terça-feira, 30 de agosto de 2011

São Gonça? Babilônia? Micareta...!

Hoje à noite, a Brasil engarrafou, e eu fiquei a pé... tentei ligar pra você, a NEXTEL ficou sem rede, o rádio escangalhado, mas você crê se quiser.
Claro, nada mais justo do que nós, homens de bem, darmos as devidas satisfações àquelas que acreditam, ou dizem acreditar, em nossas sinceras palavras. Nada mais justo também que não creiam em misérias do que digamos, mas enfim, são tolas por natureza por acreditar, ainda mais tolas por desconfiar.
Quis assim, quis que fossem 'o tanto maior de ciumentas' que pudesse existir e hoje em dia me arrependo amargamente do que plantei no passado; não pelas histórias que foram escritas e o aprendizado que dá piruetas dentro da minha memória, mas pelo escândalo proporcionado pelos sete cantos do mundo onde me esfreguei, frenético e faminto, como fosse a hiena sorridente mastigando carnes podres de urubus que, em seus espíritos malditos, ainda rodeiam minha cabeça, minha casa, meu habitat, mexem com os brios do presidente o fazendo pecar muito contra sua vontade.
Porém, o que há é o que vemos e o que não vemos, diz-se que não existe. Assim age o coração com relação aos olhos e não sou eu quem dirá que essa colocação é falsa.
Fui por ali numa dessas micaretas perdidas no templo do amor que sempre foi meu palco principal de exibição, quando chegava, serelepe e alterado, quis Deus que eu não tivesse carro ainda, a garrafa de vinho na mão esquerda, uma caneta na direita a fim de riscar no chão um traço torto para cada uma das conquistas que se desse naquele dia, e ao fim da noite poderiam dizer que a terra fora arada...
Não que a vida se resumisse aos eventos maravilhosos desenrolados na terra fofa da igreja da paixão momentânea, mas por lá, como um octógono aleijado, esfreguei meu corpo suculento nos sente cantos daquele que eu dizia ser meu mundo. E se gritaram de prazer ou de nojo, não sei, o resto da população que me cercava ficava sabendo e como é de se fazer desde os tempos de vovô menino, perpetuaram as informações entre os seus...
Que sejam esses que me cercam adeptos da fofoca... sempre quis que meu nome ecoasse na boca alheia, sempre quis ressoar nas cabeças de quem não me admirava ou invejava, ego elevado e convencimento eram minhas melhores armas para o tédio no tempo que me deixa nostálgico... porém as conseqüências são medidas no futuro e hoje, quando pára a Brasil, o rádio me deixa na mão, talvez eu esteja mesmo num desses prostíbulos sujos, embriagando minha saúde aos goles do chopp mais gelado, afirmando com todas as palavras que caibam em meu vocabulário que as meretrizes largadas por lá são filhas legítimas dos irmãos de minhas mãe, minhas primas... a casa é delas, afinal.
Mas quem dera, Deus meu, quem dera se fossem essas as músicas que tocassem naquele tempo em que as batidas vinham de lados desconhecidos, de caixas tão enormes a esconder o segredo mais sincero por trás de seu barulho infernal, como se quisessem deixar guardadas atrás da equipe, os baús de moedas de ouro como num arco íris multicor, relembrando de leve aquela blusa verde, quando do céu despencou-se toda a água que Pedro guardara, quando Deus resolveu secar um pouco do chão com raios de Sol, e surgiu, mágico e incrível, o fenômeno mais belo da natureza, provando pelas forças do firmamento que seria mais um evento perfeito a nos coroar com histórias mil e saudades milhão.
Quiçá, e quiçá é palavra tão bonita que há de ser também de bom grado e superstição, nascerão outros dias tão intensos quanto aquele e serei obrigado mais uma vez a ficar parado na Brasil, rádio defeituoso, NEXTEL maldita...

Chamam-me Paulo Victor, saudoso adorador das micaretas e afins, começo de noite de terça feira de muita labuta, fim de agosto, dois mil e onze.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Exploda coração

Deve ter sido isso mesmo, uma vez que o pensamento, quando acomete o homem no instante que antecede o sono, não se deve levar muito em consideração, porém essa vontade estranha de querer abordar o assunto não saiu da minha mente tornando-se mais forte do que o ato de dormir, pus-me então de pé para depois sentar-me e tagarelar sozinho com o branco do papel a fim de que saia de mim essas possibilidades e esses prováveis erros de percurso, onde o percurso já se faz perdido...
Devo procurar algo útil e cansativo para me perder, para que eu possa gastar meus tempos vagos, enfim o descanso do rei chegou ao fim e é tão estranho quanto contraditório, uma força muito grande por dentro ansiava loucamente para que isso acontecesse, e por outro lado, uma fraqueza muito imensa no fundo do meu peito força minhas intenções a continuar aqui deitado ou sentado ou mentindo... sempre dá no mesmo.
Acabo por me fazer dono de mim mesmo sem saber que a grande verdade nunca será dita, nunca será abordada, não por uma falta de vontade de dizê-la e sim pelo fato simples de que essa verdade não existe... nem existirá.
E sei também que o nada é só a ausência de tudo, a espera lenta de que alguém o contenha, o vazio a suplicar por ser preenchido por qualquer coisa que haja por perto, o sentimento de ódio que se apaixona pelo amor e o quer dentro de si, a justificativa da guerra em dizer que é produto da paz...
tudo se equivale, todos os nadas juntos já formam alguma coisa perto de tudo e o resto se resolve com o tempo.
Quis, aqui ou ali, resolver uns problemas que não me competiam; desisti, por fim. Dizem-me ser maduro demais, enquanto ao mesmo tempo criticam-me em demasia na infantilidade com a qual encaro algumas das realidades do destino; soube perdoar, mas não serei idiota o suficiente a confiar outra vez. Até mesmo porque não há mais espaço e tempo para o sentimento, o amor não faz mais morada no coração de quem larga de mão a esperança, a paixão não queima mais quando o combustível da confiança se esvai, se esgota, corre junto à sarjeta rumo aos ralos mais sujos que possa haver...
E me vêm os eventos na mente, e penso nas possibilidades, e vejo as histórias sendo escritas, e vejo os fãs se aglomerando novamente, e vejo os elogios, e assobios, como já vão voltando e mudando meu sorriso, tudo isso junto fazendo do meu atual nada um pouco mais recheado... serão pés que caminharam na lama fofa do templo do amor, explodindo cada passo com o sentimento vagabundo da mentira que sempre fora característica minha e de mais ninguém e me dói tanto o ego quando encaro concorrentes querendo mentir mais do que eu... fazer o quê...?
Dormi e acordei com as mesmas convicções na cabeça e, dessa vez, tenho toda a certeza de que as balas perdidas terão fim certo, fim fatal, flerte com o vento que lhe muda sempre a trajetória, desviando de cabeças alheias para caber exatamente no peito de seu destino final, nascendo morrendo, tomando seu corpo, então, eu sofrendo, gostando adorando, gritando, analisando, por fim o fim, fim fatal, a sede do chão que é saciada pelo sangue do sentimento que há de molhar o solo, a verdade da vida que é a liberdade, pois no momento dos créditos subirem na tela escura, enxergarão, todos os mortais insistentes por me criticar depois da decisão, que fundamental mesmo é a aventura e, ao sair do cinema, haverá por lá um tapete vermelho, digno de abrigar meus pés na caminhada rumo ao desconhecido em busca de felicidade, plagiando esse que vos fala...

Chamam-me Paulo Victor, vinte horas e trinta e um minutos, dia vinte e quatro de agosto, dois mil e onze.

Vendendo canetas na entrevista

Hoje estamos aqui reunidos, queridos, para que possam ver, com seus próprios olhos, a maravilha do novo mundo, um produto de alta qualidade que há de revolucionar as mentes brilhantes desse nosso tempo, a maior facilidade, maciez ao deslizar pelo papel, botando o preto no branco e fazendo brotar do rascunho as verdades e novas idéias salientes e tendenciosas por mudar a sociedade.
Trago-lhes a caneta!

O diferencial que faltava em vossas vidas, o poder maior que cabe na palma de nossas mãos abraçada eternamente pelos dedos quentes que a protegem de qualquer mal e a fazem como fosse um de nossos filhos, escorregando suave e bela pelas superfícies mais intrigantes que possamos imaginar, riscando linhas e curvas, letras e símbolos, formando, incessante, as frases que hão de ficar para a posteridade!!
Dura até acabar!
O lápis é papo do passado, a pena está ultrapassada, a passagem das idéias via oral é algo que nem sequer está documentada, o novo mundo precisava de um produto tal qual esse, a caneta, maravilha criada pelo dinamarquês Pen Silver vem para revolucionar o modo de escrita no ocidente e oriente...!
Peguem, peguem todos, demonstrações grátis, na minha mão...
Pensarão, os senhores, que o preço está muito baixo e não condiz com a qualidade do produto vendido, porém, a validade é até o ano de 2015 e juro pela minha sogra mortinha que o que vendo não é roubado; talvez, uma vez ou outra, o caminhão tenha tombado lá perto de casa, nada mais sério do que isso.
Poderia, eu, estar fazendo coisas erradas, tais quais "traficano", "corneano", "vendeno" meu corpo nas esquinas, mas não, estou aqui, oferecendo o item mais essencial na vida de quem quer crescer na carreira, na vida de quem precisa anotar seus compromissos, na vida de quem sai pra balada e precisa anotar o número da gostosa que está dando mole perto do bar, na vida de quem caminha pelas ruas e de repente tem uma inspiração avulsa e precisa escrever as idéias para não esquecer depois, pra aquele supersticioso que aposta toda semana no Rio de Prêmios e não tem uma caneta pra escrever seu nome e endereço a fim de quem possa receber o que há de ganhar, e há de ganhar com mais veemência se escrever com essa caneta que trago hoje, produto de primeira.
Primeira caneta que não traz em si os preconceitos da sociedade.
Podem usar, tanto os destros quanto os canhotos!
Quem mais vai querer, a madame aqui vai levar meia dúzia...

Chamam-me Paulo Victor, o melhor dos melhores nas entrevistas onde entrevistadores despreparados pedem para o entrevistado vender canetas, noite alta de quarta, pré jogo do Flamengo, agosto, dois mil e onze.

A nova Bíblia

Quando você pega a bíblia, o diabo tem dor de cabeça. Quando você abre, ele tem um colapso nervoso. Então você começa a ler, ele desmaia. Aí você começa a vivê-la, ele foge. E quando você estiver prestes a pregar essa verdade entre seus irmãos ele tende a querer te desencorajar...

Não vou dizer que não sigo as palavras do Livro Sagrado, da mesma forma que também não mentirei dizendo que sigo. O que fica, pra mim, é o convencimento.
Sim, o convencimento de que as palavras conseguem transparecer em forma de opinião, a melhor delas, diga-se de passagem, de que a vida só é vida se for pela palavra do Senhor, que a salvação está Nele e nada mais é tão importante quanto Lhe servir e deixar de lado todos os pecados, ditos ruins.
Tenho cá minhas próprias idéias a respeito dos pecados, as quais poderia dar mais ênfase do que já dei em colocações anteriores, mas não cabe aqui, ainda, discussão como essa. Se fosse eu, o autor da Bíblia, e vão me criticando por aí os que estão me lendo, alguns fanáticos julgando-me blasfemador, a escreveria de forma diferente, tiraria coisas que considero um tanto quanto desnecessárias, acrescentaria muito mais poder à Deus, faria as terem sido muito mais difíceis do que pareceram ser... por exemplo, esse papo de fazer tudo em uma semana é muito surreal, cara...
Faria eu, se Deus fosse, afinal foi em nome de Deus que escreveram, com a força de Deus lhes penetrando o peito e transparecendo em formas de palavras, as quais lemos hoje em dia, em, pelo menos, um mês todo o universo, dando muitas características avulsas para cada uma das estrelas, e escreveria eu mesmo um livro para cada uma delas, como se aquilo houvesse me dado um trabalho incrivelmente enorme, e nomearia cada uma delas, todas as galáxias, todos os planetas; deixaria no ar um pouco de suspense sem dizer de imediato se haveria ou não vida num outro lugar, pra fazer esse ciuminho nos humanos que se acham muito especiais, e sim, aí sim, adentraria na enciclopédia especial para o nosso planeta, diria devagar como tudo foi confeccionado, jamais me daria o luxo de um dia de descanso na semana, trabalharia arduamente, quem sabe plantões de 36 horas...
Poria fim, então, a essa idéia de Adão e Eva e toda a safadeza do Paraíso, conversas moles sobre cobras traíras e maçãs podres. Abordaria a verdade, por quê não, ô Deus??
Diria, eu, que a mulher, perfeita por assim ser, tal qual Angelina Jolie, essa nossa feita a partir da primeira forma já criada, saíra da minha costela, e nós, em nosso ninho de amor, nas nuvens mais fofas ao som das harpas de uns de meus melhores anjos, os mais nerds, propagaríamos a civilização, jogando no mundo, de dúzias em dúzias, pessoas de todas as etnias, sexos e credos, ao fim de cada sessão de amor; e esse amor eterno, intenso até os dias de hoje, pois o homem que deixa uma mulher tal qual Angelina sozinha numa cama de nuvens não pode ser considerado Deus, vai povoando ainda o planeta.
Tudo isso eu acrescentaria nas Bíblias, e não teria vergonha de pregar essas verdades nas Igrejas, não teria vergonha de subir ao altar, o livro na mão, os fiéis na minha frente, sermões tão intensos que sairiam chorando, todos aqueles crentes de bolsos vazios, corações cheios, fé renovada...
O mundo não me cabe mesmo... seriam guerras religiosas em todos os cantos se essas verdades fossem reveladas...
Quisera eu povoar o mundo... papo pra outros bares...

Chamam-me Paulo Victor, começo de noite de quarta feira, fim de mês de agosto, dois mil e onze.

O guloso

Pois se disse o poeta desconhecido que não tem preconceitos, odeia a todos igualmente, não poderia eu, nesse ínterim de monólogo, afirmar o mesmo pois estaria mentindo e a mentira não faz parte das minhas colocações, bem miradas e acertadas, a ponto de atingir úteros e afins.
O problema é que quando jovem sempre fui mesmo muito guloso, já sabia desde cedo que o melhor não era o que eu tinha; que o vizinho tinha um quintal maior que o meu e brincar lá talvez fosse mais interessante que brincar aqui.
A comida?
Talvez fosse o cheiro da comida que vinha de estranhos lugares muito mais gostoso do que o perfume habitual da cozinha de mamãe e isso me deixava com mais fome assim que o prato havia desaparecido, assim que a sobremesa não ocupava o espaço do meu estômago, assim que a saudosa Coca Cola de litrão esvaziava misteriosamente...
E todo o resto pode se enquadrar na missão que venho dissertando; o mundo inteiro é muito pouco quando não nos pertence e, se num dia desses qualquer, vier a caber em nossas mãos quereremos uma dessas galáxias perdidas por aí só pelo simples fato de abordar a verdade de dizer que possuímos tal coisa, maior ou melhor, ou diferente...
Não tenho pressa alguma de querer conquistar todas as coisas que me rodeiam mas a vontade existe e vou matutando devagar cada uma das possibilidades pra que consiga fazer que os meus últimos dias de vida sejam os melhores possíveis e que todos os objetivos cultivados enquanto jovem sejam alcançados no futuro próximo que o destino me reserva...
Sou desses, guloso por natureza e com os olhos grandes naquilo que ainda não me pertence só pra provar a mim mesmo que tenho a plena capacidade de esticar meu braço e agarrar o desejo do momento, como fosse a vida uma eterna micareta, relembrando fatos que derrubam minhas lágrimas, onde cada curva, cada esquina, cada passo é um novo instante a ser descoberto e uma história a ser contada, quem sabe agora, quem sabe quando ouvidos houver por perto....
Sei que me perco nas minhas palavras mas não é nada que me faça ficar preocupado nem coisa alguma que me faça mudar a forma de abordar a realidade. Faz tempo que não escrevo pra que me leiam, então estou aqui sozinho, hablando comigo mesmo para que as verdades de amanhã sejam contrapostas com as de hoje formando, quem sabe, alguns paradoxos que me levem a alguma conclusão interessante...
Chupei chupeta até os sete anos de idade por já prever que a vida me aguardava e tinha pra mim coisas muito boas, inclusive algumas que eu poderia coloca na boca. Sei que o futuro sempre está pronto pra mim e os sinais caem do céu a todo instante me provando que estou certo, que o equívoco foi deixado de lado, que moedas sobem e descem a todo momento pra eu que saiba enxergar e enfrentar o caminho certo, o caminho bom, a melhor saída para os problemas, o melhor pulo para os obstáculos, a melhor palavra que bata de frente com as indiretas, com as críticas, com as acusações infundadas, com as brigas e verdades que contam aos ouvidos de quem não está ainda preparado para as ouvir.
Mas vou continuar nesse ritmo, analisando o que está próximo pra que eu saiba entender a virtude do que não me pertence e alcançar esse intento, ainda que demore, ainda que o mundo gire algumas vezes e eu tenha que ver nascer e morrer anos; o que é meu será meu sempre, e não terei pressa de esticar meus braços, ou quem sabe abrir minha boca...

Chamam-me Paulo Victor, começo de noite de quarta feira, fim de mês de agosto, dois mil e onze.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Atrás da porta

Quando olhaste bem nos olhos meus /E o teu olhar era de adeus /Juro que não acreditei, eu te estranhei/ Me debrucei sobre teu corpo e duvidei /E me arrastei e te arranhei /E me agarrei nos teus cabelos /No teu peito, teu pijama /Nos teus pés ao pé da cama /Sem carinho, sem coberta /No tapete atrás da porta /Reclamei baixinho /Dei pra maldizer o nosso lar /Pra sujar teu nome, te humilhar /E me vingar a qualquer preço /Te adorando pelo avesso /Pra mostrar que ainda sou tua...

Fosse ou não fosse essa, a melhor maneira de mostrar algo a alguém, a transformação do normal já seria, no mínimo, o suficiente para mudar também a perspectiva de previsibilidade que enterrou-se na cabeça do autor, ou na minha, e se o suficiente não fosse, pelo menos, seria um motivo a mais para se acostumar com a tal dor enorme que acomete esses enfermos apaixonados jogados pelo mundo, perdidos em cada esquina...
Quisera Deus que fosse eu o pilar contrário, nesse momento, do que dizem os benditos defensores da poligamia, dos defensores também da monogamia, defensores outros das idéias oferecidas aos goles do mais gelado chopp, as melhores idéias, diga-se de passagem, de que a idade é base do futuro e não se deve discutir com a imaturidade que provém, infelizmente, da falta de experiência, característica primeira daquilo que me cerca. Quis bem, Deus?
Mas é assim que vão as histórias.
Loucas e insanas, correndo atrás de seus respectivos homens com unhas e dentes, mordendo o que acham que lhes pertence, cometendo erros grotescos nessa empreitada, e conjecturando possibilidades de bons conselhos alheios (e se fossem bons, conselhos seriam vendidos), abordando verdades que são tão podres quanto previsíveis mentiras, sete ou mais facas na mão não para dar cabo da vida do amado e sim de si próprias, ou que venham então com as cartelas de vitamínicos para sofrer com a morte agonizante de uma incrível dor de barriga no fim do dia, substituindo uma mazela por outra, o coração esquecido pelos nós nas entranhas... cada um colhe o que planta; o quadrado que lhe diz respeito não tem nada a ver com o meu.
Há de reclamar baixinho, me humilhar, falar mal de “tudo que já foi vivido”... é da idade, tudo se perdoa...
E se perguntado fosse, admitiria que não faria diferente. A vida é um grande jogo onde, por vezes, entramos sem sermos convidados, porém brincamos até o fim sem pensar nas conseqüências, pagamos um pouco caro pelas nossas apostas mal sucedidas, entramos em lugares difíceis de sair, assassinamos alguns bichos nesse caminho, atropelamos idéias, abordamos planos, e no instante perfeito do game over, chegamos até mesmo a desperdiçar lágrimas em vão não levando em conta o quão bom foi o divertimento do jogo... mas as novidades estão aí pra isso, lançamentos seguidos provando que um biscoito só é comido pra dar lugar na boca para o próximo.
Dizem, e concordo nessa afirmativa, que a canção reflete o destino. Adiciono um pouco mais de verdade. O destino inspira a canção...



Chamam-me Paulo Victor, ouvidor das canções de Buarque, meio de tarde, dia vinte e dois de agosto, dois mil e onze.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Verdades no cursinho de inglês

Mas darling, eu prometo que essa é minha última xícara de café. Vou arrumar um trabalho, levantar da cama, parar de escutar música enquanto escrevo os books do meu futuro. Honey, você tem que entender que my life está cada vez mais intensa e não são somente os plantões noturnos que irão alimentar a família. Você também tem que procurar um work, ocupar your mind, parar um pouco de perturbar a minha própria mind.
Fiz meus sacrifices para chegar onde cheguei, acordava muito early para desempenhar todas as responsabilidades que a vida me oferecia, e repare na colocação; a vida me oferecia, jamais me obrigava. Fi-lo porque qui-lo e continuo fazendo até que o limite do sky seja ultrapassado. Sei de cor que my intentions serão alcançadas nos instantes exatos que minha vontade se fizer, sei que posso andar sozinho pelo world, ainda que afirme a some people que seja mais fácil chegar no destino andando a dois, porém se os passos não forem coordenados, darling, os dois caem, estatelam-se ao chão, kissing o solo para não se levantarem never again...
To sing the song
numa única voz talvez soe better do que essas duplas sertanejas perdidas no espaço de nossas estações de rádio, maybe eu comece a pensar this way, maybe eu continue pensando como antes.
As coisas não vêm fáceis para quem pretende muito.
Deixa minha xícara de café aqui...
Conversei with a few people e não cheguei a conclusão alguma que fosse diferente do que eu já sabia, não abordei idéias contrárias àquelas que já viviam na minha cabeça, não mudaram minha opinião, reforçaram o que eu tinha inside.
Já havia lhe dito about os percalços que o caminho poderia oferecer, mas parece que nothing entra na sua mente, parece que está closed para as coisas que vêm de mim, não sabe como acreditar nas trues que lhe digo, não consegue absorver que o futuro não é yesterday, não mede the size das circunstâncias, do esforço que only one vai fazendo para que tudo se acerte, e in the end ainda sou obrigado a ouvir palavras e lies e gritos tão grandes que chegam a doer-me os ouvidos a ponto de fazer-me não querer mais escutar anything.
Love and hope são coisas que não andam mais juntas, não se pode mais acreditar nas coisas que o destino reserva.
Darling, a partir de now, vou sonhar sozinho, vou planejar sozinho. Se a xícara de coffee na minha mão pertence a mim, you não tem que opinar quanto a isso. Se as 24 hours de trabalho são minhas, you don’t have to know if eu estou fazendo alguma coisa considerada wrong.
I started a pensar nas pequenas atitudes, nos modos que não mudaram de tão pouco time ago, e que, de fato, não mudarão daqui pra frente, pois algumas weeks é muito pouco quando se aborda as intenções de eternity.
Darling
, não creio mais nas suas palavras, nem nas suas promessas. Isso é coisa feia, coisa ruim, mas has to be dito.
Enfim, vou levantando, colocando a xícara de café na pia, dando seqüência aos fatos, quem sabe eu precise de um novo emprego, a brand new work, I need more money, preciso de mais crédito, preciso de mais hope, mais happiness, preciso de mais ar puro, preciso tomar atitudes drásticas, como era de praxe nos tempos de vovô menino...
Bye..

They call me Paulo Victor, adorador de cursinhos de inglês, Thursday night, quase vinte e uma horas, two thousand eleven...

Lecionando as mentiras

O lado que nasce o Sol é onde bate meu coração e João sabe disso. Tanto quanto que o tal do tempo andou mexendo com a gente...
Mas são só suposições da canção, nada de mais, querido leitor. Analisem como queiram, olhem-me com quaisquer olhos, me julguem quando for necessário, mas nunca, jamais, em hipótese alguma, joguem na minha cara as letras e as idéias que as músicas libertam assim que são interpretadas pelos nossos melhores homens... pois eu sou um eterno fraco, somente admirador, um tanto quanto plagiador das melodias que me cercam os ouvidos, dedilhando devagar meus tímpanos, transpassando diretamente para o papel as opiniões formadas pelas composições.
E os homens de bem que bem me conhecem, podem, enfim, enxergar o que é ser eu.
Podem, se assim quiserem, acampar suas barracas no quintal das minhas palavras tentando um contato maior com tudo que exala de mim, podem ouvir palavras ditas em madrugadas inteiras quando o ócio da labuta nos obriga a gritar, podem ser um pouco menos egoístas com seus respectivos egos e deixar a mente aberta a novas idéias. Um tanto muito grande de evolução nasceria nos corações alheios, quantas e quantas mulheres, inumeráveis fêmeas a se debaterem silenciosas, a deliciarem-se com a notícia de que estariam, seus respectivos machos, absorvendo, como grandes OBs enfiados no útero de minha cabeça, a sabedoria e sagacidade adquirida durante todos os poucos anos que já passaram por mim, e soltariam seus gritinhos escandalosos, repetindo feitos antigos, de felicidade; e eu não teria a mínima vontade de cessar essa transmissão de conhecimento, essa divisão de saber que é a base mais pura da minha caminhada, os desafios que imponho a mim mesmo superando a cada segundo as forças do corpo, me pondo à prova, no Sol ou na chuva, como fosse um eterno pára-raios incorporando no peito uma energia cada vez maior assim que as tempestades me explodem...
Sonhei acordado.
Quereriam, e só não querem porque ainda não pensaram na possibilidade, que fosse, tudo isso, a mais pura verdade, homens e mulheres de todas as idades possíveis; dos mais jovens aos idosos, esses últimos inclinados à falta do amor insano e intenso que só acomete os seres viventes na melhor idade, e como queria eu estar na melhor idade.
Muitas das coisas que acontecem só acontecem porque eu quero que aconteça. E quando me ouvem julgam as idéias muito atrasadas, os silêncios muito alongados, a evolução das frases, por vezes, mais adiantada do que o próprio entendimento de quem se põe, ou se opõe, a ouvir. Sento num trono qualquer e com o microfone natural da vida que são os ouvidos alheios, discurso por horas sobre quaisquer assuntos pertinentes à saúde emocional, o amor, a paixão, a tristeza, a dor, a felicidade, a saudade... e quando toco na saudade me transfiro de esferas, saio do trono para o palco; dramatizo em demasia, me vejo na personagem, mato a mim mesmo como fosse um viciado em busca da sua melhor droga, a mais pura cor da nostalgia é tão branca quanto o pó de primeira que adentra nos narizes dos dependentes... e dependo tanto das minhas memórias que talvez seja esse o propósito das palavras, eternizar para o futuro as experiências que vivo hoje.
Ando escrevendo tão pouco.
E se assim quiserem, se o sonho vier à realidade, faço de minhas palavras escritas, músicas a emocionar os ouvidos do mundo inteiro, uma contagiante fascinação de anos e anos de verdades e algumas mentiras bem sinceras.

