Tô aqui deitado na cama, na minha cabeça perdem-se vários pensamentos otimistas do que a vida pode me oferecer e mesmo tendo essas idéias particulares pego-me pensando no que faria se fosse sozinho. Nada, é bem verdade. Não é que o sono esteja batendo aqui do lado e me fazendo delirar ou coisa parecida, talvez até seja mesmo, mas prefiro acreditar que não. Prefiro acreditar que tudo foi decidido certamente e que esse pensamento é o que tenho mesmo que ter.
No som ambiente, tudo que toca, toca em mim. Parece que sempre que estamos apaixonados, as músicas foram feitas pra nós. “Eu protegi o teu nome por amor em um codinome beija-flor.” Quanta profundidade pode existir na letra de um cara que vivia bêbado e dançando nu em cima de mesas no Leblon? Digo que hoje, mesmo depois de tantos anos de sua morte, continua a me atingir dentro desse quarto escuro enquanto a fina chuva cai lá fora. Sei que faz parte de todo vagabundo o sentimento do amor, o sentimento de uma paixão que deve ser até o fim, por mais que não seja correspondida, protegida. Aquilo que ninguém vê com olhos, aquilo que não é claro, não é transparente, mas, de fato, existe. Em mim existe, por mais que não enxerguem.
A música não pára. Continua mudando a cada vez que o fim marca o término da canção. “Animal arisco, domesticado esquece o risco, me deixei enganar e até me levar por você, eu sei quanta tristeza eu tive, mas mesmo assim se vive morrendo aos poucos por amor.” Será coincidência? Não sei, digo o que penso e sou sincero o suficiente pra acreditar em destinos cruzados, coisas que acontecem porque simplesmente têm que acontecer. Pessoas que se encontram, pessoas que já se conhecem e de repente vivem o que tanto procuraram durante toda a vida em lugares que nunca achariam. Tudo é do destino, tanto quanto uma música que toca depois da outra dizendo coisas totalmente diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Acredito naquilo que me faz bem, boto fé no que de bom virá até mim. Aguardo sempre.
Agora o que está tocando já não é do conhecimento de todos. “Ain't no sunshine when she's gone.” Entre uma palavra e outra, não me contenho e canto pras paredes também ouvirem deixando de lado o egoísmo de meus fones somente abastecendo de conhecimento meus ouvidos. É bem verdade que não há mais raios de sol quando ela se vai e ninguém mais correto pra dizer isso do que o autor da música. Como o branco que toma conta do que já foi negro, é a tempestade que toma conta do lugar onde um dia o sol já reinou. Tanto quanto como o dia de hoje que já nos deu muito calor e agora, enquanto a noite cai, cai a chuva também pra desfechar mais um desses fenômenos que não sei o nome. Tudo igual, tudo que é dito por alguém que desconheço acontece nos mínimos detalhes.
Arrepio-me brutalmente a cada troca de músicas. “Entre por essas porta agora e diga que me adora, você tem meia hora pra mudar a minha vida, vem vam'bora que o que você demora é o que o tempo leva.” Tudo a ver com as idéias do que sinto aqui nesse momento, dentro desse quarto que podia ser uma sala qualquer, e ela também podia entrar por aquela porta, fazer barulho pra despertar em mim o desejo guardado durante muito tempo. Sei que aqui não tem o cheiro dela, o perfume dela ainda não invadiu minha casa, mas é fato concreto que meu coração também dispara quando sinto e estou junto dela. Queria que ficasse aqui comigo pra sempre, queria que fosse minha pra toda a eternidade. Sei que nem tudo que se deseja se cumpre, mas o otimismo de minhas palavras se confunde com a lírica das canções e mais uma vez o destino se faz presente ao doar seus mandamentos à uma cabeça que ainda não aprendeu a pensar sozinha.
Mais uma vez, a música acaba pra dar início a uma nova. Fala-se sobre paralelos. “Foi paixão a primeira vista, me joguei de onde o céu arranha te salvando com a minha teia, prazer me chamam de homem aranha.” Sinceramente, dessa vez fiquei um pouco perdido, por mais que tenha mil argumentos pra dizer o contrário. Nunca me disseram que fosse algo parecido com um super herói e até acho que minhas teias molhariam-se com toda a fria água que cai lá nas ruas. Seria uma aranha afogada no meio de todo esse dilúvio. Mas o que é pesa é o que sinto por quem corre o perigo iminente. Cheguei pra salvar o que não podia mais se calar, cheguei pra impedir um sofrimento, cheguei pra dar fim a uma incansável procura por algo bom, cheguei e fiquei. Estou aqui e parece, ao que tudo indica, que venho fazendo um bom trabalho, como sempre fiz, como sempre farei. O trabalho mais prazeroso que poderia ter. Faça algo com amor e jamais precisará trabalhar.
“Eu fui embora meu amor chorou, vou voltar. Eu vou nas asas de um passarinho, eu vou nos beijos de um beija-flor.” Parece que tudo vem dizendo o sentimento que vaza pelos meus poros. Parece que disseram ao computador tudo que eu queria e estava precisando ouvir. Mentira minha se disser que estou carente ou coisa parecido, só tô assim solto e sem ter em que pensar num momento de paz total do meu corpo. E vem a toda hora uma música mais bela que a outra pra me fazer lembrar de quem me faz tão bem. Acho que uma conclusão pode ser tirada de toda situação que se desenrola. Por mais que estejamos bem, por mais que nada nos aflita, por mais que esteja tudo dando certo, aquilo que amamos sempre fará falta. Aquilo que nos completa. Aquilo de que dependemos. E a palavra não me completa, nunca me completou; o que me completa de fato são os beijos, são os abraços, é o toque. “Eu quero te namorar, amor” como diz essa música...
Algo que pode mudar o destino. “Tá legal, você vai ver, não dá mais meu bem, eu já me cansei, pra ficar sofrendo, sozinha eu vou vivendo, agora vá embora, vá com Deus. Vou pedir pra você voltar, sei que errei, mas eu não fiz por mal, dessa vez juro, eu vou mudar vou viver pra você.” Sei que tudo que é escrito, às vezes pode conter erros. Então prefiro não comentar nada do que ouvi nessa música. Faço a mim mesmo o favor de pular coisas desse tipo. Faço a nós esse favor. Fiquemos com o que de bom nós temos.
P.V. 20:46 01/10/08