terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pastor de cabras

E disse o Irmão Antônio, não me deixo esquecer, que tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém. Será?
Tenho por aqui minhas dúvidas, sinceras dúvidas, sobre os plágios bíblicos que o amigo pregado ao tronco me direcionava, ainda que aceitasse sempre, e ainda continue atuando em prol da perpetuação da palavra como fosse, eu, um bom pastor indicando caminhos para minhas ovelhas desgarradas, e quantas ovelhas estão em minha volta, ó Senhor, ajudai-me na cruel missão...
E vou eu, no alto do altar, essas pobres coitadas sem rumo ou direção perdidas no mar de judiaria que é a vida e os machos que lhes rodeiam alternando suas mentes fracas, fazendo com que se desviem do bem, do amor maior, fazendo com que, por míseros segundos, esqueçam da palavra da verdade, da sinceridade no olhar, das dicas infalíveis e posições interessantes que partem de ninguém mais nem menos do que esse que vos fala, pastor de nascença, religioso e mentiroso por opção.
Pois se nesse tempo que não ouvem a voz minha, se me coloco à disposição do futuro para poder analisar o que há de melhor dentro de mim e não dou mais o valor devido a quem tanto me necessita, se me vejo a estar parado, solto na inércia admirando o silêncio pra decifrar o enigma de um sussurro, minhas ovelhas já começam a debandar, largar a bíblia do amor, que é o livro da UCM, vêem-se sem dono e ao pisar no jardim do vizinho já vão sendo encoleiradas e ligeiramente adestradas, para que não saiam dos novos territórios dificultando de forma exagerada a minha missão de recuperá-las novamente com ajuda santa de mim mesmo.
Terríveis palavras, terríveis paralelos... hão de rir de tudo que sempre quis escrever, de tantas idéias absurdas que sempre passaram pela minha cabeça e só agora posso despejar, tranqüilo, no papel; pois pastor de cabras eu sempre fui, fazedor de filhos, povoador desse mundo inteiro, o leite que escorre pelos campos e as bezerras desmamadas que sentam, despreocupadas, sobre o líquido branco, levantando já prenhas, já desoladas por carregarem dentro de si o pedaço mais puro e perfeito desse bode velho que vos fala.
Vão caminhando, minhas crianças, todas serelepes e soltas a correr pelos imensos campos verdes da minha terra, meu quintal de pederastias, minha cabra maior, a melhor de todas a me aguardar de braços (e pernas) abertos sedenta de amor, e meu amor também sedento do seu, de saudade eterna que se sacia em alguns dias da semana, quiçá um único dia da semana para que o desejo seja ainda maior do que sempre fora, pra que o tesão seja transcrito em libido, que disfarcemos o amor em forma de paixão, que forjemos o eterno em momento, que achem que digam que pensem, que somente nós saibamos, minha cabra velha, minha princesa, delícia do meu campo verde, minha paçoca delícia, minha promoção de trem, minha bezerra gostosa, o melhor dos pêlos, o mais suave, dirão outros poetas, o mais macio pêlo de todo o rebanho...
Mas me vem novamente as palavras do Irmão Antônio, saudoso Negro do tronco, escravo feliz, que o amor é fato da vida, feto de Deus; mulheres destilam seu veneno como fosse o azeite do Diabo a escorrer-lhes pelos lados da boca, transbordando todo o resto e nos contaminando para todo o sempre, sem que possamos voltar a ser o que sempre fomos...
Em mim não, Irmão Antônio.
Esse presidente está vacinado contra a febre das Vacas Loucas...

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