Chamam-me Paulo Victor, começo de noite dessa quinta feira que nada promete, agosto de dois mil e onze.

O alienista

Em Copacabana, essa semana, o mar sou eu.
No Corcovado, quem abre os braços sou eu.

E se quiserem chamar-me de Deus , também não direi que estão blasfemando. Sejamos quem quisermos ser. Loucos são os que discordam de quem tem a absoluta razão naquilo que fazem, naquilo que pensam.
Loucos são os que não têm perspectiva de futuro, não planejam sonhos exagerados, não vão dormir com sentimentos estranhos na cabeça, loucos mesmo são esses que não correm, que brigam que gritam que se estressam, loucos são os que não têm graça, não têm humor, loucos são aqueles que não acompanham os mais felizes, não por uma vontade plena de querer acompanhar alguém ou seguir passos, mas por poder absorver um pouco da alegria alheia, semear sorrisos, dividir as histórias, agir como loucos mesmo não os sendo, loucos são os reservados, os medrosos, os que não arriscam, os que não gastam, os que não beijam com língua. Loucos e insanos são os homens que passam pelo mundo e não deixam nada pro futuro, aqueles que atuam no recatado ambiente de um lar, aqueles que semeiam a muda do amor no coração de uma única pessoa, aqueles que não tiveram que chorasse de saudade ou de tristeza por eles, aqueles que não adquiriram a experiência da conquista abordando números, fazendo a estatística crescer, atolando de nomes os arquivos virais.
Disse o Raul, maior dos malucos beleza desse tempo, que só são felizes os que não amaram, e equivoca-se na sua acertada afirmação, pois se amortizam-se de dor, são loucos, e se não sentem o fogo desse incrível sentimento queimando dentro do coração também hão de ser internados nos manicômios do mundo. Loucos são os que não amam, loucos são os que amam, loucos e devassos são os que só amaram uma vez, mentirosos são os que dizem ter amado mais de uma vez.
Certo direis de ouvir estrelas, certo perdeste o senso e vos direi no entanto, enquanto houver espaço corpo e algum modo de dizer não, eu canto. E continuo afirmando e enunciando os loucos desse meu tempo.
Loucos são os que não sentem as dores no corpo de um contato intenso com a natureza, loucos são os que deixam passar os melhores momentos da vida nos locais mais belos que podem existir por estarem cansados, loucos são os que ligam mais de uma vez para ouvir a mesma coisa, loucos são os que ligam, uma vez que podem se ver, loucos são os que não beijam de língua, mais uma vez só pra salientar que pelo telefone não há troca de saliva, loucos são os que não acreditam em si, os que não acreditam nas pessoas, os que não acreditam no Brasil, loucos são esses ridículos pessimistas, loucos são os que não riem dos pôneis malditos que moram dentro do motor do meu carro amado, loucos são os que não escutam as músicas boas que os nossos tempos nos deram, loucos são todos os outros diferentes de mim, são os que não concordam comigo nas minhas afirmações, são os que ficam me olhando de canto de olhos, são os que me odeiam, me invejam, são os que tentam ser iguais a mim, pois tão louco como eu talvez não exista, mas os loucos que se dizem loucos não são assim tão loucos, embora ainda precisem ser estudados e analisados pelas palavras que escorrem de meus dedos nas noites de café, nos monólogos intermináveis, nas madrugadas de trabalho, nas loucuras da vida...
Sinto falta da minha sanidade.

