domingo, 3 de janeiro de 2010

Esclarecimento sobre o amor pela chuva

Já não há mais dúvida se tentarem me indagar sobre o motivo do meu amor pela chuva quando esta cai em mim nas horas mortas da noite enquanto tudo se faz bem mais vivo do que poderia. Se for recorrer à literatura pra explicar os fenômenos da minha vida, iria com certeza achar razão pra quase nada, ou quase tudo, analisando os fatos só pra complicar ainda mais essa enfadonha pesquisa.
Mas nesse dia chuvoso de hoje, quando a natureza se mostra cruel devastando vidas onde a sociedade resolveu se colocar em seu caminho, vi com olhos e mente que a verdade estava escondida entre linhas bem escritas por um desses nossos melhores romancistas.
Deixem de lado as palavras, vejam o quanto que a vida nos oferece e ainda assim não temos o mínimo de agradecimento para lhe retribuir com algumas atitudes de boa vontade, simplesmente reclamamos de tudo e não vemos vantagem alguma nas coisas que nos circundam, somente colocamos defeitos quando tudo se faz fácil, quando tudo se faz possível ao alcance de nossas mãos. E ainda assim querem gritar nos meus ouvidos que não se pode, que não se deve, que não se há...
Pois bem, uma vez desabafado o que vomitava em meu peito, posso dar sequência aos pensamentos anteriores sem que nada mais incomode a linha que pretendo seguir.
Era Peri, era Ceci, era uma árvore, a água veio e eternizou o sentimento. Sei que fica difícil de entender para quem ainda não conhece a história, mas não importa, pois o leitor sempre me complica a vida e quer tudo explicado em todos os detalhes. Tenham paciência e queiram fazer o favor de ler o livro pra que assim, quem sabe, talvez, adquiram um pouco mais de cultura, algo melhor do que simplesmente me ler.
E nessas noites sem fim em que me ponho a correr sem direção buscando quaisquer paixões avassaladores e momentâneas que estejam na minha frente, a chuva cai e eterniza meu momento pra que sempre possa ser lembrado como o melhor de todos os dias da minha vida. Foi uma abertura de olhos, uma lembrança que se fez presente com letras do passado, a ficção que remonta à realidade, tudo que estava escrito e se colocou em meu caminho pra que eu pudesse entender minhas próprias vontades.
Desde que o amor de devoção que Peri depositava em Ceci se fez presente, a menina não quis nem sequer analisar um pingo de todo o mar de sentimento que o índio lhe dirigia. Cretina, cruel e inocente. Assim como todas as outras mulheres. Insento-lhe da culpa por ser do sexo feminino, exalto a bravura do herói por lhe amar com tanta persistência. Por vezes invejo a paixão dedicada desse homem da selva.
Mas hoje vi que tudo se iguala com os parâmetros que eu quiser. Tudo se coloca no mesmo nível pois a água que cai do meu céu é a mesma que varreu pra sempre o amor de Peri e Ceci. A água que cai do céu é a mesma que caiu naquele rio.
A minha água, tão desejada, é tão odiada por eles, mas eles nem sabem do que eu sei agora.
Peri não sabia. Ceci sabia. A ingenuidade do amor fresco se fez mais conhecedor do que a solidez de um eterno sentimento. E a água veio e realizou o desejo da menina. Morrer ao lado do amor, um amor ainda desconhecido, porém um amor.
Eu, nas minhas noites eternas e molhadas, morro e vivo a cada segundo. Um prazer enorme toma conta do meu corpo a cada instante em que a vida me foge e volta aos meus braços.
Que seja então. Que venha a água e me leve.
Pois serei eternizado com meu sentimento que ainda não pertence a ninguém.
P.V. 17:47 08/12/09

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