sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Um Oscar para Seu Oscar...

Aí cresci e virei safado.
Meu pai diz que somos cafajestes porque é a herança que Seu Oscar, seu pai, meu avô, nos deixou.
Seu Oscar, na sua safadeza plena de cabra macho vindo dos mais longínquos sertões do nordeste, trouxe tudo de ruim no seu coração após ter aniquilado Lampião e parte do seu bando. Justamente por ter saído levemente ferido dessa terrível batalha, resolveu se resguardar nas belezas do Rio de Janeiro.
E trouxe minha vó (que não é Maria Bonita, mas é Maria também). Tadinha da minha vó que foi a escolhida pelo Don Juan do sertão. Não havia forma de correr da sedução de Seu Oscar e seus olhos azuis (que herdei, mas prefiro usar lentes pretas para evitar o assédio) então caiu louca e apaixonada em seus braços para viverem em harmonia.
Seu Oscar era solícito e não podia deixar a tristeza povoar o coração de ninguém, muito menos de suas amantes que ficaram na Paraíba. Já recuperado dos ferimentos após ter arrancado a cabeça de Lampião, retornou ao sertão para levar novamente alegria à camas daquelas raparigas de cabeça quadrada e ‘pé vermeio’. Ia e voltava do nordeste e sempre que aqui chegava fazia um filho em Dona Maria, eterna paciente de seu véio. Contaram 19 filhos, mas poucos sobraram. De homem só meu pai que absorveu a canalhice de Seu Oscar e cuspiu em mim quando vim ao mundo. Desde pequeno já ouço os grandes feitos de meu avô...
Conta meu pai que após largar o ofício de matador de aluguel, decidiu adentrar no ramo das obras como ajudante de pedreiro e logo tornou-se mestre com a perfeição de quem nasceu para a profissão. Havia algumas testemunhas que ainda assim, mesmo com a visão funcionando, quiseram não acreditar. Um dos matutos havia perdido o martelo e na ausência do instrumento adequado, Seu Oscar não pensou duas vezes em afundar até o talo os pregos na madeira dura temendo perder o prazo da entrega do serviço. E usava somente a unha do dedão pra conseguir êxito em tal empreitada. Ficavam boquiabertos os que admiravam a inusitada cena.
Contavam também outros transeuntes, comumente conhecidos como populares, de um porco muito cobiçado, famoso pela impossibilidade de conseguirem lhe tirar a vida. Uns ficaram aleijados, outros com eternos traumas, alguns corriam de medo. Então ouviram falar de um homem cabra-macho, pai de Liu, futuro avô de Paulo (e as virgens soltavam seus gritinhos) que talvez conseguisse dar cabo de tão bravo e gordo porco. Uma missão como essa não poderia ser dispensada por um alguém que já foi matador. Para quem já arrancou a cabeça de Lampião, decepar um porco não seria difícil. Porém, mestre sabe o que faz. Analisou em pouco tempo que eliminar um animal pode ser mais complicado que eliminar um homem. Foi aos livros, recorreu aos alfarrábios, estudou a vida suína e marcou o dia da morte. O carrasco Seu Oscar, no auge de sua fama, com o brilhantismo e ego elevado, convocou os populares para assistirem a derradeira cena do filme da vida desse porco. Como um ringue, a área foi cercada, enquanto os espectadores assistiam atônitos um homem portando um machado que encarava os olhos vermelhos de ódio daquele porco apelidado de Lúcyfer (de mãe Lucyana e pai Fernando). Então o suíno caiu!! E já estava Seu Oscar a sangrar-lhe a mais grossa veia do pescoço pra colher o tão desejado choriço. Não entenderam os populares pois seus olhos não eram tão velozes quanto o golpe mortal desferido pelo forte braço de meu saudoso avô. Acredito eu que, se ainda estivesse vivo, Seu Oscar acabaria com a gripe suína num só espirro.
Nas rodas dos antigos amigos, esses de cabeça branca que falam de forma mansa e sossegada, também havia espaço para a política quando a assunto era meu avô. Era conhecido como o terror da ditadura nos tempos de trevas da censura brasileira. Quantos tenentes e coronéis, homens fardados de grande poder, perdiam noites inteiras de sono temendo os planos de libertação que povoavam a mente fértil de Seu Oscar. A passeata dos 100 mil ficou muito conhecida, mas os leigos não sabem do cabra-macho, retirante do nordeste que reuniu 750 mil cabeças achatadas reivindicando a diminuição no preço da farinha, todos na frente do Palácio do Planalto gritando uma só voz: “Por Seu Oscar e Dona Maria, abaixem o preço da Farinha!!” E os tais políticos corruptos ao ouvir o nome de Seu Oscar pensaram no pior e fugiram do país. Essa é a verdade sobre toda a falação e fofoca sobre os exilados brasileiros. Eles tinham medo do véio...
E com tantas peripécias, e depois de muito ter aprontado por aqui, resolveu se aposentar. Passava os dias a dominar a jogatina de baralho nos confins dos buracos abertos ou fechados, nas suecas e tudo mais que pudesse ser inventado. E adoçava meu café com cinco colherzinhas de açúcar que custou a decorar, mostrando que a idade já ia lhe arrancando os super poderes. E me chamava de ‘Seu menino’, o Seu Oscar. E era um homem de bom coração, apesar de tudo...
Tremeu Deus, quando no céu ele chegou. O senhor do universo pensou que pudesse perder o trono com a vinda de tão poderoso homem. Mas Seu Oscar mostrou-se humilde na santidade de um mito e aceitou de bom grado o cargo de chefe maior de toda a rede de jogo do bicho do firmamento. A experiência em seu currículo falou mais alto. Não havia, no céu, espaço para arquitetos, nem revolucionários, muito menos matadores de aluguel. Foi ser bicheiro, então. O Todo-Poderoso fez uma boa escolha.
Deus é mestre, tanto quanto Seu Oscar, e sabe o que faz.
P.V. 13:25 07/08/09

4 comentários:

ELI BERNARDO disse...

Cara, agora tu delirou mesmo, tá parecendo Seu Oscar, em suas fabulosas historias.
Mas como sempre esta sensacional.
Valeu, tu é mesmo neto do "Seu Oscar".

Leilinha disse...

Mto bom Amore!!!!

Seu avô era sinistro....Até eu fiquei com medo dele. rsrsrs
Mas vc puxou seu avô no lado Don Juan ne?! kkkkkkkkkkk

Neto de peixe, peixinho é...rsrsr
Bjokss

KM disse...

MAS ÓIA SÓ...
PAULIN TEM SANGUE LAMPIADO...
KKKKKKKKKKKKKKKKKK
SEU AVÔ ERA MSM O CARA HEIN... RSRS*

ADOREI!!!
SEUS MELHORES TEXTOS SÃO ESTES,SEU "SAFADO" RS*
BJUUUUUUUUUU

PS: TBM EXISTE AMBIGUIDADE NO TÍTULO. RSRS*

Jussara disse...

Paulo resta vez vc foi longe
Que viagem foi essa meu filho?
Fica ouvindo as histórias loucas de seu pai,dá nisso.