
Nem todo salgado pode ser substituído por um doce, mas qualquer tipo de ilusão pode ser improvisada com a felicidade do momento.
E se são palavras o que tenho para lhe oferecer, coloco-me até mesmo com os joelhos a beijarem o chão, ainda que beijos outros sejam desejados em virtude do que já fora e do que há por vir.
Há quem diga o que queira e esses puritanos que insistem em somente pensar; insistem loucamente em imaginar coisas das quais não tem a mínima noção de certo ou errado; insistem em desenhar minha vida sem as cores que me correspondem, sem o brilho que me é necessário, sem os contornos suaves que ainda faço questão de oferecer ao mundo.
Fui de paçoca, então.
Já que a verdade não transparece, já que o sentimento evoluiu, já que o sentimento regrediu, vá saber por onde anda nossa evolução, abri o pacote amarelo que deveria ser digerido como vermelho, uma vez que essa máquina que nos comporta foi pintada de rubro forte, e por negra ser a noite lá fora, ainda podemos gozar outro prazer, dito futebol, além das carnes que se misturam...
Digam lá, então, os senhores dos doces, minha 'candy shop', que amendoim louco é esse que produz tal paçoca maravilhosa, que cultivo orgânico é esse que traz a fruta até minha boca de uma forma tão pura, e se forem levar a conversa para o lado da boca, prefiro até mesmo me ausentar, que maciez é essa que desliza tão perfeita que jamais outra perfeição poderá se equiparar?
Dirão, e não faço questão de querer assinar embaixo, os puritanos de plantão, ou quem sabe os mais temerosos, que um dia na semana é muito pouco para que a verdade seja vista à tona, ainda levando em conta a escuridão do momento, uma vez que altas horas eram observadas e a noite não favorece os que têm a intenção plena de enxergar alegrias postas em prática quando se menos espera.
Minha paçoca doce, amendoim que levanta o ânimo, felicidade instantânea que preenche minha mente de tantas possibilidades que jamais, mente outra, poderá ser tão fértil a ponto de não necessitar dos adubos da vida, e entenda esse adubo como as merdas que sempre nos acometem nos instantes óbvios em que tudo se faz perfeito, para que eu possa me dedilhar a cada noite com os planos rascunhados, para que eu possa dialogar durante horas com o reflexo do meu espelho abordando todos os detalhes perfeitos e as mil maneiras que estou desenvolvendo em segredo de saborear o tal doce que tanto me assombra as madrugadas em forma de sonhos tão intensos...
O povo é bem visto, a quantidade é bem vista, o preço é bem visto. Se as três linhas se encontram nasce daí um triângulo que há de se eternizar, pois uma vez que a reta finda, o ciclo é infinito... vão lá os senhores dos doces, puritanos e temerosos, vendendo a paçoca em intermináveis promoções a testarem meus desejos mais profundos, a mexerem com a minha carne já surrada, a tentarem meu tesão, e acima de tudo, a provarem meu pecado excessivo da gula.
Salgados caem bem com cerveja...
Algumas noites clamam por uma paçoca.