sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Tô na boa X Elite - parte 2

O Sol, depois de mais um dia de grande batalha e brilho intenso já ia se despedindo e era momento de trocar o turno com a Mãe Lua, dona da noite. Era hora também de adentrar no recinto mais belo e esperado dos últimos tempos. Todo o barulho que se ouvia lá de fora já fazia o coração tremer de alegria nas filas enormes que se formavam pra que nada de ruim entrasse na festa do amor. Todos devem ser revistados. É a segurança necessária que faz da festa, um local de felicidade somente.
Um pé dentro. Nossa, que tremor maravilhoso, sensação de missão cumprida, o momento em que o segurança rasga aquele convite que vinha sendo tratado como um filho durante semanas é realmente inesquecível. É a alegria proporcional e inversa de um parto. No parto, seu filho nasce. Na festa, seu filho morre pra você ser feliz. Que o filho vá com Deus porque hoje a noite é nossa. Corremos até onde conseguimos. Logo a multidão impede nosso avanço e temos que nos conter com passos curtos e bem medidos pra que nenhuma briga aconteça desnecessariamente.
Vale a pena pular todas as histórias felizes de conquistas que os jovens tiveram sucesso com o passar das horas. Mas estamos dissertando sobre Fulano, que não sei o nome, e ele que é nosso protagonista. Nosso personagem principal. O rei da noite. O detentor do sagrado sentimento de brabeza. A vacilação do começo já foi esquecida e todos estão entregues à mais pura loucura momentânea que só um evento desse porte poderia proporcionar. Estão Na Boa. São a Elite.
Logo, mais uma desventura com nosso infeliz se dá. Sei que parece uma perseguição, mas é o que vem acontecendo e fatos assim devem sempre ser narrados pra que não se esqueçam com o fluir do rio-tempo. Depois de muitas tentativas sem sucesso de se enrabichar com uma guria qualquer, por mais feia que fosse, chegou a beirar a loucura, pois via seus companheiros sendo felizes e ele lá, sem ter uma mera boca pra beijar. É realmente uma tristeza, mas ele não desistirá. Fulano nunca desiste. Resolve bolar um novo método de conquista. Até então, vinha usando a tática de bonzinho, aquele que tenta chegar pra conversar, mas por sua gagueira, as meninas saíam de sua frente por não conseguir entender a mensagem que tentava passar, ou talvez fosse o forte cheiro do álcool misturado com o estranhíssimo cachorro quente que havia comido há algumas horas. Já não sabia mais o que fazer. Pensou. Pensou durante alguns minutos enquanto todo aquele som fervoroso tomava conta do ambiente. “Bota uma roupa”, “Pega as novinhas”, “Vem sentando”, “Solta essa porra”. Realmente não são músicas que inspirem pensamentos muito úteis.
Teve uma idéia. A próxima vítima não escaparia dele. Roubaria um beijo, assim conseguiria alguma coisa, tinha certeza. O bonde havia cercado algumas meninas pra dar o bote certeiro no momento propício. Fulano ao ver a cena, aproveitou a oportunidade. Mirou a mais feia pra que tivesse mais chances e foi olhando o horizonte, querendo alcançar seu objetivo. Nesse intervalo de tempo, desde que ele saiu da inércia e partiu rumo à segunda discórdia, muitos pensamentos passaram pela sua mente. Pode parecer estranho, mas a filosofia também habita nessas pessoas. Talvez, preso em todo aquele redemoinho de idéias estanhas, não viu que o solo apresentava irregularidades e ao topar com uma pedra que descansava no chão, foi atirado pra frente numa violência descomunal. Já tinha andado 7 passos e a menina estavam bem ao seu alcance quando tropeçou. Sua boca já estava até mesmo com a forma de um formidável biquinho pra atingir a boca da outra. Mas ao tomar o susto com o tropeço, criou-se uma careta feia em seu rosto, algo parecido com um nojo e foi dessa maneira na direção da menina, tentando, inutilmente, segurar-se em algo. Não deu outra. Foi na boca da menina. A beijou. Mas beijou com os dentes de fora, com os dentes pontiagudos que Deus lhe deu ao nascer, com os ferros do seu aparelho dentário que sua mãe lhe deu ao fazer 16 anos. A boca da garota começou a sangrar. Um grito. Uma dor. Um xingamento:
__ Seu catiço!! Olha só o que você fez com a minha boca!!
E a menina saiu correndo desesperada pelo meio das pessoas procurando algum banheiro ou coisa parecida. Estupefatos com a situação, os amigos ficaram ali sem fala, sem ação, acompanhando com a vista até onde conseguiam ver a garota correndo e atropelando os que estavam na sua frente. Quando a perderam de vista, voltaram suas atenções para Fulano que recompunha-se do baque de ter feito outra besteira. Passada a seriedade inicial, deram início ao fuzilamento de expressões lindas e maravilhosas pra cima do nosso anti-herói. Coitado dele. Não precisavam chamá-lo de assassino. Não precisavam dizer que ele estava treinando um novo golpe pra sua luta especial de vale-tudo onde é necessário morder a boca do oponente. Não precisavam também dizer que sua mãe estava passando necessidades financeiras e a fome era tanta que ele não resistiu à carne suculenta da boca da menina. Cruéis. Homens cruéis...

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