Deus, todo-poderoso, em sua incrível lógica de ser, com a maior humildade que o universo poderia ter reservado para Ele mesmo, ainda martelando em minha mente quem o criou, visto que Ele criou todo o resto, fez aquilo que vemos, em sete dias. Ó Deus, querido do meu coração, quanta agilidade! Sinto até mesmo uma ponta de inveja de tamanha sagacidade pra conseguir realizar toda essa empresa em prol de nós. Mas como diz o próprio ditado que também deve ter sido inventado pelo mesmo: "a pressa é inimiga da perfeição". Justamente por ter feito muito rápido (e a única solução deve ser essa pra que não firamos o ego do Pai) algumas coisas ficaram pendentes por aqui. A gente perdoa. A gente já aprendeu a perdoar.
Mas eu, Paulinho, nem um pouco poderoso, com uma incrível lógica de tentar ser, deixando de lado qualquer tipo de humildade que alguém algum dia possa ter criado, fico do meu lado tentando martelar em minha própria mente as coisas que eu conseguiria fazer em uma semana. Fui mais rápido que Deus e concluí logo que não ia sequer chegar aos seus pés nessa empreitada. Que bobo sou, pensar que poderia me igualar ou quiçá ser melhor que o dono do céu.
Mas como todo pensamento é ingênuo e pela, sua inocência cria asas, posso fazer muito por mim mesmo em uma só semana; uma só semana que me resta pra que um único dia seja tão especial que faça valer todos os outros seis. Um único dia em minha vida que pode fazer valer todos os sete em que Papai do Céu construiu essa favela que a gente vive. Estava eu no domingo passado articulando meu destino na mente que me foi dada ao nascer, esta que esquenta até derreter em certos momentos decisivos da carreira que monto aos poucos. Sabem vocês, queridos leitores, que no próximo domingo encontrar-se-á uma festa dessas tão magníficas que arrepia-me os pelos do corpo de ter a felicidade de somente lembrar que lá estarei. E sabem também, ó queridos leitores, que em certas ocasiões devemos nos preparar de uma forma bastante especial, tal como fôssemos realizar um vestibular e deveríamos estudar até a morte antes de fazê-lo. Da mesma maneira, devemos nos preparar para além-morte quando vamos a uma micareta.
Então no domingo à tarde, cheguei a uma conclusão que há de apavorar aqueles que estiverem lendo e não forem tão inteligentes quanto eu. Sabiamente, descobri que faltava somente uma semana, sete dias, x horas (tive preguiça de fazer as contas), x minutos (mais preguiça ainda), x segundos (nem sequer saberia fazer as contas). Sabendo disso tudo, pensei em Deus que iluminou minha presença dentro daquele quarto quente onde me encontrava no momento e sussurrou em meus ouvidos: "Ahh safadinho, vai fazer o que durante a semana heiin??"
Bem sugestivo, não acham?? Depois dessa, me lembrei que Deus escreve certo por linhas tortas e tudo o mais o que dizem sobre o mesmo, e também aquela velha história de ter coisas escondidas nas entre-linhas e tudo mais. Foi um sinal, senhores! Um sinal! Fui tocado pela palavra do Senhor quando faltava só uma semana para a micareta mais aguardada do século. Arrepio-me ainda nesse momento ao transcrever essas palavras. Fui escolhido e isso me deixa feliz. Agora depois de toda a penitência que JÁ paguei, recebo o que de fato mereço. Eis aí minha agenda.
No primeiro dia, domingo de calor, começo de semana, devemos planejar o que faremos nos seguintes. Sei que é uma burocracia muito chata mas assim mesmo que deve ser. Como de praxe, nunca fui de seguir regras, quebrei mais uma e resolvi dormir ao invés de pensar. Mas Deus estava impossível e adentrou no meu sono pra me dizer coisas através do sonho! Sonhei como uma criança estando solta nas ruas, caminhando solene pela micareta com meu abadá azul púrpura brilhante e impecável. Mudei a rotina começando o primeiro dia sonhando...
No segundo dia, segunda-feira, dia de trabalho e estresse. Mas nem por isso devemos nos entediar, nem por isso devemos ficar tristes com as coisas que hão de acontecer. Relaxar e sentir que o dia está chegando, só pensar de leve naquilo que está programado pra ocorrer e conjeturar na cabeça as outras possibilidades; sempre devemos manter um plano B, C, e se possível até um plano K. Mas isso fica pra outra crônica. No segundo dia, segundo Apóstolo Paulo, deve-se bolar os planos...
