sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Uma história avulsa

Pois foi lá com todo seu entusiasmo.
Diziam dele o que poderiam dizer de qualquer outro jovem sonhador no auge de sua forma psicológica e física; diziam mal.
Nunca lhe entrou por um ouvido e saiu pelo outro aquilo que faziam questão que ele escutasse. Na verdade, absorver o dito era quase que uma religião pro rapaz, uma vez que o nome ecoado na boca alheia faz bem pois mantém acesa a memória de quem busca imortalidade.
Porém, quem mal diz, pode bem querer.
Não deveria ser diferente se não fosse gritado pelas palavras de quem entende do assunto, uma vez que o assunto era a mente feminina. Pressa nenhuma em poder adquirir todo o desejo que lhe passava pelo corpo nas horas vagas em que o rosto de sua princesa lhe vinha à mente, nas horas mortas do dia, ainda no antigo trabalho, antiga escravidão, em que o ócio das tardes cansadas lhe obrigava a rabiscar inúmeros papéis dedicando um amor platônico à dona de um circo do qual ele jamais foi convidado a admirar as peripécias que se desenrolavam por debaixo daquela lona. Onde não há pressa, há calma.
Fosse ou não fosse escrito em uma dessas estrelas que teimam em perpassar o céu pelas noites mais escuras, ou um tipo de palpite do destino deixando a entender que a razão estava do lado mais forte da corda, o rapaz aceitou que seu coração falasse mais alto que todas as outras vontades mundanas características da idade pouca, deixou de lado a maior parte das coisas que mais lhe apetecia por algo tão maior que, tempos depois, viu que, por tão grande ser, não caberia dentro da sua realidade. Atirou-se na piscina, ainda cheia, água cristalina, saciar o calor era o que mais importava e bebia aos goles a felicidade de viver a dois, as palavras que se repetem, caminhar de mãos dadas era mais interessante que correr sozinho... Será?
Já tenho minhas dúvidas hoje em dia... já vou me entregando enquanto indago o narrador, ou o autor, dirão os mais céticos que eu indago ao leitor...
Há momentos em cada vida que passa por esse mundo, e digo isso com autoridade de sabedor, em que a felicidade se mostra de uma tal maneira que cada ação tomada é tida com a maior das certezas que pode haver, cada palavra gemida é dita com a maior convicção que o mundo nos empresta, tudo que acontece, as flores que caem, pétalas perdidas como a outra canção, qualquer elemento que circunda o sentimento tem para si um quê de verdade que vai além do motivo banal de crítica futura e acusação de falsidade. O rapaz viveu esse momento como nunca viverá outra vez quando homem for.Teria para si algumas dezenas de argumentos que provariam o contrário, teria guardadas nos bolsos ou na boca algumas afirmações que doeriam nos ouvidos de quem gosta de mal dizer depois de bem querer, teria e acredito que ainda tem, motivos suficientes pra fazer nascer outros sorrisos tais quais aqueles que viu e se encantou tempos atrás. Ninguém escolhe o futuro, aquilo que será só pode ser se houver oportunidade, ninguém decide o que pode conseguir, aquilo que vier só depende do que está por vir, ninguém manda no meu coração, muito menos eu, pra gritar uma verdade jamais antes dita.
Tinha por lá, assim como tenho por aqui algumas teses a serem abordadas a fim de que se contenha uma explicação no mínimo razoável para que os futuros filhos entendam a métrica da separação e as vontades alheias e conflituosas que chegaram à conclusão da dor necessária. Que lhe deem um banho de culpa. Mas o isentem da falsidade, da mentira, e da rápida desistência.
O brilho primeiro que fez nascer o sentimento mais forte é o mesmo brilho que se vê hoje. As lágrimas que descem fazem seus olhos parecem diamantes brutos, tristes, cansados, mas o brilho de vida é o mesmo do início. Nada pode se comparar a isso, tanto eu sei, quanto sabe o rapaz.
Disse lá uma outra vez, tempos atrás, do medo que passava por aqui conjecturando possibilidades de dor, mas de jeito algum passava pela sua cabeça que a dor lhe atingiria, e sim que apertaria o peito do lado oposto. Razão ainda maior para sentir medo. E certas coisas que são ditas, certas ações que o destino nos dedica a fazer, nos obrigam a querer fazer, são tão duras com as pessoas que amamos que, por um segundo ou outro, pensa-se na possibilidade de estar mesmo tudo na sua certa órbita, se tudo está realmente de acordo com a intenção que foi escolhida, se o mundo, mundo sendo, consegue entender a nossa vontade e o nosso desejo daquele instante que vai se repetindo tantas vezes dentro da cabeça que parece jamais querer sair. Daí surge a dor.
Quem lhe ama, quem tu amas, com o perdão da gramática, percebe o algo diferente, a fraca intenção; o pensamento é a porta de trás do homem, e os olhos estão escancarados deixando os vizinhos verem toda a confusão que acontece nessa casa, antes bendita, agora mal quista.
Ninguém nasceu pra esperar ninguém. As regras ditadas pela vida vão sendo seguidas por quem sabe viver e dobram-se ruas até a morte, mas numa dessas esquinas o passado pode mostrar um velho caminho percorrido com novos passos.
Entrego na mão de quem sabe.
Eu não esqueço de rezar todos os dias pra isso.
P.V. 18:50 30/12/10

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