quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ave Maria das ruas

'No lixo dos quintais,
na mesa do café...
No amor dos carnavais,
na mão, no pé,
tu estás, tu estás...'


Com o medo da palavra ou com a força da fé, me pus a escrever no fim de tarde, ainda que não tenha colocado meus joelhos no chão no dia de hoje pra agradecer a tudo que se sucede, e pedir perdão pelos equívocos intensos que ecoam na minha cabeça há tanto tempo, desde que o primeiro acerto se deu. Pois sei que estás em qualquer lugar que eu esteja, sei que me acompanhas de perto e posso até mesmo sentir teu perfume nas esquinas interditadas que eu faço questão de passar, pulando sem dó dos buracos que se colocam em meu caminho, com a cabeça levantada em cada curva que seja necessária ser feita, no momento perfeito de lembrar do que se pode ter e querer, minha fé é maior do que tudo, só porque sei que estás sempre comigo.

'no tapa e no perdão,
no ódio e na oração.
Teu nome é Yemanjá.
E é Virgem Maria.
É Glória e é Cecília.
Na noite fria...'


Deram-te nomes diferentes, tão distintos quanto o poder que guarda sob o manto sagrado que vestes, puro e alvo de magia, puro e alvo de preces, puro e alvo de cultura, o resultado é sempre o mesmo; quem tem por dentro todo o sentimento dedicado ao amor simples do que é acreditar naquilo que está acima de todos nós se faz tão leve com relação à podridão da vida que um simples ensejo de raiva ou ódio se desfaz com a mesma naturalidade que o fogo faz queimar o papel, a mesma força de que as cinzas não voltam ao seu estado primeiro, o amor que escorre do mal nunca mais volta a ser papel pois entende que é na cinza que se realiza...

'Minha mãe, minha filha.
Tu és qualquer mulher,
mulher em qualquer dia.
Bastou o teu olhar pra me calar a voz;
de onde está você, rogai por nós.'

E minha clemência é tamanha que há de se comparar ao medo enorme que tenho de te magoar, como fosse um amor de mãe para com um filho e essa obediência cega que todos nós devemos àquelas que nos deram a vida, é o mesmo sentimento que guardo de não gerar rancores em ti, Mãe, pois basta tua voz para me calar e assim, manter o caminho certo que sempre fora o bem, sempre fora o amor, sempre me levara aos objetivos todos que almejei nessa curta vida que vou levando.

'Minha mãe, minha mãe.
Me ensina a segurar a barra de te amar.
Não estou cantando só, cantamos todos nós, mas cada um nasceu com a sua voz...
pra dizer, pra falar de forma diferente o que todo mundo sente.
Segure a minha mão quando ela fraquejar e não deixe a solidão me assustar...
Minha mãe, nossa mãe. E mata a minha fome nas letras do teu nome.'


Na verdade, a fome que me mata é a fome que quero matar. A fome de te amar, amar sempre e para sempre, sem medo ou temor, sem que jamais outro alguém te ame tanto quanto eu posso, e se assim for permitido, alcançarei patamares nunca atingidos em níveis de idolatria, Mãe, minha mãe, nossa mãe. Pois se a barra de te amar é mais forte que essa fome que me mata, a mato eu primeiro, antes que morramos todos nós numa só voz, cantando a felicidade eterna de estarmos nos dedicando à fé que nos move, à fé que nos fomenta toda a esperança de que um dia, quiçá amanhã, o mundo irá agir diferente e girar um pouco mais devagar que o normal...
Jamais a solidão irá me assustar.

Nenhum comentário: