terça-feira, 28 de agosto de 2012

Toda função do ócio


E eu acordava cedo,
não sabia o que fazer quando o domingo prometia um pouco mais do que os dias normais de semana que me obrigavam a adentrar nas locomotivas malditas recheadas de pessoas desconhecidas, mas que, mesmo assim, ainda me emprestavam histórias magníficas que seriam destiladas nas longas doze horas que se seguiriam até que eu adentrasse outra vez nos tais trens de volta ao lar. Pois bem, não sei se falamos do domingo ou dos dias de semana, já me perdi.
Não se faz mais como hoje em dia.
Tenho essa estranha sensação de querer descansar e ficar no repouso da cama até altas horas da manhã, mas assim que me ponho de pé, caminho sinistramente até a cozinha, analiso a costumeira sala, volto ao quarto, e se dá o fim da aventura em minha casa. Nasce o tédio, o ócio, o desgosto de não haver o que realizar. E vem o cão a morder minha orelha me chamando para os seus braços vermelhos e quentes, jogando-me em direção a números de telefone, palavras na tela de um computador, mentiras bem elaboradas para que acreditem em mim outra vez...
E ainda gritam, os mortais, criticando meu modo de viver, julgando características, abordando idéias, gemendo que não faço absolutamente nada e que isso é um ciclo vicioso a nos matar devagar, cada dia mais.
Pois os que me criticam, que paguem minhas dívidas, então, que me tragam atividades saudáveis, que me tirem do ócio, que alimentem minhas intenções com boas ações, que me levem daqui, se puderem , no colo pra que eu evite a fadiga, e me coroem novamente pois um homem  do povo deve ser aclamado pelo povo, que o moço do disco voador pouse no meu quintal e me convide para um passeio pelas estrelas, que as ondas da viagem se tornem eternas na minha mente, que minha mente seja feita, que meu corpo seja fechado, que minha cabeça seja aberta, que eu não seja doente do pé...
Nunca me trouxeram nada mais que críticas, os que me criticam.
Invejosos...
Talvez seja por isso que o mundo me mostra apenas portas que não levam a lugares muito convenientes, entro por corredores e saio em outros corredores, pulo janelas buscando o jardim e caio em outras salas.
Minha verdade é meio nula quando a busca por aventura se torna um objetivo muito certo na minha intenção. Quando o ócio se faz mais imponente do que outra coisa qualquer, o vício da virtude se coloca sobre mim e flutuam maravilhas de minha boca tão levemente que por essa falsa leveza se revelam em grandes fatos a coroar a vida de alguém que parou de procurar alegria.
Só assim eu consigo alguma coisa que preste, só quando eu deixo de lado a busca por alguma coisa que preste.
E essa complexidade é fato que eu jamais vou conseguir assimilar, nunca me colocarei de lado pra esperar o vento bater na minha cara, sempre saio catando a brisa pra fazer tempestades, nunca vou esperar cair do céu uma oportunidade, sempre vou ao encontro de pessoas e lugares pra contar histórias...
Todo fim de mês é a mesma ladainha, promessas incríveis pro próximo...
Dessa vez, será diferente.

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