quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O fulano e a formosura do Catumbi


Gosto pouco desses meus monólogos com quem não tem ouvidos para ouvir-me, pois faltam-me as certas palavras nos instantes que preciso as escolher, nos momentos decisivos que fazem parte da coletânea básica do meu vocabulário, quando analiso as possibilidades de poder ou não explanar aquilo que se encontra na ponta da minha língua de desejo.
Pois nem que as almas se levantassem e me fizessem frear o corpo, eu seria impedido de dar cabo à minha vontade, nem que as catacumbas de Catumbi Cemetery abrissem sob meus pés, eu me deixaria cair nesses sete palmos malditos a querer brecar tal libido, nem que o mundo se colocasse de cabeça pra baixo, nem que a negatividade me atingisse, nem que eu me visse em desvantagem para tantos outros que almejam o mesmo que eu, não... esses outros que caiam em covas fundas.
São tantas as ocasiões que pedem, enlouquecidas, para serem vividas que vejo em mim um eterno pecador a deixar de lado todas as incríveis situações que tive o prazer de participar não dividindo, assim, esse conhecimento todo com o próximo, não abordando os detalhes das emoções que acometeram pessoas de diversos quilates, levando-se em conta o solo fértil das redondezas de Catumbi, local extremamente propício a extração de metais valiosos, extração lenta, devagar, sem pressa...
Pois que digam o que quiserem; que o tempo não foi meu aliado, que as palavras prometidas demoraram a chegar, digam ou gritem sobre meus erros e minhas sinceras mentiras! Estarão todos certos, porém do final feliz dessa história só o sei eu.
O fulano ia caminhando pela rua meio apressado,
ele sabia que estava sendo vigiado...
Cada uma das esquinas que enobrecem o bairro de Rio Comprido foram detalhadas na obra de Machado, e árvores não faltarão a cair frente aos pés do escritor para que haja o certo caminho até os lábios de sua amada. Outros autores ajudam esse que vos fala.
Mas não quero abordar o que a palavra diz; sou apenas condutor do sentimento do fulano que vinha pela Haddock Lobo, quem sabe uma outra daquelas rua que não me vem à cabeça nesse instante, Moura Brito talvez, intenso e tolo, caminhando sem rumo até que em sua direção, a perfeição do marrom se destacou na paisagem cinza do bairro antigo. Quiçá os deuses tivessem deixado escapar do reino dos céus tal anjo sem asas a caminhar assim tão solene perto de imortal perseguido... quisera eu ser o imortal perseguido.
No ímpeto do medo, tomou de si os olhos com os quais nascera e influenciou um sorriso desejado no rosto de sua nova musa... que sorriso lindo, que lábios meigos, que olhar fatal sem pretensões algumas, que olhar devasso cheio de pureza, e seus pensamentos tão próximos mas que sempre se fizeram tão distantes se encontraram sem que uma só palavra pudesse ser dita, assim que o horizonte se fez ínfimo e nulo, no encontro dos dois corpos em meio à multidão precisa de um sonho vestido em falsa realidade...
Pois deitaram outra vez os mortos, presos em suas almas, nos sete palmos abaixo da terra fofa e fértil, fecharam-se todas as catacumbas, as árvores caídas, cortadas por Machados ou outros autores, ergueram-se novamente a fim de dar mais esperança nos tons de cinza da Tijuca; metais, preciosos ou não, subiram aos céus fazendo brilhar ainda mais o Sol que os iluminava e nada, simplesmente nada, pôde deter o que já estava escrito, mesmo que prometido, porém ainda não realizado...
Ó que formosura...

Nenhum comentário: