quinta-feira, 17 de junho de 2010

Garoto de aluguel

Reclamam de homens assim como também costumam reclamar de mim, reclamam da sociedade abusiva assim como gostam de reclamar de mim, reclamam de qualquer coisa que possa vir a acontecer assim como gritam reclamações em meus ouvidos. Tenho minhas palavras certas e ouço calado cada uma das mentiras que me chegam aos borbotões, atropeladas como se fossem cuspidas boca a fora, sento, cruzo minhas grossas pernas, não tenho pressa em que o mundo se acabe em minha volta, afinal, da morte nada se duvida, nem nada se leva após a mesma. Tolos. Jamais saberão que minhas palavras morrerão comigo, da mesma forma que as críticas morrerão com seus críticos.
Fui um garoto de aluguel.
Talvez aquele que clama na canção não tenha sido, talvez esse que cata algumas poucas letras no papel também não tenha sido, mas da falácia da vida nada fica e você, querida leitora, tira suas próprias conclusões a respeito do que ouve ou lê.
Aviso sobre o cuidado para com os olhos quando mirá-los para o alto pois lá estarei, no infinito do céu, batendo minhas asas de forma que caiam sobre vocês toda a brisa fraca da força que ainda guardo dentro do peito, um anjo do inferno que resolveu passear no paraíso, um homem que não se agüenta por estar em pé, parado, andando quem sabe, o pior dos pesadelos que um dia o autor poderia ter escrito, o desenho mais incrível que o pintor poderia ter jogado na tela, a invenção mais nobre que os loucos deixaram vir à vida, o nascimento mais aguardado entre os melhores, o amor em forma de ser, o verbo que fala mais que o substantivo, a ação que precede o fato, eu, enfim, o orgulho, o convencimento, a felicidade que transborda pelos dedos, o que em mim reside, o que em mim há de melhor, e digo tudo... tudo.
Veja lá no fundo dos meus olhos, diga aos meus ouvidos o que quer de fato, não..! não fique pensando muito, meu tempo é curto, estou aqui de passagem, baby. Tire sua roupa, aproveite e tire também a minha.
Agora veja o silêncio...
Não dependo de nada para seguir voando, não quero que nada me siga no meu caminho, o mundo abriu as portas para mim e me deu ordens corretas para que a vida se faça da minha maneira, as chaves dos corações de um exército estão na minha mão direita, vou dedilhando devagar cada um dos sentimentos que posso brincar, vou andando solene sobre as brasas de algumas chamas que se acendem sempre que eu chego perto, vou caindo devagar em tentação na vida que nunca quis, vou fazendo minha parte do negócio, apertando a fraqueza contra a força e deixando escapar a coragem, na minha mão esquerda puxo sua nuca, seu rosto já não teria vontade de olhar pra coisa outra que não seja minha boca, meus olhos, sinceros olhos de paixão...
Deixe seu dinheiro que eu quero viver. Dê-me seu relógio que eu quero saber quanto tempo falta para lhe esquecer, quanto tempo para que fique eu eternizado em você...
Batem ainda minhas asas, mas não enxergam, não têm olhos, não tem simples intenções de me ver quando passo; tristes, as cabeças baixas, as asas escondidas por baixo do pano desse circo, da lona brilhante da minha eternidade. E choram... algumas em pranto terrível.
Fiz minhas escolhas.
A felicidade de uma pela tristeza de todas.
E já não sei mais ser garoto de aluguel... mas gosto da música.
P.V. 16:21 17/06/10

Um comentário:

elibfreires@hotmail.com disse...

Belo texto, litle boy!!!
Muito bom!!!!!!