sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Outros dez

Claro que não existe motivo algum para reforçar ainda mais o quanto de sentimento ainda permanece aqui dentro do meu peito num desses vigésimos quinto dias de cada um dos meses que já se foram, e dos meses que ainda virão, mas eu vou por aqui, coçando de leve as letras pra formar uma urticária de palavras belas a fim de que os olhos da minha princesa se encham de água, pra que se coração fique um pouco mais vermelho de amor, pra que sua mente e seus olhos se dediquem exclusivamente a quem mais lhe ama, pra que tudo continue na mesma paz que está.
Foi um tempo de glórias e algo parecido com muita felicidade, aqueles idos onde eu despejava tantas e tantas dedicações a somente esta mulher que me olhava de longe, enojada por dentro, raivosa por fora, falsa nas suas promessas de beijos inesquecíveis que faziam o cenário de todos os meus sonhos, dos mais puros, de beijos doces na frente da família dentro da igreja ou na tal praia de havaianas, sejam também dos mais safados, em camas, em redes, em lugares desconhecidos, em carros, com roupa ou sem roupa. Fato é que tudo isso não passou do pensamento, e não seria abuso nenhum dizer que não havia pressa pois a certeza de um futuro espelhado nos reflexos de hoje já estava desenhado na minha cabeça, ainda jovem e sem tantas responsabilidades.
Karoline Durique, com seu nome tão chamativo, sua beleza estonteante, seu sorriso apaixonante, seu corpo de deusa, suas palavras doces que deslizavam pela boca como uma cachoeira de águas claras das quais jamais consegue-se desviar o foco pela incrível perfeição, seu sentimento que não cabe em frases nem em textos, e seus olhos que ainda têm um brilho tão intenso que até mesmo o Sol vexa-se, humilde, perante tamanho poder que vive por aqui perto de mim hoje, distante de mim naquele outro tempo.
E por se fazer distante, talvez eu não a quisesse tanto. Justamente pelo motivo que diz respeito ao alcance da visão e de todos os detalhes importantes que não eram percebidos uma vez que de longe eu conseguia enxergar pouco. Vejo tudo que eu preciso hoje em dia, algumas posições me mostram até bem mais, e isso me provoca, me transforma, me faz querer cada vez mais, amar ainda mais, ser um pouco além do que eu poderia, do que ela mereceria, do que algum homem nesse mundo poderia amar uma mulher, e somente uma, diga-se de passagem. Pois um homem que tem em seus braços Karoline Durique não tem motivo algum para desejar outra pessoa, seja ela de qual raça for, características físicas de beleza, de peso, de sobre-peso, de cores de cabelo e qualquer outra coisa dessas, de poder financeiro, independência, dotes. Um beijo só de Durique e tudo se vai, o mundo perde a graça, o convite do anjo cai por terra, a vida se faz colorida e até mesmo o que não era vivo começa a sorrir.
Pensei durante algum tempo sobre tudo isso que martela a mente da minha princesa, e sei entender cada uma das dores e sofrimentos que lhe assolam, porém, por um outro lado, estendo meus braços na cruz para que preguem minhas mãos, sofreria pra que ela pudesse viver em paz, pois dos meus erros, o maior é lhe amar em excesso, e saiba que não houve, até hoje, motivos que me fizessem lhe machucar, e nem virá a acontecer qualquer uma das coisas estranhas que caminham, loucas, pela sua cabeça. E me perco nesse mar de incertezas, uma vez que nada de mim pode ser feito pra que mude esse pensamento, minhas dores são exclusivamente reflexos das dela, pois não sei o que fazer quando tudo que já está sendo feito é pra que ela fique bem e feliz, e linda como sempre... enfim.
Já se foram dez dias iguais a esse, e dizem, os que conhecem, que a nota máxima a ser dada é justamente esse mesmo dez. Pois discordo. O meu máximo será infinito, jamais se deixará findar no décimo mês, na décima vez, no décimo beijo, no décimo sorriso. Quero ainda muito mais do que tudo que já fizemos, tenho ainda muitos planos que a dona do meu circo nem sequer imagina que podem acontecer, tenho ainda muitas vistas a dividir com a rainha do meu bloco, um pôr do Sol, quem sabe, um mar insano em sem horizonte no alto de uma dessas montanhas, aqueles fins de semana de festas e muita bebida, ainda não caímos juntos, ainda não moramos juntos, ainda não fugimos juntos, ainda não fizemos um terço das loucuras que eu pretendo fazer antes de partir. Temos um apartamento para decorar, móveis para comprar, tintas para pintar, convidados para receber, uma filha para criar...
Reflete-se, e digo isso pela terceira vez, hoje em dia, assim como naqueles outros tempos, a falta da pressa. A calma é solene, pois sei que da eternidade, o melhor que conseguirei extrair é o sorriso dessa mulher no alto do pedestal que eu mesmo fiz questão de colocar.
Mais dez meses.
P.V. 16:30 25/02/11

