domingo, 15 de agosto de 2010

Águas coloridas

São gotas das mais belas e perfeitas as que caem do lado de fora da minha janela, e é bem provável que caiam sem dó em alguma outra parte mais longe daqui, e também tenho quase certeza que caem tão frias quanto gelo e, numa ocasião normal, afastaria a multidão pois assim acontece, pois assim é normal.
Mas vejam bem os senhores, afirmo com as minhas palavras que são milhares os que se deliciam embaixo das gotas mais benditas que Deus poderia jogar sobre aquelas cabeças, Pedrinho indecente deixando cair de leve a abençoada chuva fazendo umedecer a inspiração dos que vão caminhando de lados para lados, loucos e felizes, mais felizes, procurando nada, encontrando tudo e os sorrisos que dividem enquanto o mundo lhes pertence, esse sentimento perdido que um dia já foi meu, o que não existe, o invisível e o colorido, a chuva, o som, o barulho em si, queria as batidas pra mim, daria até as do meu coração em troca...
Mas o que mais dói é a chuva.
Dizem os guerreiros do futuro que nada abalaria a vitória, uma vez que a água não deve ser vista como inimiga e sim como aliada.
E não disseram mal. Homens com bons pensamentos sempre têm boas frases e expressões pra dizer nos momentos de maiores dores e eu queria ser assim um dia...
Não, queridos leitores... esse meu drama não deveria ter motivo, o que há e o que não há já deve ser esquecido, existe uma linha quase imperceptível entre o passado e o agora, a única coisa que poderia delimitar esses dois fenômenos é a memória, e admito, amigos, a memória é parente próxima do pensamento. Por isso me retiro dessa conversa. Pensando, eu sofro, pois lembro, lembrando o passado me grita, e hoje... agora já é tarde, a noite chegou, grande parte das perfeitas gotas já caíram.
Diz o poeta que não valeria à pena gastar os dedos e o intelecto com desperdícios de palavras que já não fariam voltar o instante passado, o momento perdido. Mas não me resta nada além disso.
Poderia bendizer os que estão lá, poderia admirar de longe ou imaginar qualquer outra coisa que pudessem estar fazendo e os trejeitos que eu usaria pra disfarçar quaisquer risadas que pudesse fazer nascer naqueles momentos, poderia um monte de coisas, mas infelizmente cairia no meu erro maior, no pecado que Deus não gosta, teria inveja...
O mundo sabe que eu não nasci pra sentir inveja. Mas essa chuva... e as circunstâncias... meu reino por um cavalo que me levasse ao Templo do amor.
Caminho parado de um canto até o outro, os olhos são minhas pernas, imagino dentro de mim cada uma das incríveis e infinitas gotas que caem do céu, todas elas imensamente iluminadas pelos refletores de luz, quanta luz, vejo todo o caminho sinuoso do espaço que percorrem, vejo o vento que as leva, que as empurra, que as cola umas nas outras tornando três ou quatro numa só, magia do amor na água, e se precipitam, pousam levemente no rosto do povo, molham suas cores, desmancham maquiagens, desfazem cabelos, enlameiam o chão...
E todo mundo continua tão feliz...
Onde foi parar a futilidade? Esse povo é demais...
Viva a chuva...
P.V. 22:11 15/08/10

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