sábado, 10 de janeiro de 2009

Paixões didáticas

Tinha suspirado. Foi somente esse suspiro que bastou pra que minha vontade transbordasse em atitude. O momento era ideal e nada em volta parecia conspirar negativamente em nossa direção.
Palavras nem sempre são necessárias quando a intenção é sentir. Meu olhar junto ao dela, mesmo que mergulhado na penumbra, brilhava de forma única e gritante a declarar qualquer sentimento que ainda estava por nascer, desenvolver-se e tomar o lugar daquele que reinava na ocasião.
Inebriados estranhos a nos encararmos sem medir forças com o tempo que se mostrava um aliado nosso a fazer correr o relógio aumentando o tesão escaldante que já tomava conta do lugar. Não me contive e o que tinha em mente foi botado em prática pois já era o momento certo pra que o contato se desse.
O escuro já trouxera o costume aos meus olhos e pude, pela segunda vez, encarar seus lábios. Encarava seus lábios pois era o que mais me interessava nela. Queria tê-los pra mim da maneira correta, da maneira completa, diferente de alguns instantes passados. Antes mesmo que qualquer outra parte de mim encostasse em seu corpo, foi minha boca que tomou a iniciativa e, assim com uma fome além do normal, possuiu aquilo que faltava a sua segunda parte, sua outra metade.
Não senti o retorno em seu beijo. Admito que triste eu fiquei ao saborear o gosto do desdém. Não pude raciocinar a respeito de nada naquele momento e mantive-me imóvel simplesmente encarando aquele lindo rosto que há tanto tempo foi dono dos meus mais longos sonhos. Recuei. Analisei mais uma vez a beleza exagerada daquela boca em forma de morango, vermelha e doce.
Pela minha cabeça, indisfarçáveis pensamentos de indignação pela recusa calada que acabava de sofrer, porém ainda assim continuava intocável, ainda me deliciando, mesmo que triste, da sua respiração tão próxima de mim que, talvez pelo mero capricho de minha mente tornava-se um pouco ofegante.
De tão hipnotizado que estava, tive vontade de desviar o olhar um instante, mas seus olhos escuros, sorridentes por natureza, pareciam me puxar cada vez mais perto. Não quis tentar uma nova investida contra seus lábios temendo uma nova ilusão. Recuei um pouco mais.
Não havia mais o que fazer. O ciclo estava completo. Teorias machistas que foram desenvolvidas pela antiga trupe já não funcionavam mais. Entendi por dentro o que estava acontecendo. Fora vencido e derrotado. Caído na lona admirando a perfeição de minha inimiga. A paixão já tinha tomado conta de mim e tornar-me-ia um subalterno perante vontades alheias. Era o fim. Resolvi me retirar.
Levantei de um pulo e sentei com as pernas esticadas como um trabalhador que sofrera intensamente com a labuta diária. Em minha cabeça, os mais confusos pensamentos mais uma vez se embaralhavam de tal forma que nem mesmo essa forma eu sei transcrever.
Talvez tenham passado alguns longos e intermináveis 7 segundos. Infernais momentos onde o orgulho ferido queria me obrigar a sair correndo, mas a submissão da recente paixão me pregava àquela cama. Aguentei com toda a força que me restava e permaneci durante essa eternidade parado ali.
Digo tudo em longas e exageradas palavras, mas a verdade é que tudo o que relato até aqui não durou mais que alguns instantes, alguma coisa parecida com pouco, bem pouco, ainda menos do que possa se imaginar por quem quer que esteja lendo.
E no ímpeto de tudo estava a ferver dentro de mim, tive acessos estranhíssimos de loucura incontida pois não sabia, pela primeira e única vez em minha vida, o que fazer. Parado estava, parado permaneci. Quando as forças e esperanças davam as mão pra partir e me abandonar lá largado, eis que algo do que não se espera ocorre
Sempre é assim. Em todos os contos, em todas as narrações. Algo inesperado sempre acontece e dá novo ar de otimismo a quem precisa ler aquilo que não consegue mais ficar imóvel em um pedaço de papel.
Pois digo com todas as palavras que jamais havia pensado na delicadeza e mente incrivelmente única que só uma mulher pode ter e, ao mesmo tempo, com minha paixão momentânea, pude aprender mais do que queria, ou sequer imaginava.
A beleza que antes admirava, de repente foi posta em minha frente mais uma vez pois de um pulo, tal qual o que eu havia dado pra tentar fugir sem sucesso, sua boca encarava meus olhos e seus olhos beijavam minha boca. Não é exagero algum dizer que isso é impossível, mas os caros leitores não estavam presentes então não poderiam entrar em discussão. Só eu sei o que foram aqueles poucos segundos em que a alegria de uma simplicidade pode fazer em um homem.
Deixei-me ser levado por ela. Ela era minha dona e sabia o que fazer, sabia justamente onde tocar, onde beijar, o que dizer, por mais que eu não entendesse e nem mesmo fizesse questão de querer entender. Só queria que o amigo tempo deixasse tudo parado em um único segundo que duraria até agora, justamente agora quando passo de minha mão pro teclado as letras que formam as ações que ocorreram naquele dia.
Foi algo como jamais acontecerá, nem mesmo aconteceu com outra pessoa qualquer que tenha tido a felicidade única de se apaixonar por um instante. Fui levado por ela durante todo o tempo em que quis o que tanto desejava, e a negação foi a resposta que consegui obter. Quando já me encontrava sem esperanças e desiludido, a mesma sensação que senti antes foi transferida pra cabeça dela, que mais forte que eu, soube me dominar mais uma vez. E que me domine de novo, se quiser...

Estarei sempre aqui esperando, desiludido e sem esperanças...
P.V. 15:50 10/01/09

Um comentário:

leilinha disse...

ai ai ai ui ui....Q ésso heiiim cocada....rsrsrsr