Certas vezes na vida, é interessante sermos ruins, só um pouco, uma ação que não seja o melhor que podemos dar, só pra sentirmos por dentro aquela sensação que "amanhã o que eu fizer será tão acima do que eu fiz hoje que me sentirei muito bem"...
Ando muito bom, muito mentiroso, muito extremo, muito romântico, muito acima das expectativas e isso vai sufocando as intenções, pois o perfeito não escolhe, não se iguala, e o pior, não se supera...
O que vou conquistar amanhã se tenho o universo na palma da mão hoje?
Odeio mentiras que se repetem a ponto de que, após serem muito gritadas, tornam-se verdades incontestáveis e jamais, com certezas ou dúvidas, podem voltar ao seu estado primeiro de invenção, de intenção, de bobeiras absurdas, e terça feiras sem vida que não nos levam a nada a não ser a essas mesmas mentiras que hão de se repetir novamente até que sejamos obrigados a concordar, e deixar que morra o sorriso na nossa cara, no nosso rosto...
E ao morrer o sorriso, quanta vida...!
Há aí nesse espaço de tempo um desejo muito grande de se construir outras falsas verdades em cima da última mentira acreditada que nos leve a próxima semana quando, talvez, a terça feira poderá ser um tanto quanto mais agradável, uma vez que não tenha me esforçado ao máximo pra melhorá-la nessa semana.
Não sei se consigo transpor ao mundo minhas opiniões absurdas, quisera eu que o mundo dividisse comigo suas opiniões absurdas, mas me volto a mim, me encaro em espelho, me falo sem palavras e esse monólogo dá seqüência a si próprio.
O inimigo do bom é o melhor, por isso que a verdade se esconde na mentira, e a mentira está contida em toda verdade. Ninguém admite por inteiro uma ação que tenha cometido, pois está implícito em cada atitude uma reação imediata e completamente contrária. A esmola única que tenho para dar ao mendigo na rua é, de fato, dada a UM mendigo na rua, mas não a todos, e se todos dependem da esmola, minha boa ação cai por terra, pois indiretamente assassinei dúzias de famintos e só pude alimentar um, chegando em casa e comendo o prato de minha mãe que tem o tamanho maior do que minha barriga comporta.
Mas não sejamos tão drásticos conosco, sejamos mais flexíveis, vejamos o melhor lado da moeda somente, deixemos nossos mortos, mortos; não saciemos a dor e o sofrimento que já fora, pois uma vez sofrido, e outra vez lembrado, duas vezes doído...
Vamos como vou eu, de encontro à felicidade sem culpa ou rancor, se ódio ou raiva, sem motivos para vingança nem medo do que possa encontrar, vamos como eu vou, medindo passos mas sem medo de pisar, analisando possíveis buracos no caminho mas com a certeza de saber se levantar após cair, vamos como eu vou indo, correndo em busca do sonho qualquer, deixando de lado qualquer tipo de pesadelo, esquecendo das dores pra dar lugar às viagens, ao delírio, ao amor exacerbado e liberado, fluente e natural, livre de roupas e afins, livre de pudores e luzes apagadas, na forma mais básica dos beijos, na intenção mais pura do jogo da paixão, nas mentiras mais sinceras que sua boca for capaz de soletrar...
E sejamos todos felizes fazendo inimizades com nosso bom, pra conhecermos o nosso melhor.