No terceiro dia, dia bom, dia ímpar. 24 horas de muitos contatos com o mundo exterior, com o mundo que ainda não conhecemos, com o mundo que irá se reunir em um só lugar no tal dia. Porque como todos sabem, uma micareta é local de confraternização, local de se expandir o círculo (...?...) de amizades. Lá que iremos conseguir encher ainda mais nosso arquivo de show de belezas. Como um show de calouros, iniciantes e experientes. Cada um demonstrando o poder de convencer que conseguiram desenvolver durante os infinitos anos que já estão por aqui. Terceiro dia é dia de se fazer os contatos pra garantir a alegria, senhores...
Quarto dia. Mais um dia de trabalho, porém com um diferencial. A alegria que aumenta pois domingo está mais perto. Então devemos abrir o sorriso e mostrar a todos o nosso encantamento com qualquer tipo de problema que apareça pela frente e seguir tocando o barco sem olhar pra trás, só pensando naquilo que nos faz bem. Digo que o quarto dia é de uma utilidade grande pois é nesse dia que entramos em contato com o Nirvana; devemos manter uma relação muito boa com o nosso Deus Baco e Deusa Kátia pra que ambos possam abençoar o esperado dia. Isso é muito importante pois sem essas duas benções nada acontecerá da forma correta. Baco abençoa a putaria, e Kátia nos faz beber e não ficar bêbados. Conseguiram enxergar o tamanho da responsabilidade do quarto dia?
E no quinto? Baita quinta-feira que deverá ser de calor intenso a queimar nossa cabeça pensante no tão aguardado dia de buscar aquela vestimenta linda e maravilhosa, característica básica de uma micareta que se preze, que em minha opinião será da cor do mar, da cor do céu, da cor do sofá da minha casa, azul tão profundo quanto nossos pensamentos que estão a anos-luz da tristeza. Peguemos então o nosso abadá que ditará todas as outras regras do dia seguinte, assim espero, pois desde que consigamos penetrar algo na cabeça, devemos ir até o fim com aquele pensamento. O quinto dia é dia de pegar o abadá...
E no sexto dia, esse dia que começa com uma sílaba muito atraente aos meus ouvidos, esse SEX... Devo dizer que no sexto dia vamos nos preparar de forma maciça para o domingo. Uma vez sabendo a cor do abadá, vamos partir para os acessórios e penduricalhos que farão a beleza exterior aumentar drasticamente. Comprados todas essas besteiras, como cordões, pulseiras, tornozeleiras, anéis, bandanas, cadarços na cor do abadá, e a bermuda também. No meu caso incluo até mesmo uma cueca pois dias especiais pedem cuecas especiais. Sexto dia é dia de ir à compras.
No sétimo dia, sábado, o último, o derradeiro, aquele que não acaba quase nunca, a gente não vai fazer nada além de descansar pois foi justamente assim que O Pai fez. Então plagiemos sem dó nem piedade e deitemos em nosso leito de paz que é a cama, e botemos todos e quaisquer pensamentos pra fora, bons ou ruins, limpemos a cabeça pra sujar bastante no dia seguinte. Cabe dizer que nesse dia, podemos cortar o cabelo, fazer as unhas, confirmar contatos... Desde que o salão seja perto, a manicure também, e que o telefone não fique muito longe de sua cama. Vale lembrar que durante todo o sábado não devemos ingerir alimentos pesados, muito menos beber. Só água e saladinhas sem muito sal... Sétimo dia é dia de descansar.
Eis que o domingo chega e fazemos o quê? Entregamo-nos a tudo que passar por perto. É o dia da festa da carne, dia da micareta, dia de colocar a roupa e partir sem hora pra voltar. Sem muitas palavras pra esse dia pois a boca será usada de maneira diferente no decorrer das horas. Simplesmente deixemos fluir e fazer virar realidade os sonhos que povoaram nosso sono no primeiro dia dessa semana trabalhosa. E Deus que se cuide pois também consigo fazer muita coisa em uma semana...
P.V. 18:03 03/02/09