domingo, 10 de janeiro de 2010

O chefe da nação e seu sentimento


Ele, Peri, o guerreiro invencível, ele o selvagem livre, o senhor das florestas, o rei dessa terra virgem, o chefe da mais valente nação dos Guaranis, suplicar a vida ao inimigo! Era impossível.
Três vezes quis ajoelhar, e três vezes as curvas de suas pernas distendendo-se como duas molas de aço o obrigaram a erguer-se.
Finalmente a lembrança de Cecília foi mais forte que a sua vontade.
Ajoelhou.

Pode-se em sã consciência imaginar algo que vá além do real, por mais que a fantasia permeie sempre a cabeça de quem insiste em pensar no impossível?
Há em cada homem um rei e um herói que se escondem por baixo de muito medo, um medo talvez razoável, mas não um medo do que está por vir e sim um medo do que pode se tornar.
Há em cada homem, assim como há em mim, um receio de que as coisas não saiam como planejado, que tudo transcorra da forma diferente daquela imaginada de início, de que o mundo todo saiba que o erro partiu de uma ação levada pela emoção.
Há em cada homem, assim como houve em Peri, o ímpeto de querer resolver a situação pelos meios mais óbvios, aqueles que sempre caminharam para o certo destino onde a felicidade da glória sempre aguardava.
Que fossem 500 guerreiros, dos mais fortes e mais cruéis que já pisaram seu chão, que viessem sedentos de sangue e com o ódio ultrapassando os limites no peito, que fossem os mais corajosos, com as armas mais potentes e devastadoras. Peri não sente medo, Peri já mostrou que tem a garra mais forte que a onça, fraca e impotente perto dele, Peri tem toda a certeza de que seu plano dará certo, pois assim foi convencionado aos homens perfeitos desse tempo. Mas era por Cecília...
Mas dize-me tu, ó cretino leitor, ou cretina, visto que o público feminino me segue em maioria, que quero eu dizer com tanta introdução de louvor ao índio, personagem mais marcante que meus olhos puderam ler durante o tempo em que vivo estou, antes de escrever póstumas memórias como terceiros...? Quero dizer o que quero dizer e somente a mim importa os pensamentos meus, ora...!
Valha-me Deus, é preciso explicar tudo!
Burlei os sentidos do possível e estou cá desse lado da tela almejando um lugar no meio das páginas onde mora Peri, louco e devasso, apaixonado e dedicado, pulando entre árvores de encontro à sua senhora, tão amada e loira, tão delicada e meiga, tão escrota e fútil, quanto qualquer uma dessas que me desejam, ou as que somente eu desejo.
A impureza de minha vontade ultrapassa os limites da razão, tanto quanto o ódio rasgava o peito dos Aimorés, mas eu demonstro somente o amor quando digo o que está dentro de mim para quem me lê. E esse é justamente o erro que acompanha minhas letras: quem me lê. Negue que estou certo e cairá mais uma vez num equívoco, só porque a hipertrofia de uma subjetividade se põe em meu caminho e eu digo que aquilo que os caras disseram no texto é bem verdade, só tirando o lance da melancolia que não se adequa ao que eu posso oferecer.
E vem meu progenitor, no auge de sua ignorância dizer-me inverdades a respeito de sua cria, o que causa em mim um enjôo sem tamanho fazendo-me vomitar em cima dele todos os argumentos fracos o suficiente pra que nem olhos ele tenha a me ver de baixo, nem ouvidos para que me possa ouvir do chão, nem boca para mais falar qualquer coisa de dentro daquele buraco; só por não confiar na palavra de um rei, só por desconfiar da palavra de um rei, só por pensar em articular qualquer descrença na palavra de um rei.
Pois um reino inteiro se põe aos pés de quem lhe governa, um mundo inteiro rende homenagens ao seu patrono, seu maior ídolo, seu senhor e governante, seu dono. Assim como uma mulher eleva o ego de seu homem sempre que esse lhe dá a alegria previsível de viver como merece. Uma mulher merece ter a alegria de viver. Algumas, não.
Mas não me amolem com tanta freqüência, entendam simplesmente o que está sendo dito, pois quem nem fala sabe muito mais do que alguém sem ouvidos. Aposto um pouco do meu mundo para quem duvida dos meus sermões, assim como um pastor que vende um pedaço do céu quando prega em sua Igreja, aquela que não mais pertence ao Pai. Meu? Não não... meu pai só fala besteiras.
Volto atrás. Perdão. Não aposto pouco nenhum do meu mundo. E retiro meu perdão também.
Mas nem tudo está perdido, nem tudo deve ser dito sem que as conseqüências devidas sejam realmente vistas, sem que o amor por algo ainda mais forte do que o que se põe em minha frente seja com toda a glória analisado. Sei lá, hein... seu eu falar de amor, podem até cortar meus pulsos por querer fazer sangrar a força que em mim não mais existirá depois da chegada cruel e devastadora do sentimento que há de entristecer o seio alheio.
Mas se nem Peri... quem dirá, eu...

Ele, Paulo, o guerreiro invencível, ele, o selvagem livre, o senhor das conquistas, o rei dessas mulheres virgens, o chefe da mais valente nação da UCM, suplicar a vida ao inimigo! Era impossível.
Três vezes quis ajoelhar, e três vezes as curvas de suas pernas distendendo-se como duas molas de aço o obrigaram a erguer-se.
Finalmente a lembrança dessa paixão foi mais forte que a sua vontade.
Ajoelhou.
P.V. 21:06 30/11/09

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