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O suicídio do anjo

'Mas hoje vou abrir meu coração e você vai ter que ouvir tudo que eu tenho pra falar... '
Dedilhei de leve a canção do falso loiro que não me agradava até dias atrás, porém, aos goles, vai me fazendo engolir as ditas palavras pra dar lugar a uma singela admiração. Mas são palavras bem delicadas que adentram no coração de quem as ouve e inspira a pretensão de quem tem, deveras, algo para dizer.
Tomei algumas decisões ultimamente, ainda que a melhor forma de expor tudo fosse daquela antiga maneira onde abordava atitudes drásticas e tudo mais, porém as conseqüências de tais atitudes trariam problemas inadiáveis e incabíveis nos poucos anos que ainda me restam, então, optei, intelectual, pelo caminho com menos pedras no chão... até mesmo porque meus pés não nasceram pra chutar para longe os obstáculos que me fossem impostos. Meus pés nasceram para saltitar loucos e devassos, brancos como as filhas da Mandioca de Macunaíma sobre tapetes vermelhos, amarelos e verdes, assim... coisas parecidas com as calças daqueles rapazes que cantam músicas chatas na televisão e vez ou outra me pego cantarolando.
Enfim. As atitudes drásticas foram postas de lado.
Tremi pelo meu fim, pela morte e tudo mais. Agasalhei-me e o frio passou.
Já não me deixo mais levar pelos instantes de raiva, sou todo um mar calmo e chato que não se levanta mais nas tempestades, sou todo uma planície descampada que não tem suas árvores arrancadas nos grandes vendavais, sou todo e somente um grão de areia que permanece no mesmo local depois de todos os milhões de anos, nada o incomoda, nada me transforma, nada o move, nada me mexe.
"E se um homem, pra ser homem, não precisa ter mil mulheres, apenas fazer uma feliz",
já não sei mais o que sou, se me encaro num desses espelhos jogados pela casa. Pois no distante passado, eu via imagens tais que me elevavam ao posto máximo do que é ser o predador, a espécie em sua mais pura forma, o macho dominante, e não havia quem dissesse o contrário, não havia quem me diminuísse, o medo havia, o terror havia, e os moleques rodeavam minha aura enérgica, almejando um dia se igualarem ao que eu era. Tempos bons, meus tempos de garoto.
Mas hoje eu atuo da forma como a frase pede, faço o que o mundo quer, deixei de lado as novecentas e noventa e nove mulheres pra fazer somente uma feliz. E olha que, modéstia a parte, seriam mil felizes se não as deixasse de lado. Porém ainda assim, não vejo um homem completo quando o espelho vem me mandar beijos, me cumprimentar pela manhã com um bom dia, e o que eu vejo lá naquele reflexo é sujeira, estranheza, falsa alegria que se transveste de estresse extremo e dores e lágrimas que não cortam mais os rios da minha face e só molham o rosto de quem eu amo.
"Já vi o futuro por cima do muro" e minha intenção dita a visão dos olhos, por isso a esperança é bem maior do que as barbaridades incríveis que estavam lá no quintal do vizinho. Teria pouco ou muito pouco a se fazer, ou sorrisos vazios para dar, se não fosse um maço de papéis que veio até minhas mãos no dia de hoje, e por eles, por mim, pelo futuro estranho atrás da parede de concreto da realidade e problemas eu consigo ainda notar que as manhãs podem ser boas, as tardes podem ser recheadas de descanso depois do almoço, ainda poderá haver algumas noites de Lua bem cheia e amarela no canto esquerdo da vista da minha varanda, ainda há esperança para que alguns fins de semana sejam marcados por novos lugares a serem conhecidos e desvendados, oro todos os dias pelos domingos, pelos bons vizinhos, pelo futebol que nunca soube jogar, pela cerveja, e que venha gelada por favor, que venha em dúzias, que saibam beber, que saibam concordar o verbo, que saibam entender as piadas, que riam mesmo que não haja graça, e que o dia acabe da mesma forma que começou, sem estresses, sem medos, sem brigas, com os sorrisos estampados; ainda tenho coragem suficiente de tentar assistir as incríveis matérias do Fantástico nos cansativos domingos, de terminar de ler alguns livros nas terças vazias, de escrever uns outros livros nas horas vagas, de amar, de ser feliz, de inovar na cama, e por falar em cama que venha aquela com as molas ensacadas pra que minha coluna não me abandone antes do tempo...
É fato concreto tão duro quanto o próprio muro que nada disso que foi dito estava lá do outro lado da parede quando, pueril, quis dar uma espiada no futuro. Mas eu vejo o que quero, entendo o que eu quero, faço o que eu quero, sou como eu sou. Ainda não dependo de ninguém pra ser feliz.
E um dia desses, fui abençoado por casos de caos, histórias bem contadas, e a conclusão sempre favorece quem tem a boa vontade de querer abordar o paralelo que lhe cabe. Fiquei sabendo por bocas confiáveis que um anjo caiu do céu. E por anjo ser, escolhido de Deus para tocar as harpas benditas, caído de tão sagrado firmamento nesse inferno que estamos vivendo hoje em dia, ouvi mais uma vez a perfeição da voz me dizendo que o anjo se entregou ao pecado. Talvez não fosse uma queda ocasional, talvez quisesse, de fato, cair e um suicídio premeditado ocorreu nos Céus depois de todo o estresse que a vida lá de cima proporcionou ao querido branquelo loiro de olhos claros e auréola na cabeça. Nem mesmo os anjos estão agüentando esse tipo de vida, nem mesmo os escolhidos pelo Dono do Universo estão mais aceitando o modo de vida que vão levando, se rebelam, se jogam das nuvens, caem por aqui pra viver o erro, o equívoco, onde ninguém lhes incomoda, onde não é necessário rezar todos os pai nossos quatro ou cinco vezes ao dia, não é necessário tocar a maldita harpa pra fazer do céu um lugar sagrado, não é preciso vestir aquela roupa tão branca a ponto de doer os olhos. Querem, os anjos, a mudança, o temor, o passado, a paixão no lugar do amor.
Que venham então.
O mundo é um convite a quem tem oportunidade.
P.V. 16:38 21/02/11

