quarta-feira, 8 de abril de 2009

Um copo cheio

“Só sinto no ar o momento em que o copo está cheio e que já não dá mais pra engolir.”
Mas engulo ainda assim pois não hei de colaborar com quaisquer desperdícios que o mundo tente me empurrar. Um copo cheio largado em um canto qualquer da vida, sem utilidade, um copo que ninguém mais deseja, um copo cheio que ninguém quer, um copo que eu vou beber com certeza pois nada deixo passar enquanto eu mesmo ainda estiver passando; o que passa é passageiro e acaba um dia, por isso extrapolo os limites do poder que me foi atribuído.
“There's no need to complicate cause our time is short...”
Peguei o copo e bebi com vontade. Não há necessidade de complicar porque nosso tempo é curto. E é verdade mesmo. Bebo até sem sede. Bebo pois posso morrer amanhã e dirão que não soube viver durante o tempo em que me foi dado. Quero fazer dos meus últimos dias, os melhores. Pra isso não vou deixar copos cheios, e não me venham com a conversa fiada de que nem tudo que nos dão pra beber devemos aceitar pois essa inverdade já não faz mais parte do meu ser. Sirvam-me gelado ou quente, doce ou salgado, que beberei com gosto.
Não tente fugir da minha sinceridade, nem tente entender o que digo pois seria impossível entrar em sua mente um copo cheio de qualquer coisa. Talvez um copo pela metade, meio cheio ou meio vazio possa te dar a felicidade de compreender o que não quero dizer. Mas a metáfora do conteúdo é minha e de mais ninguém. Até tentam os mortais chegar perto de alguma conclusão plausível porém perdem-se os intelectuais ao notarem a facilidade com que despisto as palavras que nem a mim mesmo pertencem. Elas correm de parágrafo em parágrafo e acabam por morrer afogadas em um copo cheio qualquer que esteja, talvez, em cima da mesa que escrevo.
Mas então deparo-me novamente com o que sempre sonho. E de repente me vejo perdido, me vejo angustiado naquele local, uma confusão de sentimentos, coisa típica de mim. Por um momento, imaginei se realmente era o que tanto procurava, se a felicidade era aquilo mesmo. Os grandes homens de nosso tempo sempre chegam em momentos tais que um abismo abre-se em seus caminhos, e a decisão de encará-lo ou não passa a ser o grande desafio vital que sempre lembrarão. Sou um grande homem e enfrentei de cabeça erguida a vala que se abriu em minha frente. Fraca... não aguentou comigo.
Passo de olhos fechados por essas situações pois sou velho de guerra, com meu coração já calejado de todas as brigas pelas quais já passei. Decisões drásticas são sempre tomadas num impulso instantâneo. Foi assim que aconteceu e simplesmente continuei minha caminhada eterna rumo ao lugar que já estava. E o anúncio da próxima batalha fez-me ainda mais forte disparando na frente em direção ao fim da noite que prometia ainda mais que o começo.
Foi um copo cheio derramado que me fez derrubar lágrimas. Um desperdício que não me faz bem, que entristece meus dias. E como sou o escolhido pra levar alegria aos corações necessitados, fiz o trabalho de recuperar seu conteúdo, tornar novamente cheio um copo que vazio estava. Mas um copo cheio sem ninguém para tomá-lo pra si não é nada. Bebi. E bebi com vontade como já afirmei antes.
Julguem minhas ações como quiserem. Talvez pensem que a vontade de beber é maior do que minha sede, e não dizem mentiras. São todos eternos sinceros, aqueles que tentam me dizer o que fazer, aqueles que dizem querer meu bem, aqueles que me seguem não por opção, mas por necessidade.
Seria eu o mais feliz dos homens se cessassem pra sempre os largados copos cheios que ainda consigo ver daqui... mas continuarei a beber sempre que a vontade for maior que a razão, sempre que o copo cheio estiver ao alcance de minhas mãos. Mesmo que não dê mais pra engolir.
Essa é a diferença entre os homens de verdade, e os que só dizem ser.
P.V. 11:49 30/03/09

Um comentário:

leilinha disse...

Existem dois tipos de Homens, os de Vrdd e os covardes...E vc se encaixa nos homens de vrdd,pois tem suas escolhas e se orgulha dissoo...
Bjs