Deve ter sido isso mesmo, uma vez que o pensamento, quando acomete o homem no instante que antecede o sono, não se deve levar muito em consideração, porém essa vontade estranha de querer abordar o assunto não saiu da minha mente tornando-se mais forte do que o ato de dormir, pus-me então de pé para depois sentar-me e tagarelar sozinho com o branco do papel a fim de que saia de mim essas possibilidades e esses prováveis erros de percurso, onde o percurso já se faz perdido...
Devo procurar algo útil e cansativo para me perder, para que eu possa gastar meus tempos vagos, enfim o descanso do rei chegou ao fim e é tão estranho quanto contraditório, uma força muito grande por dentro ansiava loucamente para que isso acontecesse, e por outro lado, uma fraqueza muito imensa no fundo do meu peito força minhas intenções a continuar aqui deitado ou sentado ou mentindo... sempre dá no mesmo.
Acabo por me fazer dono de mim mesmo sem saber que a grande verdade nunca será dita, nunca será abordada, não por uma falta de vontade de dizê-la e sim pelo fato simples de que essa verdade não existe... nem existirá.
E sei também que o nada é só a ausência de tudo, a espera lenta de que alguém o contenha, o vazio a suplicar por ser preenchido por qualquer coisa que haja por perto, o sentimento de ódio que se apaixona pelo amor e o quer dentro de si, a justificativa da guerra em dizer que é produto da paz... tudo se equivale, todos os nadas juntos já formam alguma coisa perto de tudo e o resto se resolve com o tempo.
Quis, aqui ou ali, resolver uns problemas que não me competiam; desisti, por fim. Dizem-me ser maduro demais, enquanto ao mesmo tempo criticam-me em demasia na infantilidade com a qual encaro algumas das realidades do destino; soube perdoar, mas não serei idiota o suficiente a confiar outra vez. Até mesmo porque não há mais espaço e tempo para o sentimento, o amor não faz mais morada no coração de quem larga de mão a esperança, a paixão não queima mais quando o combustível da confiança se esvai, se esgota, corre junto à sarjeta rumo aos ralos mais sujos que possa haver...
E me vêm os eventos na mente, e penso nas possibilidades, e vejo as histórias sendo escritas, e vejo os fãs se aglomerando novamente, e vejo os elogios, e assobios, como já vão voltando e mudando meu sorriso, tudo isso junto fazendo do meu atual nada um pouco mais recheado... serão pés que caminharam na lama fofa do templo do amor, explodindo cada passo com o sentimento vagabundo da mentira que sempre fora característica minha e de mais ninguém e me dói tanto o ego quando encaro concorrentes querendo mentir mais do que eu... fazer o quê...?
Dormi e acordei com as mesmas convicções na cabeça e, dessa vez, tenho toda a certeza de que as balas perdidas terão fim certo, fim fatal, flerte com o vento que lhe muda sempre a trajetória, desviando de cabeças alheias para caber exatamente no peito de seu destino final, nascendo morrendo, tomando seu corpo, então, eu sofrendo, gostando adorando, gritando, analisando, por fim o fim, fim fatal, a sede do chão que é saciada pelo sangue do sentimento que há de molhar o solo, a verdade da vida que é a liberdade, pois no momento dos créditos subirem na tela escura, enxergarão, todos os mortais insistentes por me criticar depois da decisão, que fundamental mesmo é a aventura e, ao sair do cinema, haverá por lá um tapete vermelho, digno de abrigar meus pés na caminhada rumo ao desconhecido em busca de felicidade, plagiando esse que vos fala...
Chamam-me Paulo Victor, vinte horas e trinta e um minutos, dia vinte e quatro de agosto, dois mil e onze.
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