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Outros atritos finais

Então...
O fato concreto e absoluto é que a falta de decoro para com esse presidente que vos fala vai chegando aos ápices do limite da boa vontade e do bem querer. Nada contra o que não me agrada, nada contra doenças e afins, nada contra o resto que não concorda com o pensamento meu, porém os impropérios da vida vão assolando com muita força minha paciência, e esta já não se agüenta mais.
Disse o poeta que a vida se faz nos mínimos detalhes. Vou vivendo os grandes momentos, então.
Pois as coisas pequenas já ficaram para trás, o que me irrita agora são casos grandes, ocasiões fantásticas, estresses absurdos e incríveis.
Pago minha contas e ainda sofro.
Trabalho da melhor forma possível e ainda sou convidado a sentar na sala da chefe.
Vou vivendo a esmo, falando a esmo, agindo a esmo.
Pois se me disponho a deixar de lado o capital que aliviaria a pressão, se recuso a labuta da qual me fiz tão feliz quando a adquiri, a mesma que vai pagando os meus sonhos devagar, se me dispus a servir, somente, no dia especial que acontece todo ano, se me coloco como chofer, burro de carga, transporte alternativo, ônibus escolar... se eu uso da minha força, uso das minhas amizades, uso do que tenho e não tenho... se eu gasto aquilo que não me pertence e tento fazer tudo isso sem que percebas, ainda assim sou mal dito, sou mal julgado, sou lido como infiel e mentiroso. No fim das contas, posso debitar três discussões das quais nenhuma delas eu poderia ser culpado, a não ser quarta, mas para minha sorte o dia acabou e não houve tempo suficiente para mais reclamações.
Mas um dia morre justamente para dar lugar a outro.
E nada há de mudar.
O pior momento na vida de um homem é quando ele chega a terrível conclusão de que pior do que está não fica, e melhor do que está também não. A vida se estagna, paralisa-se, finda, morre, e tudo tende a ser o mesmo para sempre, pois promessas não curam mais as palavras que já foram ditas, mentiras já não se fazem mais como verdades pois a voz engana quem pensa estar enganando, o futuro nada mais promete a não ser dúvidas e mais dúvidas se, de fato, é justo dividir tudo com quem nada entende.
E se eu divido minha alegria do futebol, minha cerveja do domingo, minha blusa que é o manto sagrado, meus sorrisos soltos pela rua, minha felicidade, se eu me ponho a cozinhar a mais gostosa comida já ingerida, se eu decoro um prato, se o carinho é dado, se o amor é passado, se o sentimento é visto, se as pessoas na rua se identificam, nada disso é mais ou menos do que a minha obrigação...
Mas o que eu ganho é um pouco mais de vozes altas no meu ouvido, outros estresses tais quais aqueles de ontem e de anteontem, e da semana que já morreu, e dos que virão amanhã e depois de amanhã. E são perguntas tão óbvias, atitudes tão bobas, pensamentos tão infantis que uma vez ou outra paro para refletir se vale mesmo a pena toda a dedicação que é dada até o exato momento da primeira frase que indica o próximo estresse.
A irritação não tem fim.
Minha paciência, sim.
P.V. 00:46 21/02/11

