segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Atrás da porta

Quando olhaste bem nos olhos meus /E o teu olhar era de adeus /Juro que não acreditei, eu te estranhei/ Me debrucei sobre teu corpo e duvidei /E me arrastei e te arranhei /E me agarrei nos teus cabelos /No teu peito, teu pijama /Nos teus pés ao pé da cama /Sem carinho, sem coberta /No tapete atrás da porta /Reclamei baixinho /Dei pra maldizer o nosso lar /Pra sujar teu nome, te humilhar /E me vingar a qualquer preço /Te adorando pelo avesso /Pra mostrar que ainda sou tua...

Fosse ou não fosse essa, a melhor maneira de mostrar algo a alguém, a transformação do normal já seria, no mínimo, o suficiente para mudar também a perspectiva de previsibilidade que enterrou-se na cabeça do autor, ou na minha, e se o suficiente não fosse, pelo menos, seria um motivo a mais para se acostumar com a tal dor enorme que acomete esses enfermos apaixonados jogados pelo mundo, perdidos em cada esquina...
Quisera Deus que fosse eu o pilar contrário, nesse momento, do que dizem os benditos defensores da poligamia, dos defensores também da monogamia, defensores outros das idéias oferecidas aos goles do mais gelado chopp, as melhores idéias, diga-se de passagem, de que a idade é base do futuro e não se deve discutir com a imaturidade que provém, infelizmente, da falta de experiência, característica primeira daquilo que me cerca. Quis bem, Deus?
Mas é assim que vão as histórias.
Loucas e insanas, correndo atrás de seus respectivos homens com unhas e dentes, mordendo o que acham que lhes pertence, cometendo erros grotescos nessa empreitada, e conjecturando possibilidades de bons conselhos alheios (e se fossem bons, conselhos seriam vendidos), abordando verdades que são tão podres quanto previsíveis mentiras, sete ou mais facas na mão não para dar cabo da vida do amado e sim de si próprias, ou que venham então com as cartelas de vitamínicos para sofrer com a morte agonizante de uma incrível dor de barriga no fim do dia, substituindo uma mazela por outra, o coração esquecido pelos nós nas entranhas... cada um colhe o que planta; o quadrado que lhe diz respeito não tem nada a ver com o meu.
Há de reclamar baixinho, me humilhar, falar mal de “tudo que já foi vivido”... é da idade, tudo se perdoa...
E se perguntado fosse, admitiria que não faria diferente. A vida é um grande jogo onde, por vezes, entramos sem sermos convidados, porém brincamos até o fim sem pensar nas conseqüências, pagamos um pouco caro pelas nossas apostas mal sucedidas, entramos em lugares difíceis de sair, assassinamos alguns bichos nesse caminho, atropelamos idéias, abordamos planos, e no instante perfeito do game over, chegamos até mesmo a desperdiçar lágrimas em vão não levando em conta o quão bom foi o divertimento do jogo... mas as novidades estão aí pra isso, lançamentos seguidos provando que um biscoito só é comido pra dar lugar na boca para o próximo.
Dizem, e concordo nessa afirmativa, que a canção reflete o destino. Adiciono um pouco mais de verdade. O destino inspira a canção...



Chamam-me Paulo Victor, ouvidor das canções de Buarque, meio de tarde, dia vinte e dois de agosto, dois mil e onze.

Nenhum comentário: