terça-feira, 22 de março de 2011

Guerreira do asfalto

Admito, mais uma vez, a plenitude de minha felicidade. Poucos são os momentos em que coisas assim acontecem e, justamente por isso, devo ressaltar e dar total destaque a essa alegria que toma conta de mim. Seria fácil e enjoativo enumerar aqui todas as coisas boas que estão se jogando contra minha pessoa. Prefiro não citar, utilizarei a preservação de face, matéria que aprendi na última aula do curso, na disciplina de Português, vivendo e aprendendo.
Intenção do bem seria o poder de ter a vontade de dividir a alegria com o próximo. Enquanto a maioria julga necessária a melhor distribuição da renda em nosso país, eu prefiro que se divida a felicidade. O dinheiro não é tão importante. O material não é sincero. Louvo e agradeço sempre que consigo abrir meu sorriso para situações totalmente banais, e que, por essa banalidade, me deixam ainda mais feliz em saber que sou humano, que sinto, que sou simples na minha complexidade.
Hoje, mais cedo, atuando no papel que mais gosto de interpretar, solto nas ruas, filmando ações alheias com meus olhos, enchi-me de orgulho ao perceber a dedicação que ainda existe dentro de nós. Todas as profissões são escolhas, menos uma. O profissional de saúde nasceu para servir ao próximo da maneira mais bela e sincera que possa ter sido criada, por quem quer que tenha criado essa bagunça toda. Adolescentes, como eu, arrepiam-se por tudo, hormônios em ebulição. Deixando a safadeza de lado, somente a torcida do Flamengo e atos tão lindos como o de hoje fazem o arrepio me correr pelo corpo. Admiro tudo que é feito de coração, sem distinção de raça, credo, condição financeira e tudo mais que provoque preconceitos. E um simples olhar já faz toda a diferença quando se necessita de salvação.
Comentários são desnecessários nas situações em que fica clara a perfeição dos atos.
O sangue que jorra de uma ferida mata a sede de esperança que vive na cabeça dessa guerreira do asfalto. Dentro de seu macacão azul bate um peito suado do calor diário, um corpo cansado da dureza do trabalho, queima a satisfação de poder fazer o bem. Maquiagem desnecessária, a beleza não atrai quem está a beira da morte, debaixo de um carro, com uma bala na barriga, com o coração prestes a se despedir. São sentimentos lindos que moram dentro desta mulher. Engana-se quem diz ter um coração de pedra por viver tais situações todos os dias e já ter se acostumado com a perda da vida. Sente a derrota cair sobre sua alma sempre que Deus, teimoso, leva pelos braços quem ela tanto tentou segurar pelos pés. Ergue-se, olha pra frente, conforma-se pois sabe que fez até o impossível, sobe no seu carro e continua a caçada por vidas gritando para serem salvas. Como era de se esperar, encontra mais um desgraçado pedindo socorro. Um prato cheio a fim de matar sua fome por heroísmo. Dessa vez, Deus não puxou tão forte os braços do jovem. No hospital, fora da ambulância, a caminho de dar continuidade a sua profissão, passa por mim.
Um olhar, um arrepio, uma guerreira.

P.V. 21:44 08/07/08

Um comentário:

Coisas Minhas disse...

ADOLESCENTE ? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk