sábado, 28 de março de 2009

O dia seguinte

Desejo o dia seguinte também. Não à altura de uma hipocrisia o julgando ser melhor pois seria loucura afirmar qualquer coisa que a isso se assemelhe; porém não nego o quão feliz fico ao acordar sem responsabilidades e poder enxergar por dentro o orgulho de ter cumprido a missão. Desejo muito o dia seguinte, tanto quanto algo que não saberia explicar; o que me deixa em transe pois tudo que não consigo definir torna-se incrível.
O dia seguinte já começa com o som alto pois a madrugada grita como quem pede socorro. É justamente quando o fim se aproxima que os ânimos se agitam ainda mais e o amor se inflama para dar lugar a uma precoce saudade. Mas ainda assim, com o cansaço evidente exposto em nosso corpo, continuamos galgando conquistas e abrindo espaços no meio da multidão pois esse é o intuito básico que nos levou ao tal local.
Ao lembrar essas situações dói-me por dentro uma previsível nostalgia típica dos que têm amores eternos. Amo, não engano e admito que não vivo sem. E o dia seguinte é a cereja do bolo que hei de comer sozinho. O topo, o pedestal, a coroa que levarei sem medo do peso quando carregar. Considerem-me o rei quando, deitado em meu trono, eu ordenar a vocês mortais que me adorem, em um sonho qualquer que tenha invadido o meu descansar. E não temam a mim pois do amor vim, e amor darei.
E a tal manhã seguinte tem que demorar pra chegar; quanto mais cansaço, melhor exercício para a mente. Faço todo o possível pra que a noite não acabe e dure só por uma eternidade. Abro os olhos com força total e não os deixo mais cair procurando as mais incríveis aventuras que são meu enérgico natural. Preciso dessa manhã seguinte tanto quanto o ar que respiro, justamente por isso abri mão até da responsabilidade que pagou meu passaporte. Vai se esvaindo a noite e meu pensamento foca na absurda quantidade de inspiração que consegui obter em tão pouco tempo; tudo que vou esquecer na manhã seguinte.
Ir embora é algo que me deixa triste, mas a necessidade fala mais alto em meus ouvidos e sou, então, obrigado a partir pela madrugada adentro.
Nada que me incomode, o fato de perambular pela escuridão sentindo o peito cheio de orgulho pelo bom trabalho realizado. Se for olhar pelo lado certo, era essa realmente a minha vontade desde o primeiro momento. E lá estou eu, sereno calado, curtindo o cansaço do meu corpo que caminha a passos curtos, descompassados, sem direção correta. Deixo-me levar por mim mesmo rumo ao lar pois é lá que poderei curtir minha manhã seguinte.
O sono não é tão forte quanto a excitação. Permaneço acordado me contando as incríveis histórias que aconteceram comigo naquele dia. E ouço tão atentamente... Não quero perder nenhum detalhe e, certas vezes, chego a duvidar se aquilo era verdade mesmo ou só coisas incríveis, fruto de uma fértil imaginação. Como uma criança ouvindo contos de fadas da mãe, adormeço pra não precisar acordar tão cedo.
Justamente essa alegria que tanto aguardava. Dormir feliz sem precisar acordar. Sei que o meu despertar será necessário, mas se pudermos adiá-lo por um pouco mais de tempo será ótimo. Uma certeza incerta, é bem verdade, mas esqueçamos as dificuldades e coloquemo-nos com esperanças no peito.
Acordei. Mas nem quis me levantar. Só pelo simples motivo de que havia dezenas de bocas a me beijar, outras dezenas a me recusar, outras a me encarar de longe com o gosto da vontade evidente. O peso de tudo isso em cima de mim adormeceu meus olhos mais uma vez. O mundo inteiro acordado e eu dormindo. Esfregaria na cara de todos o quanto isso me faz bem, quanta alegria sinto em não precisar de nada pra ser feliz, não procurar motivos pra ser o que sou. Todos os encontros e reencontros da noite passada ainda gritam sussurros em meus ouvidos na manhã seguinte. Plano solene e soberano deitado em meu leito de vida olhando tudo do melhor ângulo horizontal que poderia existir. Não tente se igualar a mim pois seria impossível, visto que as condições trabalhistas em nosso país não permitem que todos faltem aos seus respectivos empregos em plena segunda-feira, um dia de branco, como dia diria minha velha mãe.
O dia seguinte é tão desejado por mim que começo a querê-lo ainda mais que o dia principal. Talvez a incrível repetição de dizeres, exclamações, palavras, textos, sonhos e tudo mais sobre o tal dia tenha murchado um pouco o amor exclusivo que sentia por ele. Ainda amo o dia da Micareta, não posso negar, mas admito que também tenho um caso fora da relação. Um pouco de batata frita no meu arroz com feijão. O dia seguinte, amante...
Como viver sem esse dia? Sem o dia seguinte não há vida, não há prosseguimento, nem esperanças de alguma evidente melhora. Há quem pregue que devemos viver somente o presente, dar atenção total ao que acontece agora e deixar de lado o passado e também o futuro. Mas o dia seguinte é o futuro, então conclui-se que não sou adepto dessa teoria.
A cada palavra que escrevo sinto aproximar-me ainda mais do que tanto desejo: o dia seguinte, sucessor da perfeição.
P.V. 08:26 14/03/09

Um comentário:

leilinha disse...

Amoooreee, já é amanhã!!! rsrsrs
Então já pode colocar em prática!!!
Bjs