segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Teresa cansadíssima de guerra

Obra de Jorge Amado

Teresa foi dessas, toda cansada da guerra diária de lavar os pés de Justiniano, intensa em seus afazeres, dedicada puta caseira abrindo as pernas sempre que necessário; amásia? Não não. Vítima de cárcere privado e estupro diário, escravidão, abuso de incapaz e outros crimes que nos dias de hoje são considerados passíveis de penas firmes. No tempo de antes? Deixa rolar... deixa o capitão se divertir com a novinha...
Veja você, querido e saudoso leitor. Tô nesses dias estranhos que nos fazem martelar tão fortemente as palavras que outras coisas além do pensamento podem transpassar o papel e não seria tão absurdo se, hora ou outra, aqui pousasse no meu leito de frases, um bicho feio de várias sílabas a apavorar os olhos de quem me dedica tempo. Não se apoquentem...
Pois estava eu lá, no meu canto a pendurar o casaco, o chapéu, a blusa, a calça, a me pôr somente de cueca, que na época chamavam calção, mas desgosto dessa palavra e a uso por cueca mesmo. Boxe. Porque eu já era moderninho...
Encarei a novinha... Sabe essas meninas em corpo de mulher, com olhares que nos fazem voar do céu ao inferno num piscar de olhos, como fossem atrizes merecedoras de prêmios por transformarem-se em anjos e demônios em segundos? Parada de frente a mim, o cabelo molhado da chuva forte ainda pingava a beijar o chão da mesma forma que eu pretendia fazer com cada centímetro do seu corpo. Tenho pouco tempo, a madrugada começava, ao raiar do sol o capitão estaria chegando.
Minhas idéias nunca foram expostas, minhas mentiras sempre se repetiram aumentando a sinceridade do que eu dizia, meu instinto de guerreiro da UCM se colocava acima das expectativas alheias e não há, desde antes até hoje, quem possa se equivaler, não há nem haverá na literatura de Amado, nem de Machado, de Alencar, ninguém mente tão bem quanto este que vos fala, e quiçá, tolos leitores, eu não esteja a blasfemar também nesse momento, enfim...
Queria pra mim, teria pra mim.
Mas sou gigolô na cidade da Bahia.
Meu serviço é intenso, sou servo do amor, sou dedicado ao corpo da mulher, não me falta nada a fazer quando me vejo em pé e prostrada lá no leito da devassidão, minha fêmea exausta e inebriante, louca de loucura, gemendo baixo ainda, agradecimentos mil, e o dinheiro por baixo do travesseiro...
Teresa tinha nos olhos o conhecimento nulo sobre o que fazia, acostumada a somente abrir as pernas pra receber a estrovenga do capitão. Ainda bem que são poucos os homens como eu. Eu não mando que abram as pernas, elas por necessidade própria do ápice da libido surgem como flores desabrochando, agarrando o mastro com mãos e bocas, sedentas e famintas por mais...
Como não sou autor erótico, me deixo levar pelo momento do amor e avanço, ainda mais pelo fato óbvio de que instante ou outro, dissertando sobre posições, beijos, forças, cabelos e tapas, me veria nervoso a ponto de levantar-me e trocar de cueca, ou calção, como queiram...
Vejam como quiserem essa menina, dita inocente, pra mim é o que é, e não vale sua vontade de ser levada a Salvador, novinha sem jeito e recém safada, vai fazer fama se quiser virar mulher dama, mas do meu lado não anda de mãos dadas, não tem onde cair morta, meu ordenado mensal é alto e em possibilidade alguma ela poderia pagar, pois então, me vou, me vou sem deixar pistas, me vou sem me despedir, sei que a dor vai ser grande em seu coração mas assim é melhor... oh não, quem está aí? É o capitão!
__ Anda, chupador de xibiu, ou chupa a estrovenga de Capitão Justo, ou dou cabo da tua vida aqui mesmo...
Ainda bem que em toda história de bom grado tem uma faca de cortar carne seca por perto.

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