonando famílias, deixando de lado aquilo que mais te apetece e faz por ti, és fraco de uma fraqueza absurda, és garoto novo, burlando as mais intensas formas de sentimento, o de um pai, por mais que minhas palavras sejam do quilate de outros cobres, longe da pele do que te pinta, sujeito...
Que faz?
Senta e chora, vacilão, senta e chora...
Pois na hora do retorno, nada mais será como antes, e digo com palavras de conhecedor, na hora do certo retorno, tu vais ser o mais baixo dos homens, tu vai se rebaixar à altura de quem tu pegou ódio mas não vive longe, tu vai se arrastar pelos cômodos da casa, tu vai rastejar pelo chão como bicho traiçoeiro, vai ser infeliz na caminhada rumo à morte ao lado de loiros fios que pela tinta de falsas pedras, indômitos quilates outros, se enxerga no reflexo sujo do vosso espelho...
Julgam-me assim, pessimista para com a relação dos povos. Pois o que já nasce errado está fadado a ser cada dia mais equivocado.
Eu vou por aqui no meu canto, sempre disponível quando preciso. Para ambos os lados. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O distante lar

Quando o último trem sair, quando o último vagão passar, quando esse minério de saudade nos fizer carga inútil, veremos o que é, de fato, uma nostalgia dos momentos vividos. Quando a última onda bater, quando a derradeira areia nos sujar os pés, quando essa Av. Beira Mar for cruzada enfim, saberemos então dar valor à umidade que uma lágrima proporciona ao rosto. Quando a última risada gritar, quando o último amigo morrer, quando a nossa casa do subúrbio não tiver um mar em seu quintal, aí sim, saberemos que fomos felizes lá...
Pois do que somos, pouco lembraremos no futuro se não tivermos em mente hoje a imensa alegria de estar, a grande sabedoria de fazer, a absurda vontade de voltar.

Dos medos imensuráveis que a vida nos toma, dos goles sedentos que as esquinas nos entornam, dos pulos olímpicos que minhas pernas alcançam, nada disso vai ser escrito se não houver a vontade e inspirações necessárias, pois no silêncio dos imensuráveis medos se faz um drink em requinte de malvadeza, se dá um gole em proporção épica, se empreitam saltos que a vida jamais irá acreditar.

Burlei, portanto, esses falsos desafios que a Literatura fazia a mim desde a juventude, e comecei a adentrar no mundo mágico das mentiras, no mundo intenso das lorotas, na magia do que se escreve, do que se pensa e se põe no papel diretamente sendo absorvido de forma contrária aos olhos de quem lê; toda essa balbúrdia de contos incríveis, personagens fictícios, lugares inimagináveis.

Não, queridas, aqui não há amor, aqui não há orgia, aqui não há Carnaval.

Sim, queridas, aqui há amor, orgia e Carnaval.

Entendam como queiram, no que eu digo nada mais é provável do que o possível e nada é tão impossível que seja considerado improvável.

Da minha vida e da sua, sabemos nós, eu um pouco mais da sua, você um pouco menos da minha, uma vez que me fazendo entender adquiro tantas e tantas perguntas partidas de ti. Sábios são os que aprendem mais respondendo do que perguntando...

Lá de onde eu vim, o mundo faz poucas perguntas, aprendo pouco.

Lá no horizonte dos meus olhos, o Sol se põe, lá por trás das montanhas verdes, a minhoca de metal que atravessas morros, que nasce e morre nas curvas da estrada, lá onde eu posso ir e vir, cambaleante sim, vivo por dentro, acendendo como um cigarro a labareda das minhas cinzas mortas por aqui, lá onde o sentimento se esvai, onde o sentimento se vê, onde o sentimento dá lugar à saudade do que faz bem e do que faz mal, lá a vida se faz contraditória mas quando estou lá não lembro de cá, quando estou lá, minha mente é vazia e meu coração é repleto, lá onde meus olhos brilham, onde meu queixo cai, taciturnos peitos batentes de paixão, ladrilhos de carinho, asfalto de sobremesa, cores e mais cores com canudos, e multidão, sim, a multidão precisa, outra vez, essa multidão é muito precisa, como as horas do relógio que voam, como as aves que dão o ar de suas Garças, de seus canários, de seus periquitos e afins, tudo ao redor é magia, tudo ao redor são palavras falsas, recheadas de sentimento, ou orgia, ou Carnaval... 

