sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Tô na boa X Elite - parte 3

São todos uns gozadores, na verdade. Não têm a intenção ou sequer sabem que agindo assim poderiam fragilizar ainda mais a cabeça de Fulano. Mas continuam sempre com suas brincadeiras que deixam encabulado o nosso protagonista que já não sabe mais o que fazer. Depois de mais um fracasso na noite, encontra-se desolado, jogado ao léu, num silêncio terrível que somente seus ouvidos conseguem captar. Andando, seguindo os passos felizes de seu bonde superior sente-de submisso a algo que ainda não conseguiu, uma alegria que ainda não obteve. E sente inveja, sente raiva. Mas não quer sentir nada disso porque ele é do bem e pessoas do bem não têm sentimentos ruins. Por mais que ele seja idiota o suficiente pra não ter consciência disso.
Continuaram na saga atrás de prazer carnal. Pois é somente isso que interessa na mente desses jovens de hoje em dia. E todos estavam representando muito bem o papel de brabos. Ainda que na minha singela concepção, ache que o rei da noite era Fulaninho, o que mais se esforçava pra conseguir seu êxito. Ainda tentava, sempre tentava, nunca conseguia.
Foi então que a terceira e maior discórdia do dia se deu. Pavorosos, os rapazes não sabiam o que dizer naquele momento que ficou gravado para todo o sempre no entardecer eterno de cada coração. No vermelho vivo do crepúsculo que leva o dia embora, no escuro negro e valente da noite que esconde tudo que se via, em todos os momentos esse fato será lembrado. Épico, um fato épico. Vergonhoso, porém épico.
Na escuridão da tenda Trance, no meio de todo aquele barulho infernal e as luzes incessantes que não paravam de piscar, meus olhos deflagraram o que ninguém esperava. Culpa, nessa vida ninguém tem. Desejos, talvez sim. Mas o que aconteceu ali naquele instante é inexplicável, surreal, fora dos padrões sociais aceitáveis em uma sociedade que se preze.
Todos dançando no som da música eletrônica que deixa qualquer um em êxtase. Como a onda já citada, um vai e vem sem fim toma conta do ambiente, o bonde sempre junto, andando como fosse dominar tudo que vissem pela frente. Os caras, sempre brabos, agarrando as meninas e beijando bocas e mais bocas, alucinadamente numa vontade que parecia nunca acabar. A quantidade era importante naquela hora, só a quantidade. E Fulano em seu zero eterno, cabisbaixo, já não tinha quase mais nenhuma força pra se reerguer contra o império do mal que se formava em sua volta. Foi andando. Guerreiro, levantou a vista, mirou o horizonte. Encheu-se de ânimo por dentro com o tambor digital que fazia acelerar seu coração. Tomou coragem, parecia o líder nesse momento. Algo tinha se apoderado do corpo de nosso amigo mas não sabia o que era exatamente. Foi rumo à felicidade. O escuro do recinto era total. Só viam-se os raios verdes, amarelos e vermelhos do Laser que pareciam cortar o ar a todo instante. Fulano era todo confiança. Tinha certeza que agora conseguiria ser feliz. Iria apagar completamente todo o desastre que vinha acontecendo até então com uma simples atitude, um beijo o faria esquecer todo o mal que lhe abatera.
Sentiu tocar no seu ombro uma mão, leve, carinhosa, como estivesse o chamando. Um arrepio correu-lhe pelo corpo inteiro e, com o instinto, virou-se. Um vulto de costas com uma bela cabeleira castanha estava ali andando para o longe. Pensou que não poderia perder essa oportunidade. Enfim, alguém havia lhe visto, reparado nele, talvez até mesmo o compreendido. Com um simples toque de mão no seu ombro pôde sentir tudo isso. Pôs-se a ir atrás de sua musa. Rapidamente a alcançou. Não queria perder tempo, sabia que dessa vez conseguiria. Teve medo pois toda aquela escuridão poderia esconder mais uma pedra nos seus pés a fazê-lo tropeçar de novo, porém conseguiu chegar com cuidado. Só via os raios de luz a cortar seus olhos fazendo brilhar o cabelo longo e castanho escuro que estava na sua frente. Deixou-se embalar pelo aconchego da falta de luz, encostou a mão na cintura de sua desejada, foi recebido com uma leve movimentação que o fez acreditar que dessa vez, sua presa não fugiria. Não pensou duas vezes e girou seu corpo dando-lhe um beijo na boca sem nem mesmo dar chance de a menina poder falar algo.

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