quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Pra Pai...

Pois veja bem, meu pai, o senhor já não sabe das coisas como sabia antigamente, já não usa as mesmas roupas, muito menos o penteado com seus fios de cabelo preto enrolados até os ombros que fazia sucesso em sua antiga juventude. Talvez se fosse traçado um paralelo com seu estilo de antes e o de hoje, poderíamos ver como a vida mudou e tudo que ainda há de acontecer. Mas não tenha medo de me encarar quando lhe digo as verdades que já não acredita, que já não faz sequer questão de parar um segundo para ouvir pois sabes que minha voz grita mais alto do que podem escutar seus ouvidos. São só os pensamentos oprimidos de quem ainda está jovem, de quem não quer se calar perante as adversidades, só pra não acostumar-se com um conformismo que poderia durar por toda a vida. São os argumentos que ficam pipocando na minha cabeça sempre que algo incrível adentra em minha mente e torna o certo em algo errado, pelo menos para mim. Acredito também que fosse abusado e argumentativo em sua juventude distante com seus cachinhos negros a cair pela testa.
E eu também admito que já nem sei muito bem o que venho fazendo nessa vida, tal qual um bêbado que vai caminhando de volta pra casa e não acha o rumo certo, tateando cego por outros bares, caindo em esquinas, levantando-se sempre que alguém lhe olha com uma cara mais incriminadora. As vezes sinto que me julgam como vivesse à margem da sociedade, por meu jeito quase igual, por essa fome de querer tudo que se move, por não perder oportunidades e não saber esperar nada. Mas foi o senhor que me ensinou a ser assim, então já não tenho remorso, nem arrependimento e posso encarar esses que me olham, sem medo.
Mas pai, o senhor já não sabe mais o que dizer e não entende nada do que digo. É estranho pois a idade, com seu avanço, deveria trazer-lhe a sagacidade. Mas também já olho por outro lado e vejo que o tempo do passado mexe com o verbo sempre que ele quer se colocar no presente. Seus idos antigos trazem à tona a verdade esquecida, aplicada ao que tentam vivenciar hoje em dia e assim se dá o conflito inevitável. Longe de brigas, só fico olhando...
Já vai dizendo a mesma coisa tantas vezes durante o mesmo dia, pois esquece que já me disse aquilo. Sem ter o que falar, apenas ouço e repito a mesma coisa que disse antes pra não frustrar suas intenções, que parecem ser boas. Mas não me entende e isso irrita o pensamento meu.
Disse um poeta: “Eu calço 37, meu pai me dá 36; dói, mas no dia seguinte, aperto meu pé outra vez. Pai, eu já tô crescidinho...” Deve entender que já sei andar com meus próprios pés, já sei que calça querer usar, já sei que caminhos andar, pelos morros, se pelos montes, se pelas montanhas. Entenda que não há diferenças tão visíveis, quanto o simples relevo de cada um. O mundo não é suficiente pra mim, pai. O mundo nunca será tão bom que possa me satisfazer. Nem suas palavras, nem suas idéias, nem de ninguém. A satisfação momentânea não substitui a plenitude. Eu sei que nada é eterno; saiba também.
Pois, meu pai, não escute muito o que digo porque minhas pretensões são profundas e complexas, vivem se transformando, vivem sofrendo incríveis metamorfoses que me dão um certo ar de contraditório e incrédulo. Mas sou assim, saído de minha fôrma: você.
Nem bandido nem herói, nada de super homem, simplesmente o suficiente para fazer meus bons gostos serem apurados, criar as bases de minhas idéias, um toque de beleza no corpo desenhado, alguns bons conselhos, outros nem tanto, a companhia nos jogos do Flamengo, eterno confidente.
Também me lembro que me ensinou a ser homem, a gostar de mulher.
Um dia íamos andando pela rua, quando passou uma linda mulher por nós com seu decote avantajado, sua saia curta, seus lábios pintados. A criancice e infantilidade ainda me deixavam com um tanto bem grande de inocência e falta de maldade. Mas virou-se e olhou pra trás e me disse que era só pra não perder o costume. Hoje em dia, passam mulheres lindas, perfeitas, cheirosas, algumas fedidas, outras feias, umas anãs, poucas sem braço, e sempre viro minha cabeça pra trás e olho. Só pra não perder o costume.
Foram bons ensinamentos que continuam germinando na minha cabeça, prontos para serem usados a qualquer momento que a vida me obrigue a ser mais sábio que o que se prosta em minha frente desafiando minha inteligência, tentando devorar o que restou em mim, querendo derrubar-me com palavras soltas no ar. Aprendi que tudo é relativo e vai ser verificado somente no fim pois a verdade há de existir e partirá de mim. Meu pai que me ensinou...
E diz também que ainda vou viver muita coisa, que não sei de tudo, que estou longe de ter a experiência que tanto grita em meus ouvidos. Já não sei bem ao certo dessa convicção pois tempo de estrada é uma coisa; competência para bem andar nessa estrada é outra coisa. Vou indo por aí dirigindo minha vida desviando dos buracos, freiando nos quebra-molas, respeitando os sinais (sempre que possível...)
Mas é tudo parte de um grande plano do bem que só vai me dar felicidade, como sempre acreditei, e continuo acreditando.
Meu pai é o dono desse plano, meu pai está arquitetando o que ainda há de acontecer de bom na minha vida e vou seguindo como um cego que não quer ver (pois sempre dou uma olhadinha pra me certificar).
E no adendo da vida, deixo claro a posição que mostra o sentimento verdadeiro de amigos que vieram desde o berço, literalmente.
Meu pai é meu melhor amigo.
P.V. 16:16 03/09/09

2 comentários:

Unknown disse...

Adoreiii,rsrsrs
Não se esqueça q no futuro vc vai olhar suas fotos e vai ver q mts coisas mudaram....
Bjsss

Unknown disse...

snif.....snif.....snif
Puta que pariu!!!!!
Caráio véio!!!!
Eu tenho muito orgulho de ser teu pai.
Veleu Muleke