quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ne me quitte pas

Estampa-se na voz do homem que ama e não mais é correspondido como antes, como deveria ser, como merece ser, como imagina que a vida lhe entregue os louros do sentimento, entregues de mãos em mãos até que na sua chegue, sem medo de ir embora, sem que tenha que partir jamais, pra que dure durante somente pelo instante da eternidade e daí pra cima...
Mas não, o que se quer nunca se consegue pois quem espera jamais alcança.
E diz o poeta que nada poderá nos abalar, pois de amor não se morre, de amor se vive...
Fica martelando na minha mente, tanto quanto também pode estar sendo pregado na cabeça desses desgraçados, o quanto de nada existe em se querer e o que significa as coisas para as quais se destina a viver e a perda de tempo, talvez, para ele, essa vontade de querer ser a sombra de tudo que há e também do que já houve; o que mais lhe desperta essa saudade tão gritante a ponto de levar um homem ao desespero total, o nível mais baixo que se pode chegar do chão...
Quero isso pra mim não.
Pois mesmo que os autores do mundo mais estranho das letras ainda dissertem sobre as faces do sentimento, ainda que deixem de lado a simplicidade da vida diária e dêem mais valor às nuances da profundidade do coração de cada homem e seus desafios e como poderiam se superar após cada obstáculos, gritando com o capitalismo no bolso afirmando solenemente que a dor vende, que o amor vende, que o sofrimento traz o dinheiro; sei muito bem disso não.
Vou dizendo o que mal sei, vou dizendo só o que me interessa e se num instante da minha curta vida dediquei meu tempo ao que me fez sofrer, peço desculpas a mim mesmo, ponho-me de joelhos no milho maldito pra que eu sofra por ter sofrido, pra que eu não lembre outra vez de quaisquer dores que tenham passado pelo meu peito e feito meus olhos encherem-se água, meu coração encher-se de ódio ou saudade.
E poderia, quem sabe, escrever uma música, e cantar minhas dores na canção, e deixar minhas lágrimas caírem enquanto um senhor me filmasse cantando, desesperado, eternizando para toda a eternidade a minha dor pungente, pra que todos, além de mim, também sofressem ao meu lado, como se eu quisesse dividir com o resto do mundo a facada que adentrava em meu peito, sendo girada devagar, o sangue que escorria pelo corpo também deveria molhar quem me visse...
Quero isso pra mim não.
Canto minhas glórias, grito meus poderes, contagio o mundo com a felicidade, com a alegria que sei que tenho, faço graças, sou o maior palhaço do circo que me foi ofertado, vou andando muitas vezes com o andar de quem não quer coisa alguma da vida, e quando me sinto como fosse cair, faço questão de correr, faço questão de querer avançar os sinais, quero jogar para o alto os semáforos da vida, os mesmos que me pedem para parar, os que imploram pra que eu tenha atenção... sou amigo da cor verde, apenas.
E tenho dito.
P.V. 10:52 09/09/10

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