Entendam como queiram, queridas...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O fulano e a formosura do Catumbi


Gosto pouco desses meus monólogos com quem não tem ouvidos para ouvir-me, pois faltam-me as certas palavras nos instantes que preciso as escolher, nos momentos decisivos que fazem parte da coletânea básica do meu vocabulário, quando analiso as possibilidades de poder ou não explanar aquilo que se encontra na ponta da minha língua de desejo.
Pois nem que as almas se levantassem e me fizessem frear o corpo, eu seria impedido de dar cabo à minha vontade, nem que as catacumbas de Catumbi Cemetery abrissem sob meus pés, eu me deixaria cair nesses sete palmos malditos a querer brecar tal libido, nem que o mundo se colocasse de cabeça pra baixo, nem que a negatividade me atingisse, nem que eu me visse em desvantagem para tantos outros que almejam o mesmo que eu, não... esses outros que caiam em covas fundas.
São tantas as ocasiões que pedem, enlouquecidas, para serem vividas que vejo em mim um eterno pecador a deixar de lado todas as incríveis situações que tive o prazer de participar não dividindo, assim, esse conhecimento todo com o próximo, não abordando os detalhes das emoções que acometeram pessoas de diversos quilates, levando-se em conta o solo fértil das redondezas de Catumbi, local extremamente propício a extração de metais valiosos, extração lenta, devagar, sem pressa...
Pois que digam o que quiserem; que o tempo não foi meu aliado, que as palavras prometidas demoraram a chegar, digam ou gritem sobre meus erros e minhas sinceras mentiras! Estarão todos certos, porém do final feliz dessa história só o sei eu.
O fulano ia caminhando pela rua meio apressado,
ele sabia que estava sendo vigiado...
Cada uma das esquinas que enobrecem o bairro de Rio Comprido foram detalhadas na obra de Machado, e árvores não faltarão a cair frente aos pés do escritor para que haja o certo caminho até os lábios de sua amada. Outros autores ajudam esse que vos fala.
Mas não quero abordar o que a palavra diz; sou apenas condutor do sentimento do fulano que vinha pela Haddock Lobo, quem sabe uma outra daquelas rua que não me vem à cabeça nesse instante, Moura Brito talvez, intenso e tolo, caminhando sem rumo até que em sua direção, a perfeição do marrom se destacou na paisagem cinza do bairro antigo. Quiçá os deuses tivessem deixado escapar do reino dos céus tal anjo sem asas a caminhar assim tão solene perto de imortal perseguido... quisera eu ser o imortal perseguido.
No ímpeto do medo, tomou de si os olhos com os quais nascera e influenciou um sorriso desejado no rosto de sua nova musa... que sorriso lindo, que lábios meigos, que olhar fatal sem pretensões algumas, que olhar devasso cheio de pureza, e seus pensamentos tão próximos mas que sempre se fizeram tão distantes se encontraram sem que uma só palavra pudesse ser dita, assim que o horizonte se fez ínfimo e nulo, no encontro dos dois corpos em meio à multidão precisa de um sonho vestido em falsa realidade...
Pois deitaram outra vez os mortos, presos em suas almas, nos sete palmos abaixo da terra fofa e fértil, fecharam-se todas as catacumbas, as árvores caídas, cortadas por Machados ou outros autores, ergueram-se novamente a fim de dar mais esperança nos tons de cinza da Tijuca; metais, preciosos ou não, subiram aos céus fazendo brilhar ainda mais o Sol que os iluminava e nada, simplesmente nada, pôde deter o que já estava escrito, mesmo que prometido, porém ainda não realizado...
Ó que formosura...

Novas palavras sobre a União


União dos Conquistadores de Mulheres
Vieram assim pelos cantos da vida, analisando cada uma das partes envolvidas, não tinham muitas palavras para abordar o assunto principal e foram rondando as possibilidades, vendo qual pressão era necessária para adentrar onde ninguém antes esteve.
Foram caminhando sem pretensão, adentrando pelos becos escuros, foram por onde não tinham ido antes, talvez pra exercer algum tipo de influência sobre este que vos fala, talvez para se sentirem um pouco melhores com suas vidas medíocres até então.
Esquivaram-se de alguns pormenores, deixaram de lado suas amizades que não traziam saúde à jornada, se intitularam como outros, diferentes de antes pra que pudessem enxergar com seus próprios olhos que o futuro poderia ser bem melhor do que fora o passado.
Cresceram por dentro, cresceram por fora, analisaram o mundo de uma perspectiva nova, viram que o lodo não é a lama, viram que onde se escorrega não há paz, viram na pureza da terra molhada a fatalidade de um querer tão puro que jamais outro homem que pise esse chão poderá sentir.
A grama fofa nunca mais nascera onde seus pés planaram...
Acreditam, hoje, numa paz de espírito completamente além do que aquele antigo aquém os reservava, são novos homens, homens em fé de moral e mente, homens que vão rumo ao seu destino sem olhar para os lados, sem que idéias alheias lhes façam a cabeça, são homens de cabeça feita, cabeça forte, pensamento reto.
Não precisam mais que lhes digam de que lado nasce o Sol, a bússola do caminho está dentro de seus corações, a verdade das estradas a serem percorridas está inerte, plena, intensa dentro de seus olhos, sangue nos olhos, coisa de homem, coisa sem significado porém de enorme impacto.
E eu sei. Sim, eu sei que o tempo andou sendo dono de seus novos passos, eu sei que a felicidade é o que os guia, eu sei que a brabeza da alma se espelha firmemente da franqueza das palavras e essas sim, são a chave da conquista que os une, e que une quem deseja se unir a eles...
E eles, senhores, eles somos nós.
Pois na delicadeza do que digo, na intensidade do que falo, na maestria do que canto, o reino dos conquistadores de mulheres, desde que seu rei foi morto, um presidente fora posto, e este que dialoga nesse momento, entende cada um dos homens dissertados acima, pois os ensinou os caminhos melhores a percorrer, pois os guiou com sabedoria pelos cantos escuros dessas noites;  adestrou, como fora adestrado no tempo do reino, e há de continuar assim enquanto vida houver.
Não há saudade nem nostalgia, não há medos nem preocupações, somos todos iguais no ritmo frenético que é nossa correria, somos todos levados pelas batidas do coração ou do funk, pelos bumbos do peito ou do samba, pelas palavras dos conquistadores ou de Deus... vamos todos juntos sem receio ou opção diferente, vamos todos na rotina pra modificar o indiferente, vamos juntos sendo todos pois do contrário, nada seremos.
E o mais, não há de ser escrito, há de ser vivido, há de ser contado de bocas a bocas, entre línguas benditas, entre corpos que se batem, entre ondas que se beijam.
O mundo é pouco, as pessoas são demais. A UCM é suficiente.

sábado, 1 de setembro de 2012

Zé Matuto matutou

Jânio Quadros, autor da frase Filo porque Quilo

Se você for por esse lado, vou ser obrigado a subir. Vou no alto pois de lá te vejo pequeno, vou voando porque assim chego mais rápido, vou de boa pra voltar melhor, vou leve e o que volta pesado é só o bolso.
No mais, a vida te mostra que nada é fácil, ninguém chega nos confins do mundo com delícias a contar sem que antes tenha suado a camisa, nenhuma surra foi em vão, nenhum trem cheio em madrugadas terríveis depois de todas as aventuras em eventos históricos levando na bagagem do transporte toda a ressaca que pode haver, não, não foi em vão, os contracheques magros não foram em vão, pois sabíamos fazer do pouco, muito... a multiplicação dos valores é fato consumado na carteira de quem gasta.
O mundo não se faz em dinheiro mas se compra nele, tá preparado?
Desde que o médico informou o sexo à minha mãe, estou preparado.
Vai por esse lado que é melhor pra você, jovem, me deixa voar, me deixa partir rumo ao desconhecido, deixa eu bater minhas asas porque o vento do meu sopro te joga no chão de longe, lá de onde eu estiver, minhas asas de liberdade e labuta vão te fazer gelar de frio aqui...
Vou ganhar o mundo.
Vai matuto, caminha por aqui que eu tenho receio do que posso fazer se começar a correr. Fica flexível a ponto de esticar, a ponto de crescer, a ponto de justificar tua passagem pela vida. Não se espelhe em mim. Você pode quebrar o vidro e o reflexo não será coisa boa. Recomponho meus pedaços, me junto devagar, uno todas as partes com a cola da aventura, reúno forças no além pra que minha jornada não tenha freios.
A coisa tá difícil, matuto?
Por aqui a coisa tá suave...
Tenho meus princípios, tenho minhas moedas, tenho minhas verdades incontestáveis, tenho todas as histórias estranhas que me acometeram num passado próximo, quiçá ontem, e o que guardo sob a manga do braço direito é mais do que tu, um dia, poderia transportar, ó matuto infeliz, traçando falsas linhas, fingindo alegrias infinitas como se pudesse, de alguma forma, entender o que é felicidade.
Só o digo porque o vivo. Não me deixo estar porque a inércia do momento não se compara à velocidade do movimento. Sou desses, matuto, sou desses que anda por aí sem destino, sem telefones na mão, deixando de lados os registros só pra não invejar os invejosos, sou desses que corre ao invés de caminhar, sou desses que prefere a Lua ao Sol, sou desses que, na madrugada, tem mais motivos pra enxergar do que no dia, sou desses que passa por você com a mente aberta, com o corpo fechado, com sangue nos olhos, pois homem de verdade, matuto, tem que ter sangue nos olhos, tem que ter sorriso no rosto, tem que ter falsas verdades e mentiras sinceras no bolso...
Sou do mundo e o mundo é meu.
Cabe aqui tudo que você possa imaginar, arrumo confusões intermináveis e me presenteiam no dia seguinte, filo porque quilo, ou como queira entender a gramática que nunca fora meu forte e ainda assim há raios de sol depois da tempestade, sou intenso e absurdo apesar dos trâmites do passado, passado de glórias e sofrimento, passado de dificuldades e entendimentos, passado que é a verdadeira forma mais clara de se analisar o presente, com o intuito de mudar levemente o que há de vir amanhã...
Mas vamos devagar, matuto.
Fica você daí, eu vou por aqui, não entra no meu caminho porque eu não gosto de azar.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Carne de minha perna

