quarta-feira, 13 de março de 2013

Habemus Papam

Pois bem, lá vem a Sua Santidade, o Papa, no sentimento mais puro da inocência, na leitura monótona dos sermões, a multidão intensa, gritante como final de campeonato, ansiosos crentes da palavra de Jesus a fim de saber o nome de nosso novo Papai... as basílicas, fulminantes edifícios maravilhosos, recheados de ouro que, provavelmente, não vieram do solo pobre do Vaticano, ou de Roma, ou daquelas redondezas europeias devotas ao santo Cristianismo. Pois bem, ao que mais interessa, pouco indago; se for de suas preferências, questiono e discuto aqui as passagens, as interpretações do livro sagrado, coloquemos em pauta os polêmicas e tudo mais. Não quero.
Quero que vão pra puta que lhes pariu, todos esses fanáticos malditos que dizem o bem e perpetuam o mal, que fingem castidade e são malditos, que pregam o santo nome de Deus e agem na intenção do Capiroto, os que seguem e o que não seguem também que se retirem e façam caminho a casa do caralho também, os que me perturbam, os que batem na minha porta, os que inventam histórias incríveis nos nossos trens com roupas de palhaço e palavras decoradas de frente pro espelho distribuindo papeizinhos mal impressos jurando apoiar maconheiros, crackudos, cheiradores e afins, aos terríveis, esses sim que vão pra puta que lhes pariu, que nunca me deixaram dormir nos transportes públicos gritando a plenos pulmões suas palavras, e a palavra do Senhor, cantando músicas que entram na minha cabeça por osmose pra não sair nunca mais, a esses putos que enchem os canais de TV da minha gatoNet com orações e pedidos e venda de livros e maquininhas da Cielo pra que seus seguidores depositem um dinheirinho todo mês...!
Vão todos tomar no cú, ok?
Fazem da casa de Deus, um shopping, um comércio terrível, uma mendigaria sem vergonha, prometendo vagas no céu... que porra é essa?
Tô doooido mesmo pra que seja verdade esse papo de que Jesus vai voltar pra pegar esses vagabundos chatos e levar embora daqui...!

segunda-feira, 11 de março de 2013

Com açúcar

É minha a indiferença que me mata, esse seu desejo avulso que me tonteia, essa tua vontade estranha de ser o que não é, de querer o que não tem, de fazer a sua moda, sua vontade, seu vulto querer, sua mania estranha de ser, o que não é não é, o que não pode não pode, o que se faz não é certo, mas tu, tu não... tu fazes o que bem entende, tu andas com tuas próprias pernas, ignoras minha ajuda, ignoras meu querer.
E ainda assim te procura de madrugada, rolo no teu ouvido, espero que se deite; se demoras, arrumo as minhas desculpas para levantar, ir atrás de ti, outros serviços, outras formas de amar, quiçá serias tu que eu escolheria para viver ao lado meu, mas não, escolho tu para deitar ao meu lado depois que a Lua se levantou no céu...
Ainda que chovas essa noite, molho-te bem mais aqui, abrigado do relento, protegido do sereno, mergulhado de paixão...
Que roupas essas que te cobrem, que escondem de meus olhos tamanha perfeição, que curvas simétricas a lhe correr o corpo unindo-se a outras curvas desenhadas pela mão do Sol, bronze teu, cor tua, melanina que escorre da tua pele a contagiar os olhos meus, e te devoro devagar, anulando tua pressa de explodir em gozo...
Serena noite de chuviscos nos embalam pra que o dia possa fazer lembrar teu sussurro no meu ouvido, teus beijos na minha boca, tua pele cravada na minha. Se minha mão não tem a coragem de alisar seu corpo, estapeio tua cara pois da raiva que foge ao tesão, tenho pouco a dissertar, e muito mais a fazer.
Que os panos que nos cobrem mostrem à plateia do que somos feitos, que o som do nosso transar seja gritado a plenos pulmões, que o mundo entenda do que se trata sem pudores nem receios, ou que o proibido nos excite, que a excitação seja a maior, que o frio nos abandone e deixe somente esse calor que nos acomete desde a ponta dos pés até onde sua vã filosofia possa alcançar...
E me engole com tua boca, sem intenção de fim, no ritmo suave do que preciso, dessa  maneira jamais antes sentida, infernizando meus pensamentos em direção a tangente do que poderia ser considerado verdade, se antes desconfiava da perfeição, já não tenho mais dúvidas.
E nem que o medo consuma a vontade, daremos fim ao que começamos, nem que a porta se escancare em pavor deixaremos o corpo um do outro, nem que as luzes se acendam, nem que a Lua se deite, nem que a energia se vá, que a voz se perca, que o mundo desabe, que esse chão alto se abra, não saio de ti, nem quero que saia de mim, a não ser que outras posições tu queiras experimentar, na cadência mansa da libido, na velocidade certa do tesão, rumo ao ápice do momento...
E vamos dormir.

Todo dia

É mesmo assim, todo dia o cara acorda disposto a conquistar o mundo, desencosta sem pressa a cabeça do travesseiro e vê a claridade do quarto desencorajar sua vontade; descansa outra vez no leito macio. Pensa por uma ou quatro vezes sobre suas missões diárias, repensa o querer, briga com o instinto, com o objetivo, se deixa estar estático em prol da preguiça que lhe consome, em prol da falta de ânimo que lhe engole, o sedentarismo maldito que lhe cerca e lhe faz refém...
E me vêm as lembranças,
as lambanças
cresce a pança
nessa vida mansa
morro sem esperança, eterna dança...
Mas não tenho atitude pra mudar, vejo que o placar vai se mostrando favorável a mim, vejo que a alegria me acerta em todos os momentos que me ponho a querê-la , enxergo no fim do tudo um mar de possibilidades, moedas a voar, essa minha mania de otimismo, de querer realizar tudo amanhã, tudo depois de amanhã, supondo que terei sucesso na minha empreitada futura, esquecendo que o hoje é tão valioso, tão importante quanto quaisquer dias tediosos que venham pela frente.
É um ciclo sem vergonha, uma roda gigante a girar sobre mim, um infinito tenso e chato que vai me colocando a par dos meus pecados capitais, meus melhores erros...

quarta-feira, 6 de março de 2013

Com razão

Eu vou te colorir, vou te pintar nas minhas cores, preto cinza roxo vermelho, vou te machucar até suas lágrimas escorrerem aos baldes, prometo que te faço sofrer com muito carinho, te pego na escola, encho tua bola, te largo no meio do caminho, te desovo, te ridicularizo, te faço infeliz, e te amo, te bato sem amor, te bato sem pedir, te coloco com a cara virada pro chão pois lá é tua casa, piso no teu sentimento com a força que eu roubo de ti, tua fraqueza é minha energia, teu medo me alimenta, tua vontade e tola, é suja, é vã, te beijo com tesão, te arranco o ar, a pureza, os cabelos, raspo tua falsa inocência, planto no solo suas verdades incríveis e faço nascer podres mentiras, te ignoro, te xingo, vou te maltratar até que o destino diga que estou certo, te faço cafuné, vou gritar pra que todos ouçam e saibam o quão terrível tu és, mesmo não o sendo, vou partir pra dentro sem dó, te impugnar, te bandar, te empurrar, te matar... e chorar de saudade de ti.

Charuto de Rasta


Tava na tenda, no abismo do mundo, com minha trupe, com meu bonde nervoso.
Faltava alguém, sempre falta.
O meu sentimento é dos bobos
O meu medo é ridículo
Minha visão, fraca
Meu intento, sucesso.

Tava no esquema, no fundo da taba, conversando solenemente com o pajé.
Faltava nada, só fumaça
Só índio louco,
só Peri Iracema Ubirajara
Saí da taba, fui fumar na praça
Charuto de índio não faz fumaça

Tava na praça, no banco sentado, do lado a pele morena que me coloria
Faltava dor, sempre faltaria
Tava rindo à toa, ninguém disfarça
A tropa sempre passa
O que fica somos nós,
Sempre ficamos.

Toda multidão necessita, assim como um abraço no dia de carência, de um ritmo acima do normal, toda multidão precisa seguir um fluxo constante, um caminho certo, um destino comum, toda multidão está envolvida na fumaça branca que nos une.
E do que adianta o medo, o mal, o bem, e forte e o fraco quando sabemos que o fim é próximo e deitaremos todos em berço esplêndido, leito eterno, fuga desse hospício vida em que insistimos em ficar?

