segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Lá na Treta da Ivete

Me chamaram e eu fui lá nessa tal de Treta do Nem. Todo mundo vai e eu fui também. Claro que ficou óbvio num simples passar de olhos, a falta de criatividade das pessoas ou então poderia sim ser muita coincidência pois todos usavam a mesma blusa; algumas meninas, é bem verdade, com uns apetrechos a inovar e acrescentar beleza ao corpo e destacar as formas. Não liguei muito pro fato de terem me copiado, mas ainda assim senti uma pitada de ressentimento.
Tinha uma moça grávida em cima de um caminhão, cantando e pulando alucinadamente e isso me deixou extremamente preocupado com a saúde do bebê que se encontrava por dentro da barriga da mesma. Desde já uma criança louca pelo fervo do axé que vai entrando pelas veias da pessoa até nos contaminar completamente como uma praga, como uma doença que não se cura nunca mais ou então até o dia que consigamos a inédita tarefa de reunir os mil abadás, partirmos para a Bahia, mais especificamente em Salvador, berço desse mal que nos assola, subirmos a ladeira do Pelourinho e atearmos fogo em todas as coloridas blusas, mas não sem antes degustar um apetitoso acarajé quente e apimentado. Só assim para nos vermos livres da enfermidade chamada Micareta.
Mas lá nessa Treta do Nem podia se ver bem mais do que preocupações para com a saúde alheia e igualdades entre roupas. Enxerguei mais que meus olhos puderam ver e já sabendo que isso poderia acontecer, me preparei com antecedência para o evento que havia de se desenrolar na tarde do glorioso sábado. Saí às pressas do trabalho, largando pacientes deitados em cima das macas pois o amor me chamava, a paixão me batia à porta, era a festa da carne que já tinha seus portões abertos enquanto eu dava um último retoque no penteado em frente ao espelho do vestiário masculino do Centro Cirúrgico.
Cheguei na terra do local festivo e a sede assolava minha boca de tal maneira que já não conseguia sequer pronunciar simples palavras como “me vende um copo”. O rapaz, dono do estabelecimento em que já me encontrava ansioso por beber qualquer tipo de álcool que ali tivesse, não entendeu bulhufas do que eu dizia e resolve me vender logo uma garrafa de um litro de vinho por uma mesquinharia que não valia a preciosidade daquele líquido. Disse minha mãe que devemos sempre aceitar aquilo que nos dão, e não pensei duas vezes em virar goela abaixo o vinho doce e gelado que se encontrava em minhas mãos.
Quando avistei o movimento das pessoas, todo o colorido que a festa me proporcionava arrepiou-me o corpo inteiro, fez nascer em mim a paixão de antigamente, a tristeza já não mais povoava o sentimento meu e todas as palavras postadas e criticadas por serem de um exagero de romantismo e melação fugiram para bem longe a dar lugar somente ao que agrada aos olhos de quem me lê.
Nada mais havia na garrafa. Esvaiu-se o vinho para dentro de mim, digerido com amor pelo meu corpo. Assim como a tristeza que também se esvaía a cada passo dado em direção aos portões da festa da carne.
Gritavam os homens, aos berros, juras de amor sincero às meninas que iam passando leves e soltas com seus copinhos de qualquer coisa na mão, serelepes e úmidas, dadas e indecentes, lindas e poligâmicas, difíceis e fáceis. Pois que usem a força se o poder da palavra não der conta do recado, se Deus não ajudou quando lhes confeccionou, se a intenção não é alcançada, usem a força meus discípulos, pois foi assim que aprendi, pois é assim que deve ser.
Já tinha dado a partida inicial para o resto do jogo, e o placar era favorável a mim. Entrei no estádio e a torcida já cantava a todos os pulmões numa só voz dizendo em coro perfeito que seu artilheiro maior havia chegado, que sem ele nada iria acontecer, e que descessem a cerveja gelada do congelador pois agora o jogo poderia voltar a se desenrolar. Foi dado o toque na bola em direção à conquista do campeonato.
Esse presidente que vos fala tem súditos a zelar, uma vida inteira a manter e as aparências devem sempre ser levadas em consideração pois na próxima esquina qualquer um pode tentar derrubar todo o império que já foi levantado. Precisava dos meus seguranças, aqueles que me acompanhariam para que, daqui a algum tempo, no futuro incerto que a vida me reserva, pudessem passar a frente todas as glórias do passado. São pessoas assim, as mais importantes na vida de um homem pois a imortalidade só se dá através daquilo que deixamos de memória no coração das próximas gerações. Um buraco que se abre deve ser tapado com histórias realizadas. Eram jovens de bom coração que iam me seguindo no fluxo de pessoas apaixonadas que deixávamos pra trás com os frutos do amor depositados.
Claro que vale deixar aqui ressaltado que ninguém nesse mundo poderia um dia se comparar ao amor que já percorreu o barro lindo daquele lugar como o mais fiel dos escudeiros que justamente nesse instante encontra-se em sérios apuros devido aos percalços do coração, sempre burro e bobo. O vice presidente ainda há de voltar para trazer a paixão e felicidade no sentimento daquelas que o aguardam ansiosas com a corpo tremendo de emoção.
Pois então ia andando, visto que o movimento pede e não se deixa levar pela inércia que é inimiga número um do resto dos algarismos que se tenta alcançar. Pra ser sincero estava ali com a intenção justa e digna de um homem que já se estressou demais com a vida e depois de tanta responsabilidade encara agora o desafio do amor nessa festa da carne que nos leva ao êxtase puro e nobre da putaria.
É a putaria mesmo que me leva ali. Fui galgando melhores lugares no pódio, fui me levando pelo momento, fui me deixando estar com a música alta que tocava, todo aquele funk maravilhoso, fruto ordinário do mal com suas letras possuídas pelo ódio do capeta proliferando maldades e afins. Tudo isso que é perfeito em uma festa dedicada a exaltar a libido do povo e fazer com quem ninguém seja de ninguém.
Foram boas horas que se passaram. Lentas e pesadas, lindas e grandes, espaçosas e dilatadas, feias e bonitas. Aquilo ali é um fervo, todo mundo pulando ao mesmo tempo, todo mundo com o sentimento em ebulição pensando que jamais a noite e sua escuridão poderiam acabar, todos sugando até a última ponta a paixão que era dada aos goles em forma de beijos inesquecíveis, beijos eternos e mais beijos...
Encontrei lá alguns amores da antiga, alguns sentimentos mortos que viveram de novo ao som da moça grávida que cantava em cima do caminhão. E não significaram nada pois a novidade da noite era bem mais importante do que qualquer outra coisa eu pudesse chegar perto de mim. Só queria voltar ao meu lugar, ao posto que conquistei ao longo de minha carreira de sucessos.
E vi menina Leilinha...

Um comentário:

Leilinha disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Eu faço parte dos seus amores da antiga ?????