É que algumas noites eu caio no erro e no arrependimento, eu caio nos nomes e nos buracos das ruas, eu caio em mim e quando caio não sei levantar sozinho, e caio na bobeira de pegar no telefone, caio na miséria de me contentar com as migalhas do sentimento, caio na furada de correr atrás deixando que tu fiques sempre à minha frente, caio, caio, caio, Fernando Abreu.
Que eu quisesse minha morte da mesma forma como quiseram todos os que não foram conhecidos enquanto vivos, que eu quisesse minha tuberculose provável quando a vida nos mostrasse nada mais, nada menos do que a boêmia do centro da Cidade, das ruas mais escuras de nossa Lapa, que o mundo fosse um eterno apartamento, e eu no mais alto andar de todos, pudesse enxergar as pessoas com suas profissões, com seus medos, com seus poréns, e seus mas, e seus loucos pedidos de desculpa, a me encorajar cada dia mais a escrever, a cantar essas pessoas como todos nós, como você, como eu nunca poderei ser por saber que há assim também outras pessoas.
Cara, eu moro numa quitinete, moro de frente pra praia e todos os dias eu espero o Sol se pôr, com a vontade inversa de todos os que vem curtir o bronze pra dar boa noite à lua, com todo o seu esplendor e maravilha, a brilhar no céu do meu escuro, a guiar todas as estrelas que lhe seguem, o meu sentimento completo ao que eu possa e que não posso, pois a lua me faz acreditar que há algo de bom lá fora, que essa vida não é somente brilho de sol, que a chuva se faz coadjuvante na festa do amor, que o mundo pode se vestir de preto de vez em quando sem que todos digam que estamos de luto, posso acreditar que a noite guia bem mais do que o dia e clareia tudo que não fomos capazes de enxergam enquanto reinava o sol.
Que posso fazer eu, se sou noturno, se sou notívago, se passo as noites a sonhar acordado com todas as possibilidades que um dia hei de cumprir, que posso fazer eu se a lua me encoraja a sair nas ruas, a sair no mundo, a correr, a fumar, a beber, a pensar e escrever todas as incríveis estórias que ainda não vivi, todas as incríveis histórias que já fiz parte, todos os dramas em que o protagonista fora esse que vos fala, na ignorância sábia de uma verdade que jamais poderá se repetir, a não ser que queiramos, todos.
Tenho um monte de cartas na manga, mas não tiro nenhuma delas pra ganhar o jogo só pelo motivo básico do medo de que o jogo chegue ao fim, quero continuar brincando, quero continuar mantendo a base e defendendo minha bandeira de felicidade, meu título de presidente, minha intensa vontade de querer algo mais todos os dias, essa coisa que me corre pelo corpo quando a mentira está apta a sair de meus lábios,essa tremedeira nas minhas pernas quando o inesperado está por acontecer, quando o serviço mais difícil é colocado em meus braços, todo desafio deve ser encarado e foi com atitudes drásticas que eu dei início à minha vida de conquistador,que eu dei início à minha carreira de grandes histórias e derrocada de todos os medos que faziam tremer as mesmas pernas das quais sinto falta hoje em dia.
Eu tenho muito pra contar, mas pouca gente pra ouvir, por isso venho me calando até sufocar e vomitar tudo outra vez.
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