segunda-feira, 21 de abril de 2008

conto______ parte 1

Coisas estranhas acontecem todos os dias. Fulaninho foi obrigado a assassiná-la. Tudo na vida tem um limite e quando a emoção fala mais alto que a razão é o momento propício para que grandes histórias possam se desenrolar.
Ele saiu cedo de casa naquele dia. Coisas normais que já estava acostumado a fazer. A vida nas cidades grandes torna-se repetitiva (como o T dessa última palavra). Observando o que acontece é fácil perceber o tédio que toma conta de quem ocupa seu tempo com tarefas iguais. Acordar numa segunda feira, depois de um final de semana de descanso. Fulaninho ia procurar emprego com o envelope pardo debaixo do braço. O inseparável jornal barato era o amigo das horas em que passava nas filas, aguardando um momento de poder deixar seu pobre currículo para que alguma secretária mal amada, escolha entre as dezenas de candidatos. Só lia as notícias que lhe agradavam. Daquele tipo de jornal ele lia todas.
A dura rotina de sempre ser renegado mexia com o temperamento daquele homem comum. Não suportava receber um não e cada vez que a situação se repetia, a vontade era de se transformar, queria brigar pelo que tinha direito, e achava que todo homem tem direito a um emprego, um trabalho. Um homem sem trabalho não é nada, dizia ele. Via-se em seus olhos a tristeza de chegar em casa e ter que dar a mesma explicação à esposa:
__ O mercado de trabalho hoje em dia anda muito competitivo, amor...
Alva via no marido uma pessoa que já estava se entregando aos desprazeres que a vida oferece. Todas as recusas que sofria tornavam-no ainda mais rancoroso a cada dia passado. As roupas que costurava pra fora mal davam pra fazer as compras do mês e de uns tempos pra cá, Fulaninho começou a beber. Chegava em casa tarde, vindo do bar. Nem tomava banho e dormia em qualquer lugar que encostasse. Alva levava o pesado homem, no alto de seus 39 anos para a cama. Como uma mãe que bota os filhos para dormir depois de um dia cansativo de muitas brincadeiras. Sua bebedeira apertava ainda mais a renda do casal. Não tinham filhos. Do primeiro casamento de Fulaninho, sua mulher teve uma menina e logo depois ele resolveu fazer uma vasectomia. Só queria ter um filho. Ironias do destino. Após o nascimento da criança, descobriram que a mãe era portadora de uma doença sem cura e na gestação se deu a transmissão vertical. A mulher e a menina morreram pouco tempo depois.

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