Somos nós, errantes malditos,
caminhantes equívocos
rumo ao destino incerto,
Delírio beleza e deserto
seguindo a alvura da fumaça a subir,
seguindo o sentimento do alheio a nos inspirar,
nos espelhando no que está por vir,
almejando algum lugar chegar...

Hoje não




Mas estou aqui, disposto a receber todas as pedras que os puritanos atuais podem me lançar, estou aqui de peito aberto para as prováveis críticas, com a cabeça levantada perante palavras sutis e outras que possam vir a me machucar, porém cada palavra, cada pedra, cada crítica se tornará uma moeda em minhas mãos a ser lançada no alto infinito do céu, prestes a despencar das nuvens diretamente nos meus pés virada pra mim no lado que mais irá me agradar, cada tristeza é uma alegria travestida, cada lágrima é um sorriso que há de nascer, cada fim de partida é uma nova oportunidade de se pensar no próximo jogo, cada um com seu cada um,
e me deixem em paz.

Pode ser que haja um dia depois de hoje em que o Sol brilhe ainda mais, pode ser que esses dias que chamam de 'amanhã' sejam ainda mais intensos do que esse que conhecemos por 'hoje', pode ser que a vida acorde bem mais perfeita na próxima manhã, pássaros que existem simplesmente para cantar, nuvens que foram desenhadas, não para trazer chuva ou trovões, mas sim para decorar um pouco mais o azul gritante do céu, sorrisos e sorrisos, muito além de sorrisos, os motivos dos sorrisos e o mundo se garante por si só, daí em diante nada do que se pense de ruim pode ser tão terrível...
Pois responsabilidades são pintos pequenos perto de todos os avestruzes que temos que engolir, pois adversidades são merdas ralas perto de tudo que estamos a cagar, pois discussões avulsas são casebres humildes demais perto de todos os palácios que estamos construindo, e menos. Muito menos que isso, adoradores de Deus.
Bailei, parlei, burlei, parei e ninguém vai dando ouvidos ao que mais faz barulho no momento que é o silêncio absoluto do nada.
Temendo saber, a maioria das pessoas se preocupa, e por isso corre atrás de informações desnecessárias rumo ao caminho escolhido, pois como andam, ou como correm, chegarão da mesma maneira; cansando-se ou não.
E me vem o plágio; "fico triste amanhã, hoje não.
hoje não.
e amanhã digo a mesma coisa."
Pois amanhã é a infinita multiplicação das possibilidades de alegria que hoje eu pude ter. Só por saber dos caminhos novos a serem percorridos, e dos velhos e ruins que não mais o serão.
Pois o que temos são moedas nas mãos, uns bocados na direita, outros bocados na esquerda, moedas da sorte prontas para serem lançadas ao alto, prontas para nos mostrarem aquele outro lado história, o lado que nos joga nesse labirinto de indecisões, onde todos os caminhos são certos e a dor fica de lado... talvez, dirão alguns, que esse lado que tanto almejamos enxergar após o pouso da moeda da sorte seja o amanhã, esteja implícito no amanhã que é o que buscamos para esquecer de hoje, talvez de ontem, ou de tudo de podre que temos dentro de cada um de nós.
Troquem suas notas incríveis por simples moedas, e sejam felizes.

Melanina é mel de menina


Disseram os mais sábios, esses que se dizem conhecedores de alguma sabedoria, que as carnes que nos envolvem jamais poderão se comparar à carne que nos alimenta.
Tolos.
Vai preta, passa esse bronzeador no corpo como fosse o último dos óleos a existir e como fosse a pele tua, a melhor das peles para se acariciar, saboreia essa lata quente de cerveja em tuas mãos, cada vez mais aquecida pelo calor que desce dos céus desse Sol que há tanto tempo não nos felicitava dessa maneira; queima esse corpo moreno ainda mais para que tenhamos certeza que tua melanina é doce como mel de menina; doura esses pelos, colore essa vastidão, pinta de amarelo o que se opõe ao marrom, traz o glacê do creme que se espalha em ti e dá vontade de se espalhar pelo chão até atingir a todos, até que todos estejam numa só cor, perdidos no mar de areia abundante que é esse paraíso que chamamos lar, pinta teu corpo em quantas cores quiseres, preta, pois o mar é teu, o sol é teu, o céu é teu, és tudo teu e de mais ninguém...