quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Fernanda

Ergam-se os maus sentimentos e tentem me enfrentar. Pois tentar é algo que nada custa e diferente não será. "Fiquei preocupada com você. Tá tudo bem mesmo?" Se somente um de seus olhos brilhasse, a claridade de uma paixão já cegaria o que nunca tive coragem de enxergar; mas são os dois, negros e grandes, que se jogam em cima de mim, quando devagar ela vem caminhando e estanca na minha frente, curiosa por saber os motivos de minha feição cansada, forças únicas que só se levantaram para vê-la passar. Pois maus sentimentos jamais conseguirão me derrotar se a luz dos olhos de Fernanda pairar sobre mim.
E perco-me ainda mais quando chicoteiam-me a libido, seus loiros cachos sem fim nem começo. Rede complexa de fios multicor, cientes da adição charmosa que são todas as formas que podem ser tomadas por um simples penteado feito em frente a qualquer espelho; mesmos penteados que inspiram as palavras que agora derramo no papel, assim como os sonhos que teimam em invadir minhas noites. Fernanda deixa cair seus cabelos pelos olhos e perdido eu fico sem saber o que amar mais, se seus cachos que me desorientam, ou seus olhos que me encantam. Pois digo que maus pensamentos não me derrotarão quando loiros fios de Fernanda voarem e caírem aqui perto de mim, aqui de onde a vejo de longe.
"O que que você tem? Por que você tá triste assim?" Então martela em minha cabeça a idéia de que por um instante, um único momento em que fui o dono de seu pensamento com meu nome ecoando em sua boca. "Você tá bem, Paulo?" Minha humildade nunca pensou que um dia chegaria em que a dona do meu inútil coração pronunciaria as fracas e comuns letras de minha graça. Pois na sua voz a beleza e perfeição provaram existir na face pura e bela de Fernanda. Quem é essa mulher que não existe e de repente surge na minha frente indagando-me sobre as inverdades de um costume diário? Quem é essa deusa inalcançável que brota do chão ou cai dos céus quando o dia escurece?
É Fernanda que me sussurra aos ouvidos doces palavras com sua voz rouca. É Fernanda que me pisca um dos olhos e convida-me para dançar sem música. É Fernanda que me invade sem pedir licença e permanece pois ninguém tem coragem de tirá-la. É Fernanda, doce ou salgada, mistério e ilusão, verdade ou fantasia, tudo fruto do meu sentimento, do seu sentimento. É Fernanda, diabo vestido de anjo que me ilude, que me engana, que me come, que me bebe, me traga; joga na minha cara a fumaça da perdição que sai de sua boca, e eu, bobo e insatisfeito, peço por mais. É Fernanda que ainda não me pisa, mas me faz apaixonar. E como eu poderia me apaixonar todos os dias por ela...
Minhas noites não são mais as mesmas, nem a Lua brilha só como antes. Disputa-se, uma na terra, outra no céu, pra saber qual beleza mais me atrai. E as duas são tão belas, tão naturais. Sinto que vou cair toda vez quer encaro seus olhos, toda vez que seu rosto vem de encontro ao meu pensamento, sempre que seu perfume invade meu ser, é assim que fico, vertiginoso, pronto pra cair e não mais levantar, deitado no chão com tudo dela ao meu redor. E ela? Pode continuar de longe, pode continuar lá em seu mundinho de onde me observa amá-la. Não tenho pra onde correr, nem como fugir, muito menos me esconder. Por isso fico aqui e não saio até que a calma se apodere da falta de razão que é característica minha em momentos apaixonadamente cruéis como este.
Deixa eu te amar, Fernanda. Pois sou feliz assim.
P.V. 10:40 18/02/09

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