sábado, 9 de julho de 2011

Ó Pai V

Tenho todas as minhas intenções muito claras e a vida me mostrou com muita dor e sofrimento o quanto se pode conseguir quando a vontade é mais forte que a indecisão. Então peço tudo que posso pedir e se me derem, fico feliz. Se não me derem, deito e rolo na lama, lugar de onde nunca deveria ter mesmo saído.
Pai é aquele que coloca um filho no mundo, a função do filho é seguir o pai e aceitar seus conselhos, mas o papel do pai também é de passar seu conhecimento ao produto saído de si a fim de que os caminhos sejam bem percorridos. Por isso, Pai, se liga no meu papo e não deixa nada escapar dessa vez...!
Ó Pai, me atenda agora, abra essa porta do céu e me encare, não se esqueça de mim, ainda que tenha tanto tempo que eu não ande por essas bandas solicitando seus trabalhos, seus milagres, suas dádivas. Ó Pai, quero algumas coisinhas que somente o Senhor pode me dar, mesmo que não concorde com muitas delas, mesmo que a vida já tenha me mostrado que os passos dados rumo ao destino sejam deslocados para outros cantos, mas é em Ti que posso me segurar quando o mal vier me pegar, e é em Ti também que vou me segurar quando a felicidade plena vier me morder. Ó Pai, coloque meus pés na rua mais clara, depois coloque meus pés na rua mais escura, não deixe que o blecaute nocauteie meus olhos nesse choque de luzes, quero enxergar tudo muito bem para que a memória possa me dar motivos de sono bom ao fim de tudo. Ó Pai, adicione muito mais paixão à minha caminhada só pra que a vida me proporcione os melhores momentos já vividos até a presente data. Ó Pai, faça com que a imprevisibilidade tome conta de tudo e que a vida seja só um detalhe no meio desse mar de alegria que é a intenção plena de felicidade que um homem pode ter. Ó Pai, conecte-me aos céus, me mostre as cores mais perfeitas que possam existir, faça de mim só mais um felizardo a desfrutar, inerte, dos prazeres que o planeta pode oferecer. Ó Pai, convoque todos, chame todos, faça com que o livro do amor esteja dentro desse recinto no tal dia para que a população inteira seja feliz da mesma forma que este filho teu que vos fala, ó Pai quero o ibope Pai, quero o falatório Pai, quero as fofocas na manhã seguinte Pai, da mesma maneira que Tu também o quis quando assassinaram o mais ilustre Filho Teu, irmão meu, lá no alto das duas madeiras, quando perpetuaram Teu nome pelo mundo afora. Ó Pai, vá comigo, me dê sua mão e caminhemos juntos, feche os olhos para cada coisa errada que eu fizer, lave as mãos muito bem depois de tudo acabado pois há de ser uma sujeira muito grande, mas não deixe de estar ao meu lado pois sem Ti eu nada sou. Ó Pai, com toda a certeza eu lhe convidaria, mas isso feriria os princípios e todos esses anjos são muito caretas e jamais aceitariam uma coisa dessas. Talvez São Jorge pudesse também participar, Pedrinho com muita insistência, mas o Senhor não; ainda que muito queira, não poderia permitir que sujasse Sua imagem dessa maneira tão devastadora. Ó Pai, deseje a mim toda a sorte dos céus, faça com que haja uma greve no conselho tutelar, que os vizinhos tenham seus ouvidos fechados, que a DP mais próxima esteja muito ocupada com uma operação numa favela qualquer e o resto, eu resolvo.
Tenho dito, estou desde já agradecido, e não admito que não voltarei.




São dezesseis horas e cinqüenta e um minutos, hoje é dia dois de junho, chamam-me Paulo Victor.

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