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Rua de matacavalos

Há pessoas, e diria isso com mais entusiasmo se quisesse, tem um povo que gosta de maldizer quem luta na vida pra alcançar seus respectivos postos de poder. O mundo não é mais o mesmo desde que crescemos, desde que fizemos essa questão toda de aparecer, de se moldar, de reestruturar os erros e partir para cima dos acertos, utilizando da melhor forma o que temos de melhor, e o que temos de pior também pois vez ou outra o que não agrada um determinado número de pessoas pode ser a maior felicidade de umas e outras.
Tenho dito.
O que não agrada pode satisfazer, pelo menos, depende de como se faz.
E eu não sabia nada disso, fazia nada disso, comia nada disso.
Meu tempo de tristeza teve seu fim no instante exato em que pude ver que o pior era o começo, quando conjecturei hipóteses a respeito de tudo que estava marginalizado, quando deixei de lado essa minha mania enorme de querer o melhor e comecei comendo o angu pelos lados do prato deixando a carne, centrada, pro fim, pra hoje, pra ontem, por que não??
Aqueles que ao meu lado estavam, e o que ainda permanece, lembram de cada uma das histórias, os passos únicos que uniram o passado ao presente, a rua de matacavalos que nunca existiu pra mim, os dois prédios velhos tendentes a cair a qualquer momento, o morro que levava à estação, qualquer um dos ícones pode se igualar, mas os fatos comentados no caminho, as transações incríveis, algumas lágrimas, todas as risadas perfeitas e felizes, o que fica é o sofrimento, apenas.
E sofrimento, desde que sofrimento real seja, é aprendizado.
Foi assim mesmo, então, caí de cara na vida pra que pudesse aprender tudo que eu já via uma galera mais velha sabendo, queria estar na frente de todo mundo, queria sofrer tudo que tinha que sofrer e não desperdicei nenhuma das minhas lágrimas; sim, chorei. Mas eu ria bem mais que chorava, as tentativas mil, todas as negações, fazia rindo cada um dos meus planos de sentimento, de futuro, de profissão, de dinheiro, de qualquer coisa, de livros a carros, de viagens a apartamentos, de mulheres a mulheres.
Não tinha a menor noção do que fosse tudo isso, nunca me imaginei em situações tais quais as que eu posso viver nos dias de hoje, nunca quis mais do que isso; ou será que quis, ou será que não quis pois não entendia ainda o que seria mais do que isso? Fato concreto é que posso bem mais do que isso, minha capacidade não esgota e não se esgotará jamais, apesar de tudo que falem, por mais que me digam ser insensível, despojado, relaxado, desinteressado, convencido acima de tudo.
Tenho gênio nenhum, tenho vontade nenhuma, sou o que sou, trato bem quem me trata bem, faço dos meus dias os primeiros, jamais os últimos, tenho ainda muito o que viver e a pressa nunca foi minha aliada, o mundo inteiro me conhece, mas sei que jamais conhecerei a fundo o mundo inteiro. O superficial é tão pouco interessante...
Não sinto saudade do que eu era. Minhas dores se transformam em estresse. Minha alegria se transforma em felicidade, mas só eu sei a chave da saída, só eu sei as válvulas de escape. Promessas que se fazem hão de ser cumpridas, tenho mais nada a dizer.
Lá se foi a ingenuidade.
P.V. 12:31 16/02/11

