segunda-feira, 16 de abril de 2012

A dúvida da moeda

Gosto pouco desses meus monólogos com quem não tem ouvidos para ouvir-me, pois faltam-me as certas palavras nos instantes que preciso as escolher, nos momentos decisivos que fazem parte da coletânea básica do meu vocabulário, quando analiso as possibilidades de poder ou não explanar aquilo que se encontra na ponta da minha língua saudosa...

E são tantas as ocasiões que pedem, enlouquecidas, para serem lembradas que vejo em mim um eterno pecador a deixar de lado todas as incríveis situações que tive o prazer de participar não dividindo, assim, esse conhecimento todo com o próximo, não abordando os detalhes das emoções que acometeram pessoas de diversos quilates.

Fiz mal em deixar adentrar esse líquido amarelo em mim, pois atrasa um pouco mais a história de futuro que pretendo contar em outros bares, em outros copos amarelos.

Reproduziria, com fé e gosto, cada uma das conversas e todas as abordagens realizadas nas mais diversas mesas de bar que me pus sentado desde que me tornei qualquer coisa, cada uma das palavras bem aplicadas que foram ditas e ouvidas entre goles de chopp gelado, cada uma das piadas e as mais convincentes mentiras que podem existir, no enlaçar de beijos dados e recebidos, nas trocas de casais que sentavam-se e se iam... nas noites de frio, algumas madrugadas intensas também se fizeram cenário perfeito para essas ocasiões, realmente a hora não importava tanto quanto a felicidade de acomodar-se e a certeza de poder levantar mais feliz que antes...

Quis morar lá...

Na maioria das vezes afirmei que ainda estava cedo para partir, porém as obrigações do amor nos eram mais fortes, as responsabilidades do dia seguinte gritavam mais alto, a carteira vazia avisava que os problemas seriam grandes...

Mas o que pode fazer o amor quando a vida nos obriga a tomar decisões das quais não queremos tomar conhecimento, quando nos colocamos a disposição da felicidade e admitimos para nós mesmos que nada mais é tão importante quanto a inércia de permanecer para todo o sempre na mesma posição de alegria eterna, de querer essa estabilidade de sentimento, de não se levantar jamais para almejar coisa maior, uma vez que o que se esconde por dentro mostra à nossa intenção que coisa maior não pode haver do que simplesmente amarmos a nós mesmos, esquecendo de uma vez por todas, que o sofrimento pelo próximo não vale a pena, que podemos sim ser felizes sozinhos, que os eventos, que os percalços, que as dores da solidão são tudo moedas que jogamos para o alto e deixamos beijar o solo pra que enxerguemos com outros olhos, o outro lado do erro, o acerto que se oculta em nossa fraca percepção da vida...

Queria tanto poder gritar essas verdades pro mundo, queria tanto entender a solução dos problemas pra que ninguém mais ficasse triste quando uma derrota o abatesse, queria mais audiência, queria meu espetáculo, queria tudo e queria nada.

Pois se sentado eu permaneço, admitindo pra mim mesmo que nada é melhor do que isso, como poderia mais querer, e como poderia afirmar em meu bobo monólogo que queria algo mais que isso?

Contradigo minhas palavras em intervalos de tempo menores do que meus dedos conseguem jogar no papel...

Mas o tempo que a moeda demora entre abraçar o céu e beijar o chão é o que menos importa depois que conseguimos ver o que ela nos mostra. A mim, sempre mostra o melhor...

Desculpe, queridos.

Estou me levantando.

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