Bezerra da Silva |
Bem disse o Bezerra, se não fosse o samba, quem sabe hoje
em dia eu seria do bicho... E se eu fosse do bicho, o bicho ia pegar.
Só os tolos correm, e eu corro muito, só os tolos se
apaixonam, e meu coração é fraco, só os tolos se importam, e eu peco pela
ansiedade, só os tolos choram, e minhas lágrimas começaram a cair no instante
fatídico que o juiz apitara o fim da partida, e entendam os senhores mais
tolos, que o fim da partida é tão adorado quanto odiado, dependendo do lado que
você esteja jogando.
Só os tolos desistem, e eu já me vejo sentado, só os
tolos se endividam, e eu não tenho dinheiro, só os tolos vêem a mentira, e pra
mim ninguém é sincero, só os tolos perdem seu tempo escrevendo, e eu já nem quero
mais usar relógio...
Tolice é o que as pessoas te dizem, tolice são os
paradigmas da sociedade, tolice é o significado de paradigma de sociedade que
eu mesmo não sei, tolice imensa é essa coisa de vai e volta, leva e traz,
fofocas incríveis, abusos para com a inteligência alheia, faladores que passam
mal, malandros que cagam no pau, todo mundo, o mundo todo... já não duvido de
mais nada.
E por tanto prometer pelas luzes artificiais, o Sol
resolveu me dar uma moral e aparecer pra enlouquecer ainda mais a manhã dessa
sexta feira que nada promete além de tudo...
E por motivos tão óbvios, o mundo insiste em acreditar em
todas as baboseiras que alguns poucos disseminam entre bocas, entre palavras
mal ditas, entre malditas palavras, entre pregações até. Tenho pra mim, dúvidas
já suficientes e não entraria nesse ínterim tão delicado em horas tão curtas do
dia, porém a inutilidade do meu ócio faz com que eu me veja na sujeira diária
de todas as discussões sobre os assuntos mais polêmicos que possam
existir; essa minha vontade estranha de querer ser melhor que todo mundo,
essa minha fome por catar argumentos inexistentes até o momento exato em que
saem da minha boca, fazendo com que sejam anabolizados, engordados pela minha
voz, naturais e simples como quaisquer outras bobeiras que fosse dita sem vontade,
como qualquer risada solene a respeito da mesma discussão que não mais tem
sentido depois que todo mundo se ri das razões pelas quais o início se deu...
Malandro é malandro e mané é mané.
Acima do chão e abaixo do céu, qualquer lugar pra mim vai
ser bom porque eu sei que levo na mala as aventuras que já vivi, pois entendo o
quanto de felicidade existe em ir e vir, em estar e sair, em chegar humilde e
sair saudoso. O mundo é disso, a vida é disso, cada um faz seu destino, ainda
que a contrariedade das pessoas seja um absurdo imoral para com as intenções de
cada um. Passa muito pelas diferenças que fazem atrair. Já disseram isso né?
Que os opostos se atraem...
Sou muito de concordar com ditos populares não... mas
dessa vez, há razão. Basta eu, de contraditório, falastrão, mentiroso, feio,
pobre... quero justamente o oposto de mim para me completar, me fazer um pouco
a mais do que já sou com tons acentuados de diferença.
Enfim, se não fosse o samba, eu seria realmente um
contraventor, apaixonado, um aprendiz de todo amor, um bêbado jogado, um
personagem de novela que entretém a população, que diz o que querem ouvir, que
não paga suas contas, mas não ganha mal, que quer ganhar mais, mas não move a
bunda pra agir, seria um desses que vagam pelas esquinas boêmias a galgar novos
amores, outros corações arrebatados de paixão, dor e luxúria... se não fosse o
samba, assim seria.
E haja visto que nunca fui do samba mesmo... tirem suas
próprias conclusões.
Salve Bezerra.
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