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O break

A casa caiu não se aplica muito bem aos termos que deveriam ser designados com respeito a situação financeira e emblemática que passo nesse momento. Diria-se melhor se assim fosse dito, que este autor que vos fala entrou em recessão. A vida consumista que o homem leva e as suas respectivas falácias de eterno poder econômico, a ganância de querer sempre mais, a gula, a fome, a busca pela perfeição e pelo melhor, a intenção extrema de querer agradar ao máximo quem se ama deixando de lado a vida saudável do seu próprio bolso, as responsabilidades diárias que vão se multiplicando de formas anormais por já não serem assim tão diárias, tudo isso um dia chega ao seu fim. Que bom que ainda não chegou em mim, mas admito que algo mudou e a situação está crítica, pra não dizer calamitosa. Se faltar dinheiro o amor inteira. Duvido hein... Se amor pagasse contas, o carteiro passaria longe lá de casa, seria tudo debitado antes mesmo de ser impresso.Tenho lá meus problemas, e já ouvi dizerem que todos os tem. Acostumei-me com essa idéia e fui me apegando a umas outras, tipo como quem tem padrinho não morre pagão, ou qualquer coisa parecida. Sei de cor que de todos os tombos se pode levantar, e tombos grandes não devem ser diferentes. O que me mantém tranquilo é a possibilidade, é a esperança, quase que uma certeza de que as coisas hão de rumar novamente para o bom lado de tudo e que o mundo me provará outra vez que está do lado do bem não deve temer jamais, pois o aprendizado só existe porque deve ser repassado, daí o motivo justo e claro de haver problemas na vida das pessoas. Comigo não poderia ser diferente. Desenrolei com o Homem lá em cima e Ele nada me prometeu, mas me ouviu, o que já me basta. Tenho um futuro pela frente, e um monte de coisas que precisam acontecer agora dependem da boa vontade de alguns milagres que hão de acontecer, então deito minha cabeça tranquilamente no travesseiro essa noite e nas seguintes porque sei que o tempo trará a solução e o medo do erro não assolará minhas madrugadas pois a verdade é mais forte que o pessimismo. Minha bolsa de valores quebrada irá voltar à tona bem mais rápido do que eu poderia imaginar, pois a chance e a dignidade do homem que é seu trabalho irão se juntar em meu propósito para que as coisas todas rumem numa estrada de notas verdes e cheirosas... Tem nada não. Vou dar um jeito nisso.

