quarta-feira, 30 de junho de 2010

Amigo é pra essas coisas

Rosa acabou comigo.
Nem Deus sabe o motivo...
Que bom se eu morresse,
talvez Rosa sofresse,
na morte a gente esquece...
Adeus, já amolei bastante,
muito obrigado, amigo,
por você ter me ouvido,
Sua amizade basta,
o apreço não tem preço,
eu vivo ao Deus dará...

Vai por aí amigo negro, suas lágrimas molham minha mesa, e meu chopp fica mais gelado com seu corpo estático ao meu lado, vai por aí com sua tristeza básica de quem mereceu o que recebeu durante a vida e não inveje a felicidade minha pois num momento ou outro pode ser que eu caia no mesmo buraco do qual tu tentas sair agora. Vai por aí, enxugue essa dor, largue essas palavras erradas e engrosse essa voz pois homem de verdade não se deixa levar pela infelicidade de um amor não correspondido.
Vou nos meus goles...
Se queres mesmo saber, afirmo com minhas poucas loucuras que não ando mais como andava nos outros dias, aqueles mesmos em que éramos tão amigos, e não te encaro com os olhos de outrora pois a vergonha se apodera dos meus intentos e retiro o brilho que um dia poderia te dedicar com toda a sinceridade sempre intensa para com os amigos íntimos.
Tu sabes, tu conheceste a pessoa que está sentada em sua frente, não se vexe se vir um espelho prostado na sua frente pois seu reflexo é a imagem do meu ser. Já daí tiro mais de meia dúzia de desculpas bem esfarrapadas e convincentes para que tu possas levantar-te e andar com as próprias pernas, já daqui enfio nos bolsos mais outras dúzias de verdades que não lhe diria nesse momento, pois lágrimas outras nasceriam de seus olhos, inundando um pouco mais a mesa que abriga meus copos de chopp.
Pois vejas tu, ou se quiser vire para o lado, não me encare se for de tua opção. Chamas-me amigo e aceito essa evocação em minha pessoa, diz de mim tudo o que poderia ser dito de alguém que lhe quer bem e não vejo erro nessa afirmação, sente por mim o sentimento de irmão e confia nas minhas palavras tanto quanto confia nas minhas atitudes. Ponho fé e assino ao fim de cada uma de suas adorações.
Pois Rosa, menina do Leblon, mulata do morro, querida por todos, amada por ti também é amada por mim.
...
Disse, talvez num meio de semana, talvez num fim de mês, palavras soltas num papo de outros bares, um desses nossos novos poetas, um desses rapazes no auge do poder que podem lhe entregar em mãos, que a mentira nasce e só tem utilidade saudável se for destinada à proteção de quem mais se ama. Não entenda como lhe digo, amigo negro. Entenda justamente da forma como adentram em ti as palavras que vou lhe gritando. Rosa da praia, menina do Leblon, mulata do morro, seus cabelos negros que bailavam de lados para lados quando caminhava ao lado seu, e o cetim que não caía de seu corpo, encaixava perfeitamente nas curvas acentuadas que Deus lhe dera, eu em pé no botequim, sua deusa, meu sonho de consumo.
Paixões chegam e se vão, amigo negro. Minha paixão se foi. Porém meus olhos não conseguem fingir. Ainda deixo transpassar todas as emoções que nascem e morrem dentro de mim e Rosa do morro, mulata do Leblon, menina da praia, sentiu tudo o que era explícito em mim. Não se deixa levar por nada, não quer coisa alguma além das aventuras, não se faz mulher do mundo, pois nem mesmo o mundo poderia caber-lhe na mão, não faria sequer questão de abrir as mãos a fim de ter o mundo, optaria por saber que ele existe e lhe deseja; Rosa, sua amada, já me desejava bem mais do que eu um dia poderia ter lhe desejado.
E dizem da carne e suas fraquezas. Nunca tive essa força...
Já não caem mais suas lágrimas, amigo negro. Caem as minhas agora.
E não me compadeço de sua dor. Compadeço da dor de Rosa.
Tente inocentar um assassino e será crucificado em praça pública. Pois eu dou poderes mais belos a quem vive de amor e por amor sabe viver.
A questão mais bela que um dia eu poderia responder é a do que representa esse sentimento para alguém que não o conhece. Já cheguei a conclusão de que não há como responder, não há respostas suficientes, não há letras nem palavras que possam descrever o que sentes tu, o que sinto eu, o que sente Rosa...
Então vamos a Rosa na praia deixar aos beijos do Sol e abraços do mar...
Calarei meus pretextos mais uma vez e espero entender todas as minhas palavras no futuro. Digo a ti, amigo negro, e se não tem o poder da discrição, levante-se da minha mesa e deixe a gorjeta do garçom.
Parei de beber o chopp da estranheza.
É momento certo de pedir vinho outra vez.
P.V. 11:14 30/06/10

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