segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Pra não dizer que não falei das flores

Cansei de tudo isso, estou indo embora desse lugar. Pra mim já chega, acabo de tomar uma decisão que há muito tempo já vinha passando pela cabeça. Isso é um relato do que estou sentindo e nenhum ser humano merece passar por tal situação. Não agüento mais esse inferno. Todo esse deserto que só parece saber crescer ante meus olhos já secos por não haver mais lágrimas a deles rolar. Sei que serei o único, sei que ficarão contra mim, mas devo seguir meu pensamento e partir o quanto antes... Ninguém tem o direito de tirar a vida do outro, muito menos eu. Largo tudo agora pra que não aconteça coisas piores. Deixo meu fuzil aqui, sempre soube que nunca iria precisar de algo assim. Descarrego minhas balas no chão, pois somente o chão é sem vida, somente no chão podemos jogar toda nossa raiva, tudo aquilo que só faz o mal, tudo aquilo que não precisamos de maneira alguma.
Tô andando agora rumo a qualquer lugar que me leve para bem longe desse inferno. As coisas que vi, a tristeza estampada nos rostos de todos em minha volta, toda a raiva dos que estavam, com justiça, contra mim. Atiram em mim e sou obrigado a revidar a bala quente e repleta de ódio que vem de todos os lados. Quero fugir daqui, me tirem desse lugar pois já não agüento mais. Sou eu quem vive tudo isso, não é aquele que fala por nós, aquele que não sabe de fato o que venho passando, aquele que não sabe a vida que levam os homens aqui. Preciso fazer algo pra salvar esse povo de toda a miséria que come a saúde dos mais jovens, dos mais velhos, das mulheres, dos homens. Uma grande derrota para meu coração, sangro por dentro só de lembrar de todo o horror que presencio todos os dias nesse campo de batalha.
Cidades devastadas por toda a ganância exorbitada que faz encher os olhos desses vermes da política, donos do mundo que julgam serem melhores que todos. Raiva transparente em cada muro, cada esquina destruída que um dia já foi normal, tudo que, um dia, estava de pé e hoje mantém-se deitadas para todo o sempre. Assim como os homens de família que também estão e permanecerão deitados para sempre. Seus filhos, suas esposas a regar com lágrimas o chão em que jazem. Quero mais isso não. Me tirem desse inferno. Prefiro não mais dormir pra tentar fugir dos meus pesadelos mais terríveis. Sempre vejo aquele homem caindo, sendo atingido por uma bala do meu fuzil. Quem sou eu? Não me reconheço mais. Sei que atirei por defesa, mas sou eu quem está a invadir o país dele. Minha vida para trazer de volta a sua. Quem cuidará agora de sua família? E se filhos ele tiver? Quem será o pai agora? Meus pesadelos estão devorando minha mente, tenho que sair daqui, tenho que fugir pra bem longe de tudo que está me fazendo mal.
Tenho total responsabilidade por tudo que aconteceu, tudo que está acontecendo, e já vem sendo encarado como normal há tantas décadas. Preciso botar um fim nisso. Vou sair daqui, vou juntar um novo exército, vou combater o mal com armas diferentes. Somos todos iguais, não podemos nos matar assim todos os dias, temos que fazer algo pra melhorar nosso mundo. E minha cabeça... não suporto mais ver tudo isso. Essas cenas estão me devorando por dentro cada vez mais. Sou um ser insignificante na minha existência, mas acredito que todos juntos, todos em nossa própria insignificância poderíamos mudar tudo de errado que está acontecendo, tudo de triste que aumenta cada vez mais. Dar um fim ao que não pode mais ser.
Estou indo embora, estou indo pra bem longe desse inferno. Não tentem me parar pois o que sinto agora é diferente de tudo que já quis um dia sentir. Não agüento mais tudo isso e vocês também deveriam discordar dessas ordens sem fundamento. Vamos formar um novo exército pra combater o que não deveria existir. Mas com novas armas, por favor.
Fuzis ao chão, flores na mão.
P.V. 10:33 22/09/08

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