P.V. 23:03 10/02/11

Macunaíma X Peri

Algum homem sem pretensões quaisquer rabiscou um papel um dia desses e resolveu criar um herói sem caráter. Mas minha curiosidade é grande a ponto de querer entender tudo isso, de ir a fundo no papel do índio estranho que apaixona todas as mulheres que o cercam, o mito da violência e esse tipo de brincadeira estranha que dá prazer, e essa mística de mágica e sobrenatural que vem de dentro da floresta, a ganãncia por trocados, a pura e clara visão do que é ser brasileiro, malandragem sem limite de uma forma que ainda não absorvi, e seria tão bom se absorvesse logo...
Mas dos índios que leio, desde Ubirajara, Iracema, esse tal de Macunaíma, nada há de se comparar ao que me proporcionou Peri, do alto de sua forma física, da sua força animal, sobre-animal, do modo que brinca de matar onças na selva, a mesma onça que fez esse tal de Macunaíma tremer de medo e fechar os olhos ao ouvir seu gemido para não querer enxergar ser devorado; tolo por ser tolo, o gemido era de uma índia putinha qualquer. Peri o ensinaria a ser homem, o doutrinaria na santa arte da guerra, lhe diria palavras duras e lhe daria tapas na cara, lhe emprestaria sua roupa preta, ou seu arco preto, que seja. Peri lhe mostraria os caminhos a seguir e esses caminhos seriam, com certeza, os mais difíceis, pois índio rei de guerra de verdade não anda pela mata, Peri voava pelos galhos mais delicados das árvores mais podres. Peri o mostraria quão bela é a morte do inimigo, quão doce é o seu sangue derramado, Peri o ensinaria os gritos de vitória jamais cantados dessa forma assim tão despojada e cheia de ódio ou felicidade. Mas Peri o ensinaria também a amar, da forma que ele amou Ceci, sua deusa, princesa, dona de circo, que seja, mais linda do baile ou da favela ou da floresta, portuguesinha arretada de olhos da cor do céu, pele da cor das nuvens, cabelo da cor do Sol, Vei, a Sol, como diria o cara que resolveu escrever sobre o índio sem caráter, merdinha Macunaíma, que jamais chegará aos pés de Peri, guerreiro invencível na guerra e no sentimento.
Pois Peri tem para si os louros da vitória, tem na cabeça todos os planos para ser feliz ao lado de quem ama, e tem também todas as formas de vencer o inimigo salvando sua donzela e me atreveria até mesmo a dizer que Peri bolou toda aquela avalanche de águas e troncos retorcidos que desceu a floresta acabando com tudo pelo seu caminho somente para viver na eternidade na copa da mais alta árvore ao lado de Ceci no fim do livro, fim sugestivo, digam lá os críticos.
Macunaíma se importa mais em querer saciar seu prazer ao lado da índia que estiver mais perto de si, não se importa com idade, tamanhos, cores, belezas, parentesco, sua essência maior diz-lhe para não se arriscar no perigo e ir fundo na intenção de magoar os alheios.
Peri lhe ensinaria a ser homem. Mas não a ser homem branco, pois homem branco não é homem de verdade, homem branco usa arma de fogo para matar o inimigo. Peri usava o próprio corpo envenenado para combater na guerra, Peri dava conta de um exército inteiro em favor do amor que sentia por Ceci, bobinha desde sempre, virginal piranhinha fugida de Portugal quando o afetado Napoleão resolveu pular corda no quintal de seu castelo, qualquer coisa parecida, mas o fim mesmo é de que ela vive lá naquela casa dentro da floresta, cercada de paz e passarinhos que cantam aos seus ouvidos, mas Peri não entende nada disso, a inocência do guerreiro só se revela quando ele ama de verdade, e isso acontece só uma vez na vida, nem que seja preciso morrer após o fim do amor pra que não se ame de novo. Peri o ensinaria a ser homem de verdade...
Macunaíma e seus pudores, indiozinho escroto...
P.V. 23:23 10/02/11

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Monólogos de Salvador - II

Só de ouvir a sua voz eu já me sinto bem, sem medo algum, com todas as certezas da volta, do que eu devo fazer por aqui e do que eu sinto vontades de fazer por aí, da saudade que come cada vez mais, devagar é bem verdade, mas come, com fome, com gula, sem vontade de que acabe só pra prolongar nosso sofrimento. Mas seria esse um dos sofrimentos melhores que podem existir. As coisas que vejo por aqui passarão pelos seus olhos assim que eu puder sentar a sua frente e lhe dizer as maravilhas que enxerguei, do desejo louco que tive de te abraçar por trás e beijar sua nuca assim que o mar me veio à vista, de dividir o vento que acariciava meu rosto contigo...
Essa seria mesmo a hora do amor, a hora em que se fecham as portas por trás de nós e nos vemos cansados demais para qualquer outra coisa que não se faça deitado, a dois, pra que fiquemos ainda mais cansados e o sono seja o melhor... Paixão é pouco pro que eu venho sentindo longe de você, minha princesa.
Há quem coloque lado a lado os sentimentos, paixão, amor... mas a intensidade de uma paixão é bem ensurdecedora do que o amor eterno e plácido. Sinto seu perfume em cada esquina que atravesso, cheguei a ter certeza que você estava ao meu lado e estiquei a mão pra lhe sentir, esse cheiro da sua boca que me traz as melhores lembranças da estação passou por mim tão intenso nessa manhã que tive vontade de visitar o aeroporto mais cedo...
Disse algumas vezes que a viagem iria mudar tudo entre nós. Duvidei. Volto atrás a partir de agora. Com toda a certeza do mundo, e quando você se ver longe de mim pensará o mesmo, a viagem que traça toda essa distância mudou completamente o rumo do que se imaginava. Tudo agora é bem mais completo. Não há Salvador que me baste, se só você consegue me salvar do marasmo, do tédio, da inércia. Tenho a certeza de que és tu a mulher da minha vida, e como dói sentir sua falta, como é ruim não ter alguém que se ama para dividir os momentos que se vive.
E nem todos os presentes desse estado poderiam matar a saudade que eu sinto de ti, nem trariam de volta os dias passados distante do seu corpo, pois sua felicidade ao abrir as lembranças seriam somente naquele instante, o que eu sinto por dentro de alegria quando estás ao meu lado é pra sempre, é algo que não se troca por ter tamanho incompatível, até mesmo porque algo do maior tamanho que há como o nosso amor não poderia jamais ser trocado.
Minha preta, mesmo sem colocar meus joelhos no chão, rezo por ti todos os dias, não só aqui, mas em qualquer lugar que eu esteja. Quero sua felicidade, e acredito que Deus me deu a missão de fazê-la feliz.
Nunca na sua vida duvide do que eu sinto por você, nem tenha medos bobos, nem desconfianças exageradas.
Eu amo você e tudo que você é para mim.
P.V. 16:01 03/02/11

Monólogos de Salvador - I

Quiseram os deuses do destino trocar-me de aeroporto, mas não teriam a coragem de trocar-me de destino pra que a eternidade me desse mais uma vez motivos pra não me separar da mulher que amo. Quiseram os deuses que eu curasse por mais alguns minutos a falta que já ia me cortando os pulsos de dor fazendo aguardar ao seu lado numa fila que não tinha mais fim. Porém cada alegria vivente nesse mundo passa pelo holocausto, toda felicidade é revista em moedas que se viram e mostram sofrimento. O pincel de ver-te duas vezes pinta um quadro também de duas dolorosas despedidas. Que seja, o melhor não há de ser remediado.
Fato concreto é a saudade que, na minha humilde opinião, já iria dar suas caras, mas, ao contrário do que fora imaginado, chegou bem mais rápido. Não que seja uma saudade de beijos, de abraços, palavras meigas que soam perfeitas quando ditas ao ouvido numa dessas tardes só nossas, mas sim, a saudade de querer dividir cada momento, de lhe mostrar minha cara de medo quando o avião decolou e pude sentir Deus me puxando pelas mãos para ir ao seu encontro, de lhe dizer qualquer coisa sobre a pequena tela que iríamos vendo durante a viagem, ou das comissárias de bordo que falam como bonecas de luxo, a turbulência, o mínimo tamanho de tudo que esta lá embaixo enquanto estamos cá em cima... e seria tão melhor se fosse assim.
Mas essa saudade é boba. Tenho certeza de que os anos serão muitos, assim como todas as oportunidades que teremos de poder fazer cada uma dessas coisas; o que fica de bom é que a experiência mostra um ponto positivo. Já não farei tantas caretas de medo, e será a minha vez de rir de ti...
Duvidas do meu sentimento pois não ouve uma expressão que lhe digo a todo momento, sempre ao pé do ouvido, sem que ninguém ouça, só pra que tu saibas... grito baixo a minha felicidade pois a inveja tem sono leve; não queira acordá-la, minha princesa. De todas as formas possíveis, de línguas que não se escrevem, pessoas indiferentes a nós e tudo que nos cerca, gritos, palavras, textos, gestos, formas inenarráveis de lhe mostrar, e quem estava perto foi testemunha, quem tem olhos ainda é testemunha, ouvidos também o servem, e sabem de cor o tamanho do meu amor por você.
Não se iluda, muito menos sofra com a falta de palavras, minha linda...
São só teimosias da sua cabeça, as quais posso entender, as quais consigo entender. Mas saiba que sua saudade é a minha saudade, seu sentimento se multiplica quando enxergado dentro de mim, sua dor se exaure quando estamos juntos e assim também espero que aconteça com a minha, e que as horas voem, e que os minutos não sejam percebidos, que os dias não existam... e que o avião desça mais uma vez, que eu possa correr pros seus braços, pegar-lhe no meu colo, te ninar, te fazer minha, matar essa pressão dentro do meu peito que me enverga, me oprime, mas que ainda assim, me deixa feliz, pois o que é eterno ninguém tira, muito menos o tempo, que dessa vez, há de trabalhar ao nosso lado.
Se pudessem, minha palavras falariam mais alto pra que ouvisse.
Eu te amo.
P.V. 02:16 02/02/11