O lado que nasce o Sol é onde bate meu coração e João sabe disso. Tanto quanto que o tal do tempo andou mexendo com a gente...
Mas são só suposições da canção, nada de mais, querido leitor. Analisem como queiram, olhem-me com quaisquer olhos, me julguem quando for necessário, mas nunca, jamais, em hipótese alguma, joguem na minha cara as letras e as idéias que as músicas libertam assim que são interpretadas pelos nossos melhores homens... pois eu sou um eterno fraco, somente admirador, um tanto quanto plagiador das melodias que me cercam os ouvidos, dedilhando devagar meus tímpanos, transpassando diretamente para o papel as opiniões formadas pelas composições.
E os homens de bem que bem me conhecem, podem, enfim, enxergar o que é ser eu. Podem, se assim quiserem, acampar suas barracas no quintal das minhas palavras tentando um contato maior com tudo que exala de mim, podem ouvir palavras ditas em madrugadas inteiras quando o ócio da labuta nos obriga a gritar, podem ser um pouco menos egoístas com seus respectivos egos e deixar a mente aberta a novas idéias. Um tanto muito grande de evolução nasceria nos corações alheios, quantas e quantas mulheres, inumeráveis fêmeas a se debaterem silenciosas, a deliciarem-se com a notícia de que estariam, seus respectivos machos, absorvendo, como grandes OBs enfiados no útero de minha cabeça, a sabedoria e sagacidade adquirida durante todos os poucos anos que já passaram por mim, e soltariam seus gritinhos escandalosos, repetindo feitos antigos, de felicidade; e eu não teria a mínima vontade de cessar essa transmissão de conhecimento, essa divisão de saber que é a base mais pura da minha caminhada, os desafios que imponho a mim mesmo superando a cada segundo as forças do corpo, me pondo à prova, no Sol ou na chuva, como fosse um eterno pára-raios incorporando no peito uma energia cada vez maior assim que as tempestades me explodem...
Sonhei acordado.
Quereriam, e só não querem porque ainda não pensaram na possibilidade, que fosse, tudo isso, a mais pura verdade, homens e mulheres de todas as idades possíveis; dos mais jovens aos idosos, esses últimos inclinados à falta do amor insano e intenso que só acomete os seres viventes na melhor idade, e como queria eu estar na melhor idade.
Muitas das coisas que acontecem só acontecem porque eu quero que aconteça. E quando me ouvem julgam as idéias muito atrasadas, os silêncios muito alongados, a evolução das frases, por vezes, mais adiantada do que o próprio entendimento de quem se põe, ou se opõe, a ouvir. Sento num trono qualquer e com o microfone natural da vida que são os ouvidos alheios, discurso por horas sobre quaisquer assuntos pertinentes à saúde emocional, o amor, a paixão, a tristeza, a dor, a felicidade, a saudade... e quando toco na saudade me transfiro de esferas, saio do trono para o palco; dramatizo em demasia, me vejo na personagem, mato a mim mesmo como fosse um viciado em busca da sua melhor droga, a mais pura cor da nostalgia é tão branca quanto o pó de primeira que adentra nos narizes dos dependentes... e dependo tanto das minhas memórias que talvez seja esse o propósito das palavras, eternizar para o futuro as experiências que vivo hoje.
Ando escrevendo tão pouco.
E se assim quiserem, se o sonho vier à realidade, faço de minhas palavras escritas, músicas a emocionar os ouvidos do mundo inteiro, uma contagiante fascinação de anos e anos de verdades e algumas mentiras bem sinceras.
Chamam-me Paulo Victor, começo de noite dessa quinta feira que nada promete, agosto de dois mil e onze.
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