sábado, 1 de setembro de 2012

Zé Matuto matutou

Jânio Quadros, autor da frase Filo porque Quilo

Se você for por esse lado, vou ser obrigado a subir. Vou no alto pois de lá te vejo pequeno, vou voando porque assim chego mais rápido, vou de boa pra voltar melhor, vou leve e o que volta pesado é só o bolso.
No mais, a vida te mostra que nada é fácil, ninguém chega nos confins do mundo com delícias a contar sem que antes tenha suado a camisa, nenhuma surra foi em vão, nenhum trem cheio em madrugadas terríveis depois de todas as aventuras em eventos históricos levando na bagagem do transporte toda a ressaca que pode haver, não, não foi em vão, os contracheques magros não foram em vão, pois sabíamos fazer do pouco, muito... a multiplicação dos valores é fato consumado na carteira de quem gasta.
O mundo não se faz em dinheiro mas se compra nele, tá preparado?
Desde que o médico informou o sexo à minha mãe, estou preparado.
Vai por esse lado que é melhor pra você, jovem, me deixa voar, me deixa partir rumo ao desconhecido, deixa eu bater minhas asas porque o vento do meu sopro te joga no chão de longe, lá de onde eu estiver, minhas asas de liberdade e labuta vão te fazer gelar de frio aqui...
Vou ganhar o mundo.
Vai matuto, caminha por aqui que eu tenho receio do que posso fazer se começar a correr. Fica flexível a ponto de esticar, a ponto de crescer, a ponto de justificar tua passagem pela vida. Não se espelhe em mim. Você pode quebrar o vidro e o reflexo não será coisa boa. Recomponho meus pedaços, me junto devagar, uno todas as partes com a cola da aventura, reúno forças no além pra que minha jornada não tenha freios.
A coisa tá difícil, matuto?
Por aqui a coisa tá suave...
Tenho meus princípios, tenho minhas moedas, tenho minhas verdades incontestáveis, tenho todas as histórias estranhas que me acometeram num passado próximo, quiçá ontem, e o que guardo sob a manga do braço direito é mais do que tu, um dia, poderia transportar, ó matuto infeliz, traçando falsas linhas, fingindo alegrias infinitas como se pudesse, de alguma forma, entender o que é felicidade.
Só o digo porque o vivo. Não me deixo estar porque a inércia do momento não se compara à velocidade do movimento. Sou desses, matuto, sou desses que anda por aí sem destino, sem telefones na mão, deixando de lados os registros só pra não invejar os invejosos, sou desses que corre ao invés de caminhar, sou desses que prefere a Lua ao Sol, sou desses que, na madrugada, tem mais motivos pra enxergar do que no dia, sou desses que passa por você com a mente aberta, com o corpo fechado, com sangue nos olhos, pois homem de verdade, matuto, tem que ter sangue nos olhos, tem que ter sorriso no rosto, tem que ter falsas verdades e mentiras sinceras no bolso...
Sou do mundo e o mundo é meu.
Cabe aqui tudo que você possa imaginar, arrumo confusões intermináveis e me presenteiam no dia seguinte, filo porque quilo, ou como queira entender a gramática que nunca fora meu forte e ainda assim há raios de sol depois da tempestade, sou intenso e absurdo apesar dos trâmites do passado, passado de glórias e sofrimento, passado de dificuldades e entendimentos, passado que é a verdadeira forma mais clara de se analisar o presente, com o intuito de mudar levemente o que há de vir amanhã...
Mas vamos devagar, matuto.
Fica você daí, eu vou por aqui, não entra no meu caminho porque eu não gosto de azar.

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