Tribo Xingu

Carne de minha perna!
Que grite a vontade, ó índio tolo. Pois Peri o ensinaria a ser homem, a ser guerreiro, espécie de abutre sem caráter, sem nome, sem escrúpulos. Se pudesse, aqui dissertaria todo meu rancor, minha tristeza, minha raiva de Macunaíma, por ser tão ridículo, por ser tão absurdo, por ser, ainda mais, tão mentiroso e safado... e que pena, o autor retratou no parco índio o retrato perfeito do brasileiro. Pois foi Realista demais...
Como ainda me perco no Romantismo de Alencar e sua tentativa perfeita em querer demonstrar aos poucos leitores da época o que seria uma identidade autêntica, quase forçando a barra pra que fôssemos um pouco melhores, como uma bíblia em que nos espelhássemos, como quisesse que cada um, ao ler as façanhas de Peri, mostrasse no dia a dia um pouco dele, que o amor escondido e devoto à safada da Ceci pudesse ser encarado como uma dedicação à esposa dentro de casa, como se a fidelidade ao seu senhor fosse um pouco do que faríamos em nossos respectivos empregos, como se o seu senhor fosse então, um reflexo para que patrões bem tratassem seus empregados, uma chance à vida, que a paixão não precisasse acabar como vemos nos filmes de hoje, que os mocinhos nem sempre vençam, mas que lutem até o fim, e com a morte de quem é certo, a eternidade do herói, que arrancássemos uma árvore pela raiz todos os dias pra provar amor a quem amamos...
Carne de minha perna, volte aqui!!
Como é idiota esse pseudo índio a estragar ainda mais a índole do que já se faz tão podre, a correr estranho pelas matas arrumando problemas, temeroso de tudo, fraco de todos, salafrário, imbecil e ainda termina sem cor... descolorido, traindo a própria natureza, desfazendo o intenso trabalho do autor, maldizendo os bens nacionais, ridicularizando o que o grande índio conseguira com tanto êxito...
E Ubirajaras, Iracemas, Peris, todos intensos em seus amores, todos corretos na forma do índio que há de elevar ao mais alto patamar o que se faz pessoa brasileira, essa sujeira corrupta que somos, essas almas deslavadas e sem vergonha que nos tornamos com o passar do tempo...
Quem dera, outra vez a pureza dos fios lisos de cabelo, o cobre do corpo, e por falar em corpo me perco nela...
Como se não bastasse, fui eu, capitão de terras, desbravador camaraense, não me vejo em nobres títulos, mas ainda sinto o poder nas mãos, que o rebenque de prata não me pertença, tudo bem, vou na bengala que me apóia e me dá status, corroendo e misturando Emilianos Guedes e Justinianos Duartes da Rosa, doutor e capitão sou eu, ainda assim louco pelas donzelas do meu tempo... Iracema, virgem dos lábios de mel... Tereza, Favo-de-Mel, há muito descabaçada, que fique em casa, nos arredores de Estância a aguardar seu amásio, este que vos fala vai tomar os caminhos do Ceará, botar oca pra índia pura, o peixe mais gostoso em sua mesa, todas as frutas que desejar, ornamentos mil de todas as cores, mandados vir da África, coisa fina, e fará inveja a outras de sua tribo, há de desfilar com capitão doutor, mãos dadas, sem pudor algum, envergonhando as tradições locais...
Que moralista sou eu... sou mais um Macunaíma perdido nesse mar de gente, sou mais um que adere ao sistema podre, se coloca acima de expectativas e não as corresponde, sou mais um descolorido a misturar literaturas, admirar virgindades alheias, tomando mulheres na base da violência, portugueses que entram em nossa terra para disseminar seus genes e se vêem tomando cornos na cabeça, sou Macunaíma também, indiozinho sem vergonha que só pensa em si mesmo...
Estamos todos perdidos, Peri...

Se não fosse o samba


Bezerra da Silva
Bem disse o Bezerra, se não fosse o samba, quem sabe hoje em dia eu seria do bicho... E se eu fosse do bicho, o bicho ia pegar.
Só os tolos correm, e eu corro muito, só os tolos se apaixonam, e meu coração é fraco, só os tolos se importam, e eu peco pela ansiedade, só os tolos choram, e minhas lágrimas começaram a cair no instante fatídico que o juiz apitara o fim da partida, e entendam os senhores mais tolos, que o fim da partida é tão adorado quanto odiado, dependendo do lado que você esteja jogando.
Só os tolos desistem, e eu já me vejo sentado, só os tolos se endividam, e eu não tenho dinheiro, só os tolos vêem a mentira, e pra mim ninguém é sincero, só os tolos perdem seu tempo escrevendo, e eu já nem quero mais usar relógio...
Tolice é o que as pessoas te dizem, tolice são os paradigmas da sociedade, tolice é o significado de paradigma de sociedade que eu mesmo não sei, tolice imensa é essa coisa de vai e volta, leva e traz, fofocas incríveis, abusos para com a inteligência alheia, faladores que passam mal, malandros que cagam no pau, todo mundo, o mundo todo... já não duvido de mais nada.
E por tanto prometer pelas luzes artificiais, o Sol resolveu me dar uma moral e aparecer pra enlouquecer ainda mais a manhã dessa sexta feira que nada promete além de tudo...
E por motivos tão óbvios, o mundo insiste em acreditar em todas as baboseiras que alguns poucos disseminam entre bocas, entre palavras mal ditas, entre malditas palavras, entre pregações até. Tenho pra mim, dúvidas já suficientes e não entraria nesse ínterim tão delicado em horas tão curtas do dia, porém a inutilidade do meu ócio faz com que eu me veja na sujeira diária de todas as discussões sobre os assuntos mais polêmicos que possam existir; essa minha vontade estranha de querer ser melhor que todo mundo, essa minha fome por catar argumentos inexistentes até o momento exato em que saem da minha boca, fazendo com que sejam anabolizados, engordados pela minha voz, naturais e simples como quaisquer outras bobeiras que fosse dita sem vontade, como qualquer risada solene a respeito da mesma discussão que não mais tem sentido depois que todo mundo se ri das razões pelas quais o início se deu...
Malandro é malandro e mané é mané.
Acima do chão e abaixo do céu, qualquer lugar pra mim vai ser bom porque eu sei que levo na mala as aventuras que já vivi, pois entendo o quanto de felicidade existe em ir e vir, em estar e sair, em chegar humilde e sair saudoso. O mundo é disso, a vida é disso, cada um faz seu destino, ainda que a contrariedade das pessoas seja um absurdo imoral para com as intenções de cada um. Passa muito pelas diferenças que fazem atrair. Já disseram isso né? Que os opostos se atraem...
Sou muito de concordar com ditos populares não... mas dessa vez, há razão. Basta eu, de contraditório, falastrão, mentiroso, feio, pobre... quero justamente o oposto de mim para me completar, me fazer um pouco a mais do que já sou com tons acentuados de diferença.
Enfim, se não fosse o samba, eu seria realmente um contraventor, apaixonado, um aprendiz de todo amor, um bêbado jogado, um personagem de novela que entretém a população, que diz o que querem ouvir, que não paga suas contas, mas não ganha mal, que quer ganhar mais, mas não move a bunda pra agir, seria um desses que vagam pelas esquinas boêmias a galgar novos amores, outros corações arrebatados de paixão, dor e luxúria... se não fosse o samba, assim seria.
E haja visto que nunca fui do samba mesmo... tirem suas próprias conclusões.
Salve Bezerra.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Toda função do ócio


E eu acordava cedo,
não sabia o que fazer quando o domingo prometia um pouco mais do que os dias normais de semana que me obrigavam a adentrar nas locomotivas malditas recheadas de pessoas desconhecidas, mas que, mesmo assim, ainda me emprestavam histórias magníficas que seriam destiladas nas longas doze horas que se seguiriam até que eu adentrasse outra vez nos tais trens de volta ao lar. Pois bem, não sei se falamos do domingo ou dos dias de semana, já me perdi.
Não se faz mais como hoje em dia.
Tenho essa estranha sensação de querer descansar e ficar no repouso da cama até altas horas da manhã, mas assim que me ponho de pé, caminho sinistramente até a cozinha, analiso a costumeira sala, volto ao quarto, e se dá o fim da aventura em minha casa. Nasce o tédio, o ócio, o desgosto de não haver o que realizar. E vem o cão a morder minha orelha me chamando para os seus braços vermelhos e quentes, jogando-me em direção a números de telefone, palavras na tela de um computador, mentiras bem elaboradas para que acreditem em mim outra vez...
E ainda gritam, os mortais, criticando meu modo de viver, julgando características, abordando idéias, gemendo que não faço absolutamente nada e que isso é um ciclo vicioso a nos matar devagar, cada dia mais.
Pois os que me criticam, que paguem minhas dívidas, então, que me tragam atividades saudáveis, que me tirem do ócio, que alimentem minhas intenções com boas ações, que me levem daqui, se puderem , no colo pra que eu evite a fadiga, e me coroem novamente pois um homem  do povo deve ser aclamado pelo povo, que o moço do disco voador pouse no meu quintal e me convide para um passeio pelas estrelas, que as ondas da viagem se tornem eternas na minha mente, que minha mente seja feita, que meu corpo seja fechado, que minha cabeça seja aberta, que eu não seja doente do pé...
Nunca me trouxeram nada mais que críticas, os que me criticam.
Invejosos...
Talvez seja por isso que o mundo me mostra apenas portas que não levam a lugares muito convenientes, entro por corredores e saio em outros corredores, pulo janelas buscando o jardim e caio em outras salas.
Minha verdade é meio nula quando a busca por aventura se torna um objetivo muito certo na minha intenção. Quando o ócio se faz mais imponente do que outra coisa qualquer, o vício da virtude se coloca sobre mim e flutuam maravilhas de minha boca tão levemente que por essa falsa leveza se revelam em grandes fatos a coroar a vida de alguém que parou de procurar alegria.
Só assim eu consigo alguma coisa que preste, só quando eu deixo de lado a busca por alguma coisa que preste.
E essa complexidade é fato que eu jamais vou conseguir assimilar, nunca me colocarei de lado pra esperar o vento bater na minha cara, sempre saio catando a brisa pra fazer tempestades, nunca vou esperar cair do céu uma oportunidade, sempre vou ao encontro de pessoas e lugares pra contar histórias...
Todo fim de mês é a mesma ladainha, promessas incríveis pro próximo...
Dessa vez, será diferente.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Ao 2 de novembro


Fulanos incríveis, pessoas absurdas, nomes fictícios e histórias inesquecíveis são ponto de partida para todas as minhas palavras pipocarem no papel e me colocarem de volta no patamar de pseudo escritor, passador do tempo como passam por mim esses problemas mal vestidos e inebriantes de pouco caráter a atordoar minhas segundas tediosas que pelo tédio a me consumir deveriam ser um pouco menos dramáticas.
Sei que não sou dos mais realistas, faço do meu pouco um tanto tão grande que não caberia numa só vista de olhos, faço do meu salário, riqueza descomunal, fator principal dos meus gastos excessivos, faço do meu prato, banquete real regado de especiarias, tempero proveniente da morte de tantos, excursões exploratórias de meus melhores navegadores portugueses... fruto da imaginação fértil quando me deparo com meus barquinhos de papel.
Porém, doenças mentais à parte, tenho otimismo apurado, inteligência suficiente, e um pouco de sorte. Preciso de um monte de coisas, mas como sei que a realidade da vida não me trará os louros da vitória, mantenho meus olhos fixos no horizonte e o que consigo ver são apenas letras pedindo para serem escritas.
No meu profundo âmago de interioridade, compartilho imagens a fim de achar a solução dos meus percalços nas fracas intenções que se escondem dessas entrelinhas malfadadas de pensamentos vis e desinteressantes do que eu possa ou não estar querendo. E o que eu quero ou não quero vai um pouco além do que eu preciso. Pouco não... muito.
Meus queridos mortos, meus finados, minhas finadas, todos passaram pelas mesmas dificuldades que eu e estão por aí, perdidos nos meio-fios, nos andares de prédios, atrás de balcões, fomentando a canção, servindo refeições, limpando bundas, saboreando pratos de diferentes gostos em diferentes camas, algumas engravidando aos montes, casando e descasando como fosse o marido as calcinhas tiradas das bundas que outras limpam... que fim terrível terei eu?
Já não me assusto com os grandes animais que me perseguem, já não me deixo levar pelos momentos de ossos feios, sangues vermelhos, brotos de pizza, chopps gelados, maridos bêbados, mulheres devassas, muros altos... pra mim, tudo é superável, tudo escorre, tudo volta, e eu continuo em pé. Não sou de dizer não ao que não me é favorável pelo simples motivo de que o desafio é dessas coisas que alimentam a alma do homem de uma forma tão esplêndida que o mundo pode girar mais devagar ou mudar de direção, que em pé, ainda, eu vou continuar.
Decidi meus passos por caminhadas abandonando de longe minhas corridas e me vejo obeso. Culpa alheia? Discordo. Minha cabeça cheia de chás de bebê, aniversários de casamento, provas de Buffet e afins mudaram completamente meu ritmo nervoso de tempos atrás. Que fim terrível, eu terei, ó Pai?
Talvez o mesmo de meus finados, meus queridos mortos.
E onde estão as sessões de cinema das 5, na saudade, na camisa toda suja de batom, onde estão as manhãs de domingo, as noites de sábado nervosas, sono leve e agoniado, comidas fracas, tardes de domingo intensas, chuvas na minha cabeça, ó Pai, quantos pedidos, quantas graças, quantas camisas sujas de batom... e não havia obesidade... ou havia? E vivo estava? Ou já era como um de meus aniversariantes do dia 2 de novembro...?
Muitas intenções, poucas ações...

