segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Querido professor


Liliu nos tempos de xibiu.
Que minhas resenhas se resumissem outra vez em forma de prosa, que minhas conversas se tornassem mais uma vez eternas em manhãs ou noites tediosas, que minhas idéias fossem, como sempre foram, aconselhadas pelo que me faz bem, que os conselhos fossem os piores possíveis em minha mente mas que mesmo assim eu pudesse colocá-los todos em prática, só pelo óbvio motivo de que agradaria a quem teve o bom espírito de me dedicá-los.
Tive lá minhas histórias escritas, minhas histórias vividas, todas sem rumo ou direção, todas divergindo placidamente dos conselhos de meu pai, e foi bom, fez-se bom, deu bom. Não me orgulho pouco de nada disso, me orgulho muito... sou desses que sabe dar valor aos entendimentos dos que mais viveram e não tiro da minha cabeça todas as repetições que um dia poderiam se dar na vida tendo o saber do que já se foi na vida alheia, e quando disserto sobre vida alheia, sou diretamente interessado na vida de meu pai.
Pai ausente...?
Jamais, pois se me coloco nas ruas todos os dias dessa minha caminhada, seja para analisar friamente a responsabilidade a qual me dediquei, seja para tomar de leve o meu gelo que se faz cada dia mais derretido, seja para me deixar levar pelo sabor ordinário do que ainda não me pertencia e rever de longe o que já fizera o progenitor, cada uma das possibilidades acima estará correta, desde que outros jovens também o queiram desenvolver.
Pois nada mais é a vida, tão comentada nesse momento, do que as possibilidades de se tornar concreto um sonho qualquer, e desde que sonho seja, não há motivo algum para se sonhar sozinho. Disse o homem, 
“sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”, 
e o que seria eu então? O que seria de mim se não houvesse alguém do outro lado da linha pra me atender, se não existissem os conselhos considerados errados na minha cabeça, mas que se faziam de bom coração pra que eu pudesse dar seqüência na minha caminhada rumo, ainda, ao desconhecido? O que não há não pode existir,  e o que existe, de fato e com certeza, é o que há,  sendo dessa forma, não tenho razão para pensar de forma diferente.
Se é meu pai que me destina seus conselhos, se há essa minha andança em busca do desfloramento do passado obscuro que poderia se espelhar no meu presente na forma das aventuras que eu deveria e devo passar adiante a ouvidos que estejam preparados para me ouvir, vou nessa onda... o mar não tá pra peixe, mas quem disse que eu quero escama? Fico com o que mais me apetece, eu quero o Sol enquanto os outros se dedicam pra conseguir sombra, eu quero a dificuldade da dor enquanto os loucos correm pra comprar remédio, eu sou o sangue da família, carne de pescoço é como embalagem de presente, casquinha de bombom, o mais gostoso é o recheio, velho... o osso me apetece.
Fui sem motivo, é verdade, mas tudo tem um por quê...
E a palavra acima recebe o acento circunflexo pois está antecedida de artigo indefinido a caracterizando como substantivo... quem disse? Meu pai, professor, orgulho dos Bernados, desde o cão ao Oscar, todos premeditados de grandes façanhas, mas jamais uma como esta, jamais um passador de conhecimentos tão influente como este, eis que outros Bernados tenham contado histórias à luz de lampiões, que tenham formado opiniões sobre assuntos diversos e rotineiros do sertão e da capital, mas nenhum, no tempo de antes, pôde alçar nem alcançar esse êxito, homem de palavra, disse que chegaria e chegou, homem das palavras, as diz todas sem receio de equívoco, confiando na sapiência da malandragem, matéria do primeiro período da Faculdade de Letras, essa malandragem pura que foi o ensinamento básico do que sou, do que serei e que meus pequenos Bernados também serão.
E tenho dito.

Um comentário:

ELI BERNARDO disse...

Cara, tu é mesmo um legítimo Bernardo. A tua força vem do poder das Letras e, dentre todas as homenagens (inclusive a que o Jan me dedicou, e me fez chorar), essa é de todas a mais sincera, pois, vem de quem eu mais acredito. Vem da criação, que, como o criador, tem sonhos idealizados, é um romântico inveterado e um filho admirado. Benditos sejam os meus e seus Bernardo, eternizados nas letras de um filho amado.