Chamam-me Paulo Victor, maior dos loucos, começo de noite dessa quinta feira que nada promete, agosto de dois mil e onze.

domingo, 14 de agosto de 2011

Sobre trilhas e heróis

São coisas assim que me tiram toda a falsa esperança, que me entristecem por estar fazendo tudo que venho fazendo, e é um erro tão grande da minha parte que me sinto mal comigo mesmo e com o rumo que vou dando à minha própria vida desde que meus sonhos tendam a se concretizar da forma equivocada, da forma que não me agradará no futuro...
Vazio.
É assim que eu fico quando me ponho a pensar nas histórias que estão sendo escritas e o quanto disso tudo pode se comparar às coisas que fizeram parte do meu passado, as antigas aventuras que eram eternizadas em tantas e tantas vozes e palavras e letras que mal caberiam num singelo livro dedicado a alguém.
Posso bem mais do que isso, essa minha certeza é que me coloca no chão, é essa minha convicção, esse meu atual esforço pela transformação que me dão ainda mais pena de mim mesmo, essa minha intenção plena de querer me livrar não me dá esperança alguma, me sufoca, me amarra ao pedestal que não sai do solo, não há heróis que possam mergulhar nessa água para arrancar, num último esforço de bravura, fazendo-me boiar para o infinito, lar do destino que me reserva ainda muitas aventuras...
Subir um morro não é nada. A única certeza que se leva disso é que dele há de se descer em um momento. E desde que coisa outra alguma seja colocada em evidência a não ser a certeza de que o fim se dará, o morro jamais irá vencer o mochileiro.
Pois não nasceste para mim, não nasceste para a aventura que corre no meu sangue, da luz das estrelas que não vi no céu até o brilho do mar ofuscado pelos raios do Sol, não mereceste o mérito de poder desfrutar desses prazeres da natureza.
O herói saberia o que fazer.
Mesmo que a onça terrível adentrasse em seu caminho, se Ceci a quisesse para si, se o mundo conspirasse e a guerra acontecesse todos os dias de formas diferentes, a sagacidade do herói põe em primeiro lugar a verdade da vida que é a capacidade interna que cada um tem de salvar a própria vida da morte terrível que nunca fora a física, e sim a mental. Tentem, vocês puritanos, prender um homem livre, um animal por assim dizer, tentem domar uma fera, um herói pra mim, tentem enjaular um leão das matas que vive por viver, utiliza-se de tudo que o cerca para improvisar, para crescer, para ficar mais forte, para alimentar seu amor ingênuo pela mais delicada e cretina mulher que poderia aparecer pelas pradaria da selva brasileira, ou que seja qualquer um desses outros lugares intensos que o mundo nos reserva.
Não me coloco no lugar de Peri, não saberia agir nem com um terço de seu poder, não poderia de forma alguma entreter alguém por tanto tempo, não salvaria uma mesma vida por tantas vezes, não seria adorado e odiado sem me opor, não passaria o resto da minha vida nessa subserviência eterna, não sei se conseguiria sentir todo esse amor que se espelha em pura dedicação, mas uma coisa eu digo. Traduzirei todo o seu esforço eternizando sua caminhada da mais intensa forma que as palavras me permitirem.
Eu poderia muito mais que isso, mas estou aqui tão preso quanto Peri poderia estar, a selva não me deixa sair por aí pulando de galho em galho, torturando onças como antigamente, fazendo corações chorarem de saudade sempre que passava por algumas das esquinas mais quentes dessa minha floresta, não sou mais o mesmo índio de antes, não me coloco em guerras que não são minhas só pra salvar o amor da minha vida, não entro em buracos malditos só pra dizer que lá estive, não acordo de madrugada e fujo da cela pra que me procurem loucos no outro dia...
Admiro de longe, e só.
Mas a realidade ainda pode imitar a ficção.

Verão.

Chamam-me Paulo Victor, fã de Peri, meio do mês de agosto, nove horas da manhã, dois mil e onze.

Absurda perfeição

E se a culpa é dos homens de bem, essa formosa e curta intenção de querer o que não lhes pertence, talvez eu tenha me excedido, essa coisa que está em lugares dos quais nossos braços não conseguiriam alcançar dados todos os obstáculos que se colocam do caminho longo que vai da nossa inércia até o erro provável; se for isso mesmo o que pensei agora, se for realmente essa a realidade da vida e não houver saída alguma para expressar a dor que acomete o bom no instante fatal que o destino nos reserva para morrer de ócio, então tiro de mim a culpa e coloco no firmamento que dá escolhas erradas a pessoas certas.
Seria muito fácil abordar aqui ou em qualquer outro lugar as culpas e conseqüências de cada um dos equívocos que um homem pode cometer durante sua vida, porém não é sobre isso que precisamos nos ater quando correm as lágrimas pelo rosto de quem nos ama. Ainda que desculpas sejam necessárias para amenizar uma dor, o que mais importa são as causas que nos fazem agir dessa maneira tão errada que a sociedade acostumou-se a aprovar, e vem nos contagiando desde outras gerações, umas bem piores que essa atual, a minha.
Quiseram, e ainda querem, que o mundo seja de uma forma da qual nada pode evoluir para o bem intenso, querem somente esse prazer do instante que sacia a fome de quem a sente, as pessoas andam e correm em sentidos opostos só porque um dia disseram que os diferentes se atraem, magnetismo furado, cada um tem o seu pensamento egoísta, enfiam-se em cubículos para conversar com aparelhos eletrônicos, já não olhamos mais nos olhos de ninguém, somos forçados à falsidade por não conseguirmos mais medir o quão de sinceridade se enxerga nas palavras que aparecem negras na tela branca de um computador, não compartilhamos as canções como no tempo de vovô menino, adentram nos ouvidos fones potentes que segregam a música somente para uma pessoa ouvir, as mensagens de amor não são mais divididas entre todos, e a perspectiva é ruim...
Não pensam, sequer, nisso tudo; vão, ou vamos, deixando os anos morrerem, um a um, vivendo o que fora encomendado pelas televisões e as sérias mais engraçadinhas, comemos todas as besteiras gostosas que existem só pra saciar um desejo que já está dentro dos ingredientes dessas mesmas besteiras, deixamos de lado toda a natureza para admirar fotos de pessoas em revistas onde a verdadeira beleza foi esculpida por um programa de computador, não caminhamos mais, não corremos mais, vamos à padaria de carro e a tendência é o crescimento, para os lados, e o mundo vai ficando cada vez mais redondo.
Ligaram, sem saber, um intenso forno elétrico no planeta e ele está derretendo. O que mais me incomodava no meu tempo de criança era um tal buraco na camada de ozônio que deixava passar uns raios ultra-violetas do Sol que causavam câncer de pele. Hoje em dia só se fala no aquecimento e não vejo o globo dando as mãos para cuidar da nossa terra; gastam bilhões tentando decifrar segredos de Marte e se há água ou qualquer outra coisa por lá só pra ir migrando de planeta em planeta, acabando um por um, dando seqüência à humanidade, pondo todos eles num microondas gigante, lançando essa poluição toda na atmosfera só pra encher os bolsos de quem está vivo agora. Esquecem que amanhã outras pessoas quererão viver também...
Tolice.
Vou à academia na esquina da minha rua de carro, como todas as besteiras gordurosas, assisto todas as séries americanas, as mais engraçadas e tristes, faço parte da população que utiliza os produtos das indústrias que aquecem o mundo, e até agora não criei nenhuma ONG pra fazer coisa alguma pelo futuro...
Mas pelo menos já escrevi um livro e plantei uma árvore.

Chamam-me Paulo Victor, eco-boy, fazedor de trilhas, adorador da natureza e assassino também, meio do mês de agosto, nove horas da manhã, dois mil e onze.

Guerra interna no campo de batalha da UCM

Veio a carta.
Antes dessa, outras já haviam chegado e encaradas com o mesmo desdém que essa também merecia. O conteúdo era outro, ainda que quisesse dizer o que dizia antes.
A guerra estava no seu ápice.
Muitos e muitos líderes sucumbiram, os soldados se mostravam perdidos no campo de batalha, os portões do templo foram tomados pelos inimigos, a derrota era dada como quase certa. Era necessário um presidente. E outra vez me convocaram.
Minha intenção e responsabilidade, dessa vez, falaram mais alto que qualquer tipo de razão ou emoção. Aquilo para o qual fui designado, essa força interna que nasceu comigo não pode ser deixada de lado depois de tantos anos. Sequer respondi a correspondência.
Fui eu mesmo alertar aos comandantes de terra que aguardassem por mim pois em breve eu daria o ar da minha graça elevando ao mais alto nível de poder essa estapafúrdia sociedade que não consegue caminhar por si só, desde o momento exato em que me meti numa confusão da qual tento me livrar até os dias de hoje sem sucesso.
Quiseram que eu fosse outras vezes; não me senti preparado. Hoje, mais maduro e resistente, vou elaborando todos os meus planos físicos e mentais para estar à altura do que me aguarda, vou definindo o que ia sobrando pela preguiça de tantos meses sem trato, vou escrevendo em segredo todas as histórias que devem ser contadas quando o mundo estiver pronto para me ouvir de novo, vou cultivando no coração das sementes algumas novas plantas, a flora perfeita e intacta que homem outro algum teve a coragem de semear, o presidente dá as caras justamente no momento em que mais precisam dele. E isso é o clímax da vida.
É verdade que toda revolução, assim como toda guerra, deixa cicatrizes e torna-se produto da paz; dessa vez não será diferente. As lágrimas que cairão rosto abaixo serão para alimentar a sede dos meus soldados deitados ao chão fulminados pela dor pungente conseqüente de cretinas que não souberam, ou sequer sabem, que aqueles homens têm sentimentos, e sentimentos esses que são regidos pela União mais ordinária que esse mundo já teve o desprazer de abrigar.
Voltaremos pior do que já fomos em outras encarnações, tomaremos como exemplo nossos erros do passado e aprimoraremos todo o saber em forma de convicção, que é necessária para a conquista rápida e infalível. Pobres os que duvidam, tolos os que maldizem, estúpidos e imbecis os que esculacham.
Pois se pés nós temos para chegar até os locais sagrados, pois se vozes nós temos para contar as mentiras mais bem elaboradas, pois se coragem nós temos de prometer aquilo que jamais cumpriremos, o mundo é nosso, e se quadrado quisermos que seja, assim ele o será.
Seu presidente se apronta para o fronte de batalha, a guerra entra em sua reta decisiva, o mundo se prepara para os piores dias que já viveu, o homem aquece os dedos e as mãos para começar a escrever a história que há de entrar para outros livros.
E que soltem as feras em cima de mim, pois eu não as temo mais.

Chamam-me Paulo Victor, presidente, começo de agosto, vinte horas e trinta e cinco minutos, dois mil e onze.