terça-feira, 18 de outubro de 2011

Copos em milagres

Agora sim a besteira pode começar.
Se, num dia desses, a avenida Brasil resolver engarrafar, o rádio parar de funcionar, uma galerinha com blusas coloridas decidir que devem correr atrás do caminhão de som, se a vida me der oportunidades de vestir uma dessas blusas, largo o carro parado na seletiva e me deixo levar pelas batidas alucinantes do coração, cansado de apanhar depois de tanto tempo.
Foi assim que o homem deu início à sua caminhada de tantos anos, foi assim que o rapaz que insiste em querer escrever o que não pode se calar, deu seqüência ao mandato de presidente no instante óbvio que o círculo de amigos puseram os joelhos no chão e reverenciaram o poder absoluto que emanava de seu novo líder.
Pois se Roberto disse que chegara ao portão por ter voltado ao seu lugar, digo o mesmo também pois os portões do templo do amor hão de se escancarar com minha chegada triunfal, no fatídico domingo que já foi motivo de inspiração a uma das melhores canções gritadas pela trupe da saudosa união.
E já estão por lá, pessoas de todas as etnias, todas as raças e credos, esticando com muito louvor o tapete multicor que abrigará meus pés quando, em mãos seguras, estiver o líquido sagrado, sangue de Jesus, vermelho como a terra macia do recinto, a embriagar-me, suave e lento, jogando-me aos braços do amor, elevando minha posição ao mais alto patamar que possa existir desde que me propus a essa coisa intensa que não deram nome, desde que me coloquei à disposição de quaisquer aventuras que me viessem de encontro.
E sentiram minha falta, sei disso. Mas afirmo que a saudade oposta não se compara a menor parcela da nostalgia que me atingira todas as noites, todas as manhãs, algumas tardes dos dias em que estive imerso em águas distintas. Volto à superfície, vou buscando meu ar, vou respirando livre novamente da maneira que sempre sonhei, da maneira louca que o mundo me ensinou...
E se me vier a vontade estranha de querer sair correndo por aí, não tentem me conter.
Você, playboy, que reverencia uma atitude isolada, você que vem até mim só para apertar minha mão, julgando que num toque de pele irá sentir um pouco de todo o poder que eu acho ter, fique despreocupado... aperitivos de um presidente, apenas aperitivos de um presidente. Mastiga devagar, bem devagar pra poder render.
Quis sempre mais, quis me levantar para não ficar outra vez estirado no chão sem vontade de sair de lá, fui além e descobri todas as facetas que o amor pode nos oferecer, vi que preciso de bem pouco para estar satisfeito e que esse pouco, na minha mão, se multiplica da mesma forma que o pão foi repartido, a água que vira vinho no copo do pecador é a mesma cerveja que vira Big Apple na minha caneca, todo o resto importa quase nada desde que eu saiba dar os certos passos rumo a qualquer um dos destinos que me chamam em todos os dias da semana.
Andar de mãos dadas ou a 150km/h cheio de histórias na cabeça voltando pra casa são a mesma coisa com as inversas e bem medidas proporções de cada uma das opções. Se duas mãos eu tenho, com uma eu seguro o volante, a outra eu ofereço... a quem tiver coragem de segurá-la.
O mundo vai conhecendo novas formas de alegria, o espaço vai dedicando seu tempo para que possamos dividi-lo e acharmos uma ou outra fórmula perfeita, equações matemáticas tão insinceras que fazem de mim um adorador ainda mais fervoroso das letras e das palavras.
Continuo por aqui, o carro na seletiva, caminhões de som, blusas coloridas, copos em milagres...

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