domingo, 14 de agosto de 2011

Guerra interna no campo de batalha da UCM

Veio a carta.
Antes dessa, outras já haviam chegado e encaradas com o mesmo desdém que essa também merecia. O conteúdo era outro, ainda que quisesse dizer o que dizia antes.
A guerra estava no seu ápice.
Muitos e muitos líderes sucumbiram, os soldados se mostravam perdidos no campo de batalha, os portões do templo foram tomados pelos inimigos, a derrota era dada como quase certa. Era necessário um presidente. E outra vez me convocaram.
Minha intenção e responsabilidade, dessa vez, falaram mais alto que qualquer tipo de razão ou emoção. Aquilo para o qual fui designado, essa força interna que nasceu comigo não pode ser deixada de lado depois de tantos anos. Sequer respondi a correspondência.
Fui eu mesmo alertar aos comandantes de terra que aguardassem por mim pois em breve eu daria o ar da minha graça elevando ao mais alto nível de poder essa estapafúrdia sociedade que não consegue caminhar por si só, desde o momento exato em que me meti numa confusão da qual tento me livrar até os dias de hoje sem sucesso.
Quiseram que eu fosse outras vezes; não me senti preparado. Hoje, mais maduro e resistente, vou elaborando todos os meus planos físicos e mentais para estar à altura do que me aguarda, vou definindo o que ia sobrando pela preguiça de tantos meses sem trato, vou escrevendo em segredo todas as histórias que devem ser contadas quando o mundo estiver pronto para me ouvir de novo, vou cultivando no coração das sementes algumas novas plantas, a flora perfeita e intacta que homem outro algum teve a coragem de semear, o presidente dá as caras justamente no momento em que mais precisam dele. E isso é o clímax da vida.
É verdade que toda revolução, assim como toda guerra, deixa cicatrizes e torna-se produto da paz; dessa vez não será diferente. As lágrimas que cairão rosto abaixo serão para alimentar a sede dos meus soldados deitados ao chão fulminados pela dor pungente conseqüente de cretinas que não souberam, ou sequer sabem, que aqueles homens têm sentimentos, e sentimentos esses que são regidos pela União mais ordinária que esse mundo já teve o desprazer de abrigar.
Voltaremos pior do que já fomos em outras encarnações, tomaremos como exemplo nossos erros do passado e aprimoraremos todo o saber em forma de convicção, que é necessária para a conquista rápida e infalível. Pobres os que duvidam, tolos os que maldizem, estúpidos e imbecis os que esculacham.
Pois se pés nós temos para chegar até os locais sagrados, pois se vozes nós temos para contar as mentiras mais bem elaboradas, pois se coragem nós temos de prometer aquilo que jamais cumpriremos, o mundo é nosso, e se quadrado quisermos que seja, assim ele o será.
Seu presidente se apronta para o fronte de batalha, a guerra entra em sua reta decisiva, o mundo se prepara para os piores dias que já viveu, o homem aquece os dedos e as mãos para começar a escrever a história que há de entrar para outros livros.
E que soltem as feras em cima de mim, pois eu não as temo mais.

Chamam-me Paulo Victor, presidente, começo de agosto, vinte horas e trinta e cinco minutos, dois mil e onze.

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