quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

És dona Capitolina, menina-mulher

São coisas desse tipo que me deixam feliz, um ponto radiante de brilho a reluzir frenético solto no ar. Momentos puros de desesperado romance são tão raros e, talvez por isso, justamente por isso, que me deixam assim anestesiado, insensível a quaisquer outros fenômenos externos que possam querer tomar o meu caminho. Simplesmente entrego-me de olhos fechados e braços abertos, correndo sem direção, pois o destino é um corredor largo a nos levar sempre à mesma saída, natural a todos e, sabendo disso, me jogo mais uma vez desse desfiladeiro infinito, do qual ainda não parei de cair.
Menina que virou mulher. E a saudade dessa menina é tão grande quanto o impacto que tive ao vê-la mulher. Esconda-se de mim sob seu véu branco de pureza, a virgindade da vida, a verdade prestes a ser despida e por nós apreciada. Esconda-se de mim como mulher lembrando as meninices que construíram a base de nosso amor. Não tive pressa, não tenho pressa em rever-te, mesmo não podendo suportar a saudade que transborda de mim a cada segundo longe de você, ainda menina. É difícil pra mim mostrar a distinção existente entre o que foi ontem e o que é hoje, sabendo de cor o quão triste é a porta de saída do destino que me aguarda. Ou melhor, que nos aguarda.
A ingenuidade, ou inocência, admita como quiser, nunca foi característica sua, mas ainda assim conseguia, melhor que qualquer outra atriz, mostrar ao mundo uma falsa fragilidade. Uma das coisas que fez-me perder-me em seus encantos é isso de ter mais força que eu, ser mais sagaz que eu nos desafios simples que a adolescência nos traz.
Vivemos nosso amor eterno que foi marcado por juras das mais sinceras e emocionadas que poderiam existir. Claro que hoje posso ver com meus olhos mais abertos e olhando pra trás que eram apenas promessas de adolescentes. Na adolescência ainda existe alguma graça em se prometer e não cumprir, coisas que a idade ainda permitia, mas que aos nossos olhos eram da maior verdade. E seus olhos... olhos de ressaca, dissimulados talvez. Oblíquos? Nem tanto porque ainda hoje não sei o que possam ser olhos oblíquos.
Não podia me olhar em espelhos que tudo me remetia ao passado, tentando fugir daquilo que vivia no momento. Será mesmo que a menina ainda era mais forte e interessante que a mulher, por mais que essa nova experiência tenha me trazido muitas outras aventuras que antes eram presença somente em minha mente, ainda muito vazia por sinal. Nossa nostalgia era incrível. Acho de verdade que não deveria usar o pronome no plural, pois hoje vejo que nunca soube de fato o que escondiam seus olhos, o que estava deitado em sua mente, se as sinceras palavras que saíam de sua boca eram realmente confiáveis, não sabia e era feliz assim. É pena não ser burro, só assim sofreria menos, como já disse um antigo poeta.
Ainda assim, por mais que seja de todo uma grande aventura a desembocar num triste final, admito que nada jamais há de se comparar com o que senti e vivi ao seu lado. Ainda hoje lembro-me como fosse ontem nós dois a correr pelo quintal de sua casa e seus pais a lhe chamarem, você sempre atenta a todos os detalhes, com desculpas infinitas pra todas as situações em que éramos quase pegos. Sempre deixei em suas mãos (por não saber o que fazer) a tarefa de inibir qualquer sombra de dúvida que pairasse sobre nós. Incrível menina, você foi. Incrível mulher, você é.
Ainda sinto seus olhos a fitarem-me. Olhos de ressaca; isso mesmo, olhos de ressaca.
P.V. 22:03 14/01/09

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