Querido professor


Liliu nos tempos de xibiu.
Que minhas resenhas se resumissem outra vez em forma de prosa, que minhas conversas se tornassem mais uma vez eternas em manhãs ou noites tediosas, que minhas idéias fossem, como sempre foram, aconselhadas pelo que me faz bem, que os conselhos fossem os piores possíveis em minha mente mas que mesmo assim eu pudesse colocá-los todos em prática, só pelo óbvio motivo de que agradaria a quem teve o bom espírito de me dedicá-los.
Tive lá minhas histórias escritas, minhas histórias vividas, todas sem rumo ou direção, todas divergindo placidamente dos conselhos de meu pai, e foi bom, fez-se bom, deu bom. Não me orgulho pouco de nada disso, me orgulho muito... sou desses que sabe dar valor aos entendimentos dos que mais viveram e não tiro da minha cabeça todas as repetições que um dia poderiam se dar na vida tendo o saber do que já se foi na vida alheia, e quando disserto sobre vida alheia, sou diretamente interessado na vida de meu pai.
Pai ausente...?
Jamais, pois se me coloco nas ruas todos os dias dessa minha caminhada, seja para analisar friamente a responsabilidade a qual me dediquei, seja para tomar de leve o meu gelo que se faz cada dia mais derretido, seja para me deixar levar pelo sabor ordinário do que ainda não me pertencia e rever de longe o que já fizera o progenitor, cada uma das possibilidades acima estará correta, desde que outros jovens também o queiram desenvolver.
Pois nada mais é a vida, tão comentada nesse momento, do que as possibilidades de se tornar concreto um sonho qualquer, e desde que sonho seja, não há motivo algum para se sonhar sozinho. Disse o homem, 
“sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”, 
e o que seria eu então? O que seria de mim se não houvesse alguém do outro lado da linha pra me atender, se não existissem os conselhos considerados errados na minha cabeça, mas que se faziam de bom coração pra que eu pudesse dar seqüência na minha caminhada rumo, ainda, ao desconhecido? O que não há não pode existir,  e o que existe, de fato e com certeza, é o que há,  sendo dessa forma, não tenho razão para pensar de forma diferente.
Se é meu pai que me destina seus conselhos, se há essa minha andança em busca do desfloramento do passado obscuro que poderia se espelhar no meu presente na forma das aventuras que eu deveria e devo passar adiante a ouvidos que estejam preparados para me ouvir, vou nessa onda... o mar não tá pra peixe, mas quem disse que eu quero escama? Fico com o que mais me apetece, eu quero o Sol enquanto os outros se dedicam pra conseguir sombra, eu quero a dificuldade da dor enquanto os loucos correm pra comprar remédio, eu sou o sangue da família, carne de pescoço é como embalagem de presente, casquinha de bombom, o mais gostoso é o recheio, velho... o osso me apetece.
Fui sem motivo, é verdade, mas tudo tem um por quê...
E a palavra acima recebe o acento circunflexo pois está antecedida de artigo indefinido a caracterizando como substantivo... quem disse? Meu pai, professor, orgulho dos Bernados, desde o cão ao Oscar, todos premeditados de grandes façanhas, mas jamais uma como esta, jamais um passador de conhecimentos tão influente como este, eis que outros Bernados tenham contado histórias à luz de lampiões, que tenham formado opiniões sobre assuntos diversos e rotineiros do sertão e da capital, mas nenhum, no tempo de antes, pôde alçar nem alcançar esse êxito, homem de palavra, disse que chegaria e chegou, homem das palavras, as diz todas sem receio de equívoco, confiando na sapiência da malandragem, matéria do primeiro período da Faculdade de Letras, essa malandragem pura que foi o ensinamento básico do que sou, do que serei e que meus pequenos Bernados também serão.
E tenho dito.