E a filha do vento sussurrou de leve aos meus ouvidos arrepiando os sentidos da minha atual vida pra que eu soubesse ou, pelo menos, entendesse o quão complicado pode ser a batalha travada entre querer, poder e ser. Pois se as forças se equivalem nesse campo de guerra, os casulos com os quais os sentimentos tentam se proteger são pessoas de gênios tão estranhos que sequer deveriam ser nomeadas como pessoas. E hoje, especificamente hoje, vou entendendo a vida de uma forma tão mais leve e tão mais avassaladora que meu peito enche-se de coragem camuflada como frio ar só pra que minha voz seja tão levemente sussurrada quanto os conselhos da filha do vento que já passou por aqui, que já se foi, o que fica é somente sua linda canção, a fala musicada, como uma estrela que morre mas deixa seu eterno brilho a iluminar durante mais tempo do que as vidas desses mundo podem imaginar... Pois que bem, pois que mal, entendendo-me comigo mesmo, e sigo meu caminho sem olhar para trás. Tenho planos de futuro tão ilógicos que essa confusão me dá um ânimo extra pra continuar. Já se foi o amor, já se foi o disco voador, já se foi a enteada do tempestade.Tive algumas vontades, quase desejos, de querer dissertar minha prosa em forma de poesia nesse domingo chuvoso, porém os gomos amarelos da metade da minha laranja me forçaram a não querer nada a mais do que já tenho. Um querer quase que humilde demais para minhas pretensões tão enormes em tempos de pré inverno como esses que vou vivendo, hibernando, me escondendo do mundo como nunca fiz antes. E algumas lágrimas me mostraram coisas. Vou falar sobre essas coisas. Tinha minha vida tão normal quanto a vida de qualquer jovem que se aventura no mundo a fim de querer histórias normais para que fossem contadas em momentos normais, lugares normais, com pessoas também normais, num futuro não muito distante. Porém Deus e seus aliados resolveram me presentear com alegrias que vão além do meu entendimento e jogaram no meu colo, conseqüentemente, algumas responsabilidades que ainda não tiram meu sono. Apesar disso, a felicidade é plena com os objetivos sendo alcançados e a determinação sendo mostrada. O fato mais importante é que as histórias eram escritas bem antes de todo o alvoroço que se formou em minha volta de uns tempos pra cá. Toda a trajetória era normal o suficiente para que eu ficasse entediado de tanta loucura e me pus a meditar no topo do mais alto pico onde o silêncio é total, e lá outro sussurro de voz de vento, um pouco mais frio, me aconselhou. Mal. Desci do pico do cume da montanha disposto a resolver os assuntos. Resolvi quase todos, mas como todos sabem, e se não sabem eu vos digo, quando se resolve um assunto, outro fica pendente, e por vezes, a resolução de um assunto cria discussões ainda maiores. Pois bem, a vida sempre foi assim pra mim, e tudo isso são as causas, as razões, os motivos das lágrimas que ainda me mostram coisas. Então lembrando de tais lágrimas, me coloquei a disposição.
Não que eu tenha entregado minha cabeça numa bandeja de prata a fim de que os revolucionários, ou digam-se, as revolucionárias pudessem pendurá-la no mais alto pedestal onde tacariam pedras até deformar minha beleza única, onde urubus esfomeados comeriam meus olhos. Jamais. Até mesmo porque duvido muito que estas que derrubaram suas lágrimas deixariam minha faca afiada degolar meu pescoço. Enfim... Mas me entrego, estou a disposição. E quando digo isso, afirmo que meus erros estão a mostra, quem quiser que venha se resolver comigo. Se eu, em algum momento, maltratei um coração, pisei num sentimento, gritei alvoroçado com a grosseria espalhada na voz, se eu já fui infiel, se eu já fui um moleque, se algum dia, em alguma ocasião qualquer, eu tratei mal qualquer pessoa, se agi como criança, falando a esmo, não sendo o do primeiro dia, se meus beijos falharam no sabor de sempre, se minha vontade foi posta de lado justamente por uma falta de desejo da minha parte, sinceramente, se alguma dessas coisas aconteceu, que venham tirar contas comigo, que marquem uma hora com minha secretária eletrônica deixando seus respectivos recados após o bipe indicando o lugar e situação, lembrando-me, é claro, dos nomes, dos rostos, se possível, da cor dos cabelos e dos olhos, e da reclamação devida deixando especificado o problema a ser tratado. Pois se eu sei que querer, ser e poder são tão diferentes, afirmo com minhas pobres palavras que quererão me incriminar, jamais poderão provar coisa alguma, e nunca, em hipótese alguma serão mais do que simplesmente já foram.
E o estalar dos meus dedos prova que minhas palavras estão certas. P.V. 17:13 03/04/11