sábado, 9 de julho de 2011

O portão

Tinha muito o que fazer.
Meus perdões primeiros a quem mais me admira; me deixo levar pelo singelo momento do instante para aproveitar e desculpar-me com aqueles também que pouco me admiram, mas ainda assim, não deixam de levar meu nome na boca; admito às fãs e queridas amigas, declaro aos fiéis companheiros, antigos membros da antiga união, abordo os fatos da infância, deixo de lado todas as incríveis histórias vividas nesse movimento artístico que vai sucedendo justamente para que num futuro distante eu tenha condições de lembrar e acrescentar toda a ficção necessária para que a vida dê a entender o quanto de felicidade pode caber dentro da tristeza de um homem; peço licença também aos meus santos, aos meus deuses, aos padres, aos pastores, aos pais de santo e tudo mais que evoca os poderes que hão de dar continuidade à vida que há de ser vivida; outros perdões mais sinceros às canções que não foram cantadas, às pessoas que foram esquecidas, escandalosas desculpas às pessoas que foram deixadas de lado, se a saudade falasse, perdões não seriam necessários para demonstrar o arrependimento.
Volto aos jardins com a certeza que devo chorar pois bem sei que não queres voltar para mim.
Disse o Cartola, com toda sua benevolência, provavelmente embriagado de algum etílico, aah o etílico, na maior paz de sua favela que iria voltar ao seu antigo jardim, onde deixara, em garoto, suas mais formosas flores, aquelas rosas, as prováveis tulipas, copos d’água, girassóis...
Quem dirá do sofrimento de singelas e tão perfeitas plantas com o abandono de seu ídolo para o mundo terrível sou eu. Pois se não lhes cabe a coragem de abordar esse assunto, eu sento no meu trono e cato palavras pra caracterizar a dor da partida, aquele que sempre lá esteve ocupando o espaço dedicado a ele, aquele que se ausentou para nunca mais, nunca mais?, e a interrogação machuca ainda mais por alimentar a esperança morta, tão morta quanto as raízes que não mais se alimentaram da tão desejada água que Cartola despejava todas as manhãs; o sal das lágrimas corrói a terra e mata a planta.
Estou de volta pro meu aconchego, trazendo na mala bastante saudade.
Elba com todos os seus cabelos esvoaçantes, suas pernas de fora e a rouquidão da voz que atrai multidões não se faz de rogada e canta tal qual canta Cartola com essa sua saudade atrasada para com aqueles que diz amar, e se não diz amar, não o diz por uma plena falsidade para com o sentimento, ou então diga-se lá uma falta de coragem em querer dissertar do amor. Fato concreto é que não há desculpa que entre nesse ínterim, não há bela voz que possa cantar o passado e quanto de lugares poderiam ser vistos, o quanto de histórias poderiam ser escritas, nada dará lugar à verdade do que seria e não mais poderá voltar.
Onde andei não deu para ficar porque aqui, aqui é o meu lugar, eu voltei pras coisas que eu deixei, eu voltei agora pra ficar.
Roberto diz, eu assino embaixo.
E chega ao fim essa crônica de idas e voltas.
P.V. 09:33 29/04/11

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