quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O guloso

Pois se disse o poeta desconhecido que não tem preconceitos, odeia a todos igualmente, não poderia eu, nesse ínterim de monólogo, afirmar o mesmo pois estaria mentindo e a mentira não faz parte das minhas colocações, bem miradas e acertadas, a ponto de atingir úteros e afins.
O problema é que quando jovem sempre fui mesmo muito guloso, já sabia desde cedo que o melhor não era o que eu tinha; que o vizinho tinha um quintal maior que o meu e brincar lá talvez fosse mais interessante que brincar aqui.
A comida?
Talvez fosse o cheiro da comida que vinha de estranhos lugares muito mais gostoso do que o perfume habitual da cozinha de mamãe e isso me deixava com mais fome assim que o prato havia desaparecido, assim que a sobremesa não ocupava o espaço do meu estômago, assim que a saudosa Coca Cola de litrão esvaziava misteriosamente...
E todo o resto pode se enquadrar na missão que venho dissertando; o mundo inteiro é muito pouco quando não nos pertence e, se num dia desses qualquer, vier a caber em nossas mãos quereremos uma dessas galáxias perdidas por aí só pelo simples fato de abordar a verdade de dizer que possuímos tal coisa, maior ou melhor, ou diferente...
Não tenho pressa alguma de querer conquistar todas as coisas que me rodeiam mas a vontade existe e vou matutando devagar cada uma das possibilidades pra que consiga fazer que os meus últimos dias de vida sejam os melhores possíveis e que todos os objetivos cultivados enquanto jovem sejam alcançados no futuro próximo que o destino me reserva...
Sou desses, guloso por natureza e com os olhos grandes naquilo que ainda não me pertence só pra provar a mim mesmo que tenho a plena capacidade de esticar meu braço e agarrar o desejo do momento, como fosse a vida uma eterna micareta, relembrando fatos que derrubam minhas lágrimas, onde cada curva, cada esquina, cada passo é um novo instante a ser descoberto e uma história a ser contada, quem sabe agora, quem sabe quando ouvidos houver por perto....
Sei que me perco nas minhas palavras mas não é nada que me faça ficar preocupado nem coisa alguma que me faça mudar a forma de abordar a realidade. Faz tempo que não escrevo pra que me leiam, então estou aqui sozinho, hablando comigo mesmo para que as verdades de amanhã sejam contrapostas com as de hoje formando, quem sabe, alguns paradoxos que me levem a alguma conclusão interessante...
Chupei chupeta até os sete anos de idade por já prever que a vida me aguardava e tinha pra mim coisas muito boas, inclusive algumas que eu poderia coloca na boca. Sei que o futuro sempre está pronto pra mim e os sinais caem do céu a todo instante me provando que estou certo, que o equívoco foi deixado de lado, que moedas sobem e descem a todo momento pra eu que saiba enxergar e enfrentar o caminho certo, o caminho bom, a melhor saída para os problemas, o melhor pulo para os obstáculos, a melhor palavra que bata de frente com as indiretas, com as críticas, com as acusações infundadas, com as brigas e verdades que contam aos ouvidos de quem não está ainda preparado para as ouvir.
Mas vou continuar nesse ritmo, analisando o que está próximo pra que eu saiba entender a virtude do que não me pertence e alcançar esse intento, ainda que demore, ainda que o mundo gire algumas vezes e eu tenha que ver nascer e morrer anos; o que é meu será meu sempre, e não terei pressa de esticar meus braços, ou quem sabe abrir minha boca...

Chamam-me Paulo Victor, começo de noite de quarta feira, fim de mês de agosto, dois mil e onze.

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